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"Harmonizo meus pensamentos para criar com a visão". "Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e não mais lutando por dinheiro e poder, então nossa sociedade poderá enfim evoluir a um novo nível".

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Interpretação Cromatográfica do solo coletado nas cercanias de uma Olaria

"Decidi não mais servir e sereis livres; não pretendo que o empurreis ou sacudais, somente não mais o sustentai, e o vereis como um grande colosso, de quem subtraiu-se a base, desmancha-se com seu próprio peso e rebentar-se." Etinne de La Boétie (Discurso da Servidão Voluntária)
Fora Governo! 'Militar é agir'. Grupelhos!


Em leitura recente do livro A Inteligência Coletiva, de Pierre Lévy, numa passagem sobre qualidades humanas e economia da inteligência coletiva, final do capítulo 2, nos diz: "Ora, precisamente em período de nomadismo antropológico, quando se passa de mundo em mundo (em lugar dos deslocamentos em um território geográfico), a transmissão e a integração não podem mais passar unicamente pela linhagem familiar ou pela instituição escolar. Quando só existem alguns saberes estáveis a transmitir em meio a uma variação maciça e contínua de conhecimentos pertinentes, a canalização da transmissão - útil em outros tempo - pode se tornar um freio, ou mesmo um fatal ponto de estrangulamento. À desterritorialização dos fluxos econômicos, humanos e informacionais, ao surgimento de uma nomadismo antropológico, propomos responder com uma desterritorialização da iniciação e da própria humanização. A serviço da liberdade, não são necessários meios que reforcem a autonomia e aumentem a potência dos que dela se servem, em vez de habituá-los à dependência? É por isso que a transmissão, a educação, a integração, a reorganização do laço social deverão deixar de ser atividade separadas. Devem realizar-se do todo da sociedade para si mesma, e pontencialmente de qualquer ponto que seja de um social móvel a qualquer outro, sem canalização prévia, sem passar por qualquer órgão especializado. Existem técnicas adequadas para obter esse resultado? Que engenharia corresponderia à ascendente economia das qualidade humanas?" 
 
Em julho deste ano, ainda residindo no município de Quatá – SP/Brasil, deparei me com um solo preto muito próximo aos fornos de barro utilizados para a queima de tijolos em uma Olaria (foto acima). Na ocasião, sabendo da presença artesanal da biofábrica, fui buscar um pouco de seus resíduos para a produção de insumos agrícolas de síntese orgânica (bokachi e biofertilizantes fermentados): cinza e munha de carvão.

A família, a 26 anos no ofício de oleiros no município, sendo considerada uma das oficinas mais antigas em termos industriais, técnica pré-histórica datada do neolítico, logo me recebeu e disseram para ficar à vontade para pegar os materiais que quiser. Um jovem veio até mim e damos a prosear.

A matéria prima utilizada em uma olaria (de “ola” termo antigo para “panela de barro) é o barro ou argila, como também a madeira para alimentar o fogo das caieiras. Para cada 1 tonelada de argila se fabrica 1.000 tijolos. Os mais atentos sabem que ali também geram resíduos como a cinza e a munha de carvão, provenientes da limpeza das caieiras após assar as peças de tijolos. A técnica da queima do barro ou terra queimada já era de conhecimento dos indígenas no Brasil; método que deveras, também contribuiu para a transformação da “Terra Preta” indígena no passado em território amazônico.

“Na metade do Século XXI, arqueólogos descobriram na bacia Amazônia, grandes áreas com ‘Terra Preta’ (Amazonian Black Earth) com mais de dez por cento de matéria orgânica. Por sua origem geológica estes solos, muito oxidados e ‘pobres’ em minerais (Oxysoles) não têm fertilidade, mas foram totalmente transformados por indígenas. São mais de cinquenta áreas, construídas desde há mais de cinco mil anos, através do manejo do carvão vegetal, biomassa, minerais, cerâmicas moídas, microrganismos pelos indígenas. Esta obra é tão fantástica quanto uma pirâmide ou construção de um calendário. As análises com a matéria orgânica da terra preta de índio, o que mais choca é o altíssimo conteúdo em ácido himatomelânico, muito similar à dos andosoles riquíssimos em minerais das regiões vulcânicas semi-áridas. O mais fantástico é que essa membrana de Carbono permaneceu ativa e auto-sustentável sem a presença do homem, enquanto as terras da agricultura industrial tendem ao deserto por não-sustentabilidade do Carbono, na presença da ciência do homem civilizado.

