Ex-freira ajuda mulheres no Ceará a sair da pobreza com agricultura e técnicas para lidar com a seca
Erbênia de Souza. |
"A liberdade não se conquista de joelhos, mas
desenvolvendo golpe por golpe, infringindo a ferida por ferida, morte por
morte, humilhação por humilhação, castigo por castigo. Que corra o sangue em correntes,
pois esse é o preço de sua liberdade." Flores Magón
A menina de jeans tinha mais ou menos a
sua idade, 17 anos. Um homem a agarrava na beira da estrada e a arrastava entre
a mata da caatinga. Na manhã seguinte, a calça e a camiseta de cor clara
estavam rasgadas, penduradas em um arbusto, como restos obscenos de uma
refeição criminosa.
Naquela noite, Erbênia viu a jovem
desaparecendo no matagal e correu para o vilarejo em busca de socorro. "É
uma prostituta, o que você quer?", foi a reação, unânime, das pessoas. E
aquela menina, totalmente desfigurada pelo pavor, cuja morte ela não conseguira
evitar, visitou-a em pesadelos ao longo de muitos anos. Mas a decisão já tinha
sido tomada: abandonar tudo –família, namorado, uma vida tranquila— para se
tornar freira e ajudar as mulheres que sofrem, curando-se, ela própria, do
trauma da impotência.
Erbênia de Souza tem 50 anos, mas parece
não ter idade alguma. É uma pessoa de corpo miúdo, com um sorriso radiante, que
usa roupas normais e não um hábito religioso, além de trazer um pequeno sol
pendurado no pescoço. Vive no Nordeste brasileiro, em Crateús, uma cidade com
74.000 habitantes no coração da zona semiárida mais povoada do mundo, o sertão
do qual se fala nos livros de João Guimarães Rosa, o Céline brasileiro. Aqui, a
seca crônica causa prejuízos para os camponeses já afetados pelo monopólio dos
latifundiários; e, quando chega a chuva, ela é violenta, superficial, incapaz
de se acumular mais profundamente no solo, que é vocacionado para ser um
deserto.
Crateús fica no Ceará, um dos Estados mais
pobres do Brasil. Para a população local, os Jogos Olímpicos do Rio são como um
universo a anos-luz de distância, assim como a crise política que culminou com
a destituição da presidenta Dilma Rousseff, aprovada pelo Senado Federal em
agosto passado. No Ceará, 18% da população vivem em situação de extrema
pobreza, ante uma média nacional de 6%. Nas zonas rurais do interior, vive mais
da metade dos habitantes mais pobres de todo o Brasil.
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Fonte: El País
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