"

"Harmonizo meus pensamentos para criar com a visão". "Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e não mais lutando por dinheiro e poder, então nossa sociedade poderá enfim evoluir a um novo nível".

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

O UNIVERSO (IM) PERFEITO E O EU!!

por Edison Durval Ramos Carvalho*

Entre tantos assuntos que desafiam a história da ciência e da religião, estão as reflexões sobre o universo e o Eu (self).
Vale iniciar esta sustentação, destacando que a quase totalidade dos pensadores até o século XIX, tinham como Visão, fazer com que as suas descobertas, confirmassem a perfeição do universo.
A ciência, retomada dos Gregos e de outros povos, nos séculos XVI e XVII, (por Nicolau Copernico, Johannes Kleber, Galileu Galilei, Rene Descartes etc.) trazia em seu arcabouço fundamental, o intuito genuíno de confirmar a perfeição da criação.
Os fatos reais, entretanto, mostraram que o idealismo harmonioso(mundo das ideias/natureza perfeita) platônico, emprestado à interpretação da bíblia e ao catolicismo do século IV, em diante, esbarravam em aspectos inconciliáveis:

1. A Terra não é o centro do universo e nem mesmo do nosso sistema solar. Ou seja, a Terra é um microgrão achatado (eliptíco), num universo sempre infinito; como demonstraram Copernico e Galileu e toda a física e astrofísica que os sucederam até os dias de hoje.
2. A Lua, por sua vez, é cheia de rugosidades e imperfeições, bem como o Sol tem inúmeras manchas. Essas constatações do holandês Keppler colocaram novos desafios, ao caldo cultural à época, em ebulição, numa europa ocidental católica e cristã, em tensão diante das reformas Luterana e Kalvinista.
3. Como se os fatos acima, já não fossem suficientes para mexer em tudo o que se acreditava até então, o francês Descartes vem ainda com a história do cogito cartesiano - "Penso, Logo Existo"
Ou seja, trocando em miúdos, o que o Matemático diz é que o exercício da Razão, resulta em autonomia, liberdade e pragmatismo para o indivíduo Ser e se apropriar da natureza (Mundo/Universo).

O somatório dessas ideias, trazidas por um lado, das ciências iluministas e por outro, das reformas protestantes, da primeira metade do século XVI, pretenderam dar maior poder ao Eu no mundo e menos às instituições deste mesmo mundo.
Em meu entender, esses elementos desdobraram-se numa cultura, para além do antropocentrismo de então! Há que se falar agora de uma visão ética e moral, muito mais egocêntrica, competitiva e lucrativa; propulsora da revolução industrial, do capitalismo predatório, da sociedade de consumo e da globalização financeira!
Se a natureza não é perfeita e nem sagrada; se não há uma verdade institucional pronta e pré-definida para se submeter; e se o Eu é dono da razão e do mundo; quem manda é Ele mesmo, especialmente os pré-eleitos, mais fortes e vocacionados!
Para refletir sobre o modo de vida da sociedade ocidental contemporânea (inundada de conhecimento, tecnologia e crendices), ajuda muito lançar o olhar sobre o percurso feito até aqui; visando (re) interpretar o passado, trazer alguma luz para o presente e, quem sabe, rever o como Ser e fazer daqui para frente!

Grande abraço à todos (as)

*Geólogo, Mestre em Geociências. MBA em Gestão e Empreendedorismo Social, Ph.D em Educação Brasileira.

fonte: página pessoal do facebook

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Uma salvadora de camponesas

Ex-freira ajuda mulheres no Ceará a sair da pobreza com agricultura e técnicas para lidar com a seca

Erbênia de Souza.
"A liberdade não se conquista de joelhos, mas desenvolvendo golpe por golpe, infringindo a ferida por ferida, morte por morte, humilhação por humilhação, castigo por castigo. Que corra o sangue em correntes, pois esse é o preço de sua liberdade." Flores Magón
 
A menina de jeans tinha mais ou menos a sua idade, 17 anos. Um homem a agarrava na beira da estrada e a arrastava entre a mata da caatinga. Na manhã seguinte, a calça e a camiseta de cor clara estavam rasgadas, penduradas em um arbusto, como restos obscenos de uma refeição criminosa.

