por Sebastião Pinheiro
Naom Chomsky disse
(UOL, 2/7/14): “Nos últimos vários meses,
recebemos lições instrutivas sobre a natureza do poder do Estado e as forças
que conduzem à política de Estado. E sobre uma questão intimamente relacionada:
o sutil e diferenciado conceito de transparência. A fonte da instrução, é
claro, é o grande número de documentos sobre o sistema de vigilância da Agência
Nacional de Segurança divulgados pelo corajoso combatente da liberdade Edward
Snowden, peritamente resumidos e analisados por seu colaborador Glenn
Greenwald em seu novo livro, "Sem
Lugar para se Esconder".”
Estamos
na Semana do Meio Ambiente, um contrapé “o poder da natureza” e já não há lugar
para ingenuidade. Ela nasceu dentro do Banco Mundial e cristalizou-se na
Conferência das Nações Unidas em Estocolmo em 1972 que a impôs “Urbi et Orbi”.
Todos partiram a defender a Natureza formatada pelos poderosos, até mesmo em um
país que tem seu nome não de uma árvore, mas de uma das primeiras commodities
no mercado (1560) e hoje extinta. Os países ricos interpretaram a nova Ordem,
como a necessidade de controle da poluição (Limites do Crescimento), seu
problema maior e desenvolveram as tecnologias de acordo com sua realidade, já
os pobres entenderam, como sempre, que deviam comprar a cara tecnologia gerada
por eles para modernizar-se. O autoritarismo subalterno lançou o lema que a
pior forma de poluição era a “fome” e que o “desenvolvimento” traria “trabalho”
e “riqueza”. Em nossas comemorações ambientais é interessante perguntar quanto
do PIB dos países ricos advêm da exportação de tecnologia e serviços ambientais
para países com fome e em desenvolvimento. Sem sombra de dúvida esse valor é
superior a 20%, mas sua melhora na busca da sustentabilidade o elevará para
mais de 40%. O pior é que em função da matriz química e da mentalidade
autoritária e elitista não se observa que a tecnologia ambiental precisa
desenvolver-se acorde com a natureza, ambiente e estágio de uma sociedade e não
ser importada em “caixa preta” ou para “girar a chave”.
A
criação da Secretaria do Meio Ambiente na Presidência da República como
determinado pelo Banco Mundial, GATT, UNIDO, FAO, UNEP e depois começou a se
formar uma casta de tecno-burocratas nos órgãos ambientais, caricatos daqueles
instalados nos países ricos.
Porto
Alegre, capital gaúcha foi uma das exceções, pois seu meio ambiente começou
antes da Conferência de Estocolmo e já tinha sua entidade mater a AGAPAN
fundada em 1971, dois anos antes daquela Conferencia em função das raízes
culturais local, atividade econômica predominante e precursores que ensinaram o
amor à natureza (Rambo, Roessler, Quintas, Muxfeldt e muitos outros anônimos em
meio à sabedoria ancestral). Isso provocou uma primeira fratura entre o Meio
Ambiente do Banco Mundial e a Defesa Ambiental na Sociedade Porto-alegrense.
Marcante quando o Município de Porto Alegre sem direito a eleger seu prefeito
teve criada a Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SMAM-PMPA) com o objetivo
claro de controlar e atenuar os impactos positivos das ações da referida entidade
sobre a cidadania.
Alguns
poderão dizer que a ação da Defesa Ambiental foi uma reação à agressão da
Empresa de Celulose norueguesa, mas o mais interessante é que Porto Alegre
tornou-se Meca mundial para questões como Conservação do Solo, Agrotóxicos, Agricultura
Alternativa (Orgânica), Reciclagem de Lixo, Educação Ambiental autóctone,
Respeito à Natureza e muitos outros itens acompanhando par e passo a discussão
dos problemas das tecnologias implantadas como no centro gerador delas e não
como na periferia (Marinni).
Esta
semana não é de festejo, mas de contrição para lembrar alguns que se foram uns
famosos outros queridos, e todos respeitados. Lá fora as situações evoluíram de
forma negativa, pois o “poder da natureza cidadã” não foi respeitada e vemos um
retrocesso avassalador sobre todo o patrimônio e memória construída com tanto
sacrifício.
