30 de abril 2019
por Sebastião Pinheiro
"O poder usa
instrumentos de opressão e servidão, o mais vil é a fome, principalmente para
os seres ultrassociais."
Seu Menino, me
disse Ariano, que não era Suassuna nem Suçuarana, por meio retinto pelos
bisavós indígenas Pancararús, autênticos, e que foi mais tarde corroborado por
minha avó Izolina, que muito tarde passei a venerar, por descobrir seu nome ter
sido retirado de uma fração do petróleo. Pois ele e ela, me ensinaram, que
“boçal” é onde se serve comida a animais (donkey muzzle).
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Minha vó Izolina
tinha uma mula, a Borréia e cabia a mim tratar e cuidar dela. Borréia mal
agradecida era má gostava de me morder quando eu estava distraído ou estudando
e sempre atacava sorrateiramente. Só quem já recebeu uma mordida de mula sabe
do que eu estou a tratar.
Mas, a Vó Izolina
me ensinou: Põe o boçal nela sem comida e deixa, que ela aprende.
No art. 5º, XXIII,
da Carta Magna vigente consta o conceito jurídico aberto (indeterminado)
“Função Social da Terra”, por englobar o artigo 23 do Código Penal Brasileiro
no tocante ao estado de necessidade ultrassocial; a legítima defesa
ultrassocial, o estrito cumprimento do dever legal e o exercício regular de
direito ultrassocial do alimento. Na constituição de Angola além do que diz a
constituição brasileira sobre a exclusão de ilicitude, adiciona o consentimento
do lesado, que consiste na concordância do titular do direito à prática de ato
lesivo, que, sem ela, constituiria uma violação ou uma ofensa da norma que o
tutela... Na constituição Mexicana de 1919 foi plasmado o artigo 27. “A terra
pertence a quem nela trabalha” é seu resumo de duas páginas. Cada letra ali
custou durante dez anos combates, sangue e morte. Os camponeses mexicanos são
dono de 75% das terras nacionais Borréia, ficou
muito incomodada com o tratamento. Piorou quando passei ir para o trabalho no
campo usando o boçal como chapéu, pois isso a obrigava a se comportar
convenientemente, com boçal não podia usar a liberdade de mordiscar pastos
enquanto trabalhava. Pairava uma ameaça.
O poder usa
instrumentos de opressão e servidão, o mais vil é a fome, principalmente para
os seres ultrassociais.
Quando foi
proposto o N.A.F.T.A., que não é um tipo de Izolina ou gasolina e que também é
chamado de Tratado de Livre Comércio da América do Norte foi exigido que os
mexicanos revogassem o seu artigo 27 da Constituição. Os organismos
multilaterais do Império envidaram esforços e isso foi alcançado.
Já se passaram
mais de 20 anos e praticamente as terras não foram vendidas, nem as Assembleias
Ejidais destituídas de poder e os territórios ultrassociais e questão agrária
no México continuam exemplo do biopoder camponês para o mundo.
Ontem assisti sua
Excelência o Senhor Presidente externar “exclusão de ilicitude”, não no sentido
acima exposto, também na Constituição de Angola, mas numa interpretação de
reconhecimento de poder nas milícias que assolam o Rio de Janeiro, surgidas da
ausência de entes governamentais.
Eu assim entendi o
dito para o público presente e o recado a atingir todos os seres ultrassocias,
ou não, com método, forma e função. Houve uma época em que eu desejava colocar
o boçal da Borréia em todo o mundo, para não escutar asneiras, mas ela me
ensinou muito com seu comportamento. A vó Izolina com seus conselhos e muitos
outros anônimos e passageiros igualmente. Deliberadamente é compreensivo
parecer faltar tempo para quem na verdade carece é de capacidade e competência
para construir o que deseja.
O artigo 27 da
constituição mexicana é algo mais que o registro no papel. Ele está plasmado e
consolidado e não falta tempo, ao contrario sobra todo o tempo do mundo.
Conheça a história de John Riley ou leia o Batalhão de São Patrício (Ninno
Cacucci). Aqueles irlandeses como todos que lutam pela liberdade sabiam, que o
que estava em jogo não era território, era sim civilidade. O agronegócios está
desterritorializando a atividade ultrassocial da humanidade, a natureza, o
espaço vital das comunidades indígenas e a civilidade. Um século não é nada,
pois continuamos gritando “La lucha sigue y sigue, Zapata Vive”. Isso é o
Biopoder Camponês.
"O agronegócios está
desterritorializando a atividade ultrassocial da humanidade, a natureza, o
espaço vital das comunidades indígenas e a civilidade."
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