"

"Harmonizo meus pensamentos para criar com a visão". "Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e não mais lutando por dinheiro e poder, então nossa sociedade poderá enfim evoluir a um novo nível".

terça-feira, 31 de julho de 2018

Econometria Campesina


17 de julho de 2018
por Sebastião Pinheiro 

Em Saravena, Arauca, diante de um mural pintado coletivamente, digno de Diego de Rivera, percebi um passarinho que chamamos de cardeal e, também galinho da campina ou Tie Guazu (Paroaria spp., classificado por Millet/Buffon em 1776/1781). Eu gosto muito dos nomes locais dos passarinhos, pois descobri, mais um.

Sempre aprendo. No Mural a consiga: "Nos enterraram. Não sabiam que éramos sementes". Cultura é a primeira e última expressão humana.

Por fortuna da minha infância carrego comigo todas as figuras do folclore nativo, cujas fábulas encantaram minha educação: "A pata sola" (Mula sem cabeça); "O Boitatá" (Güiou luminoso) e o "Curupira" (a criança com os pés ao contrário) sei as funções místicas de cada um (fotos). Todas essas figuras estranhas foram criadas por humanos como forma

pedagógica ou repressiva de estímulo ou precauções para preservá-lo. Folclore que com o passar do tempo se transforma na mitologia de superação da natureza, aspiração humana no ultrassocial.

De onde estou posso antever em "dèja vu" o que
virá para as próximas gerações, mais do que um folclore macabro ou mitologia hedionda um genocídio, por isso é necessário antecipar uma reação e construção, o restauro do Bio~Poder campesino na região. 

Consegui consolidar o por que da maior resistência dos camponeses das zonas de montanha e êxito na defesa do seu território. As outras regiões niveladas foram priorizadas pela agricultura industrial moderna, ao qual eu não me dava conta, nem consciência.

Nas montanhas vemos menor erosão cultural, maior distribuição de renda e poder cidadão compartilhado na comunidade, algo que não existe mais nas planícies do agronegócio.

Me encontro na várzea colombiana, onde há uma incursão aniquiladora do agronegócio cobiçada para a expansão de commodities estratégicas do Complexo Industrial Militar (Financeiro), lembrem-se do que disse Eisenhower em 1954, por isso que é necessário decifrar o que representa a "Palma Africana", "Eucalipto", "Soja", sementes transgênicas e Glifosato que ameaçam diretamente a autonomia, a saúde e até a existência campesina. 

Como em outras planícies, aqui isso começa na desvalorização humana pressionando sua autoestima para que abandone, venda suas terras e migrem para as cidades para aumentar a "massa salarial", consumo de alimentos industrializados, e principalmente, não concorrer com a produção da indústria alimentícia. Com isso o agronegócio visa eliminar a concorrência, pois não tem alimentos desvitalizados, contaminados e procura enganar com belas embalagens e propagandas subliminares que valem mais de 80% do custo, mas sem isso estariam fora do mercado. Simón Rodríguez, o maestro de S. Bolívar disse: "Ou inventamos ou erramos".

Lembro agora o que Susan George disse em 1980: "60% da economia do mundo está nas mãos de 20 corporações gigantescas". Isto foi antes das fusões da Biotecnologia e não é folclore ou mitologia, mas pode ser tratado tanto pelos políticos ou cientistas subservientes como tais figuras iniciais.

Ignoramos que os alimentos de monocultura, milho, trigo, arroz valem 80% do valor dos produtos nas prateleiras (estantes) dos Super mercados e Shopping Center, onde recheios com celulose e amido engrossam e dão consistência, mas tirando o poder nutritivo. Esses alimentos seguem preços internacionais como commodities, regulados com a bolsa de Chicago e estão sobre o poder dos governos igual a energia para permitir maior lucros aos monopólios, por isso as monoculturas dos 5 grandes blocos (Cargill, Louis Dreyfus, ADM, Bayer-Monsanto). Assim submetem camponeses e povos.

