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"Harmonizo meus pensamentos para criar com a visão". "Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e não mais lutando por dinheiro e poder, então nossa sociedade poderá enfim evoluir a um novo nível".

terça-feira, 21 de agosto de 2018

Não cortaram a cabeça da serpente


19 de agosto de 2018
por Sebastião Pinheiro


A Imagem vale: "Sou o Quetzacoatl vivo, desnudo, saio do abismo, deste lugar que meu pai nomeou, e desnudo eu cruzei um longa JORNADA diante dos filhos adormecidos de Deus. Desde as profundidades do céu, vim como uma águia. Das entranhas da terra, vim como uma serpente. Tudo o que eleva da vida entre a terra e o céu me conhece”.


Na Conferência de hoje o Renomado Professor Peter Rosset publica:


América Latina e a conciliação de classes

Está na moda especular sobre o que esperar do próximo governo do México. Embora ninguém possa prever o futuro, a análise comparativa pode ajudar a estabelecer certas marcos para nossas expectativas. Honduras, Paraguai, Uruguai, Argentina, Brasil, Equador, Venezuela, Bolívia, Chile, Peru, El Salvador e Nicarágua tiveram governos que diziam ou dizem ser progressistas, e eu gostaria de fazer aqui um balanço dos bons, dos maus e dos feios dos seus resultados.


Cada um desses governos aplicava uma estratégia do que se poderia ser denominada de conciliação de classes, já que, com exceção de Cuba, a geração previa de luta armada e luta de classes havia sido derrotada. Cada um dos governos, incluindo as expressões mais radicais de Chávez, Morales e Correa, governaram conjuntamente com importantes setores de oligarquias, burguesias nacionais e grupos de capital.
 
O saldo frio desses governos, quase sem exceção embora em maior ou menor grau, inclui separar elementos em comum. Todos conseguiram reduções significativas na pobreza extrema, especialmente através de programas compensatórios e assistencialista, incluindo as transferências diretas e a chamada inclusão financeira, que permite aos pobres acesso a um maior nível de consumo mediante ao endividamento com o crédito. Também alcançaram níveis significativos de democratização do acesso ao ensino superior usando bolsas de estudos, cotas e abrindo novas universidades públicas.


Tudo isso, sem embreagem, sem grandes mudanças estruturais favoráveis aos interesses das classes trabalhadoras e campesinas ou das populações indígenas e afrodescendentes. Mas bem os seus mandatos foram em cenários de maior trasnacionalização das economias, a chegada do capital financeiro internacional e o aumento exponencial nas concessões de mineração. Junto com a criação de pequenos ministérios ou subsecretarias para atender agricultura familiar e camponesa com  modestos orçamentos de crédito e compras públicas, entregaram os ministérios ou secretarias de agricultura, com mega orçamentos, aos homens e mulheres da Monsanto e do agronegócio. Liberaram os transgênicos e não avançaram na reforma agrária. No Brasil, os governos de Lula e Dilma viram a maior expansão territorial do agronegócio na história do país. Tem sido políticas neodesenvolvimentista e neoextrativista que justificam a expansão do agronegócio e a mineração a céu aberto, com uma maior arrecadação de impostos e regalias pelo Estado, modelo que tem entrado em crise com o fim do boom (crescimento) da commodity.


Cada um desses governos tem sido associado à ascensão de novos setores de capital ligados ao orçamento público (a Boliburguesia na Venezuela, a Odebrecht e a JBS no Brasil, etc.) e a corrupção tem sido quase tão notória como nos governos de direita. Nos estados, províncias e municípios têm governado em nefastas alianças eleitorais com as oligarquias locais de sempre. Hoje em dia vários desses governos tem chegado a tristes finais ou se encontram em situações complicadas. Os golpes brandos contra Zelaya, Lugo e Dilma, prisão de Lula; as derrotas eleitorais de Fernández, de Kirchner e Bachelet, e as guarimbas do imperialismo nas ruas da Venezuela e da Nicarágua levantam dúvidas legítimas sobre os limites reais de uma estratégia de conciliação de classes.
 
Pode-se argumentar, por exemplo, que através a conciliação de classes Lula, Dilma e o PT alimentaram a serpente que logo as mordeu. O primeiro mandato de Lula, com popularidade em torno de 80%, teria sido o momento para fazer a reforma política solicitada pelos movimentos sociais. Não o fez, permitindo a continuação de um sistema parlamentar que fomenta a tirania dos pequenos partidos de direita. Quando a TV Globo estava falida, Lula a resgatou com dinheiro público. Não cortaram a cabeça da serpente. Alimentaram o agronegócio e os ruralistas, com subsídios públicos, puseram um conhecido corrupto de direita, Michel Temer, como vice-presidente da Dilma e acabaram vítimas das forças que eles mesmos mantiveram.


Uma interpretação diz que o poder sempre quis avançar a agenda do capital. Que os governos militares atingiram seus limites e deram origem aos governos democráticos mas neoliberais, que também chegaram aos seus limites. E que a única maneira de avançar mais na agenda do capital (mineração, agronegócio, etc.) foi sob os supostos governos de esquerda, com sua capacidade de conter as massas, que agora atingem seus limites, e retorna à direita novamente.
 
Olhando para a composição do gabinete proposta pela AMLO, futuras nomeações e propostas de políticas, será tão diferente no México? O AMLO é tão diferente desses outros presidentes? O México, sim, tem particularidades, mas os resultados serão diferentes?

Eu gostaria, e muito, ouvir os militantes conterrâneos.




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