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"Harmonizo meus pensamentos para criar com a visão". "Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e não mais lutando por dinheiro e poder, então nossa sociedade poderá enfim evoluir a um novo nível".

quarta-feira, 9 de junho de 2010

A tristeza da concentração de Terra brasileira

Flagellum Dei et comissarius a Deo contra usurarios et detinentes pecunias otiosas. (Flagelo de Deus e seu enviando contra os usurários e os possuidores de riqueza improdutivas.)
Descrição que de si mesmo fez Marco Sciarra, chefe de salteadores napolitanos da década de 1590 (resenha tirada do livro de Eric Hobsbawm, BANDIDOS)

                    A concentração de Terras no Brasil deixa uma triste história a ser contada. A coerção sempre gerará resistências e lutas. Mata quem manda ou mata quem mata?

Relato

18 de junho de 2010
Por José Júlio da Ponte
Presidente da Academia Cearense de Ciências
Em Diário do Nordeste

No ano passado, recebia, em minha Clínica de Planta, a visita do líder comunitário da Chapada do Apodi, José Maria Filho - o Zé Maria do Tomé: "Vim adquirir os livros que você escreveu contra esses venenos"..
Dei-lhe, graciosamente, os livros solicitados, a par de palavras de encorajamento.

Pouco tempo depois, a tenacidade de sua luta o levaria à primeira vitória: a Câmara de Vereadores de Limoeiro do Norte, rendendo-se aos seus argumentos e aos apelos da Pastoral da Terra, aprovava a lei municipal que coibia as pulverizações aéreas (usando aviões) de agrotóxicos, tal como pretendiam os poderosos produtores de bananas da Chapada.
Zé Maria telefonou-me exultante. Afinal, aquele era o objeto imediato de sua campanha. Todavia, havia mexido em um vespeiro de pujante ferocidade, justo os tais bananicultores. Com efeito, Zé Maria viveu pouco para comemorar.

No dia 21 de abril deste ano, seu corpo tombava, cravejado por 19 balas. Uma cilada covarde, inominável, urdida, por ironia, junto ao campo dos aviões que impedira de voar. Calaram a voz de protesto do ambientalista.

Com Zé Maria, sepultavam, pouco tempo depois, a lei que proibia as pulverizações aéreas.
A mesma Câmara não hesitou em torná-la sem efeito. O mesmo prefeito apressou-se a sancionar a revogação, mui sensível aos apelos dos ilustres produtores de bananas. Prevaleceu, enfim, a lei dos mais fortes.

Segundo Marx, "Homens de argila que se moldam facilmente aos caprichos dos capitalistas". Assim, sepultaram um sonho. Um crime inominável.

Quase dois meses depois, não se sabe quem o praticou e quem o patrocinou.

Enquanto isto, milhares de consumidores continuam a ingerir as frutas envenenadas oriundas da Chapada do Apodi. Resta-me o profundo constrangimento.
(publicado em 17 de junho)

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