06 de abril 2018
por Sebastião Pinheiro
Meus amigos me desculpem, mas meus
dias têm sido diferentes há mais de um ano, não pela solidão ou as crises em
que trânsito, mais pelo que tenho deparado de ignorância, ódio e desrespeito à
vida.
O fato da (decreto) prisão de um ex-presidente
não é algo para se comemorar, festejar ou executar por meio da mídia. Em uma
república todos estariam consternados, pois é uma condenação a todos e a cada
um através dos tempos, nos livros, arquivos magnéticos ou infográfico da
história.
Busquei compreender, todos sabem que
não sou militante e jamais confundo militância com cidadania. Militância é
paixão, cidadania é reflexão antes da ação e depois dela, por isso que é
responsabilidade no tempo e espaço rumo ao futuro.
Na foto não me interessa identificar
o protagonista que está de costas, mas sim identifico o sorriso franco do desdentado
que está como o meu reflexo diante do espelho, que é a sociedade onde estou.
Essa foto poderia através do tempo significar a chegada da Esperança, aquela
última por cuja sorte, seu exterminador não escapou da Caixa de Pandora na Mitologia.
Se ela não conseguiu escapar pelo que estará sempre em toda ansiedade, sonho e
exercício de poder, exercício que é de todos e não de alguns que ostente e por
falta de escola cometeram erros, sérios erros. Erros merecem meia culpa e isso
é pessoal e coletivo, sem exceções. Esses erros levaram ao ódio atual, mas
poucos foram os que colocaram suas críticas para abrir os olhos, corações e
mentes para o que estava acontecendo. No entanto, eles não têm culpa, pois
havia uma guerra midiática gigantesca para impedir a autocrítica e reflexão
cidadã.
Quando a juíza mandou prender todos
os banqueiros do Jogo do Bicho (apostadores) do Rio de Janeiro eu ri e disse a
minha esposa: logo será deputada nacional. E foi. Os executados não eram
criminosos, mas transgressores. A diferença é que só a construção de cidadania
elimina a transgressão, de nada adianta a lei no papel. Logo vimos todo o
narcotráfico ocupando os espaços, e mão-de-obra transgressora.
O Brasil é território de "gambusinos"
(garimpeiros) onde a cidadania não tem espaço pois o Estado não se faz presente
e ninguém quer saber o que é um diamante e como se forma ou de onde vem o ouro
e por que tem tanto valor. Querem o ouro custe o sangue que custe...
Durante seis anos a Gália enfrentou
César mas Vercingéctorix Não era só um e na guerra lutavam todos, mesmo seus
desafetos. Sua prisão tinha um significado Urbi et Orbi para o Império. Mil e setecentos anos depois foram os franceses que aprisionaram
Toussaint L'Overture que havia praticado os ensinamentos da Revolução Francesa
para os seus liderados, cidadãos escravizados e criado a primeira República Negra
no Mundo. Não estou com meras referências raciais, revolucionárias ou
ideológicas.
Disfarçam que a "lei" vale
igual para todos mas não permitem que o Estado seja igual para todos, depois
que tipo de cidadania teremos, a de gambusinos (garimpeiros), onde o diamante
ou ouro é o que interessa e com eles se pode tudo, mas jamais teremos
cidadania. É por isso que crianças uruguaias, argentinas ou chilenas iam para a
escola e de lá saíam cidadãos e na sua vizinhança os que conseguiam uma escola
"gambuzinaban" status como quem procura diamantes ou ouro.
Na Guatemala o país foi transformado
em uma República de Bananas pela United Fruit e United Brand subsidiárias da
Standard Oil do Grupo Rockefeller, mas teve um presidente Juan José Arevalo
Bermejo. Ele tinha conhecido cidadania fora de suas realidades, e os
"Chapines" (guatemaltecos)
dizem, foram "Quatro anos de luzes em cinco séculos de escuridão". A
resposta do Império foi a Mão Branca com mais de cem mil mortos, todos
camponeses. Quando um idiota brasileiro pergunta onde o socialismo deu certo,
me lembro da Alemanha quando fui comprar meus óculos, a moça me disse: o
médico, a receita e as lentes são de graça e a armação que o governo lhe dá é
essa de madeira, muito feia. Não pagas nada, pois sem os óculos não podes ser
um cidadão. Mas se queres o luxo de uma armação italiana ou alemã, tens de
pagar seu preço. Como vou discutir sobre ideologia, sociedade e 30 moedas de
prata com gambusinos. O presidente Arevalo da Guatemala dizia que o
"Socialismo é Espiritual ". Sim ele tinha uma "Alma Mater".
Sinto vergonha de mim mesmo: que vai passar na cabeça e coração do desdentado
anônimo da foto. Não sou vidente, desejo estar equivocado, mas sei onde isso
vai desembocar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
"no artigo 5º, inciso IV da Carta da República: 'é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato'."