S.Pinheiro
domingo, 09 de julho de 2017
EFEMÉRIDES significa diário com datas, logo lembranças,
rememorações, por exemplo, no dia 08 de Outubro de 1801 Toussaint L’ Overture
apresentou a constituição ao imperador Napoleão Bonaparte, com a declaração de
liberdade dos escravos na Ilha Hispaniola e na guerra derrotará o general
Leclerc, genro do imperador, mas posteriormente será prisioneiro e morrerá em
um presídio em Grenoble (Joux). Dessalines conduzirá a independência do Haiti
(1804), primeira nação livre da América, sem escravos.
35 anos depois do ensaio “O Fim da História de F. Fukuyama e a
Globalização (iniciada na primavera austral de 1986) da Rodada Uruguai, vivemos
a hegemonia do agronegócios e seus abcessos de pus, premonição do Ministro da
Agricultura quando do lançamento do Programa Agro+, em 28 de Agosto de 2016,
quando externou: “O melhor fiscal é o mercado”. Ignorando as recomendações do
escroque George Soros: “O mercado é global, mas a Sociedade não, o que torna
impossível a construção de uma nova moral e ética”. Catorze (14) milhões de
desempregados terão o aumento de dezenas de milhares com o efeito cascata a
partir da suspensão da importação de carne brasileira pelos EUA. Atordoado saí
de casa e viajei à Amazônia, rumo à Benevides e Cametá convidado pelos irmãos
André e Ronaldo Freitas, colegas técnicos em Agricultura e cultivadores da
ética e moral dessas escolas de formação humana. Agora novos hileanos
enriquecendo suas raízes pampeanas, logo cabanos pelo trabalho invejável com as
forças vivas e povo.
Antes, na semana do Meio Ambiente, ao assistir à “avant
premiére” do filme de Daniela Sallet e Juan Zapata “Substantivo Feminino”,
voltei às efemérides amazônicas vividas de 1983 à 1984 de muita devastação,
medo, angustia do Agente Laranja. Caires e D’Avila já não estão há muito entre
nós. Janary Valente sofreu uma cirurgia no cérebro e ficou deficiente, mas
saber da morte da heroína Pastora Marga Rothe chocou-me. Salvou-me a vida pelo
menos duas vezes; fez-me conhecer os padres franceses Francisco Gouriou e
Aristides Camio enquadrados na Lei de Segurança Nacional: Meu respeito a todos
camponeses covardemente tombados nas astúcias do GEBAM-GETAT. Efeméride é
registro de dignidade através da memória e tempo.
No dia 04 presente sai do frio rumo à Benevides para contacto
com o povo da floresta, que protege a Sociobiodiversidade que o alimenta e
permite evoluir a identidade e não se perder a referencia que aprendi com a
Seleta de Theobaldo Miranda dos Santos. Diverti-me, ao perguntar o que é um “pé
de bode” e “jacá”. No primeiro evento conseguimos sentir o palpitar do nosso
primeiro coração, o solo hileano.
A visão das balsas me fizeram reviver a saga nos caminhos desde
Vila do Conde, Acará, Moju, Tailândia, Nova Jacundá, Arraias, Tucuruí, Breu
Branco, Chiqueirão, Jatobal e Ilha Tocantins e todo o levantamento
epidemiológico junto com os alunos da Escola de Saúde Pública da SESPA.
No segundo evento na Casa Família Rural de Cametá chegamos para
a construção do Bio~poder Camponês à partir do nosso primeiro coração.
Na primeira viagem já havia percebido que na Amazônia inexiste a
palavra “não”, assim como a expressão “é meu”. Bruce Rich em seu livro The
uphold the World (A call for a new global Ethic from ancient India) explica
isso através da expressão “More feel for less World is a fool bargain”. Ri com
minhas tripas, pois não é preciso ir à tão longe para encontrar amor e
compromisso. Adam Smith escreveu os livros “The theory of moral sentiments” e a
“Riqueza das Nações”, pela imensidão da selva o hileano é obrigado à humildade
e forja seu comportamento, pois é impossível separar um livro do outro, o que é
bastante raro nas populações dos outros biomas. Daí o brilho nos olhos dos
camponeses, seus filhos, professores e toda a sociedade local. A canção de
Violeta Parra “Volver a los 17” explica este olhar, pelo que agradeço a
acolhida na Casa Familiar Rural de Cametá. Trabalhei muito com as EFAS do MEPES
e dormi no local da casa do Padre Anchieta tendo por companhia uma bela cuíca,
que já não se conhece. Na CFR de Cametá foi-me permitido aprender a fazer “Água
de Vidro” para fortificar as plantas; “Cromatografia de Pfeiffer”, um
cardiograma do solo; “Peletização de Sementes”; “Fosfito de Potássio”;
“Biochar”; “Calda Sulfocálcia” e idealizar o “Campo de Metagenômica” que
Danielle, Quincas e Josimar com galhardia apresentaram aos seus pares no
IFPA/UFPA/UEPA. O filósofo Quincas ao ser apelidado respondeu “Berro D’água”.
Vocábulo do português arcaico, ainda usado no espanhol, significando o agrião
(Nasturtium officinale), na imensidão de água da Amazônia há muito espaço para
a filosofia.
Na efeméride há também o reencontro com os antigos militantes da
FEAB e FAEAB os hoje doutores, professores Acácio e Aldrin carregando o mesmo
ideal da época estudantil e com planos de transformar Cametá em um grande polo
agroecológico para barrar a sanha assassina do agronegócios com seus abcessos,
pus e expulsão de camponeses cabanos. Em 1635 Pedro Teixeira iniciou o
desbravamento da fronteira amazônica, em 1673 teve em uma delas a presença do
Padre Vieira, sim aquele jesuíta dos fenomenais sermões e discursos. Isso,
aquele que teve o “estalo” intelectual. É dizem os livros que 315 anos a
Amazônia já fora visitada por uma esquadra do imperador Abu Bakari II do Mali.
Poucos sabem que o único lugar no planeta onde uma fabrica de Coca Cola faliu
foi em Belém.
Karl Jaspers tem razão estamos entrando em uma Segunda Idade
Eixo como entre 800 a 200 AC. Isso levará ao desaparecimento da corrupção
política de gestão privada no que é de todos. Novas éticas e morais elevadas
fluirão como a selva que ocupa todas as partes, não teme a destruição, pois
sabe que a juquira (plantas que nascem no sal (cinzas) a reporá em seu lugar,
para o sorriso do Matita Pereira, do Caipora, da Iara e Boitatá. Escutei o
canto e vi o brilho solar nos olhos de milhares Muiraquitãs na lua cheia,
amarelada prenunciando período de seca. Já havia visto isso há mais de 4.830
anos durante o cativeiro no Egito. Antes de retornar encontrei uma árvore de
flores rosadas sobressaindo-se no terreno da floresta. Suas pétalas indicam uma
Magnólia, talvez ovata (foto)
A
missão foi iniciada na alegria tuxaua agroecológica hileana, retornei à casa
lembrando o grito no encerramento no Congresso de Agronomia em Belém em 1989:
“Murupiara Amazônia e o dia 08 de Outubro nas águas de Alter do Chão no não
distante Tapajós onde encontrei a Juquira Candiru (Satyagraha). Ir à Amazônia
(escola) é aprender (decifrar) a espiritualidade na vida e conhecer o amor,
meus agradecimentos pela oportunidade ímpar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
"no artigo 5º, inciso IV da Carta da República: 'é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato'."