"No século XIX, Samuel Butler (1835-1902), escritor, pintor e músico inglês, questionou a explicação da evolução fornecida por Charles Darwin. Butler, que tivera muitas discussões com seu pai, havia partido para a Nova Zelândia para ser criador de ovelhas, depois de concluir sua formação em Shrewsbury e no St. John's College, em Cambridge. Animado com Origem das espécies ao lê-lo pela primeira vez, na Nova Zelândia, aos poucos Butler desencantou-se com o livro de Darwin. Como um rebelde erudito que satirizava a sociedade e investigava as origens da religião, Butler aceitou a evolução, mas rejeitou a exposição darwiniana. Começou a desconfiar de um dogmatismo no avanço da ciência, tão tacanho quanto o da Igreja, porém mais insidioso. Lendo os evolucionistas anteriores, inclusive Erasmus, o avô de Darwin, Butler acusou este último de não reconhecer suas dívidas intelectuais.
(...) O que mais exasperou Butler foi a descrição darwiniana excessivamente mecânica do processo evolutivo. (...) Afastando-se da apresentação neo-newtoniana que Darwin fizera dos seres orgânicos, como "coisas" que sofriam a ação de "forças", ele apresentou a vida senciente como autora de um sem-número de minúsculas decisões - e portanto parcialmente responsável por sua própria evolução. (...) Uma das teses butleriana destacou-se: a matéria viva é mnêmica, recorda e encarna seu próprio passado. A vida segundo Butler era dotada de consciência, memória, direção e estabelecimento de metas. Na visão dele, todas as formas de vida, e não apenas a vida humana, eram teleológicas, ou seja, lutavam. Butler alegou que os darwinistas deixavam passar despercebida a teleologia, o caráter de direcionamento para as metas que a vida apresentava ao agir por si mesma. Ao despejar a água suja do próprio divino, Darwin também havia jogado fora o bebê da intencionalidade viva.
'...a vida é a matéria exercendo escolhas. Todo ser vivo, afirmava Samuel Butler, reage de maneira senciente à mudança ambiental e, durante sua vida, procura alterar-se.' "
Trechos retirado do livro: O que é Vida? Lynn Margulis & Dorion Sagan
Nenhum comentário:
Postar um comentário
"no artigo 5º, inciso IV da Carta da República: 'é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato'."