por Sebastião Pinheiro
Nosso poeta Mário Quintana
ensinou que, “nesses tempos bicudos”, você liga o rádio/TV ou abre o jornal
angustiando receber notícias dignas e virtuosas, mas somente há propaganda
subliminar, suja e corrupta. O deplorável é que a grande maioria das pessoas sequer
sabe entender, interpretar, quanto mais projetar a informação no seu hoje e
amanhã.
Na Globo News apareceu a cidade de Milagres no Maranhão onde 70% dos moradores esperam que a prefeitura faça uma latrina na sua casa e o governo federal mandou recursos para serem construídas 55 banheiros a um custo de 5 mil reais cada um, que o prefeito afirmou estar na dependência da vontade da empresa que ganhou a licitação...
Na entrevista as pessoas
locais na sua ingênua ignorância mostravam aonde iam à natureza e a pobre
repórter não fez qualquer correlação com saúde pública, animais soltos,
epidemia, zoonose, etc. e os munícipes aguardavam que a prefeitura viesse
construir o seu banheiro. Quem serão os privilegiados?
Houve uma época nos EUA onde
os agentes de saúde distribuíam uma placa de concreto de cinco centímetros de
altura com uma área de aproximadamente um metro quadrado e no centro havia dois
buracos como um oito de aproximadamente 30 cm de diâmetro o maior e o menor de
aproximadamente 20 centímetros e avisava que voltaria que eles deviam fazer um
buraco de aproximadamente um metro, que quando estivesse cheio ou cheirando
demasiado era tapado e a placa arrastada sobre outro buraco e assim
sucessivamente. Eram feitas visitas periódicas e havia punições para os que não
estivessem usando as latrinas em volta as placas. Isto chegou a ser trazido
para o Brasil pela extensão rural (Rockefeller) e cada um fazia sua latrina com
o que a natureza lhe oferecesse: palha de vegetais, madeira, plástico ou
alvenaria. O custo é bem menor que cinco reais por placa.
A infelicidade está nos
governantes só saberem manipular repasses sem iniciativa, competência para
políticas públicas.
Vendo a TV lembrei em 1997,
quando um grupo de cinquenta estudantes (UFRGS) em ação de extensão
universitária chegou ao Acampamento em transição para Assentamento da Reforma
Agrária na Antiga Fazenda São Pedro em Encruzilhada do Sul. Havia uma latrina
que estava flutuando em fezes e para chegar a ela se era obrigado a atolar em
uns dois centímetros de excremento.
Imediatamente convoquei os
estudantes e acampados para construir mais três latrinas e solicitei ao
Prefeito Conceição Krusser (engenheiro agrônomo) que trouxesse as ferramentas
que necessitávamos. Ninguém se mexeu, a exceção foram uma estudante de
pedagogia, outro de veterinária e um jovem estudante visitante de Massachusetts
(EUA) que viera unicamente para aquela ação à campo e que eu apelidei de Green
Bay pelo time de Futebol americano da região estar na final nacional e por ele
estudar Agricultura Orgânica. Era um jovem muito agradável bem diferente dos
gringos e logo passou a nos intitular como a “Brigada da Merda”.
O solo era pedregoso e
demoramos toda uma manhã para cavar os três buracos e colocar as tábuas com o
buraco sobre o solo e as paredes além de forrar duas delas com tela de barracas
para dar mais privacidade às estudantes mulheres. Feito esse trabalho árduo e
todos tínhamos calos nas mãos. Então apareceu um estudante de arquitetura,
daqueles do tipo “esquerdista de botequim” batendo na barriga dizendo que ia
inaugurar a obra. O jovem yankee indignado passou a mão no cabo da pá e virou
para ele ameaçou: “Experimenta inaugurar. Na hora de cavar você não veio e
agora quer tripudiar”. Use a outra que está nadando em merda que você merece. É
gente, comodidade aliena e elitiza.
Fomos até os acampados e
levamos as ferramentas avisando as duas latrinas cobertas com as lonas são
femininas só para as estudantes. A outra é dos estudantes. Vocês querem cavar
algumas para vocês as ferramentas estão aqui, dando a entender que não usassem
a nossa. Ninguém se mexeu...
Vendo a matéria jornalística
em Milagres/MA veio à memória a erosão acelerada das dignidades e virtudes nos
brasileiros que não é privilegio dos com nenhuma ou pouca escolaridade. Somos a
sétima economia do mundo, mas estamos no centésimo décimo segundo lugar em
saneamento básico, componente do IDH onde somos o 79º.
O governo envia uma rubrica
milionária para construção de 55 banheiros que foram embolsados pela corrupção
e aparece na TV quando poderiam ensinar a fazer para todos com um pouco de
mutirão.
