19 de agosto de 2018
por Sebastião Pinheiro
A
Imagem vale: "Sou o Quetzacoatl vivo, desnudo, saio do abismo, deste lugar
que meu pai nomeou, e desnudo eu cruzei um longa JORNADA diante dos filhos
adormecidos de Deus. Desde as profundidades do céu, vim como uma águia. Das
entranhas da terra, vim como uma serpente. Tudo o que eleva da vida entre a
terra e o céu me conhece”.
Na
Conferência de hoje o Renomado Professor Peter Rosset publica:
América
Latina e a conciliação de classes
Está
na moda especular sobre o que esperar do próximo governo do México. Embora
ninguém possa prever o futuro, a análise comparativa pode ajudar a estabelecer
certas marcos para nossas expectativas. Honduras, Paraguai, Uruguai, Argentina,
Brasil, Equador, Venezuela, Bolívia, Chile, Peru, El Salvador e Nicarágua
tiveram governos que diziam ou dizem ser progressistas, e eu gostaria de fazer
aqui um balanço dos bons, dos maus e dos feios dos seus resultados.
Cada
um desses governos aplicava uma estratégia do que se poderia ser denominada de
conciliação de classes, já que, com exceção de Cuba, a geração previa de luta
armada e luta de classes havia sido derrotada. Cada um dos governos, incluindo
as expressões mais radicais de Chávez, Morales e Correa, governaram
conjuntamente com importantes setores de oligarquias, burguesias nacionais e
grupos de capital.
O
saldo frio desses governos, quase sem exceção embora em maior ou menor grau,
inclui separar elementos em comum. Todos conseguiram reduções significativas na
pobreza extrema, especialmente através de programas compensatórios e assistencialista, incluindo as transferências diretas e a chamada inclusão
financeira, que permite aos pobres acesso a um maior nível de consumo mediante
ao endividamento com o crédito. Também alcançaram níveis significativos de
democratização do acesso ao ensino superior usando bolsas de estudos, cotas e
abrindo novas universidades públicas.
Tudo
isso, sem embreagem, sem grandes mudanças estruturais favoráveis aos interesses
das classes trabalhadoras e campesinas ou das populações indígenas e afrodescendentes. Mas bem os seus mandatos foram em cenários de maior
trasnacionalização das economias, a chegada do capital financeiro internacional
e o aumento exponencial nas concessões de mineração. Junto com a criação de
pequenos ministérios ou subsecretarias para atender agricultura familiar e
camponesa com modestos orçamentos de
crédito e compras públicas, entregaram os ministérios ou secretarias de
agricultura, com mega orçamentos, aos homens e mulheres da Monsanto e do
agronegócio. Liberaram os transgênicos e não avançaram na reforma agrária. No
Brasil, os governos de Lula e Dilma viram a maior expansão territorial do
agronegócio na história do país. Tem sido políticas neodesenvolvimentista e neoextrativista
que justificam a expansão do agronegócio e a mineração a céu aberto, com uma
maior arrecadação de impostos e regalias pelo Estado, modelo que tem entrado em
crise com o fim do boom (crescimento) da commodity.
Cada
um desses governos tem sido associado à ascensão de novos setores de capital
ligados ao orçamento público (a Boliburguesia na Venezuela, a Odebrecht e a JBS
no Brasil, etc.) e a corrupção tem sido quase tão notória como nos governos de
direita. Nos estados, províncias e municípios têm governado em nefastas
alianças eleitorais com as oligarquias locais de sempre. Hoje em dia vários
desses governos tem chegado a tristes finais ou se encontram em situações complicadas.
Os golpes brandos contra Zelaya, Lugo e Dilma, prisão de Lula; as derrotas
eleitorais de Fernández, de Kirchner e Bachelet, e as guarimbas do imperialismo nas ruas da Venezuela e da Nicarágua
levantam dúvidas legítimas sobre os limites reais de uma estratégia de
conciliação de classes.
Pode-se
argumentar, por exemplo, que através a conciliação de classes Lula, Dilma e o
PT alimentaram a serpente que logo as mordeu. O primeiro mandato de Lula, com
popularidade em torno de 80%, teria sido o momento para fazer a reforma
política solicitada pelos movimentos sociais. Não o fez, permitindo a
continuação de um sistema parlamentar que fomenta a tirania dos pequenos
partidos de direita. Quando a TV Globo estava falida, Lula a resgatou com
dinheiro público. Não cortaram a cabeça da serpente. Alimentaram o agronegócio
e os ruralistas, com subsídios públicos, puseram um conhecido corrupto de
direita, Michel Temer, como vice-presidente da Dilma e acabaram vítimas das
forças que eles mesmos mantiveram.
Uma
interpretação diz que o poder sempre quis avançar a agenda do capital. Que os
governos militares atingiram seus limites e deram origem aos governos
democráticos mas neoliberais, que também chegaram aos seus limites. E que a
única maneira de avançar mais na agenda do capital (mineração, agronegócio,
etc.) foi sob os supostos governos de esquerda, com sua capacidade de conter as
massas, que agora atingem seus limites, e retorna à direita novamente.
Olhando
para a composição do gabinete proposta pela AMLO, futuras nomeações e propostas
de políticas, será tão diferente no México? O AMLO é tão diferente desses
outros presidentes? O México, sim, tem particularidades, mas os resultados
serão diferentes?
Eu
gostaria, e muito, ouvir os militantes conterrâneos.
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