O dia de Oxóssi passou e parece que muitos não prestaram suas
obrigações: No dia seguinte à sua festa o "Jornal da Band" mostrou o
Ministro da Fazenda Nélson Barbosa sendo "mijado" por um Prêmio Nobel
em Economia em Davos, que tripudiou sobre a ressurreição da CPMF. Foi
humilhação nacional. Na antevéspera foi a vez do Presidente do Banco Central,
Alexandre Tombini passar a mesma vergonha sendo obrigado a dizer algo
esdrúxulo, não se sabe se por ordem ou vontade.
Para muitos, ambos
fatos podem ter ficado em segundo plano, em função da jactância: "Neste
país, não tem uma viva alma mais honesta do que eu". Publicitários fazem
milagres, mas não podem modificar fatos públicos e só tempo é senhor da razão.
O amigo Benatto era
o Diretor da Divisão de Ecologia Humana e Saúde Ambiental do Ministério da
Saúde e tinha feito contribuições fantásticas com a Extensão da UFRGS ao
conseguir três passagens para estudantes de Medicina irem ao Amazonas
integrarem o Circo Mocorongo no Projeto Saúde & amp; Alegria (foto). A oportunidade
forjou três profissionais engajados.
Um tempo depois ele
me pediu para a retornar a Santos, SP e tratar com lideranças políticas
interessadas em informações sobre os riscos em Samaritá, Quarentenário e
Baixada Santista em 1999, onde eu trabalhara em 1991 a pedido do amigo
Lutzenberger, (foto).
No mesmo
"Jornal da Band" aparecia pelo segundo dia denúncias sobre o que está
ocorrendo naquela área. Um dos grandes financiadores da candidatura de Collor
de Mello à presidência foi o empresario Vaz Musa, da Rhodia. Aquela empresa
tinha transferido fábricas proibidas na Europa e sintetizava compostos
organoclorados já banidos por seus resíduos industriais HCB, Pentaclorofenol
(PCP) ricos em Dioxinas e Furanos. Criminosamente distribuía esse lixo tóxico
entre agricultores dizendo ser adubo que ia melhorar a terra. Na época
acionamos o Ministério Público de SP e tivemos o apoio do Dr. Edis Milaré, e
logo, conseguimos fechar o incinerador da Rhodia e interditar toda a área do
Quarentenário, um terreno do Ministério da Agricultura em área de mangue que
era usado pela empresa corrupta como lixão químico clandestino.
Na matéria a TV
Bandeirantes denunciou ser um bairro popular onde todos estão condenados à
doenças degenerativas devidas à contaminação do HCB, PCP e Dioxinas e Furanos
Clorados igual a que em Love Canal, EUA; Seveso, Itália.
Naquela viagem,
desde o ônibus pude ver que o antigo gigantesco terreno prístino, mas
quimicamente envenenado do Ministério da Agricultura, que servira de depósito
clandestino de lixo químico de classe I, agora transformado em um loteamento
gigantesco. Sobressaiam-se na paisagem caixas de água do tipo cilindro metálico
equidistantes, dando a entender que não usavam a água contaminada (a região
possuía mais de 30 piezômetros para o controle da mesma pela CETESB), aquilo
desejava dar aparência saudável à área. Cheguei à reunião apavorado, pois
aquilo era mais que criminoso era manipulação populista.
Ninguém estava
interessado no que eu alertava, fingiam não entender. Deixei com eles um exemplar
do livro "Ladrões de Natureza", onde há o capítulo sobre Samaritá -
Quarentenário e outro sobre a Cidade dos Meninos no Rio de Janeiro, onde a
esposa do Presidente Collor queria criar um asilo infantil e no solo havia os
mesmos índices de HCB, BHC, Dioxinas e Furanos, e, nós também conseguimos
colocar uma pá de cal na ideia.
Vinte anos depois,
vendo a notícia na "Band" me senti mais que envergonhado, me senti
culpado. Lembrei de Tucuruí, lembrei dos soldados franceses ao encontraram em
1982, os últimos 40 tambores de Seveso, escondidos em 1976 por um corrupto,
inescrupuloso. Eles e toda a cidadania estava tão esfuziante que ainda fardados
sobre os caminhões foram recebidos pelas autoridades com garrafas de champanhe,
pelo peso que tinham tirado da coletividade. Haviam sido 60 dias de desespero
em toda Itália, França, Alemanha, onde eu trabalhava no Laboratório de Analise
de Alimentos em Trier e Saarbruecken.
Mesmo tendo feito
um trabalho sério com as autoridades. Pude perceber cafajestes travestidos de
políticos progressistas tinham urbanizado uma área comprometida de forma
criminosa. Uma área que fora recomendada ser totalmente isolada, remediada e
transformada em reserva.
Vendo as imagens e
diálogos na TV sobre o Quarentenário comecei a refletir sobre o que eu passei.
"Pode haver ser humano tão honesto, mas não mais honesto que eu no
país" foi uma das frases da semana. Senti ânsia de vomito. Honestidade é
um valor espiritual absoluto acima de religião, ideologia ou interesses e luta
de classes.
O Jornal da Band
foi pródigo, me tirou da "fossa", um antídoto na notícia final sobre
o envenenamento do ex-espião soviético asilado em Londres com um chá de Polônio
210. Pareceu-me galhofa diante do macabro político anterior.
Para extrair o
veneno e mágoa de meu interior usei a alquimia de transmutar situações tristes
em alegres: Os russos já haviam dado uma sopa de TCDD a Yússhchenko, agora um
chá radioativo. La venditta é un piatto que se manja fredo.
Os desesperados de
Samaritá – Quarentenário (foto) estão mais que tomando chá, estão respirando,
engolindo HCB, PCP, Dioxinas e Furanos Clorados e quem está servindo
são os políticos que usufruem seus votos democráticos...
são os políticos que usufruem seus votos democráticos...
Os assassinos
russos eliminam o desertor (que sabia o risco corria e optou por fugir e
colaborava com o inimigo) por seus interesses e segurança dos ex-colegas do
mesmo. O que a noticia não pode dizer é que os ingleses foram, pelo método,
transformados em incompetentes e corruptos ao não saberem proteger seu
"tesouro"; Ou será que eles administraram o Polônio 210 ao russo para
criar problemas à Russia? No mundo da espionagem, inteligencia e economia não
há ética.
Assassinatos são
injustificáveis pela ética; mas é preciso coragem e honestidade para abordá-lo
em quaisquer circunstâncias. Contudo, a frase do pai: "Meu filho, e as
crianças daqui sofrem de leucopenia (caminho à leucemia), sem nunca terem
entrado em uma fábrica", me fez cair na realidade: O fluxo de ódio,
ignorância, corrupção e incompetência no exercício do poder vitimiza mais aqueles
que, deveriam proteger. Ao que se pode dizer que é situação antagônica à dos
russos por ser a ética um valor absoluto.
Desculpem a
sinceridade, mas algum desgraçado bem intencionado vai fazer seu doutorado
sobre o bairro Quarentenário e apresentar os números e índices macabros para
inveja dos pares nos congressos, revistas, artigos, mas jamais poderá ser
respeitado como um cidadão honesto, pois o tempo é o senhor da razão.
O amigo A. Benatto
foi exonerado do cargo por uma pessoa que aproximou-se dele usando nossa
amizade. Ficou dez anos no cargo e transformou o país no primeiro consumidor de
agrotóxicos do mundo.
Garçon ma tasse avec lait s'il vous plaît.
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