"Quando os ventos de mudança sopram, umas pessoas levantam barreiras"
Por Francisco Roberto Caporal
O título é uma frase do conterrâneo
Érico Veríssimo e serve bem para ilustrar o que temos observado em
nossas sociedades quando tratamos da questão ambiental. Pelo menos desde
o início dos anos 70, estão bastante claras as evidências dos sérios
danos ambientais resultantes do desenvolvimentismo construído a partir
de estratégias de crescimento econômico ilimitado em sociedades baseadas
no consumo e desperdício.
As inúmeras conferências que ocorreram
pós Estocolmo-72, não serviram para nada. O que vimos é que foram gastos
muita tinta e muito papel para teorizar sobre boas intenções. A
conferência Rio 92 foi, talvez, a melhor demonstração da inconsistência
da tecnocracia quando se trata do enfrentamento dos problemas
ambientais.
O balanço da problemática socioambiental
tem mostrado que os impactos diretos e as externalidades geradas pelo
modelo de crescimento e consumo estão absolutamente sem controle, apesar
dos acordos e outros protocolos firmados entre países ao longo de mais
de quatro décadas de estudos e negociações. O fracasso da conferência de
Copenhague é só mais uma demonstração da ineficácia da estratégia
montada pela tecnocracia estatal e pelas instituições de Bretton Woods que as patrocinam (ONU, FAO, Banco Mundial, etc.).
A conclusão que se pode chegar é que se
não houver ampla participação da sociedade organizada e ambientalmente
consciente nada vai mudar. Tudo o que se construiu até hoje, no marco
dos enfoques ecotecnocráticos, apenas tem servido para mostrar a falta
de seriedade dos discursos institucionais sobre desenvolvimento
sustentável. O que se observa, sim, é que apesar dos belos discursos de
iminentes autoridades sobre a necessidade de retomarmos uma trajetória
de proteção ambiental, de preservação dos recursos naturais, com redução
dos impactos causados pelas atividades econômicas, o que encontramos na
prática são políticas de estímulo ao consumo, políticas que patrocinam a
continuidade dos mesmos processos econômicos que são responsáveis pelos
impactos socioambientais. Por sorte, ainda há os que tentam construir
“moinhos de vento” diante da inexorável evidência do imperativo
socioambiental de nossa época.
Estimulados por uma crescente
consciência da responsabilidade ambiental, para esses, está evidente que
o compromisso com a sustentabilidade, neste planeta de recursos finitos
(alguns quase esgotados), só tem sentido se nascer de uma forte
solidariedade intra e intergeneracional. Sustentabilidade ambiental,
antes de nada, é a busca da preservação de recursos naturais escassos e
limitados, para que nossos filhos e netos possam dispor da base de
recursos da qual necessitarão para que possam vir a ter uma vida digna e
com qualidade.
O que anima é que no Brasil são milhares
as experiências urbanas e rurais que vêm demonstrando que outro caminho
de desenvolvimento é possível. Na nossa área de trabalho, a
Agroecologia como uma nova ciência para um futuro sustentável, tem dado
sustentação teórica, técnica e metodológica para uma multiplicidade de
iniciativas de produção agropecuária de base ecológica, que preservam o
meio ambiente e ao mesmo tempo oferecem alimentos sadios para a
população. Isso demonstra que é possível uma agricultura diferente
daquela imposta pela Revolução Verde, pelas grandes monoculturas e pela
atual ditadura dos transgênicos.
Os tempos de mudança já começaram e
precisamos estimular estratégias ambientalmente mais sustentáveis para
evitar que a caminhada da nossa civilização continue em direção ao
abismo. É sobre estes temas que trataremos na sequência de nossos
artigos.
Francisco Caporal é engenheiro
agrônomo, doutor pelo programa de Agroecologia Campesinado e Historia da
Universidade de Córdoba (Espanha) e presidente da Associação Brasileira
de Agroecologia (ABA).
Fonte: Viva Pernambuco
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