Naquela noite, Erbênia viu a jovem desaparecendo no matagal e correu para o vilarejo em busca de socorro. "É uma prostituta, o que você quer?", foi a reação, unânime, das pessoas. E aquela menina, totalmente desfigurada pelo pavor, cuja morte ela não conseguira evitar, visitou-a em pesadelos ao longo de muitos anos. Mas a decisão já tinha sido tomada: abandonar tudo –família, namorado, uma vida tranquila— para se tornar freira e ajudar as mulheres que sofrem, curando-se, ela própria, do trauma da impotência.

Erbênia de Souza tem 50 anos, mas parece não ter idade alguma. É uma pessoa de corpo miúdo, com um sorriso radiante, que usa roupas normais e não um hábito religioso, além de trazer um pequeno sol pendurado no pescoço. Vive no Nordeste brasileiro, em Crateús, uma cidade com 74.000 habitantes no coração da zona semiárida mais povoada do mundo, o sertão do qual se fala nos livros de João Guimarães Rosa, o Céline brasileiro. Aqui, a seca crônica causa prejuízos para os camponeses já afetados pelo monopólio dos latifundiários; e, quando chega a chuva, ela é violenta, superficial, incapaz de se acumular mais profundamente no solo, que é vocacionado para ser um deserto.

Crateús fica no Ceará, um dos Estados mais pobres do Brasil. Para a população local, os Jogos Olímpicos do Rio são como um universo a anos-luz de distância, assim como a crise política que culminou com a destituição da presidenta Dilma Rousseff, aprovada pelo Senado Federal em agosto passado. No Ceará, 18% da população vivem em situação de extrema pobreza, ante uma média nacional de 6%. Nas zonas rurais do interior, vive mais da metade dos habitantes mais pobres de todo o Brasil.

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Fonte: El País

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Ciência Pós-Normal

 – um insight amadurecendo agora 

Jerome R. Ravetz (University of Oxford)
e Silvio O. Funtowicz (University of Bergen)
Tradução: Wânia Milanez
Edição: Oliver Blanco


      O conceito de Ciência Pós-Normal evoluiu continuamente desde a primeira apresentação do seu diagrama de características há uns dezesseis anos, em resposta aos contextos de mudança na ciência e na sociedade. 

           Inicialmente, ela foi concebida em relação a uma crescente consciência sobre as patologias do sistema industrial. Suas funções foram descritas como limpeza e sobrevivência, sendo sua característica marcante a participação abrangente em vez do protesto. Mas como a pesquisa científica tem sido cada vez mais aproveitada para a indústria ou para o governo, a emergência de uma bem definida Tecnologia de Fuga (Runaway Tecnology) acabou revelando uma nova urgência, um novo foco para seus críticos insights. A participação do público na tomada de decisões sobre questões relacionadas com a ciência está agora na moda. A Ciência Pós-Normal mostra por que isso é necessário não somente, não meramente por uma questão de justiça política, mas também pela qualidade das próprias decisões. As novas questões são complexas, e o conhecimento envolvido nelas é também complexo, mas o entendimento comum ainda não foi alcançado com este aspecto fundamental da ciência normal Pós-Normal. 

        As ameaças do desconhecido, dos irreversíveis e potencialmente perigosos desenvolvimentos nas tecnologias da informação, notavelmente biológicas mas também eletrônicas, finalmente trouxeram a mensagem de que a ciência precisa se unir à política.  A missão histórica da ciência europeia, a redução de sistemas totalmente complexos a simples elementos está finalmente se tornando compreendida como a produção de instrumentos de poder tecnológico sem os significados de controle societárioA partir daí, as reivindicações do tradicional para verdade e da virtude feitas para a ciência já não podem protegê-la dos freios e contrapesos que são aplicados a todas as outras instituições sociais. Que importante área do progresso científico está imune a problemas de incerteza e conflito de valores? Esta foi a razão que levou toda a ciência a se tornar pós-normal. 