As corporações e corretores, por definição indústrias alimentícias não compram matérias-primas diretamente de camponeses, não é por causa do seu grande número, cultura ou consciência ambiental - social. É pela concorrência: Os querem extintos, transformados em consumidores de seus produtos e substituídos por novos "agricultores" (growers), meros consumidores de créditos, insumos e serviços, sem identidade com a terra e sem uma cultura que impeça o consumismo das linhas de montagem" em que está transformado o agronegócio. São eles que no Chile, Argentina, Uruguai, Brasil, Santa Cruz na Bolívia e todas as planícies da América Latina substituem o que a indústria alimentar deseja pela sua maior capacidade de consumir insumos, serviços e tecnologias, mais principalmente de concentrar "mais valia" drenando, descapitalizando o campo e transferindo para as grandes corporações em conluio com governos.

Dizia Lutzenberger: "Um milhão de camponeses produzindo 100 ovos diários cada é menos interessante para a indústria alimentícia que, um empresário produzindo os mesmos 100 milhões de ovos, pois induz a propinas e "vacinas" mais gordas, que, para as corporações é embutida nos custos. É por isso que os governos planejam, induzidos e constroem para eles a infraestrutura e logística destinada a beneficiar as corporações, como se fosse uma obra pública, porém construída com dinheiro público. Mas o grave, é permitir a propaganda na mídia e marketing, o que oprime e expulsa camponeses dos seus territórios por carência de infraestruturas e obras públicas.

A alienação desses novos membros do agronegócio são úteis para o desenvolvimento de tendências, sem alternativa ou questionamentos e passa a ser a política mundial através dos órgãos multilaterais, enquanto dia a dia verticalizem os seus interesses dentro do modelo e através das violências estruturais perpetram o genocídio econômico em que vivemos.

O problema maior é que as grandes planícies próximas das cadeias de montanhas, que começam a conhecer as monoculturas enfrentam outro problema que é por tal mais notável e catastrófico: a apropriação do mais-valia campesino, que deve ser dividida em mais-valia ambiental e social. Qual os significados dessas mais-valia e como são apropriados pelos governos, sem os devidos serviços ou políticas públicas?

Todo e qualquer alimento natural campesino ao chegar a uma capital (Bogotá é um bom exemplo), cria uma rede de negócios que não são de interesses central do agronegócio, das grandes corporações. As infraestruturas, logísticas, distribuições e diversificação da renda são vigorosas e necessitam ser estudadas e equacionadas dentro de uma econometria, onde os governos são suspeitos para fazê-los e as academias necessitam purgar as induções dos "Chicago Boys".

Pelo desgaste da agricultura moderna a partir dos anos 60 no centro e 80 na periferia foi criado o termo "deseconomias externas"* ao processo produtivo e cumulativo de capital embasado nas "deseconomias internas" inerentes ao empresário. Desempenho das máquinas, manejo e gestão, logísticas e outras que lentamente passarão a ser responsabilidade-função do Estado e Sociedade. Algumas legislações foram aprovadas, mas, de valor cosméticos na ordem de combate à poluição e devastação da natureza.

Após a Conferência Rio 92 surgiu o conceito de "Sustentabilidade" com campanhas subliminares para absorver as deseconomias externas, coisa que na agricultura campesina não é necessária, pois os seus processos tecnológicos não produzem tais deseconomias. Para a ideologia de desenvolvimento e crescimento da Indústria de Alimentos (Agronegócios) a presença campesina é subversiva e precisa ser eliminada pela qualidade superior e baixo preço de seus produtos, mas principalmente por impedir o acumulo de capital de forma exponencial concentrada. A mais-valia social e ambiental camponesa são prejuízos para os corretores (brokers) e corporações.

Como na agricultura camponesa não há as deseconomias externas pela reação ao uso de crédito especulativo, adubos químicos, agrotóxicos, máquinas intensivas, sementes transgênicas com suas proteínas tóxicas e resíduos de genes estranhos. Além disso, por sua escala as deseconomias sociais e ambientais nulas ou quase, são perfeitamente corrigidas pela organização e tecnologias apropriadas.

No cálculo da destruição da mais-valia social camponesa é necessário considerar os custos sociais dos massacres, luto e insegurança social não como deseconomias externas, mas como responsabilidade consciente das corporações; da mesma forma, da mais-valia ambiental camponesa por causa da devastação e contaminação da natureza.

Estes dois últimos componentes crescem em proporção na mais-valia geral camponesa pelos danos à mudança climática, pois com a mesma ação ultrassocial camponesa de produção de alimentos, pois o campesino pela sua forma de produzir, mais do que mitigar, corrigir os impactos negativos da mudança climática, fixando os gases do efeito de estufa no solo de vital importância também nas reservas de água e isto precisa ser levado em conta.

