MANDINGA
uma entrevista realizada por
Sebastião Pinheiro
N. prot.: 1176505. Prot. atendimento:
2015-0005025288
Esta
história pertence à memória de uma anciã quilombola expulsa da sua terra na
ditadura militar em Aracruz pelos interesses da Casa de Windsor. Entrevistada por
mim em 1983, onde vive, no Lixão de São Pedro, junto com sua comunidade, na
Ilha de Vitória, capital ES.
Reedição
em PDF/Correções/Imagens: Oliver Naves Blanco
setembro
2018
Capítulo I
São Mateus já era
um porto turbulento com uma história longínqua com períodos cimentados sobre
morte, desespero, dor e desgraça nos navios negreiros de propriedade e bandeira
de ingleses, holandeses e portugueses, que ali aportavam com sua carga. Era o
quinto maior porto de comércio de escravos, pela facilidade de transporte pelo
rio, que dá nome à cidade, até as Minas Gerais, grande absorvedora de
mão-de-obra na época.
É comum dizermos
que o diabo mais sabe por velho que por diabo. Em paráfrase, podemos, também,
afirmar que o "cavalheirismo e civismo ingleses", o são não
por educação, cultura ou humanismo, mas por antiguidade e aparelhamento na
organização do esbulho, guerra, repressão comercial ou através de seu sistema
de justiça. Há muitos capitães-de-mato imitando-os nesta onda de
"solidariedade" e voluntarismo.
Na região de São
Mateus, uma das maiores primeiras propriedades era a de um português de Cintra,
de nome Joaquim Pedro com familiares influentes na Corte lusitana e descendente
direto de Vasco Coutinho, Capitão Donatário da região.
O grande negócio
da época era a cana-de-açúcar, mas para a produção de açúcar (!). O que fazia
este colonizador comprar constantemente escravos africanos, devido à sua curta
vida útil, pelos maus-tratos no degredo e cativeiro. Para pagar aos traficantes
ingleses, ele possuía uma das mais belas e grandes plantações de fumo fora da
Bahia e um alambique para a produção de aguardente, ambos, com a devida
autorização do rei de Portugal e reconhecimento, agora, do jovem regime
independente brasileiro.
O feitor, embora
obeso e afável, era tão tirano e cruel quanto seus pares. Chegou a ter mais de
seiscentos escravos. Sentia-se justo, quando reprimia com severidade os
revoltados. Recompensado, quando recebia a unção dos jesuítas. Seu pelourinho
manchado de sangue cheirava a carne podre. Ele era temido até por capitães-de-mato,
índios, negros fugidos e até mesmo pelos jesuítas.
As milícias
portuguesas de segurança dos pioneiros raramente iam além da varanda da Casa
Grande, pois ele a prescindia e o mesmo ocorria com as tropas com as novas
cores imperiais.
Diziam as más
línguas que seu pai alimentava seus cães com carne humana de indígenas após as
caçadas.
O novo império
brasileiro nascia, e tudo ia às mil maravilhas para o feitor de escravos. Embora,
em suas terras, não houvesse minérios, a produção agrícola causava ciúmes aos
mais poderosos mineradores do novo império.
Sua habilidade na
administração das terras, plantações de fumo, engenho de açúcar e produção de
aguardente era invejada em toda a Província ao sul da Bahia. Em suas terras
nasceram as primeiras melancias que os africanos semeavam por toda parte ao
longo dos caminhos. Eram as mais doces e
vermelhas cobiçadas nos calorosos verões à beira-mar e praça do mercado.
Ele, ainda jovem,
viu seu pai e toda sua numerosa família ficarem calados quando foi declarada a
independência do Império do Brasil de Portugal, esperando não arriscar seu
patrimônio, pois não entenderam a manobra preventiva articulada por ingleses e
portugueses.
.... continue lendo essa linda história!
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