          Desde o começo, a mensagem da Ciência Pós-Normal foi inevitavelmente radical.  Ao enfatizar as incertezas e valorizar a carga da ciência relacionada com a política, ela implicitamente contradisse séculos de sabedoria científica convencional,  em que a incerteza foi domada, a ignorância suprimida, e o caráter supostamente livre de valores da ciência proclamado como um grande valor. 

            Ao chamar as comunidades ampliadas de pares, a ciência pós-normal legitima a introdução de uma pluralidade de conhecimentos (por ex. a epidemiologia de donas-de-casa e até mesmo a injeção de considerações éticas e espirituais), em debates políticos.   O ato de focar qualidade dos processos em vez da verdade universal dos resultados reconcilia ciência com as tendências atuais da sociedade sobre o local e a participação. Nesse sentido, a ciencia pós-normal se tornou uma visão libertadora para muitos.    

             Ela deu um nome ao seu sentimento de que os termos do debate sobre a política haviam sido influenciados pela presunção de que qualquer coisa científica deveria estar livre de incerteza, independente de valores, bem como a posse exclusiva de uma elite tecnocrática. 

             Os movimentos anteriores, críticos à ciência, foram dificultados pela contradição de que a ciência parecia esmagadora e essencialmente benéfica. As críticas a qualquer uma das frentes menos estreitas foram facilmente descartadas como ludismo ou anticiência. Por mais que as objeções às armas nucleares, à energia nuclear civil ou a determinadas formas de poluição fossem amplamente bem fundamentadas, era politicamente impossível levantar a questão de saber se a própria ciência deveria ser reformada. A resposta simples foi que a ciência “trabalhou”, entregando aos consumidores uma versão da “boa vida” em medida cada vez maior. Somente agora podem ser levantadas essas questões sistemáticas. Todo o trabalho feito em nome da ciência, seja pesquisa, desenvolvimento ou aconselhamento político, é selecionado, moldado, aplicado ou inibido, interpretado e revelado ou escondido. Agora podemos perguntar: para qual benefício tudo isso é feito? 

              Embora a ciência Pós-Normal exponha e esclareça a dimensão política de prática específica, ela não é redutível à política, assim como os escritos de um autor comprometido não passam de propaganda. Sua fundamentação reside numa análise da ciência nesta idade, quando os sonhos dos profetas sobre a ciência estão se tornando verdadeiros eem parte, virando pesadelos. Suas mensagens políticas são derivadas das conclusões de sua crítica filosófica. Sua relação com as campanhas sobre ciência e suas aplicações, presentes e futuras, são as de orientação geral e legitimação. A ciência Pós-Normal é um insightque eleva a compreensão tanto para a pesquisa quanto para a ação.  Existem tipos de ação que consideramos contrárias ao seu espírito e intenção, pois não é uma elevação suave e abrangente. Mas não há monopólio de verdadeiras interpretações sobre a ciência: isso seria contrário à sua mensagem. 

                É quando a ciência Pós-Normal se desenvolve e seus conceitos são refinados por meio de discussões e experiências que as diferentes interpretações surgem, as quais podem surgir tanto em conformidade com as linhas tradicionais, como entre acadêmicos e ativistas, ou entre reformadores e radicais. Por exemplo, a ciência Pós-Normal, da forma como se desenvolveu até hoje é muito mais um insight do que uma teoria. Embora esse insight tenha sido explicado e articulado numa extensão significativa, seus autores reconhecem  que isso é apenas um vislumbre parcial diante de uma questão tão complexa. Ela é justificável pela sua utilidade em auxiliar as pessoas  a compreender  e administrar seus problemas, e na medida que é bem sucedida nesse aspecto, pode-se esperar que seja absorvida pelo senso comum e perca sua saliência. Quando, eventualmente, ninguém espera que a ciência aplicada acarrete todas as conclusões políticas, então a distinção tripla perde o interesse. 

