"Onde as crianças não tem vida de cachorro, aprendem ética e moral para a vida" |
contribuição de Sebastião Pinheiro
* "PELOS CINCO JOVENS CARIOCAS EXECUTADOS PELA POLÍCIA, PELOS 43 MEXICANOS, PELAS COMUNIDADES DAS ESCOLAS ITINERANTES DO MST, PELOS MILHARES PAULISTAS E POR TODOS OS OUTROS JOVENS QUE TEIMAM EM SONHAR POR DIAS MELHORES PELAS AMÉRICAS e pelo Mundo... minha homenagem, com essa lembrança (vídeo) da memorável luta dos estudantes argentinos, que tornou-se filme, sobre um período que os ouvidos do Estado também se fechava, quando a escuridão da estupidez, fracassadamente, tentava apagar a primavera, machucando ou cortando suas flores." Ronaldo M. Botelho (facebook)
Os três
casos postado pelo amigo Ronaldo* embora trágicos são a ponta do
"iceberg", pois o tema da infância é bem mais complexo: Não aborda as
crianças soldados na Africa (responsabilidade maior dos países industriais); nem os soldados do tráfico de drogas na América
Latina ou a prostituição infantil (pedofilia) em todos os continentes, que
mutilam valores éticos e morais delas.
O filme sueco "Minha vida de cachorro"
(Mitt liv som hund, 1985) é um libelo pelo respeito à infância com qualidade
pelo Estado, mas deficiente, principalmente no tocante ao amor e espírito.
Qualquer criança de favelas e vilas miséria ao vê-lo sentiriam vergonha de sua
sina e nacionalidade.
O dramático nos exemplos postados é que nos três
casos as crianças possuíam valores éticos e morais. Os argentinos eram alunos
secundaristas (11 a 16 anos) do Colégio Nacional padrão de educação da
Universidade Nacional de La Plata, elite estudantil em um país republicano em
sua essência. Eles estavam reivindicando a manutenção do desconto estudantil na
passagem de ônibus municipal e fizeram uma passeata e seu cântico "Tomála
vos, pasámela" era uma paródia à Copa do Mundo FIFA do ano seguinte. Das
várias dezenas, somente um deles conseguiu sobreviver à tortura, inanição,
doença e simulacro de fuzilamentos na prisão na última ditadura Argentina de
Videla, Massera e outros. Contudo o responsável maior foi o Secretario de
Estado Henry Kissinger que deu o sinal verde para o massacre infantil, sem o
qual, não ocorreria.
Os 43 jovens mexicanos do curso superior de
Magistério Rural de Ayotiznapa são uma elite muita parecida à anterior e seriam
os futuros professores dos alunos das áreas rurais mexicanas, uma das mas
complexas do mundo pela diversidade étnica, cultural e social. Foram mortos por
milicias de narcotraficantes e agentes policiais corruptos ligados ao Prefeito
que desejava que sua mulher fosse sua substituta no cargo eletivo pelo
impedimento legal. O pretexto para a chacina e desaparecimento dos jovens foi o
abuso da ordem nacional de submissão à desmontagem dos direitos à educação, uma
conquista constitucional e revolucionária mexicana.
O terceiro exemplo é o nosso, onde jovens humildes
de comunidades carentes, geralmente afrodescendentes, são segregados na
oportunidade de emprego por serem alunos de escola pública e não terem a mesma
formação que a jeunesse dorée da zona Sul do Rio de Janeiro. Talvez seja essa a
mais dramática situação entre os três casos, pois é invisível a ausência do
Estado e joga um contingente gigantesco nas mãos do narcotráfico carioca e
nacional, onde o índice de sobrevida aos 25 anos é inferior ao da Síria em
Guerra Civil há cinco anos. Fuzilados por seus iguais fardados quando
retornavam da comemoração de um deles haver conseguido um emprego: 70 tiros de
fuzil.
O mais triste é que todos os dias vemos nos meios
de comunicação línguas de aluguel dizendo que necessitamos uma lei
antiterrorismo, atendendo a Ordem Internacional do Kissinger de turno. A Ordem
é inibir e criminalizar os Movimentos Sociais, que embora tenham defeitos,
impedem crianças de se prostituirem ou fiquem como reserva para o narcotráfico,
pela ausência de políticas públicas, que na Suécia existe até para cachorros e
aqui "faz de conta" ou está sob tutela de ONGs de Copacabana.