Perdoem-me a ousadia, mas o maior valor não está sobre a “mais-valia econômica", mas sobre a "mais-valia social" pelo valor cultural do alimento campesino no fornecer da capital e grandes cidades. Aqui pude perceber o por que os Chefs procuram alimentos culturais camponeses para seus caros pratos. Queira Deus que não estejam mancomunados com a Indústria de Alimentos nas áreas populares, e também de luxo.

Como calcula-la e destaca-la dentro da composição do mais-valia, sem perder de referência que campesino em seu modo de produção preserva a natureza e meio ambiente, que se põe na contra via as deseconomias externas criadas pelo agronegócio, pois há uma "mais-valia ambiental camponesa" de valor tão grande quando a "mais-valia social camponesas" e deve, urgentemente, ser "econometrizada".

Nas áreas de várzea entre montanhas na América Latina, com população campesina são mais de cem anos de massacres e genocídios realizados por interesses do império.

Qual é o valor da Econometria Invisível Campesina na América Latina, em especial quanto a mais-valia social e ambiental?

Quais os seus impactos positivos sobre o trabalho, Distribuição e Desconcentração de Renda?

Enquanto isso, nas Planícies Altas (Planaltos) do Brasil (e outras áreas semelhantes na América Latina), já totalmente ocupado por aquelas 5 corporações expulsando os agricultores familiares, tivemos a legislação ambiental (Novo Código Ambiental) induzida para os serviços de GoNGO (ONG Governamentais), tipo WWF e outras do Jet set transnacional (Paz Verde) para consolidação da indústria alimentar através de propaganda sobre uso de solo por Aptidão, respeito à natureza e restrição de áreas para se tornar inviável a agricultura familiar já estabelecida há 250 anos.

O usuário campesino desde as Ligas Camponesas derrubada por U.S State Dept., em 1964, agora está em estertores no MATOPIBA (72 milhões de hectares, ameaçando mais de milhão de usuários camponeses, que é usado na propaganda oficial do órgão de Investigação Nacional. Na expansão final da fronteira do agronegócios; com exceção da Amazônia, onde a ameaça é a produção do “BIOCHAR”® como commodity, para suprir a Europa, Norte-América, Ásia e Austrália. O diabólico é que eles querem vender serviços do “BIOCHAR”® e a reflorestação com Eucalipto para poder vender as suas usinas de pirólises da madeira, inventadas antes da Primeira Guerra Mundial).
 
A leitura de "Rescoldo bajo Cenizas", de Ignacio Betancur Sánchez é recomendado. Respostas necessitam de especialistas comprometidos com a construção do Bio~Poder campesino. Zapata Vive e a luta segue. 
 
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*Denominadas también externalidades negativas, consisten en que los costos de una actividad se difunden a otras personas sin que reciban por ello ninguna compensación. Por ejemplo, la contaminación que producen las industrias químicas produce un deterioro en el medio ambiente que sufren todos los habitantes del entorno sin que reciban por ello ninguna compensación.
Lopez Dominguez, Ignacio



IGNACIO BETANCUR, SU CORAZÓN: "RESCOLDO BAJO CENIZA" fonte: libros y libres

DE EDUCACIÓN Y ESPÍRITU JUVENIL

Dice Ignacio Betancur en sus Confesiones peregrinas: "[...]pese a todas las adversidades, existen jóvenes llenos de capacidades y de sueños hermosos con un horizonte brillante, lleno de colorido. Jóvenes que cuando ven espacios para participar, para crear, para soñar, nos dan demostraciones que nos llenan de entusiasmo. Ellos, los jóvenes, que son el futuro, representan una fuerza capaz de transformarlo todo.

Así como en un temblor de tierra podemos apreciar fuerzas extrañas y poderosas que mueven edificios y llegan a hundir ciudades, también en la juventud hay una fuerza poderosa capaz de transformar la patria, si la dirigimos bien; pero también capaz de hundirla, si la orientamos mal y no le permitimos liberar su potencial.

Pensamos que actualmente la juventud carece de oportunidades. No tiene espacios para expresarse, no encuentra cómo ni con quiénes dialogar, ni en su casa, ni en el colegio, ni en el municipio, ni en la parroquia.

