Morreu Mandela. Rezei e me
lembrei de Miriam Makeba, a cantora xhosa ousada que em 1968 denunciou a
situação dos negros no Rio de Janeiro contrariando a ditadura e sua festejada
democracia racial brasileira. Ela saiu daqui quase que corrida rumo à Buenos
Aires. Vocês não lembram? É que não saiu na imprensa, e, História é detalhe
para pesquisas.
Estou bastante assustado a sintonia entre os boletins nacionais e internacionais sobre a morte do líder africano parece uma coisa só. Contudo, percebi uma frase muito insinuante dele em sua última sessão de fotos: “Um dia na prisão, eles disseram, Madiba você pode ir para casa”.
Anos sessenta das mulheres “Maus-Maus” que liberaram o Quênia colonial, então a Suíça Africana; lembro também do filme “Guerilla” com Sidney Poitier & Rock Hudson. É que nas Rodésias (Southern & Northern), onde o racista Ian Smith representava a coroa haviam menos de três por cento de brancos e o restante estava em escravidão mesmo. Situação não diferente da que Piers Botha impunha à África do Sul, entretanto um pólo financeiro importantíssimo e a chave geoestratégica do Atlântico Sul e Índico para o socorro à Austrália e Nova Zelândia.
O que significa você pode ir para
casa, Madiba? Jimmy Carter com seus Direitos Humanos jamais falou em Mandela.
Será que não o conhecia? Não estranhe. Quando o tenente William Caley cometeu o
massacre de crianças e civis em My Lai em março 1968 durante a Guerra do
Vietnã, Carter então governador, no dia da condena à prisão perpétua instituiu
o “Dia do U.S Combatente” e conclamou o povo a dirigir com os faróis dos
veículos acessos durante o dia por uma semana como reação ao veredicto da
condena do militar. O pior que o criminoso de guerra era cidadão da Flórida sem
nenhuma passagem pelo Estado da Geórgia. Era o ano do segundo transplante de
coração feito pelo Dr. Christian Barnard no dentista Blaiberg.
Mandela já estava preso há dezesseis anos quando Reagan (1980), para reforçar a importância estratégica e financeira da África do Sul declarou aquele prisioneiro: terrorista. É preciso explicar: A África do Sul por conta de sua importância estratégica ocupou a antiga colônia alemã conhecida como África do Sudoeste após o final da Primeira Guerra Mundial e a manejou como seu território ocupado por ordem superior em função das reservas de Urânio.
A ONU revogou as pretensões territoriais dos sul-africanas em 1966 quando já havia Guerra de Liberação da Namíbia (SWAPO), em 1974 com a retirada dos portugueses de Angola e Cabinda a situação ficou tensa no xadrez da Guerra Fria e a chegada de tropas cubanas com logística soviética condenou a África do Sul a desaparecer em pouco tempo. A situação era tão delicada que até o Irã do Xá Rheza Pahlevi, Israel e China enviaram apoio militar para o regime racista dos sul-africanos, que sequer podiam comprar petróleo internacional, mas discretamente eram abastecidos pelos EUA. Nesta época o mais interessante é que em toda a Europa era possível comprar as moedas de ouro de “Rands”, para custear a guerra.
Um fenômeno estranho foi
registrado por satélites soviéticos na Atmosfera Antártica, a explosão de um
artefato nuclear. No BBA em Detmold, Alemanha foram feitas análises de trigos
argentinos para a detecção de resíduos radiativos e se saber o tipo de bomba
detonada...
Em 1988 na comemoração do meio
milênio da conquista sobre o Cabo das Tormentas e abertura para o Indico foi
organizada uma comemoração com os africanos recebendo os marinheiros de
Bartolomeu Dias. Mas era uma praia para brancos e os africanos foram proibidos
de participar. Os organizadores internacionais foram aconselhados pelos
sul-africanos a pintar os atores brancos com tinta preta. E assim foi feito. -
Madiba, você pode ir para casa!
Quando as tropas da SWAPO-MPLA e
cubanos estavam prontas para entrar em território da África do Sul os grandes
banqueiros e seus diplomatas estabeleceram o stalemate, não uma derrota ou
armistício. The Piltdown Man não ocorreu na África do Sul, mas há a grande
sombra sobre o uso do vírus HIV como arma militar na Guerra da Namíbia. Ali há
zonas com 55% da população negra infectada.
Ainda na prisão em 1985, Mandela
foi operado de hipertrofia da próstata em preparação para sua nova função.
Porque não operaram antes?
Da cartola foi tirado o nome de
Mandela descendente de uma dinastia tribal xhosa com liderança reconhecida
nacionalmente e internacionalmente e seguramente mais confiável que os zulus.
Mandela libertado em fevereiro de 1990 e sua agremiação (ANC) pode
organizar-se. Foi levado ao Fórum Econômico Mundial em Davos em 1992, onde com
beneplácito do CIRF recebeu a autorização da passagem de mando substituindo a
de Klerk. Foi então muito festejado por Clinton e pela mídia mundial.
Mandela podia significar uma
transição pacífica e estratégica no Atlântico Sul, um dos maiores centros
financeiros do mundo, produtor de diamantes e ouro, além de metais estratégicos
Há quem diga que a África do Sul, fora o Egito tenha quase noventa e cinco por
cento do PNB da África. É sabido que a economia de Moçambique tem na África do
Sul mais de 80% de sua origem. Sim, ele significou a transição, mas a situação
da grande maioria negra não vai muito além do que ocorria, houve uma melhora de
comportamento da elite. O massacre dos mineiros no início deste ano mostrou que
a intolerância policial continua em alta e os níveis de desemprego beiram 30%.
Os Moguls (Time-LIfe, Rupert
Murdoch, Ted Turner CNN, BBC) pasteurizam e recheiam as informações com
ideologia política com fins mercantis. Deveríamos tomar medidas para impedir
este tipo de desrespeito e aculturamento. A memória de Mandela é bem maior e
sua ação merece muito mais respeito que os repetitivos estereótipos doentios.
Mandela talvez tenha dito a frase
mais simbólica na sua última sessão de fotos: “Um dia na prisão, eles disseram,
Madiba você pode ir para casa”. A foto de seu reflexo através do espelho é
significativa. Como diria o famoso sociólogo (Pela mão de Alice): Há alguém
atrás do espelho. A foto do condenado com o “Necklacing” é de Kevin Carter.
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