Os espartanos na Grécia antiga se preocupavam com o
ensino do valor e comportamento ético e moral elevado para que o futuro cidadão
soubesse defender a sociedade e o faziam através de fábulas e contos infantis,
pois sabiam da importância da ebulição infantil e juvenil na amplitude dos
horizontes, zênite e evolução humana.
Fui criado com as fábulas de Monteiro Lobato, mas a
atual é macabra: Em uma grande lagoa 204 milhões de bichos disputavam um lugar
ao Sol. Todos queriam ser escolhidos para cuidar do Sol, mas os sempre
preteridos denunciavam, vigilantes toda e qualquer manobra na administração do
Sol sem preocupação com resultados ou objetivos. Até que esses vigilantes, já
considerados vestais do Sol foram eleitos para cuidar do Sol. Todos acreditavam
que a esperança havia superado o medo. O Sol brilhava forte como nunca e para
todos. Estranhas denúncias começaram a surgir (Ação 470) e terminou levando um
número de líderes dos vigilantes-vestais à cadeia, sem formação de quadrilha. A
grande maioria devaneou, pois o ditado de antanho: "Pobre nunca come
melado, mas quando come se lambuza" se encaixava, e alternava com o
platônico: "São pequenas mentiras para o bem dos humildes".
Tentaram tapar o Sol com a peneira, mas não passou
muito tempo explodiu a "Lava à Jato". O Sol perdeu o brilho; Os olhos
a esperança, substituída pelo escárnio no aguardo do desespero, desemprego e
endividamento em uma crise gigante.
Muitos bichos festejavam a desgraça dos
ex-vigilantes vestais. Os disfarçados de patriotas riam como hienas. No
entanto, morcegos e macacos, a grande maioria atônitos e silenciosos
respeitavam a agonia dos mais humildes. Continuaram as novas condenações e
prisões.
Chegou o dia, um escorpião clerical desrespeitou a
investidura e solicitou que a vestal-mór lhe atravessasse nas costas para o
outro lado da lagoa. Cercada de inépcia, mesmo sabendo o resultado já conhecido
por todos, ansiosa cedeu à esperteza e o escorpião subiu à suas costas...
Qual será o resultado? Na beira da lagoa clama a
"turma do deixa disso"; Uns se justificam que morrem os dois; Os
ingênuos creem que vai começar a grande depuração; Há os entreguistas, calados
torcem para que tudo continue como antes. Poucos acham mau exemplo, para as
crianças. O mal está feito, seja qual for o resultado.
Amanhã será outro dia e qualquer criança ao crescer
vai lembrar mais da desgraça de diminuição do diâmetro legal do crânio para
rebaixar o número de caso na microcefalia. Ela começou no estado que mais
recursos recebeu do Ministério da Saúde, do titular conterrâneo , médico e
candidato a senador, que ainda não disse um aí sobre o tema.
As crianças sem fábulas crescem e governam o Brasil
que possui mais de cem arboviroses (mesmo grupo do zika), que pela dispersão do
Aedes logo estarão infectados. As consequências nem interessam, sim que a
propina na compra do veneno seja substancial.
A consciência das crianças de La Plata, Ayotiznapa
e das favelas e vilas misérias brasileiras é única e sabem o significado de
todas as fábulas, contudo a disputa é desigual entre o valor cívico e propina
mercantil. As elites nacionais respondem sem respeito ao patrimônio e porvir.
Onde as crianças não tem vida de cachorro, aprendem
ética e moral para a vida (foto acima).
O jogo do poder, seja na educação, saúde ou
agricultura impede a divulgação de livros, como "Plow´s farmers
folly" (La insensatez del Labrador de Edward H. Faulkner) de 1944 (El
Ateneo, Buenos Aires). Esse livro em seu capítulo XII diz que as pesquisas
sóbrias e dados sérios com valor social sobre o solo e saúde das plantas
deixaram de ser ensinados nas escolas e publicados na mídia pelo governo (EUA)
desde 1910 quando enveredou-se no mercantilismo (propinas) de interesse
financeiro, hoje denominado de Agribusiness. Esse é um dos 120 títulos banidos
das bibliotecas públicas yankees.
Sem fábulas na infância, os adultos aceitam com
naturalidade o Transplante de Bioma Fecal e as tratativas sobre o Clima do
Planeta na COP 21 em Paris, como se o futuro do planeta estivesse dependente
dos humores das Bolsas ou preços e bonificações.
Não é fábula, há gente pensando
em reparar a microcefalia através fisioterapia, e, no futuro, com transplante
de cérebro.
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