31
de dezembro 2025
Por
Tião
A
Matéria Orgânica no Solo, MOS, é esperança, produto do aproveitamento da Luz
(fóton) por seres autotróficos, ou indiretamente do corpo daqueles por
heterotróficos (dualidade nos líquens). Energia que, continua se transformando
ao Húmus inerte, mas com suficiente energia para reativar seu aproveitamento
pelos heterotróficos, mesmo em ausência da luz, enquanto houver matéria
orgânica no ambiente, em forma cíclica, especialmente em mãos camponesas.
O
médico Humberto Maturana e o biólogo Francisco Varela, metaforicamente defendem
que todos os seres vivos estão aptos a “conhecer”, e incluem também os vegetais
inclusive os microrganismos. Isto é cosmogônico para o camponês e a MOS, pois
eles sabem que a mente, a consciência e o Eu não existem no interior do
cérebro, mas cristalizam e emergem na atividade comportamental dos organismos
envolvidos em trocas energéticas-sociais, muito além da física, química ou mera
pedagogia. Ao empregar o termo “crematística”, introduzimos o
complemento de “metabolismo e autopoiese” na MOS. Afinal, o que é o clima? Ou
melhor, o que é a MOS para o clima?

Neste
momento de crise climática com catástrofes há mais de meio século anunciadas.
Fomos obrigados há 180 anos a ignorar a ciência, a civilização, cultura e
economia, em nome do lucro ideológico-mercantil do Complexo Industrial Militar
na agricultura. Restaurar valores do comportamento e conhecimento citados
no Ciclo da Matéria Orgânica é o alicerce filosófico da autonomia Ultrassocial
ou camponesa. Edward Wilson, em 1970 listou os cinco seres
ultrassociais (aqueles que manejam a MOS com consciência. A humana, contudo, é
a única que utiliza um instrumento que não é original do planeta para mediar o
escambo ou troca de produtos agrícolas, o ouro. Produto externo ao sistema
solar, mas o valor mais estável nos últimos 500 anos na Terra, na Sociedade
Industrial Moderna, cada vez mais afastada da Natureza pela ditadura de sua
crematística no Complexo Industrial Militar (Eisenhower, na posse de
Kennedy).

Em
uma entrevista (Jornal Sul 21) abordamos o "Agronegócios", em
sua evolução a indústria precisou de forma crescente da propaganda, bem
diferente da gritaria que existia nas feiras-livres e mercados públicos. A
"Tochas de Liberdade" (Edward Bernays, para a indústria do
cigarro anglo-norte-americana começou em 1606. Ela exponencialmente cresceu, na
agricultura, invadiu a propriedade rural, com o modelo de cultivo de bananas do
Grupo Rockefeller como fruta da comemoração do Primeiro Centenário da
Independência dos Estados Unidos da América, em 1876.). As empresas United
Brands, United Fruit criadas na diversificação dos negócios petroleiros, foram
os primeiros exemplos de agricultores assalariados, sem vínculo ultrassocial
com a terra. Anteriormente em 1850, em Bengala, na Índia houve a Greve
Camponesa do Anil, contra o Império Britânico berço da luta de Gandhi.
A
partir da ação do grupo Rockefeller a agricultura foi estruturada nos
EUA, até o crack da Bolsa de Nova Iorque na década de 1930. O livro "A
grande Transformação" de Karl Polanyi, com aquele conhecimento foi para
Londres escrevê-lo, na ante sala da Segunda Guerra Mundial, como bolsista da
Fundação Rockefeller.
Sem
improvisos o livro foi publicado em 1944 na Conferência de Bretton Woods em
Maryland, onde o dólar passou a ser ouro e vice versa. Mas ele é
crematística impressa de forma privada, sem lastro de Estado, mas com lastro
nas armas.
“O
livro de Karl Polanyi, “A Grande Transformação” é reconhecido como central para
o campo da sociologia económica, mas não foi sujeito ao mesmo escrutínio
teórico que outras obras clássicas neste campo. Este é um problema particular
porque existem tensões e complexidades centrais nele. Por quê?
Alguns
críticos dizem: “Polanyi trabalhou dentro de um tipo específico de estrutura
marxista”. No entanto, enquanto escrevia o livro, recebeu a bolsa da
Rockefeller Brothers Group, e incluiu vários novos conceitos, incluindo
mercadorias fictícias e economia integrada, o que o levou em novas direções.
Como as circunstâncias não lhe deram tempo para revisar seu manuscrito, o livro
é marcado por uma tensão entre esses diferentes momentos de seu próprio
desenvolvimento teórico. Da mesma forma hoje vemos as contradições exponenciais
no Agronegócios tupiniquim.
O
dólar é ouro e vice-versa, Ordem de Bretton Woods traçada nos EUA pelo Banco
Central (privado) e Council on Foreign Relations (400 maiores empresas locais),
com seu Banco Mundial e organismos multilaterais realizou oito Rondas do GATT
para homogeneizar os diferentes países do mundo, mas se esgotou no ano 2000,
tendo sua última Ronda em Punta del Este (UY) iniciada em 1986 e terminada em
1994, com a criação da nova Ordem da OMC. Ali a agricultura ultrassocial
se tornou uma bananeira mundial com o nome de "agronegócios". O
Estado Nacional não podia mais proteger a agricultura com suas fronteiras no
mercado mundial.
