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"Harmonizo meus pensamentos para criar com a visão". "Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e não mais lutando por dinheiro e poder, então nossa sociedade poderá enfim evoluir a um novo nível".

sábado, 10 de março de 2018

Voltar com a testa franzida

 28 de fevereiro 2018
por Sebastião Pinheiro

Volver con la frente marchita Las nieves del tiempo platearon mi sien Sentir que es un soplo la vida Que veinte años no es nada Que febril la mirada, errante en las sombras Te busca y te nombra Vivir con el alma aferrada A un dulce recuerdo Que lloro otra vez…(letra e vídeo)

Voltar com a testa franzida As neves do tempo pratearam minhas têmporas Sentir que se é um sopro de vida Que vinte anos não são nada Que os olhos febris, vagando nas sombras Te busca e te chama Viver com a alma apegada A uma doce memória Que choro outra vez...


Fazem 20 anos que a ausência do Estado Brasileiro foi superada pela proposta de Educação da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Trabalhadores urbanos com parte de seu suor criaram o Projeto Terra Solidária para ensinar agricultores adultos e jovens a complementar seus estudos nas tarefas ultrassociais (agricultura).

Tive a oportunidade de participar neste graças à jovem estudante de Pedagogia Thaís Braga bolsista na Extensão da Universidade, onde havia recém chegado por convite alguns meses antes. Naquele curso demos mais de dez seminários e dezenas de classes durante seus dois anos e o usamos como base para ações de Extensão Universitária junto às populações tradicionais “quilombolas” (africanos escravizados fugitivos do cativeiro e degradação humana). Pelo menos umas seis turmas de alunos da Universidade tiveram participação nestas ações, ficando hospedados na casa de quilombolas durante 21 dias. Ação bem diferente dos programas oficiais de matiz fascista criados pela ditadura militar.

Nossa ação foi proibida e destruída por inveja, ciúmes e mediocridade acadêmica servil às ordens superiores. Com 50 anos de idade eu tomava conhecimento de agricultores afro descendentes no RS em terra própria. Algo raríssimo no Brasil. Nos

EUA a emenda 13 do presidente Lincoln outorgou 25 hectares, uma colônia a cada família de ex-escravos, e para os que quisessem retornar à África, com a ACS usou a Libéria (Monróvia) e sua bandeira de conveniência como marinha mercante yankee. Aqui os ex-escravos foram tirado do espaço privado onde eram semoventes e não foi permitido que que ocupassem o mesmo espaço público. Eles tiveram que subir os morros e cultivar bananas no RJ. Logo a cobiça avançou sobre as terras tituladas e os 30 mil ha em Mostardas, hoje são menos de 2 mil. Nos EUA com o terror da Ku Klux Klan incêndios nos Registro de Terras e enforcamentos expulsaram os afro americanos da agricultura. 

Aqui o penúltimo ataque às terras tituladas foi quando os empresários da ditadura militar para ter acesso ao dinheiro público (Incentivos Fiscais) em atendimento ao equilíbrio florestal internacional impôs grandes reflorestamentos na órbita ocidental, internamente para evitar a Reforma Agrária. A corrupção era tão grande que se plantava maçãs e laranja como reflorestamento...

A região é interessante em todas as paradas de ônibus ao longo de 100 Km na BR 101 diz que a Cidade é Açoriana, contudo mais de 55% da população é afro descendente, logo a maioria padece do mesmo mal da América Latina nos últimos 500 anos, submetida pela minoria da elite branca, pelo que os afro descendentes não têm auto estima elevada, amor própria e cultura florescente. Vivem como caricaturas imitando a decadência e ignorância da minoria. Lembro com carinho da cientista portuguesa Judith Cortesão, a primeira mulher no mundo a pisar no Continente Antártico, em seu artigo sobre as populações tradicionais expulsas pelo desenvolvimento na Amazônia, de título: “Os inundáveis” (foto acima tirada por mim na Ilha Tocantins, Rio Tocantins) onde se afogou um quilombo, em paráfrase, na restinga de Mostardas usamos os “invisíveis”. 

Aplicamos tudo para a subversão em alto nível, melhor que a feita na Escola “Terra de Educar” para os filhos dos camponeses mantida pela CUT, em Braga/RS, onde durante mais de três anos íamos, periodicamente, e também com os estudantes da Extensão da Universidade. Agora com no Terra Solidária a situação era diferente, educação formal em classes com pessoas humildes sem saber o que são direitos e deveres de cidadania e que por vezes tem una visão que o Estado lhes faz favor, e mendigam aos oportunistas e corruptos que os exploram com ousadia essa humilde e ingenuidade. A tarefa era fazer com que agricultores “invisíveis” praticassem "alta tecnologia" que os usurpadores vizinhos de terras públicas e privadas não tinham.