Este é o principal instrumento da nova ordem da ‘Revolução Verde na África’ “(PINHEIRO, 2015).

E, em julho de 2017, 'Eu' descubro uma mancha de solo ‘preto’ nas cercanias de uma olaria, transformado pelo trabalho de oleiros, microrganismos, restos de tijolos, telhas, cavacos de madeiras, munha de carvão*, cinza*, o tempo e lixo; lixos!? (plástico, vidro..). Pode-se dizer que houve uma integrada e sequencial ação de diferentes fatores ambientais estocástico e organismos vivos, o que acaba sendo parte desta evolução do homem e sociedade, neste caso em particular não visava um 'sistema' agrícola, mas uma mancha de membrana orgânica se formou..  

Disse-me o jovem com quem tive uma longa prosa sobre agricultura que naquela mancha preta já se colheu abóboras enormes. Sem a qualquer intenção de plantio! Havia uma vegetação espontânea exuberante e muito verde, e também pude ver um emaranhado de pés de abóboras se misturando com os montes de madeiras de todo tipo, como paletts, restos de galhos de árvores, tocos.

Perguntei a quanto tempo a família estava ali no local neste ofício, depositando os resíduos. Disse que já fazia uns 16 anos, mais o pai tinha mais tempo de trabalho, e que a 6 anos atrás, um plantador de hortaliças local, com auxílio de uma máquina, rapou mais ou menos uns 60 cm deste solo preto para adubar seus canteiros. Disse que o pessoal então começou a vir coletar o solo preto para colocar em suas hortas caseiras.

Passado 6 anos de depósito de resíduos, este é continuo de acordo com o trabalho, após a maior retirada; resíduos por cima de resíduos, intercalando também uma vegetação espontânea que por ciclos recebiam uma carga de todo tipo de madeiras para serem queimadas nos fornos, então, fiz uma pequena trincheira de 1 metro e constato até uma profundidade de 30 cm a existência de resíduo orgânico, mais na superfície madeiras em estágio avançado de decomposição, e manchas prestas de um 'Solo preto'. Realmente preto.
solo da olaria

Fiz uma coleta de 300 gramas de solo nas profundidades 10, 30 e 50 cm. Ganho uma linda abóbora e termino a prosa com o jovem, que também me relatou que seu pai estava ruim no hospital com problemas nos pulmões, uma semana depois, volto ao local e fico sabendo do seu falecimento. Faço um alerta sobre a questão da fumaça e poeira de carvão vegetal, podendo ser a causa da morte do pai. Pois vi que trabalhavam sem camisa, muito menos usavam máscaras.

Segue os cromas revelados na técnica de Cromatografia de Kolisko/Pfeiffer em novembro 2017:

1. Na profundidade 10 cm
Solo Olaria, 10 cm - papel W#4 150mm Foto: Oliver Blanco
Este é um Cromatograma de uma solo nas cercanias de uma Olaria na cidade de Quatá - São Paulo - Brasil. Utilizamos a técnica de Cromatografia de Kolisko/Pfeiffer para ser possível obter está harmonia holográfica das relações intrínsecas àquele ambiente/habitat, mais especificamente nas integrações dos resíduos da produção de tijolos: munha de carvão, cinza e resto de madeiras (cavacos, pedaços e outros..), pedaços de cerâmicas, telhas, tijolos.

Constata-se a presença e a atividade microbiana nos primeiros 10 a 20 cm até 30 cm de solo. Com uma boa oxigenação e um metabolismo primário, até um pouco acelerado da matéria orgânica - bem representada pela cor clara, rumando para o branco no centro do croma, zona central.

Apesar da boa integração da zona mineral com a zona proteica, a pouca diferenciação dos dentes na zona externa mostra-se também pouca diversidade do mesmo. O que podemos completar, ao manejá-lo para a produção de alimentos, remineralizando-o com farinha de rochas, no ocasião o basalto, em grande quantidade na região.

O solo superficialmente possui boa atividade enzimática. Visto que a terceira zona, está bem integrada, com cores ideais, evidenciando esse conteúdo da digestão proteica.