                    Esta concepção da ciência Pós-Normal combina com a localização social de seus autores, operando como indivíduos e divulgando suas ideias por meio da escrita. Outros se estabeleceram com posições acadêmicas e não podem, ao mesmo tempo, difundir e desenvolver a ciência Pós-Normal devido às suas aulas e pesquisas. Eles obviamente tendem a se dedicar aos programas de PHD (doutorado, ou seja, Science and Philosopher Doctor) e a outros aparatos pertinentes ao trabalho universitário. Estaria isso construindo uma ciência Pós-Normal “normal”? Seria esse termo um oxímoro(ou seja, um paradoxo) Tal tensão entre a profética concepção dos fundadores do movimento e a sacerdotal concepção de seus consolidadores é universal. Inseridos no contexto da ciência Pós-Normal, esperamos torná-la frutífera, empregando os insights desenvolvidos na própria ciência Pós-Normal.

                  Outra possível linha de erro relaciona-se com as funções políticas da ciência. Isso pode ser visto através da consideração do lugar da ciência aplicada, atualmente uma forma da “ciência normal”  dentro do esquema pós-normal. Não acreditamos que os procedimentos possam ou deveriam ser resolvidos somente através de negociações políticas: eles necessariamente exigem uma contribuição científica para sua resolução. Acordos exigem uma harmonização dos valores e uma delimitação das incertezas. Acaso significaria isso que, em última instância, a ciência aplicada deveria se tornar o árbitro?  

                   A ciência poderia ser vista apenas como uma fase inicial de um processo de normalização da dissidência; e suas radicais implicações poderiam ser neutralizadas sem dificuldade. (Agradecemos a Jeff Howard por essa análise). Nossa presente resposta a essa possível contradição é lembrar que, sob as condições pós-normais, a ciência aplicada não é normal no sentido que Kuhn a utiliza. Isto é, ela não é conduzida dentro de esquemas e paradigmas inquestionados e inquestionáveis. Em vez disso, a qualidade de seus produtos, e de fato seus processos, será avaliada conscientemente pelos próprios cientistas, no diálogo com a extensa comunidade de pares. Se essa enriquecida concepção será suficiente para a prevenção de futuros conflitos com a comunidade da ciência Pós-Normal, só o tempo responderá.

                  Tais problemas são uma amostra do que nós esperamos e pretendemos encontrar no desenvolvimento da ciência Pós-Normal. Sem diálogos e debates entre amigos e críticos, isso não passaria de mera curiosidade. E como seu alcance é tão amplo, ela necessita do maior número possível de pessoas para seu crescimento. Os ensaios desta coleção fornecem uma boa indicação da amplitude das preocupaçõeque são animadas pela ciência Pós-Normal. Esta é a primeira vez que tantos autores foram trazidos para refletirem, juntos, sobre como a ciência Pós-Normal influenciou seus pensamentos, e também sobre como suas próprias experiências enriquecem a própria ciência Pós-Normal. Seus temas nesses ensaios versam sobre teoria política, governança, sistemas de ecologia, filosofia e teoria social. Pretendemos que esta seja apenas a primeira parcela de uma série que vai crescer e dar frutos.

              O conteúdo desta edição de Futuros pode ser vista como um marco de conclusão da fase de maturação da ciência Pós-Normal. Nesses primeiros sete anos, ela foi conhecida apenas por poucos; daí então ela foi lançada numa importante conferência em 1990. Seguiu-se uma série de artigos, a maior parte escritos em resposta a convites para conferências ou coleçõesOs mais significativos estão alistados abaixo. Sendo mais um insight do que uma teoria, a ciência Pós-Normal permite diferentes aspectos a serem enfatizados de acordo com a situação e com o desenvolvimento do nosso próprio entendimento.