Vinte anos depois, nas comemorações de Terra Solidária, foi organizada uma reunião em cada comunidade para ouvir suas dificuldades e problemas principais - potenciais e diretrizes a serem tomadas para uma solução. “Volver con la frente marchita” parece que passou só uma semana e ficamos com cabelos brancos … 

Começamos com a Comunidade da Casca, onde um dos proprietários era "Voluntário da Pátria" na Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai, mas quem lutou foram seus escravos. Eles não foram por patriotismo, mas pela oferta de sesmarias de terras. A esposa do dono da Fazenda da Casca prometeu doar 13.600 hectares de terra a seus escravos e conceder alforria (manumissão) se eles trouxessem seu marido vivo da Guerra. Na foto, os

soldados uruguaios não tiveram a mesma sorte com seu coronel e o trouxeram morto. Na sua área na Casca posteriormente foi invadida por colonos brancos que chegaram ao Brasil e todos receberam terras do governo, mas com uma ganância excessiva eles queriam mais e usurparam a propriedade dos afro descendentes proprietários, como eles são invisíveis todos ignoram. A última investida foi na ditadura quando o governo, cumprindo a política internacional das Nações Unidas (FAO), criou incentivos fiscais para a transformação da natureza em empresas florestais com plantações de eucalipto, laranja, maçã em terras marginais. Quase todas as áreas foram tomadas e plantadas com pinheiros de eucalipto e americanos. Restam menos de 3 mil hectares da área original doada. Como a área é muito arenosa entre a Lagoa dos Patos e o Oceano Atlântico, é muito plana, ideal para o cultivo de arroz devido à abundância de água. Os canais de irrigação foram construídos com dinheiro público dentro das terras quilombolas, mas eles não podem usá-lo. Aqueles que se apropriaram da terra não o permitem ... Os "invisíveis" vivem sem acesso à água que passa pelas suas casas ... O pior que não podem cultivar vegetais e frutas em suas terras, porque periodicamente a deriva das aplicações aéreas de agrotóxicos (herbicidas e fungicidas de arroz alcançam até 20 km, pelo vento sempre acima de 12 nós de velocidade e autoridade ignoram pela invisibilidade dos moradores. Eles não têm frutas, vegetais, mesmo abóboras e mandioca e estão morrendo de intoxicação, sofrem de doenças
pulmonares, cardíacas e de depressão. A foto é de estudantes no resgate de “feijão sopinha” originário da África.


A pior situação é a dos jovens que, diante dessa agonia da comunidade, querem migrar para serem visíveis (assalariados) nas principais cidades ou capital e os menos treinados, nas propriedades dos vizinhos, o que passa a ser uma referência de sucesso no agronegócio, que é tech, pop e tudo.


Na Comunidade de Farol da Solidão, começamos a ouvir e apresentar no Brasil uma figura que aplicamos com sucesso no México, o “Bombeiro Agroecológico” e deixamos todos surpreendidos com a "Água de vidro" e "Carbonização de Casca de Arroz", o "Biochar da U.E, Austrália e EUA", onde grandes corporações se preparam para vender serviços ao Agronegócios com selos, certificados etc. A recepção nos deixou muito felizes. Nós vamos fazer isso de maneira diferente à entrega do "Arroz Quilombola" introduzido nas comunidades há uma década e que foi torpedeado por acadêmicos invejosos, elite local que se opôs à visibilidade, ONG corruptas e ambientalistas oportunistas.


A situação encontrada na Comunidade dos Colodianos, onde dos 13.600 possui apenas 1.800 hectares, também sem acesso a água e os banhados de onde pegavam peixe e caça foram secados por um programa alemão chamado Pró Várzeas para aumentar as áreas e consumo de fertilizantes, agrotóxicos e máquinas agrícolas dentro dos objetivos da OMC de transformar patrimônio em recurso privado.