O solo até a profundidade de 30 cm é possível observar sua cor preta - característica de um solo com boa reserva de energia - húmus. Tal característica se confirma pelo metabolismo secundário ativo da matéria orgânica revelados também no croma; início de formação dos dentes rumando para característica em ‘explosões lunares’ na zona externa, e com boa atividade enzimática - metabolismo secundário dos resíduos. Concluímos com isso que o solo possui uma boa fonte de carbono (húmus em formação) e um bom nível de potencial nutricional.
Para entender um pouco mais dessa dinâmica  da formação do solo de cor preta, ver o post (PICUMÃ) sobre o uso do carvão vegetal no solo. Estudar também as característica técnicas das partículas micropuverizadas do carvão (tal biochar gringo!).. 


2. Profundidade 30 cm 

Solo Olaria, 30 cm - papel W#4 150mm Foto: Oliver Blanco
Com este cromatograma, e comparando-o ao primeiro acima, fica nítida a diferença, na dinâmica biológica e na presença dos materiais e dos agentes transformadores deste solo (de novo horizonte A). A zona central, que quando aparece vai da cor preta, creme, ao cinza, branco.. e prata (do 'mínimo metabolismo microbiano aeróbico e máxima fermentação anaeróbica' - aqui podendo o leitor/a constatar melhor ainda essa mudança ou diferença no terceiro croma logo a baixo), portanto, vemos neste croma que, a 30 cm, a zona central está menor, com mudanças na cor para creme, porém, possui ainda oxigênio que alimenta a atividade microbiana, e no mais, com dinâmica lenta em relação ao nível mais superficial do solo. Pode ser acelerada com a infiltração de água, no início das chuvas. É evidente as características do antigo horizonte deste solo; de menor densidade e argila média, chegando no máximo a 18%.

Na zona intermediária, já é possível notar um círculo linear com um marrom mais escuro, evidência de uma membrana inorgânica com um pouco menos de vida, menos integrada em relação ao primeiro croma (profundidade 10 cm).

Este croma nos revela um bom solo para o que antes estava exposto (erosividade), com pouca conservação, erodibilidade e, agora possui uma evolução dinâmica criada pelos resíduos de ação entrópicas e humana.

Uma vegetação de estratos maiores, no entanto, levando em consideração as peculiaridade biológicas de cada planta, se arbórea, definir os espaços certos com maior distância e planejamento: algumas frutíferas e nativas, portanto, com preferência em potencial forrageiro, o tornaria  melhor em profundidade, com maior infiltração de ar e água. É uma recomendação dentro do manejo agrícola. Ideal seria uma expansão de raízes (lembrar que, por exemplo, Panicum máximos e Brachiarias possuem raízes que chegam até 2 ou 3 metros de profundidade)  e cobertura vegetal para que este croma evolua, como ao primeiro (1), ampliando assim, sua capacidade em armazenar o carbono e os gases do efeito estufa, ao mesmo tempo em que mantém sua fertilidade em níveis sustentáveis. Caso, é claro, se neste solo desenvolvesse a agricultura (produção de milho, hortaliças, etc).       

3. Profundidade 50 cm

Solo Olaria, 50 cm - papel W#4 150mm Foto: Oliver Blanco
Neste croma, foto de como é o mesmo solo acima só que aos 50 cm de profundidade, fica mais expressivo observar a falta das características que compõe um solo vivo: boa oxigenação, reserva hídrica, micróbios e principalmente o que poderia proporcionar uma vegetação com raízes mais profunda.  Nota-se, que a zona central já é pouco evidente e a cor creme escura mostra a presença ou efeitos de uma ligeira fermentação anaeróbica, compactação e falta d'água.
A zona intermediária se define melhor; sem uma harmonia integrativa entre a zonas interna e periférica. A cor castanha escura se estende para a zona externa; não há formação de dentes, porém a cor castanha escura bem definida na borda, não é ideal, pode evidenciar a ação do metabolismo secundário do enxofre, quiçá pela ação das enzimas Arylsulfatases de liberação de enxofre, que também deve atuar no metabolismo primário, centro do croma.

         
4. Extração de Huminas camponesa
 
Extração de Huminas Camponesa, amostra composta entre 10 a 30 cm de profundidade - papel W#4 150mm Foto: Oliver Blanco
"Huminas é a transformação progressiva e lenta do ácido húmico, fúlvico e himatomelânico na sintropia microbiana nos períodos humogênicos para resiliência aos períodos humolíticos." (PINHEIRO, 2017).

