Os
defensores da agricultura convencional, que é a química, estão absolutamente
convencidos de que o mundo iria morrer de fome se não houver a adubação química
e os defensivos que protegem as culturas de parasitas, especialmente insetos e
fungos. Os da agricultura orgânica estão igualmente convencidos de que sem
matéria orgânica não há produção saudável. Antigamente, a agricultura era a base
de toda economia e, no Brasil, foi a cultura do café que pagou a
industrialização. Atualmente, o agrobusiness
contribui diretamente com 45% da economia nacional, enquanto as indústrias
química, metalúrgica, automobilística e eletrônica, de que se falam tanto, contribuem
somente com 21% do PIB nacional, sem considerar o efeito direto e indireto da
agricultura sobre a economia, especialmente a alimentação da população.
Admitido
que o ‘agronegócio’ trabalhe com tecnologia supermoderna, com transplante de
embriões em animais e plantas transgênicas especialmente resistentes a
herbicidas, proporcionando lucros maiores. Mas nosso planeta está secando, e
nossos solos estão se desertificando. A população está cada vez menos saudável.
Os
defensores da agricultura orgânica não pretendem voltar à agricultura
tradicional, embora ela apresente, especialmente nos Andes, uma sincronização
perfeita entre solo, plantas, homens e religião, trabalhando sabiamente com
todos estes fatores e alcançando colheitas elevadas, saborosas e nutritivas sem
destruir os solos e os recursos de água. Quem tem razão? A agricultura existe
somente para contribuir com os lucros ou para alimentar a população hoje,
amanhã, sempre, quer dizer, de maneira sustentável.
Para
terminar com toda discussão os estudantes da Esalq, Escola Superior de Agricultura
Luiz de Queiroz, em Piracicaba, SP, realizaram um encontro entre os exponentes
das duas correntes.
- Podemos
produzir mais e melhor com adubos químicos. A matéria orgânica é somente adubo
químico em forma orgânica e, portanto, mais diluída, menos eficiente e mais cara
para transportar e aplicar.
- Não
podem produzir sem matéria orgânica porque é um condicionador do solo. E sem
agregados e poros não entram água e ar no solo.
-
Podemos irrigar. E quer ver um café adubado e irrigado como produz? E mostraram
fotografias.
- Mas
com um trato orgânico adequado, as raízes se desenvolvem melhor, exploram um
volume maior de solo, recebendo mais água e mais nutrientes, portanto são mais
bem nutridas. A selva tropical neste sistema produz em solos paupérrimos cinco
vezes mais biomassa por ano e hectare que uma floresta de clima temperado. As
plantas estão bem nutridas, apesar dos solos pobres. Portanto, somente precisamos
um trato adequado do solo.
- E se
as plantas ficam doentes, atacadas por insetos e fungos, vocês não usam
defensivos químicos?
- Plantas somente são atacadas quando faltar
algum nutriente. Porque plantas não necessitam somente de três ou sete elementos,
mas de 45. Às vezes um traço ínfimo de um elemento é a diferença entre saúde e
doença. E com raízes profundas e profusas, recebem o que necessitam.
- E se
a fome ameaçar grande parte da população?
- A fome veio com os adubos, defensivos e
herbicidas, que expulsaram os trabalhadores e pequenos agricultores do campo.
Antes desta agricultura química-mecânica, o Brasil se orgulhava de não ter
nenhuma pessoa faminta em seu território.
- E se
vocês tiverem nematoides, o que fazem?
-
Plantamos leguminosas que os controlam. E, além disso, nematoides somente
prejudicam plantas fracas. - Mostraram as raízes de um cana-de-açúcar com
bilhões de galhas de nematoides e que era a melhor cana da fazenda.
Os
“convencionais” não se deram por vencidos.
- E se houver
oito toneladas de nematoides por hectare?
A face
de um pesquisador veterano se iluminou.
- Quanta
matéria orgânica! – exclamou.
A
risada foi dos que concordavam com ele.
-
Ademais, eles prejudicam somente raízes deficientes em fósforo e boro. Coloquem
uns quilos de boro, e as raízes suportam bem até oito toneladas de nematoides.
- E as
colheitas recordes do agrobusiness,
vocês não consideram esse lucro fantástico?
- E
como as consideramos! Porém essas colheitas somente são sustentáveis por um
curto prazo de tempo. Destroem os solos, fazem os rios secar e a água potável
diminuir, quebram os ciclos naturais e usam plantas geneticamente engenheiradas,
das quais ninguém sabe ainda a consequência sobre a natureza e, especialmente, a
formação de proteínas e outras substâncias, até estranhas para as plantas, e
seu efeito sobre a saúde humana. O transplante de genes ainda não está muito
esmerado, está em desenvolvimento, e com certeza tem grande futuro. Atualmente ainda arrancam cerca de 8% dos
cromossomos de uma planta (e cada par de cromossomos pode ter milhares e milhões
de genes) e implantam em seu lugar frações de cromossomos de outras plantas e
micróbios, como, por exemplo, de Agrobacter na
soja, para torná-la resistente ao Roundup. Mas para conseguir um indivíduo que preste,
eles fazem milhares de injeções de pedaços de cromossomos e ainda não sabem o
que está por vir desta “variedade transgênica”, porque ela recebeu muitos genes
e não somente um, e pode, pouco a pouco, mostrar aberrações e plantas
monstruosas. E mesmo que essas variedades sejam definitivas, não se enquadram
em ciclo natural algum, quebrando os ciclos. Além disso, embora não seja muito,
4,5% da soja transgênica fracassou. Por quê, ninguém sabe.
Produção de soja orgânica - dona Belena - Tarumã, SP. Quebrando o mito do pacote tecnológico. Produzindo qualidade biológica remineralizada e não quantidades transgênicas e de baixo teor nutricional. |
- Mas a
agricultura orgânica produz pouco.
- Sim,
quando não é ecológica. Mas quando for conduzida por critérios ecológicos,
produz mais do que a convencional.
- E o
que é ecológico?
- Por
exemplo, não enterrar a matéria orgânica ou o composto mas deixá-lo na superfície
como faz a natureza. Nesse caso, a matéria orgânica fica no horizonte A0 e A1.
- Mas
com NPK se produz muito mais.
- Talvez
por uns poucos anos e isso, nem sempre. Até se esgotarem os outros elementos
nos solos. E se vocês consideram o rastro de destruição que se segue aos
agricultores que saíram do Rio Grande do Sul para o Mato Grosso do Sul, Mato
Grosso, Goiás, Tocantins e Maranhão, acabando com os melhores solos, então não
se pode esperar que nossos descendentes ainda tenham de onde tirar sua
alimentação. Temos o direito de gerar filhos e deixar que herdem um mundo destruído?
De capital financeiro ninguém vive. Vivemos de alimentos e de água doce.
Ana Primavesi
Pergunte ao Solo e às Raízes - Uma análise do solo tropical e mais de 70 casos resolvidos pela agroecologia
Nenhum comentário:
Postar um comentário
"no artigo 5º, inciso IV da Carta da República: 'é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato'."