É interessante que a OMC tenha um capítulo de proteção às comunidades tradicionais e forçou os governos associados a criar legislação sobre Populações Tradicionais após a Rodada Uruguai (1986) que levou os constituintes de 1988 a escrever o artigo 231º e 68º da Disposições transitórias de nossa Constituição, de modo que o contingente "invisível" maioria depois dos indígenas nativos, veio a existir na letra fria da lei 9.995/00, por essa lei a definição de População Tradicional seria: (XV) Grupos humanos culturalmente diferenciados vivendo pelo menos três gerações em um certo ecossistema, reproduzindo historicamente seu modo de vida, em estreita dependência do meio natural para sua subsistência e uso sustentável de recursos naturais; essa definição vetada pelo presidente sociólogo FHC pelo lobby do "poder econômico", que manteve os beneficiários novamente invisíveis. Estudei com carinho as 15 páginas do veto.

Naquela comunidade, a “Água do Vidro” e a “Carbonização da Casca de arroz” foram ensinadas por dois jovens membros da comunidade anterior que tinham acabado de aprender a fazê-la. Autoestima elevada quando seus descendentes são aqueles que ensinam a comunidade. Graças a Deus, a ideologia desenvolvimentista nas universidades é suficientemente incompetente.

O (Decreto 5051/04) sobre a proteção da OIT a essas populações diz: "Reconhecendo as aspirações desses povos de assumir o controle de suas próprias instituições e modos de vida e seu desenvolvimento econômico, e manter e fortalecer suas identidades, línguas e religiões , no âmbito dos Estados onde vivem; observando que em várias partes do mundo, esses povos não podem gozar de direitos humanos fundamentais ao mesmo grau que o resto da população dos Estados onde vivem e que suas leis, valores, costumes e perspectivas frequentemente sofrem erosão; Recordando a contribuição particular dos povos ... ... para a diversidade cultural, para a harmonia social e ecológica da humanidade e para a cooperação e compreensão internacionais.

O diapasão continuou na Comunidade de Teixeiras com o agravante da denuncia que alguns se beneficiaram privativamente demonstram como as políticas públicas são aplicadas em benefício de apoiadores oportunistas e não como políticas públicas de cidadãos.

O Decreto 6.040/07 que estabelece a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais (PNPCT). De tudo que vimos o mais absurdo foi o fato dos trabalhadores florestais estarem fazendo resinação com uma pasta clandestina mistura de Ethephon com ácido sulfúrico que não tem uma avaliação de Segurança do Trabalho e está sendo usada por trabalhadores de populações tradicionais, pessoas humildes.


Sobre o Ethrel conforme encontrado nos trabalhos da Universidade de Cornell e Nações Unidas abaixo, cujos links devem ser acessado: Web em 23 de fevereiro de 2018, às 12 horas. Ethephon - PMEP - Cornell University http://pmep.cce.cornell.edu/…/dienochlo…/ethephon-ext.htmlIn a rat study, ethephon was administered by gavage for 13 weeks to 20 rats per sex per dose level at 0, 50, 100, and 200 mg/kg/day. Plasma cholinesterase and brain cholinesterase activity were found to be different from the controls at all dose levels. However, red blood cell cholinesterase activity did not differ from the ... ethephon - World Health Organization
http://apps.who.int/pesticide-residues-jmpr-databa…/…/241235. ETHEPHON 227–273 JMPR 2015. Table 4. Cholinesterase activity in the erythrocytes, brain and plasma of mice treated with ethephon for 28 days. AChE: acetylcholinesterase; ChE: cholinesterase; F: females; M: males; ppm: parts per million; +: AChE activity was equivalent to or slightly greater than control values; *: P ...



Sobre esses riscos, nem uma linha nas dissertações e teses acadêmicas da ESALQ-USP. A inibição da colinesterase cerebral em todos os níveis de intoxicação é de extrema gravidade para os trabalhadores rurais florestais de Mostardas que usam a formulação clandestina pasta misturada de forma ilegal com 22% de ácido sulfúrico para a resinação de Pinus requeremos sua Avaliação Toxicológica e de Segurança, com o pertinente Levantamento Epidemiológico pelas autoridades de Saúde em nível Federal, Estadual.

Hoje em dia a Lei e os políticos oportunistas favorecem que as autoridades municipais usem as populações tradicionais para exigir recursos em seu nome, mas esses recursos não chegam a quem são dirigidos, o que me levou a prever no futuro, quando todos os jovens migraram e os comunidade invisível estiver a caminho da extinção, haverá a providencia de importação de afro descendentes de outro Estado ou país para se disfarçarem como "remanescentes quilombolas" para a elite não perder o acesso aos recursos e suas benesses. Esse é o realismo fantástico que 20 anos depois verificamos. O desafio é reverter isso. O que não é difícil, pois basta ensinar tecnologias através de nossas sombras aos jovens quilombolas para que ensinem aos jovens perdidos em mutilações induzidas e droga adição.

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