A
Bolsa em Chicago seria o único gestor mundial dos preços para a agricultura. Em
breve tornará o preço da alimentação totalmente industrial. O ator pede doação
para que 20 barrinhas sejam entregues às crianças mensalmente. Poder absoluto
para a primeira indústria do mundo, que não produz alimentos, apenas os
transforma. Neles o desenho, embalagem e propaganda alcançam mais de 80% do seu
valor. Ninguém sabe que o trabalho camponês (ultrassocial) hoje representa
menos de seis por cento do custo do alimento industrial, com os governos
cúmplices.
Isto
foi preparado lenta e paulatinamente. As deliberações da Ronda Punta del Este
(UY) em suas primeiras reuniões resolveram tornar nulas todas as restrições e
proibições nacionais existentes nos diferentes países, excetuando-as nos países
centrais como U.E e EUA. As proibições ao uso de fungicidas mercuriais
proibidas no Brasil e Rio Grande do Sul desde 1980 foram eliminadas, tudo
publicado no Diário Oficial da União.
No
final da Ronda, Clinton nomeou como delegados dos EUA oito diretores da
Monsanto e vimos que as sementes transgênicas não podiam mais ser
controladas na nova Ordem. Ali entendi os livros, "1984" do agente de
inteligência Eric Blair e "Admirável Mundo Novo" de A. Huxley e
instalação do totalitarismo político, através do mercado de sensações
(Goebbels).
Imediatamente,
no Brasil foi criado o plano METAS, cada letra uma empresa manipulada
pelo Grupo Rockefeller. E o governo democrático cria bolsas de estudos nas
universidades públicas subsidiando no meio estudantil aquele setor.
O
Agronegócios no Mercosul é diferente de toda a América Latina, pois é um
território que acredita ser "culturalmente" europeu. Ali os
imigrantes europeus receberam terras, antes de índios, expulsados. Os indígenas
ultramarinhos, escravizados, não tiveram nenhum acesso a elas, nem à Sociedade
e Estado. Isto será usado como alavanca e os descendentes do
imigrantes usados para expandir o modelo Rockefeller de agricultura para todo o
país desde o Paraná para o restante do país, criando os conflitos rurais no Rio
Grande do Sul e Santa Catarina. No Paraná as primeiras ONG de contenção
camponesas foram obra militar (Pato Branco e Francisco Beltrão).
A
colônia, de agricultura comunal camponesa, em uma geração será dividida em
quatro ou cinco filhos transformando-se em um micro-fundio, lembramos que por
essa época toda a cobertura vegetal de Araucárias foi derrubada e vendida para
a Argentina e transportada para a Europa para a Primeira Guerra Mundial, logo
havia suficiente capital para a expansão da fronteira agrícola do Paraná e para
as monoculturas de interesse de Rockefeller.
O
massacre feito com os indígenas no Sul em 200 anos, foi realizado no Mato
Grosso do Sul, Mato Grosso, Rondônia, Goiás, e Amazônia em menos de trinta
anos, embutida nos interesses do U.S. Council on Foreign Relations, Banco
Central (privado) dos EUA, pela ditadura cívico-militar de 1964.
O
resultado deste genocídio está na concentração da posse da terra, como em
nenhum outro país no planeta. As terras públicas foram griladas pelo grande
capital e os índios massacrados. O mesmo aconteceu em todo o país. A arma mais
poderosa publicidade do Agronegócios para isto a propaganda dos meios de
comunicação se disfarça em publicidade de políticas públicas, das grandes
corporações de commodities agrícolas.
Há
uma desterritorialização camponesa, indígena, quilombola e um modelo destruidor
do solo, água, clima e economia. Não há espaço, liberdade ou paz, apenas militância
de ignorância à cabresto que atende conveniências pela ruptura entre
Capital e Trabalho.
No
Brasil, pelas desigualdades e falta de oportunidades e ausência do Estado é
mais grave e se resume no crescimento da violência na forma de crime,
narcóticos, prostituição, jogos de azar estimulados (impostos) e o crime
organizado em milícias passa a ser um contrapeso nas maiores cidades do país
através do crime organizado dentro de aparelhos do Estado e se torna lei.
Nas
exposições de máquinas agrícolas, o trator tem cinco metros de altura e seus
pneus têm mais de 3 metros de altura, pois é assim que as terras são
concentradas pelas máquinas que seguem um modelo de dominação heteronômica.
Este
parêntese é fundamental para se entender o porquê a agricultura mudou de nome.
Até uma agroecologia de elite passou a ser alabada desde o exterior, para
vender serviços de sustentabilidade anunciada em áreas com 160 mil hectares e a
propaganda diz ser maior que o município de São Paulo, mas não explica como ela
fica em meio a seis áreas indígenas xavantes.
A
reação é a agroecologia indígena, quilombola camponesa, onde a matéria orgânica
no solo está acima de etnia, religião ou ideologias exóticas/corruptas.
O
pior é o redesenho geopolítico do mundo, guerras, genocídios, massacres e
crescimento das intolerâncias totalitárias, baseadas em ignorância, violência e
consumismo, alabado diuturnamente para a juventude, família e aparelhos
ideológicos que criam dificuldades e medo para vender proteção e lucro, nos
laboratórios de futuro (Rio de Janeiro e São Paulo).
Sim,
é um desabafo em meio a tanta sem-vergonhice. Se tudo isso mudasse, e amanhã
começasse um outro dia. Diríamos a todos os seres vivos aptos a conhecer
(Maturana e Varela), Feliz Ano Novo. Por enquanto a luta segue e segue, Zapata
Vive, Carpe Diem.