Siempre hemos creído que esos muchachos no sirven para nada, que son perezosos, díscolos e inútules. Nosotros, tanto profesores como padres de familia, estamos llamados a la reflexión y a un cambio de pedagogía en nuestra relación con ellos. Porque joven no es quien tiene poca edad, sino quien tiene alma y corazón llenos de ese potencial capaz de mover montañas".

segunda-feira, 30 de julho de 2018

NIXTAMAL, PROCESO MÁGICO DEL MAÍZ

"Minha gente neste site, https://www.youtube.com/watch?v=iEogmSlb62o  (vídeo abaixo) um vídeo de 25 min que todos/as os/as Latinos/as Americanos/as devem ver e depois estudar por que a General Education Boad do Grupo Rockefeller foi impedido de fazer sua 'Extensão Rural' e Sanitária nos EEUU (Lei Smith-Lever em 1914) mas liberada para fazê-la no mundo em seus moldes comerciais. Conto com todos vocês. Abç, Tião"

Compartilhem! Divulguem para o Mundão ver! Estudem e conscientize-se sobre como os yanques EEUU destruiu o Território Caipira, no caso do Brasil, e tentou destruir a cultura do Milho no México, com os próprios milhos roubados dos camponeses e modificado em Híbridos e Transgênicos!!

É preciso saber; apropriar-se e conhecer a história, estórias e escrevivência Camponesa, para que nossas comunidades rurais existentes e resistentes possam retomar sua evolução; suas economias, trabalhos, suas trocas solidárias, o uso da terra e a luz da tecnologia dentro da realidade e construção do conhecimento local... 

Acredito que não é necessário tomar o Poder por vias políticas para mudar o nosso entorno social, mas a consciência de si, a consciência do ter, é a luz necessária em nossas caminhadas para evitar a desintegração Cultural, a seguridade alimentar e suas conquistas atuais na agriCultura, tendo a luta pelos direitos ao acesso aos recursos naturais, os diálogos pela políticas públicas que asseguram o respeito e o direito cidadão como prioridades para o fortalecimento de quem somos e quem queremos ser como Nação independente e de forte expressão Cultural. 

Biopoder Campesino Vive e viverá!
Luta segue, e segue
Viva Z.
  

quarta-feira, 4 de julho de 2018

Subida do Araguaia II

24 de junho de 2018
por Sebastião Pinheiro

Estou desde que estive com os Apurinãs na Terra Caititu Extrativistas de Borracha e Castanhas de Yurua desenvolvendo a técnica campesina (baseada na Cromatografia de Pfeiffer) para detecção de Huminas que sucumbem os gases do Efeito Estufa e os aprisionam no solo.

A fórmula AgNO3 + CO (NH2) 2 → AgOCN + NO3 (NH4) é sua equação e a consegui à noite na margem do rio Araguaia em viagem recente, depois de estar na aldeia Eteweewaue, Xavante então resolvi reescrevi o que postei no Facebook ontem, pois é possível que agora sua leitura seja mais clara.

Não há civilização sem muita água. Por exemplo, quem seria Nezahualcoltl sem os Lagos perto de Texcoco, hoje CDMX. Então, um rio pode subir em busca do futuro, felicidade, ou descer em busca de esperança ou salvação. Em minha juventude, impactou ler o autor missionário uruguaio Horacio Quiroga, no conto "A anaconda". Na subida, por outra razão, tenho buscado minha identidade, que não é o número dos meus documentos e suas descrições policiais. Sim, estou cada vez mais perto da minha nascente, quando muitos estão vegetando na floresta esperando pela passagem inexorável. Por enquanto estou no Araguaia, onde muitos jovens foram enterrados clandestinamente por se oporem ao regime da ditadura imposta pela Guerra Fria. Sim, foram assassinados, no entanto seus sonhos, jamais serão destruídos, pois eles são o motor da história. O lugar é o berço dos sonhos e da memória ainda obscurecido na história.
No evento de sementes perguntei a Orame, um jovem nativo do Xingu, nascido nos últimos anos do século XX com aproximadamente 22 anos de idade, sobre Diacuí. Uma índia do "povo Kalapalo" que se tornou nacionalmente conhecido como a Cinderela dos trópicos em 1952, quando eu tinha apenas 5 anos de idade, meio século antes do nascimento de Orame. Minha pergunta procurou testar o poder da oralidade. Sem muitos detalhes ele conhecia a história de Diacuí. Voltei para casa e comecei a estuda-la. Ela foi levada ao Rio de Janeiro, por Ayres Câmara Cunha, um 'sertanista "(antropólogo trabalhando na fundação Brasil Central e desejava tirar os nativos da barbárie, contrariando os cientistas do Serviço de Proteção aos Nativos, contrário à ignorância dos Europeus e seus desenhos não ambientados no Brasil). Com a imprensa, sempre a imprensa, o Diacuí foi transformada em uma figura. Há ruas em Porto Alegre com seu nome; bairros residenciais em Goiânia, jardins e praças em todo o Brasil... Eles se casaram na Igreja da Candelária onde casam os plutocratas nacionais com a presença e apadrinhamento de ministro de Estado, que era uma democracia recente atendendo a ordem do pós-guerra. Em seu casamento não havia nenhum parente nem membros de seu povo Kalapalo...