               O presente ensaio fornece uma breve, num certo sentido uma elementar introdução a esse insight. Ele foi planejado para expor aos leitores deste jornal que a ideia é ao mesmo tempo razoável e praticável. Como deveríamos reagir diante do fenômeno de que os elementos da ciência Pós-Normal estão sendo percebidos em todos os lugares por todas as espécies de pessoas, sem nenhuma aparente influência sobre nós? Será que isso significa que nosso trabalho já se tornou redundante e que nós estamos somente nos balançando numa onda que está crescendo muito bem sem nós? Essa é uma possível interpretação. A outra é que toda essa independente “descoberta”, ou melhor, essa realização, mostra que esta é uma ideia para a qual o tempo está bastante maduro. Nós acreditamos que nosso insight tem uma estrutura e uma clareza conceitual que capacita a ciência a explicar e a unificar esses vários esforços. Na medida em que ele é útil nesse aspecto, nosso trabalho terá valido a pena.

               A mais importante tarefa na articulação da ciência Pós-Normal é localizá-la em seu contexto na teoria social contemporânea da sociedade industrial, o que foi conseguido por Stephen Healy. Focalizado o papel crucial da confiança, ele mostra como as comunidades de pares ampliados são necessárias para o seu cultivo por novos meios. Nesse sentido, ele também revela a ciência Pós-Normal liderando correntes na teoria social de riscos, como avançou notadamente Giddens e Beck. Com seus conceitos de  “sub política” (Beck) e com a participação democrática multilingue (Giddens), eles podem ser visto como movendo-se na mesma direção, embora eles não apreciem totalmente o papel das comunidades de pares ampliados e seus fatos também ampliados.

              Uma perspectiva complementar foi oferecida por James Kay e seus colegas, que chegaram à ciência Pós-Normal por meio da termodinâmica e dos sistemas de ecologia. O trabalho deles  pode ser visto como contribuição a uma visão coerente e apropriada dos mundos social e natural para o crescimento da ciência Pós-Normal. O conceito, trazido por eles, de Sistema Holístico Aberto de Auto-organização fornece  suficente enriquecimento na estrutura e ação para incertezas e uma carga de valor para ser compreendida e controlada. Eles também deixam claro por que os sistemas causais lineares não podem possivelmente fornecer uma estrutura conceitual para a gestão bem-sucedida de sistemas complexos. O caminho a seguir está no estilo pós-normal de gestão adaptativa, por meio do qual os cientistas fornecem narrativas em vez de previsões e participam na condição de iguais uns com os outros.

                 A perspectiva da ciência Pós-Normal é aplicada em problemas  contemporâneos por Bruna de  Marchi e Ravetz, sob o tema de riscos e governança. Eles têm uma progressão histórica de questões, começando com o acidente de Seveso envolvendo a liberação de dioxina, depois analisando o desastre da BSE e, finalmente, considerando um episódio inicial na batalha sobre os organismos Geneticamente Modificados (GMna cadeia alimentar. A progressão mostra como os riscos evoluíram e podem agora ser controlados somente pela abordagem da ciência Pós-Normal. Isto porque, no caso dos alimentos GM, os riscos são (até agora) puramente hipotéticos, diante do que os sistemas de incertezas são muito elevados. Mas as consequências de indesejáveis efeitos podem ser tão severas, e a preocupação pública no UK (United Kindom) e Europa em geral tão agudas, que nós temos aqui um caso clássico de decisões de alto nível. As implicações em relação à governança já foram aceitas em algumas importantes situações, e os especialistas oficiais não tiveram outra opção senão dialogar com a abrangente comunidade dos pares.

            Uma perspectiva original foi apresentada por  Fred Luks: a retórica. Parte do trabalho do diálogo com a comunidade abrangente dos pares está expandindo a linguagem do discurso para além dos tecnicismos da ciência normal. Desenvolvendo seu argumento desde os debates até o campo da economia, Fred Luks mostra como a construção de uma retórica externa é parte integral do empreendimento. A realização disso de uma forma bem feita requer uma consciência reflexiva dos aspectos retóricos da linguagem científica, e uma compreensão sobre os reais limites entre a análise científica e a ação política.