O cromatograma acima é uma tentativa de extração e identificação de huminas deste mesmo solo. Representa a composição espectral holográfica das Huminas extraíveis do solo de olaria analisado. Não me parece ser um bom croma de Huminas. Podemos especular que na grande interferência e depósitos intercalados de resíduos proveniente das atividades semanais da olaria: munha de carvão, pedaços de madeiras, cinzas e pedaços de argilas, faltou o fator vegetação para uma completa sintrofia deste elementos no solo.

CONCLUSÃO

Concluímos que é evidente o potencial agrícola do carvão vegetal como agregador de outros elementos bióticos e abióticos nesta hierarquia em espiral da vida, podendo acelerar a construção de um solo, armazenar energia, aumentar o potencial resiliente de microrganismos, bem como, aumentar sua fertilidade.

Um sistema agroflorestal, 'Agricultura Sintrópica', por exemplo, considerando o tempo e o espaço (da arquitetura vegetativa) e a ação do trabalho, corpo presente no agir (famílias de agricultores) e também as leis termodinâmicas, não colocaria tanto carbono no solo em nível agrícola e na linha de produção 'sustentável' em tão pouco tempo. Ou seja, não formaria um solo tão rápido, 30 até 60 cm de solo preto em 3 até 6 anos, paralelamente a um ciclo de extração biológica de minerais, quando se utiliza o manejo de técnicas como adubação verde (foto no final), remineralização, carvão vegetal, restos de madeiras trituradas, apoio de compostos pré-fermentados enriquecidos de micróbios, etc.. Porém, uma técnica não inviabiliza a outra. Uma agrofloresta pode se iniciar com essa base, não só como técnica, mas como planejamento holístico dentro de uma propriedade, até porque, um dos objetivos de uma agrofloresta, também, seria reconstituir uma Floresta em equilíbrio entrópico.

Diz Pinheiro, S.:
"6. Brasil: A falta de visão estratégia com respeito às cortinas florestais e quebra-ventos são inexplicáveis. Não há como aumentar a precipitação no Cerrado, Pampa e Caatinga, mas diminuindo a incidência dos ventos podemos preservar a umidade no solo por um período de tempo longo e se integrarmos com o armazenamento de Carbono no solo é possível em pouco tempo regularizar o ciclo hidrológico e Nitrogênio podendo quadruplicar a produtividade. Entretanto, não há política pública para a instalação de cortinas florestais ou quebra-ventos. Embora no passado, no nordeste o sistema de produção mocó-seridó usasse vento de baixa estatura (guandú, algodão arbóreo, crotalária, leucena) com sucesso, aproveitando as cercas, caminhos, sem ocupar os espaços de produção. O mesmo pode ser feito nos assentamentos de Reforma Agrária com frutíferas. É lastimável, mas a questão do Carbono é negócio de interesse financeiros internacional, com disputa estéreis entre latifundiários, ambientalistas e movimentos de luta pela terra."

Assim, o agir da agriCultura, na qualidade biológica e de composição mineral (em quantidade, presença de elementos traços) nos alimentos, provenientes de uma técnica com maior diversidade vegetativa e de ciclo rápido, cortinas florestais, etc., transitaria para a formação de húmus de qualidade e em menor tempo, num alcance maior em espaço de área, como também, no maior aproveitamento da energia Sol, o que traria um maior equilíbrio no tempo natureza (Tn), no tempo camponês (Tc) e extração econômica de alimentos saudáveis das atividade agrícola sob a terra, atendendo a um mercado local e até regional (Ti). (Ti = tempo industrial)     

Oliver Blanco
Comunicação Técnica Dialógica 
Juquira Candirú Satyagraha


Bibliografia:

- PINHEIRO, Sebastião. Saúde no Solo (BIOPODER CAMPONÊS), 2015. Editora Salles.

- PDF, Extração e Identificação (Camponesa) de Huminas por Cromatografia de Pfeiffer, Pinheiro, S. 2017.

*Biomassa com 70 dias pós plantio 'muvucado' de espécies de plantas leguminosas, oleaginosas e gramíneas, Bebedouro/SP.
Foto: Oliver Blanco, empresa Wolf Seeds/Brasil
 *Munha de carvão nas cercanias da olaria.


*Cinzas




 

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bem! Parabens.

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