No Brasil é assim, os "recém-chegados" são canibais e as pessoas são produtos de consumo. Ela morreu no parto, mas sua filha tem quase a minha idade e foi conhecer a cidade de sua mãe, recentemente, sob o patrocínio da TV Globo... Não devo dizer mais nada. Pobre Cinderela. Tão pouco posso dizer, mas um blog sugere que o sertanista, não pretendia "civilizar" ou quitar a barbárie indígena, mas conquistar um grande território. Como caricatura seguiu o que a coroa inglesa determinou a John Rolf que se  casou com Pocahontas, para poder capturar a produção de tabaco na Virgínia e compartilhar com espanhóis e portugueses no mercado de narcóticos. Sim, somos caricaturas. A expedição de Percy Fawcett já havia desaparecido junto aos Kalapalos (1925), enquanto procurava a Cidade Perdida de Z, com o Ouro dos Incas. O rio Culuene continua o mesmo correndo em direção ao Xingu, pois a vida não pode parar. A oralidade indígena é superior à escola estrangeira como eu queria demonstrar... Com esse "back ground" posso retornar ao rio Araguaia...

Tive a bênção de conhecer Dom Hélder Câmara e Dom Pedro Casaldáliga, bispos identificados com o ser humano, em suas plenitude materiais, e agora volto a encontrar Dom Pedro já bem ancião (velho) e admirar de perto o vigor que sua figura emana na Prelazia de São Félix do Araguaia. Nem a doença consegue quebrantar seu brilho.

Na TV, não vemos a notícia ou informação. Vemos aquilo que interessa ao poder do império e seus pretores (pressupostos). A reflexão é necessária, vemos nos meios de comunicação os problemas no Oriente Médio, em particular na Faixa de Gaza, onde um povo retirado de suas casas foi confinado em uma prisão a céu aberto. Não há como não se posicionar quando se vê crianças, mães, jovens atirando pedras nos soldados, como o jovem David tentando eliminar um Golias de alta tecnologia, recursos e apoios.


Em 1965 um povo nacional, os Xavantes (Akuen, a'uwe, Akwe, Awen, ou Akwen) foram expulsados de suas terras caíram os rios de desespero, feitos escravos, depois o exílio sofrendo epidemias causadas ​​pela má alimentação e privação de liberdade ... Já faz muito tempo que li em Dee Browm, em "Bury My Heart at Wounded Knee” com a grande caminhada, genocídio, também planejado, norte-americano, que depois de forma utilitária usou a linguagem Delaware-Lakota como um código militar para derrotar o Japão na Guerra. As terras Xavante foram "vendidas" e entregues ao proprietário Ariostoda Riva (Hacienda Suyá Missu) pelo governador do Mato Grosso em 1950, respaldado, depois pelo regime militar de 1964 com medo da Revolução Cubana. Haverá isso ocorrido somente por corrupção ou por uma ordem do império para criar uma "base camuflada" para sufocar qualquer rebelião nativa, como foi feito com o Projeto Jari no Amapá? Para a história há tempo, mas para os humanos não. "Marãiwatsédé" na língua Xavante significa Mata Densa, que em português pode ser traduzido por "Mato Grosso" que dá nome ao Estado. No Brasil, a corrupção sempre caminha ao lado da ignorância dos que mais frequentaram a escola.