A
empresa de celulose que esteve fechada por poluição posta sob intervenção e
finalmente comprada pelo governo obrigando-se a elaborar tratamento de
efluentes mitigando uma parte de seus impactos negativos, o que jamais havia
ocorrido em qualquer país do mundo. Depois, sua ampliação provocou audiências
públicas com debates candentes e bem polarizados. Hoje não provoca o mesmo
frisson.
Na
ditadura o poder da defesa ambiental era tão grande que o General Geisel baixou
um decreto em 1976 sobre a proibição dos detergentes duros derivados de
petróleo (Sulfonato de Dodecil Benzeno), mas ele só entraria em vigor no dia 31
de dezembro de 1980. Foi respondido através da imprensa, que ninguém deveria se
surpreender, pois no dia anterior àquela data ele seria revogado, como de fato
ocorreu.
Em
1980 o RS foi o primeiro da periferia a proibir a comercialização de fungicidas
mercuriais usados criminosamente por grandes corporações internacionais. A
dimensão do escândalo fez com que o país se obrigasse a proibir os mesmos em
todo o território nacional. No ano seguinte a presença de resíduos de
inseticidas organoclorados persistentes e cancerígenos na água do DMAE levou a
que um governador não eleito democraticamente baixasse um decreto proibindo
aqueles e instituindo o Receituário Agronômico para a compra de agrotóxicos, o
que levou a imediatamente a criação da Lei Estadual dos Agrotóxicos que para
ter sua validade chegou até a Suprema Corte e serviu de “modelo à toda terra”
sendo copiada e adaptada por mais 20 estados da federação. Nessa mesma época
vimos o embate poderoso entre a AGAPAN (personificada no Prof. Lewgoy) e um
leque de entidades jovens enfrentarem e vencer a “Batalha do Pólo Petroquímico”
ainda sob o regime da ditadura.
Contudo,
internacionalmente, na década de oitenta começava a delinear-se a mudança na
Ordem Mundial e a estruturação de uma nova matriz, a biotecnologia começava a
suplantar a química de síntese. Os instrumentos da Ordem Internacional (Banco
Mundial, GATT, UNIDO) iniciaram sua rodada em Punta del Este no Uruguai. Em
pouco tempo começaram a atacar o contrapé e reverter muitas conquistas gaúchas.
A
proibição de fungicidas mercuriais deixava de ter efeito no Brasil e em todos
os países da América Latina, mas era mantida para os produtos desses enviados
para os EUA. Era uma nova realidade silenciosa, suja e encoberta que chegava
sorrateiramente. Pior nenhuma norma ambiental ou de saúde podia impedir o livre
comércio entre nações e mercados, mas continuavam válidas para os países ricos.
Não
havia uma preocupação maior, pois se possuía um espaço público no qual se
construía a maior feira de alimentos orgânicos jamais existentes no mundo, mas
não era um mercado ou feira livre, era um espaço cultural que nem Suécia ou
Alemanha tinham parecido. “A sempre Leal e Valerosa” e o RS eram referênciam
ambientais no Planeta.
Mas
nem tudo foram flores e alegria. Um exemplo é a introdução, primeiro
clandestina do javali, depois com o apoio da nova Ordem fazendo que o órgão
ambiental (IBAMA/RS) impotente e corrompido não atuasse. Segundo, temos hoje o
desastre com a morte de ovelhas, bovinos, cães já em escala de grandes
prejuízos econômicos. Logo teremos as mortes de humanos entre crianças e peões
como sói ocorrer na Argentina, Uruguai e Canadá, além da disseminação de novas
doenças (Triquinose, Leptospirose, Leishmaniose). Não só o órgão executivo, mas
os controladores do judiciário foram alertados reiteradamente. O mesmo aconteceu
com a importação de pneus meio-usados, uma solução para os países ricos e um
problema de saúde ressaltado pela dengue e lixo.