                 Outra perspectiva teórica é apresentada por Sylvia Tognetti, em sua exploração das relações entre as ideias seminais de Gregory Bateson e os insights da ciência Pós-Normal. Quando Bateson escreveu (a partir da década de 1930), as concepções positivistas da ciência e do conhecimento estavam tão dominantes que ele teve pouca oportunidade de diálogo em relação ao desenvolvimento de suas ideias. Mas ele tinha um tipo de visão da ciência para a qual não havia, até então, um nome satisfatório. Por exemplo, ele viu como a  “abdução”, construindo conhecimento com consistência em evidências a partir de múltiplas fontes, é um processo fundamental no pensamento humano. Ele também identificou deltero-aprendizagem” (ou seja, o ato de ser consciente do contexto de um tópico original) como algo essencial para a verdadeira compreensão. E, muito próximo do conhecimento sobre a teoria dos sistemas complexos que abordam a pluralidade de perspectivas legítimas, ele expressou a regra de que “duas perspectivas são melhores do que uma”. O mais conhecido conceito de Bateson é o da ligação dupla (determinação do comportamento por considerações  que não são mais relevantes); e, dado o reconhecimento da complexidade, das inerentes incertezas e do envolvimento de pesquisadores, poderia muito bem ser dito que, no processo de política, a ciência normal sofre de uma multiplicidade de dupla ligação. 

                Finalmente, Martin O’Connor nos lembra sobre a absoluta necessidade da inclusão do fator social, do diálogo e também dos elementos poéticos em qualquer prática da ciência. Ele articula um quadro de posturas epistemológicas/éticas, segundo o qual a reconciliação laplaciana (de Laplace), a epistemologia cartesiana (de Descartes) e a ética da dominação contrastam,  respectivamente, com a  “dialogia, com a complexidade e a hospitalidade". Baseando sua análise no trabalho de Serge Latouche sobre “estar-em-sociedade”, ele fornece um conjunto de entradas no "dicionário filosófico da vida diária". Tudo isso inclui “intersubjetividade”,  “pluralismo irredutível”, “um uso irônico do raciocínio axiomático” e “a dialógica natureza do conhecimento social”. Finalmente, desenvolvendo “a ética da hospitalidade”, O’Connor descreve os versos renku japoneses, onde cada poeta adiciona uma linha e convida seu amigo a fazer o mesmo, produzindo um jogo interativo de autonomia e criação. Tudo isso fornece insights para uma reconciliação harmoniosa de diversos pontos de vista, tão essencial para o processo da ciência Pós-Normal.

References

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[5] The emergence of post-normal science, in: R. von Schomberg (Ed.), Science, Politics and Morality, Kluwer, Dordrecht, 1992, pp. 85–123. 
[6] The worth of a songbird: ecological economics as a post-normal science, Ecological Economics 10(3) (1994) 197–207. 
[7] Uncertainty, complexity and post-normal science, Environmental Toxicology and Chemistry 13(12) (1994) 1881–1885. 
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[9] Risk management, post-normal science, and extended-peer communities, in: C. Hood, D.K.C. Jones (Eds.), Accident and Design, UCL Press, London, 1996, pp. 172–181. 
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[11] The passage from entropy to thermodynamic indeterminacy: long-term principles for sustainability, with Martin O’Connor, in: K. Mayumi, J.M. Gowdy (Eds.), Bioeconomics and Sustainability: Essays in Honour of Nicholas Georgescu-Roegen, Edward Elgar, Cheltenham, forthcoming. 
[12] The good, the true and the post-modern, Futures 1992;24(10):963–974. 
[13] Science for the post-normal age, Futures 1993;25(7):735–755. 
[14] Emergent complex systems, Futures, 1994;26(6):568–582. 
[15] The poetry of thermodynamics, Futures, 1997;29(9):791–810.



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