Convivi alguns dias com alguns nativos brasileiros (Carajás, Xinguanos ou Xavantes), somente nos permite perceber que uma "Faixa de Gaza" não está dentro da TV no horário nobre das notícias, mas está mais adentro de nossa sala do que o próprio dispositivo como uma ação de doutrina e controle. Nossa educação em todos os níveis não nos permite conhecer a realidade, só a fantasia alienadora dos meios de comunicação. Um candidato a governo do estado disse em voz alta e  com tom, que "os seres humanos de povos nativos ou adventícios que vieram contra sua vontade como escravos são as piores coisas que há na sociedade local e nacional". Está é a formação universitária nacional.

Esquecemos o Primeiro deputado federal indígena Mario Juruna. Esquecemos a gravação da banda de Heavy Metal "Sepultura", de "Raízes" com eles na campanha contra a Fome. Nem sabemos quem foi Jimmy Carter e sua doação em comida...


Mas a resistência venceu ao ódio. Hoje os Xavantes depois de muita luta e sofrimento retornam para casa, reconquistam seu território, sem árvores, totalmente devastados sem caça, sem peixes, suficientemente envenenados por uma agricultura predatória pelo agronegócio, mas com a esperança de subir o rio para voltar a seus lares nas aldeias de seus antepassados, onde permanecem vibrando suas divindades e logo as matas voltarão a sorrir e chorar ao vento e o tambor dos pés na terra ecoará nas aldeias.

O promotor federal cumpriu a constituição e cobra uma punição ao governo por 60 anos de exílio confinamento e desmoralização e genocídio cultural. Na aldeia Etewauwe o Cacique David, filho de Tibúrcio e sobrinho de Januário encontrei tantas crianças, que trazem a esperança de que eles logo estarão em boas escolas étnicas harmonizando as alturas de sua cultura e identidade nacional. Também me deixou feliz nessa subida do Araguaia é saber que eles na retomada estão produzindo alimentos para as outras aldeias: Solidariedade e Fraternidade. Isso está em seu sangue e espiritualidade.

Descobriu-se que o povo nativo Karitiana não sofre de hepatite, então seu sangue passou a ser procurado pelos garimpeiros da biotecnologia (Genoma Humano). O estudo genético de 2015 conclui que as origens dos Karitiana, Xavantes e Paiter-Surui têm ancestrais em populações da Australásia, Ilhas Andaman, Nova Guiné e Austrália. Os cientistas especulam suas relações com a "População Y", de onde ambos os grupos divergiram entre 15.000 e 30.000 anos atrás e migraram para o norte até chegarem ao interior da "Marãiwatsédé" e deram nome a um Estado.

A esperança em ver jovens que, em conjunto, promovem e organizam a recoleta de sementes, sua distribuição e semeadura para fixar os gases do efeito estufa no solo e na floresta que rebrota onde antes só havia a devastação da pecuária do agronegócio promovida pelo mesmo governo inepto do "waradzu" (branco). O trabalho da Prelazia é fantástico, merece receber o Prêmio Nobel da Paz por suas ações diversificadas em favor dos mais humildes.

Subindo o Araguaia vou cantando: "Rio abaixo, rio abaixo vou levando esta jangada ...". Sim, com consciência vou satisfeito por ter recebido a mão do Guardião do Tempo. Pelo menos uma das nossas "Faixa de Gaza", está com os seus dias contados, antes de chegar a nascente destruiremos todas as "Faixa de Gaza". E a luta segue e segue na construção do biopoder campesino, Zapata Vive e Vive nas Águas do Araguaia..
 
 



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3. ...educadora Marisa Vorraber Costa, da UFRGS:
“As sociedades e culturas em que vivemos são dirigidas por poderosas ordens discursivas que regem o que deve ser dito e o que deve ser calado e os próprios sujeitos não estão isentos desses efeitos. A linguagem, as narrativas, os textos, os discursos não apenas descrevem ou falam sobre coisas, ao fazer isso eles instituem as coisas, inventado sua identidade. O que temos denominado ‘realidade’ é o resultado desse processo no qual a linguagem tem um papel constitutivo. Isto não quer dizer que não existe mundo fora da linguagem, mas sim, que o acesso a este mundo se dá pela significação que é mediada pela linguagem.”
 

Rede Soberania

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Esta Nação é da Multitude brasileira!

Blogueiros/as uni vós!

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