O
maior impacto foi a compra pela Prefeitura de um Incinerador de Lixo de um
correligionário, com uma CPI e um escândalo de repercussão nacional. O problema
volta no mesmo governo com uma lei sancionada para o retorno da incineração de
lixo geradora de Dioxinas ameaçando a cidade e a organização social dos
catadores (do grande ambientalista o Padre Secchin). Todos estão desesperados,
uns pelos compromissos com o crédito BNDES. É que a questão ambiental era antes
uma política pública e os militantes ambientais eram ecochatos. Hoje, o meio
ambiente é “propaganda”, lobby político desastrado e negócios, que pode ser
lido na construção da Estrada do Sol (governo Simon) ou no Território Livre de
Transgênicos, embora existisse lei nacional e estadual para impedir. No passado
se denunciava a contaminação de alimentos. Na atualidade se justifica que o
antibiótico no vinho não é tóxico. Bons tempos quando a ética não se esgarçava
dia a dia com o crescimento autoritário rumo ao Estado Híbrido.
O
país é o primeiro consumidor de agrotóxicos no mundo e todos fazem uma campanha
denunciando isso, sem se perguntar como os EUA que têm uma agricultura oito
vezes maior que a nossa é o segundo e logo será o terceiro consumidor, enquanto
que nas universidades professores prestam serviço para a velha ordem. A grande derrota foi a mudança de
comportamento dos meios de comunicação (uma concessão pública). Não há mais
espaço para o contraditório, apenas o interesse proprietários e redatores. Os
perigos e riscos dos “inços mutantes” criados pelas sementes transgênicas foram
avisados com uma década de antecedência, mas agora silenciam quando o problema
surgido propõe uma solução (Paraquat) que faz a emenda ficar pior que o soneto,
mas a justiça libera. A
lei nacional feita por gaúchos impediu o registro de Paraquat há trinta anos
por não ter antídoto e possuir impurezas altamente tóxicas como a Terpyridyne,
além de ser formador das temíveis Dimetil Paraquat-Nitrosaminas carcinogênicas,
mas ele continuava em uso em todo o país com registro nacional. O
professor universitário diz há que flexibilizar as leis. O artista faz dois
filmes sobre o veneno à mesa.
A
lei estadual gaúcha não permite o seu cadastro e comercialização no Estado, mas
a mídia ignora que ele é banido na União Européia por sua toxicologia e que já
existem 45 biótipos de inços mutantes resistentes ao Paraquat. Somo aculturados
por interesses corrompidos. A natureza é mercadoria e não cidadania.
Servidão
e impotência cidadã enquanto as abelhas de 120 milhões de anos de existência se
extinguem assinalando a trilha para a humanidade.
Como
Cassandra, da mitologia grega, ficamos desesperados, não por vermos o que foi
antecipado ocorrendo, mas pela perda de cidadania ambiental, pelo consumo do
meio ambiente e da natureza como um novo item de alienação em meio ao alto
índice de intolerância, saques, linchamentos e revoltas: a tendência é o
crescimento até o nascimento do Estado Nacional Híbrido do Século XXI, onde a
natureza será um componente no mercado, como saúde, educação e cidadania.
É
Chomsky tem razão, a casca da árvore da Quina (Cinchona sp.) continua sendo o
melhor tratamento contra a terçã maligna (Plasmodium falciparum), da malária há
mais de 500 anos, embora a indústria tente não consegue alcançar o seu poder
natural, por isso a química deu lugar à biotecnologia. Mas saber e fazer são coisas bem
diferentes...
Quarenta
e três anos depois se pode afirmar o 5 de junho está para a Conferência na
Suécia, como a data da fundação da AGAPAN (27/4/71) está para a Defesa
Ambiental no RS ou o nascimento do Cacique Seattle para o Estado de Washington,
afinal liberdade é consciência e cultura. Alienação é somente um negócio.
Comunguem.
"Em 1961, a nave soviética Vostok I colocou o primeiro ser humano em órbita ao redor da Terra. Desde então, olhando para esse orbe turquesa 'lá embaixo' - aventurando-se em caminhadas espaciais como se estivessem prestes a saltar do mais alto trampolim do mundo -, os cosmonautas e astronautas viram-se à procura de palavras que ficassem à altura de sua experiência. Eugene A. Cernan, astronauta da missões lunares Gemini e Apollo e a última pessoa a caminhar na Lua, assim descreveu essa visão:"
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