"As lágrimas dos jovens são fortes como um segredo, podem fazer renascer um mal antigo." Belchior - citado no blog Cosmonicar, Ronaldo M. Botelho
por Sebastião Pinheiro*
Ontem após o Jornal da TVs fui dormir preocupado e os meus recorrentes
pesadelos voltaram... Nele eu estava em um lugar estranho e uma fileira de
crianças ocidentais e asiáticas passavam por mim gritando, chorando
desesperadamente. Nimrod foi destruído. Alguns mais céleres vociferavam: Nimrod
foi destruído, malditos sejam.
Atônito como “Jonas
olhando aos céus” divaguei sobre a última vez que estive em Concepción, Bíobío
no Chile. Uma das crianças era muito parecida com o bebê que tinha menos de um
ano de idade e era amarrado em uma cadeirinha no bagageiro de uma bicicleta que
a jovem estudante mãe trazia para sua companhia no trabalho na cantina da
Universidade onde estávamos alojados e era obrigada a fazer o nosso desjejum.
No Chile pela cordilheira o frio é um companheiro inseparável em todos os
vales. Pobre bebê. A discussão estudantil e acadêmica era sobre o decantado
neologismo “agroecologia”. A jovem mãe desejava, mas não podia assistir as
conferencias, pois tinha de tomar conta da cantina. Convidamo-la com
insistência, mas ela temia perder o trabalho que permitia estudar...
Aquilo me deixou
confuso, eu estava, novamente com um povo maravilhoso que tivera a oportunidade
de conhecer quase 40 anos antes como estudante, onde o individualismo e egoísmo
não tinham espaço. O tempo passou na senda do autoritarismo.
Eu, agora, estava a
mais ou menos nove anos viajando para aprender com camponeses da América Latina
o pouco que sabia e ensinar o muito que não sabia ganhando muito dinheiro, que
para pouco ou nada me servia. O pior é que percebia que toda tecnologia, método
ou estratégia apropriada e libertaria era rapidamente aproveitado pelos
interesses oficiais disfarçados entre os camponeses e estudantes. Sim, eu
estava alimentando e fortalecendo o monstro que pensava combater. Um mês antes
no último curso que participara gente do Banco do Mundo demonstrara interesse
no nosso conhecimento, por isso foi à última participação em cursos e após
Bíobío a última viagem por autenticidade.
Agora de volta
àquela algazarra de crianças chorosas porque Nimrod fora destruída pensei na
situação elitista montada em nossas realidades para o culto ao individualismo,
egoísmo e vaidades no âmbito do saber, muito longe do que dizem os maestros
secretos (paraguaios) “Quisiera una educación para estudiar no una educación
para vivir” parece pouco por estarmos todos inconscientes. Mas a gritaria das
crianças era uma chama de esperança a Nimrod onde foi forjado por primeira vez
o bronze, saber que permitiu a construção de um império, onde as letras e o
alfabeto nos legou a saga de Gilgamesh no talvez mais antigo épico da
humanidade (Semíramis). Se as crianças sentem, choram nem tudo está perdido...
Há uma grande esperança.
No grande pátio uma
jovem com seu guarda-pó branco alvíssimo começaram com palmas a atrair as
crianças chorosas e em poucos minutos o silencio era sepulcral e era possível
escutar a sua voz suave em plenitude: - Nimrod é o nome de uma cidade muito
antiga na Assíria, onde foi construída a Torre de Babel, cujos monumentos valiosos
foram destruídos ontem. Não tem nada a ver com o nosso herói X-Men, Nimrod,
sentinela estelar caça mutantes no Universo Alternativo companheiro de Raquel
Summers em sua viagem ao passado para modificar a linha do tempo.
Na mesma
intensidade em que as crianças exultavam com a novidade da jovem maestra minha
agonia e lágrimas aumentavam, mas estancou abruptamente: - Preservar monumentos
para a erudição e deleite de alguns refletindo o seu poder político, militar e
econômico, não é o mesmo que o educar para estudar. Sim o Nimrod X-men garante
a viagem para reescrever o passado no inconsciente do Universo real e presente.
Seus oponentes fazem o mesmo, com a mesma ignorância, arrogância e
prepotência.
Desperte, jamais alimente seus pesadelos.
*Engenheiro Agrônomo e Florestal, ambientalista e escritor.
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