Saúde pública é educação e
veio a notícia de uma fábrica que vai produzir os mosquitos transgênicos de
combate à dengue. O mosquito macho é portador de um gene letal que impede os
ovos da fêmea de eclodirem em novas larvas. O princípio não é novo. Foi
desenvolvido um projeto milionário ligado à propaganda do uso pacifico da
energia nuclear para fazer desaparecer “moscas varejeiras” (blowflies) através
de irradiação com radioisótopos nos EUA nos anos 50 pelos Dr. R. Bushland e Dr.
E. Knipling. Mas essa técnica não teve o mesmo êxito na mosca do Mediterrâneo
ou na Mosca das Frutas ou em outros experimentos.
Agora a técnica substitui a
radiação pela introdução de gene. Lembro em um debate sobre OGMs quando um
cientista perguntou se eu era contrário a uma vacina transgênica contra
malária. Sabedor onde ele queria chegar respondi de chofre: Se ela for feita
pela Bayer ou Syngenta eu sou contra, mas se for feita pelo Ministério da Saúde
é política pública e o risco é tolerado e dividido por todos... O nível de
informação hoje faz que se confunda ação publica com interesse privado e os
meios de comunicação sentem-se sócios e esquecem que são concessões
constitucionais.
Voltemos à Milagres no MA,
onde faço uma aposta que há pessoas que já fizeram sua operação plástica
(vaidosa) mas tem um dos piores IDH do país que, já superou os EUA em este tipo
de atividade médica... Logo no início da epidemia de dengue há aproximadamente
trinta anos procuramos através do Ministério da Saúde com a OMS através do
amigo Al Benatto as cepas de Bacilllus sphaericus (foto) para a sua
multiplicação e dispersão. Mas logo percebemos que a mesma mão invisível que
impediu o uso do Bacullovirus na agricultura (foto) (que fizera cair o uso de
veneno de 16 aplicações para uma na soja) era a mesma que balançava o berço do
inseticida contra a dengue que levaria à expansão da epidemia de dengue por
todo o país, e agora trás a nova solução, pois ela é um negócio altamente
rentável. Educação e penalidades, nem pensar.
O pior é que o governo que
deveria ser o fiel da balança é parte no negócio, pois arrecada com os impostos
da venda do produto. Tentar explicar é “chover no molhado”. Já em 1998 os
cientistas conscientes através da Revista “Gene Exchange” alertaram que a
transgenia de resistência a herbicidas iria aceleram as plantas mutantes
resistentes aos herbicidas que hoje já superam 150 biótipos (“espécies”) nos
EUA e 40 no Brasil ocupando uma área superior a 1 bilhão de hectares no mundo.
Há um instituto mundial de fomento e respaldo informativo sobre o novo segmento
de capital das corporações de transgenia para doutrinar pesquisadores,
professores universitários e construir os monumentos de vaidade.
Logo não é necessário
afirmar que os mosquitos vão apresentar resistência a partir da segunda,
terceira geração ou ... (Jacobina, BA- 2014) pela fuga de fêmeas (ou gene
silencing) e seus acasalamentos com não irradiados segregando mutantes
transgênicos férteis. O que será ótimo para o laboratório que solucionará
apenas mudando o gene de interesse e lançando o novo modelo como em uma
montadora de automóveis. Deixamos de eliminar a causa para vender a solução
sobre o efeito mesmo que isso crie um novo e mais grave problema a cada vez.
Quanto do combate à dengue é
algo além da ideologia e estrutura dos “mata mosquitos” do DDT da Fundação
Rockefeller nos anos 50. Por que não se pode adotar a linha de Oswaldo Cruz
aplicada ao Rio de Janeiro no início do Século passado.
É que lá havia Estado e aqui
há Mercado. Lembro na época do Bacullovírus que muito pesquisador de elite
levantava o problema para o uso pelo nosso desconhecimento das cabeças ativas
do vírus e sua qualidade, quando na verdade eram instruídos pelas
multinacionais para assim proceder corruptamente. Os mesmos fraudavam os
ensaios do MPF aplicando o herbicida Paraquat, quando se testava para ver se a
soja plantada era contrabandeada.
Outros usavam o tema da
“Revolta da Vacina” que o cientista teve de enfrentar, inclusive gente do
colégio militar da Praia Vermelha/Realengo e também dos positivistas de
plantão, contrários à vacinação, embora desconheçam a deusa indiana Sítala de
exaltação às epidemias (foto). A ANVISA terá de autorizar a comercialização das
partidas de mosquito. Como sempre ocorreu, ocorre e continuará ocorrendo no
futuro não haverá controle de qualidade do número de fêmeas por partida
distribuída no ambiente. Façam uma viagem à bela Jacobina baiana, afinal o
filósofo Paul Virilio diz: Saber fazer não quer dizer que se saiba o que se
está fazendo. É preciso saber o que se faz, mas para isso é necessário
dignidade e virtude, por isso o livro sobre o mapeamento genético sobre o
Bacullovirus (foto) que combate também o mosquito da dengue está hoje, trinta
anos depois sobre o total controle das corporações de agrotóxicos, agora de
biotecnologia, mas “eles passarão eu passarinho”
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