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"Harmonizo meus pensamentos para criar com a visão". "Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e não mais lutando por dinheiro e poder, então nossa sociedade poderá enfim evoluir a um novo nível".

terça-feira, 3 de julho de 2018

Subida do Araguaia



22 de junho de 2018
por Sebastião Pinheiro


Um rio pode subir em busca do futuro, felicidade, ou descer em busca da esperança ou salvação. Em minha juventude impactou ler o autor uruguaio-missioneiro Horacio Quiroga, no conto "La yarará". Na subida, por outra razão tenho buscado minha identidade, já que estou cada vez mais perto da minha nascente. Por hora estou no Araguaia, onde muitos jovens foram enterrados clandestinamente, porém seus sonhos, jamais. Lugar berço de sonhos e memórias ainda turva na história.

Tive a bênção de conhecer Dom Hélder Câmara e Dom Pedro Casaldáliga, bispos identificados com o ser humano, em suas plenitude materiais, e agora volto a encontrar Dom Pedro já bem ancião (velho) e admirar de perto o vigor que sua figura emana na Prelazia de São Félix do Araguaia. Nem a doença consegue quebrantar seu brilho.

Na TV, não vemos a notícia ou informação. Vemos aquilo que interessa ao poder do império e seus pretores (pressupostos). A reflexão é necessária, vemos nos meios de comunicação os problemas no Oriente Médio, em particular na Faixa de Gaza, onde um povo retirado de suas casas foi confinado em uma prisão a céu aberto. Não há como não se posicionar quando se vê crianças, mães, jovens atirando pedras nos soldados, como o jovem David tentando eliminar um Golias de alta tecnologia, recursos e apoios.

Em 1965 um povo nacional, os Xavantes (Akuen, a'uwe, Akwe, Awen, ou Akwen) foram expulsados de suas terras caíram os rios de desespero, feitos escravos, depois o exílio sofrendo epidemias causadas ​​pela má alimentação e privação de liberdade ... Já faz muito tempo que li em Dee Browm, em "Bury My Heart at Wounded Knee” com a grande caminhada, genocídio, também planejado, norte-americano, que depois de forma utilitária usou a linguagem Delaware-Lakota como um código militar para derrotar o Japão na Guerra. As terras Xavante foram "vendidas" e entregues ao proprietário Ariostoda Riva (Hacienda Suyá Missu) pelo governador do Mato Grosso em 1950, respaldado, depois pelo regime militar de 1964 com medo da Revolução Cubana. Haverá isso ocorrido somente por corrupção ou por uma ordem do império para criar uma "base camuflada" para sufocar qualquer rebelião nativa, como foi feito com o Projeto Jari no Amapá? Para a história há tempo, mas para os humanos não. "Marãiwatsédé" na língua Xavante significa Mata Densa, que em português pode ser traduzido por "Mato Grosso" que dá nome ao Estado. No Brasil, a corrupção sempre caminha ao lado da ignorância dos que mais frequentaram a escola.

Convivi alguns dias com alguns nativos brasileiros (Carajás, Xinguanos ou Xavantes), somente nos permite perceber que uma "Faixa de Gaza" não está dentro da TV no horário nobre das notícias, mas está mais adentro de nossa sala do que o próprio dispositivo como uma ação de doutrina e controle. Nossa educação em todos os níveis não nos permite conhecer a realidade, só a fantasia alienadora dos meios de comunicação. Um candidato a governo do estado disse em voz alta e  com tom, que "os seres humanos de povos nativos ou adventícios que vieram contra sua vontade como escravos são as piores coisas que há na sociedade local e nacional". Está é a formação universitária nacional.

Esquecemos o Primeiro deputado federal indígena Mario Juruna. Esquecemos a gravação da banda de Heavy Metal "Sepultura", de "Raízes" com eles na campanha contra a Fome. Nem sabemos quem foi Jimmy Carter e sua doação em comida...

Mas a resistência venceu ao ódio. Hoje os Xavantes depois de muita luta e sofrimento retornam para casa, reconquistam seu território, sem árvores, totalmente devastados sem caça, sem peixes, suficientemente envenenados por uma agricultura predatória pelo agronegócio, mas com a esperança de subir o rio para voltar a seus lares nas aldeias de seus antepassados, onde permanecem vibrando suas divindades e logo as matas voltarão a sorrir e chorar ao vento e o tambor dos pés na terra ecoará nas aldeias.

O promotor federal cumpriu a constituição e cobra uma punição ao governo por 60 anos de exílio confinamento e desmoralização e genocídio cultural. Na aldeia Etewauwe o Cacique David, filho de Tibúrcio e sobrinho de Januário encontrei tantas crianças, que trazem a esperança de que eles logo estarão em boas escolas étnicas harmonizando as alturas de sua cultura e identidade nacional. Também me deixou feliz nessa subida do Araguaia é saber que eles na retomada estão produzindo alimentos para as outras aldeias: Solidariedade e Fraternidade. Isso está em seu sangue e espiritualidade.

Descobriu-se que o povo nativo Karitiana não sofre de hepatite, então seu sangue passou a ser procurado pelos garimpeiros da biotecnologia (Genoma Humano). O estudo genético de 2015 conclui que as origens dos Karitiana, Xavantes e Paiter-Surui têm ancestrais em populações da Australásia, Ilhas Andaman, Nova Guiné e Austrália. Os cientistas especulam suas relações com a "População Y", de onde ambos os grupos divergiram entre 15.000 e 30.000 anos atrás e migraram para o norte até chegarem ao interior da "Marãiwatsédé" e deram nome a um Estado.

A esperança em ver jovens que, em conjunto, promovem e organizam a recoleta de sementes, sua distribuição e semeadura para fixar os gases do efeito estufa no solo e na floresta que rebrota onde antes só havia a devastação da pecuária do agronegócio promovida pelo mesmo governo inepto do "waradzu" (branco). O trabalho da Prelazia é fantástico, merece receber o Prêmio Nobel da Paz por suas ações diversificadas em favor dos mais humildes.

Subindo o Araguaia vou cantando: "Rio abaixo, rio abaixo vou levando esta jangada ...". Sim, com consciência vou satisfeito por ter recebido a mão do Guardião do Tempo. Pelo menos uma das nossas "Faixa de Gaza", está com os seus dias contados, antes de chegar a nascente destruiremos todas as "Faixa de Gaza". E a luta segue e segue na construção do biopoder campesino, Zapata Vive e Vive nas Águas do Araguaia..




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