por Tião - Juquira Candirú Satiagraha
Todo barco pirata é
pequeno, veloz e com bom poder de fogo, mas é na sua tripulação que está a
chave para evitar que ele se torne na solidão da espera, uma Nau de Insensatos.
A audiência do
Presidente do STF a vários partidos políticos exigindo a impugnação do
Presidente da Câmara e indicação do Ministro M. A. de Mello como relator à
solicitação para o dia seguinte provocou a reação, e deixa uma pulga atrás da
orelha na marujada (foto)...
A ingenuidade abre
as portas do paraíso aos gentios, pelo que duvido que o voto do Ministro Teori
Zavascki tenha sido elaborado em poucas horas.
Emergencial foi a
liminar de sua excelência concedida para a solicitação feita em 17 de Dezembro
passado. Essa é a diferença entre o artista e o virtuose. O primeiro executa,
atende, já o segundo o faz com tal desempenho, harmonia (oportunidade) que é
único e está acima da razão.
Ingenuidade pouca é
bobagem. Não houve competência para conter o parceiro Cunha na candidatura à
Câmara Federal. No poder ele mostrou que o buraco era mais em baixo, além do
infra-mundo moral, ao mesmo tempo que sua eficiência gestora gigantesca, em
proveito próprio. Fez-se de conta enfrentar sua súcia com refrões juvenis e
clichês, mas "No hay mal que dure cien años, ni enfermo que los
aguante". Menos de duas horas depois do anuncio do presidente do STF ribombou
o trovão anunciando a Mãe de todas as tempestades a liminar de afastamento,
pegando a todos no contrapé. O elaborado voto estava já a tempo suficiente em
um barril de carvalho, que pela mitologia celta simboliza honra.
Já há tanto tempo
amadurecido, tinha a qualidade suficiente para impedir aventuras rocambolescas
nos escaninhos de vaidade e poder. À luz, impediu "as vivandeiras de
tribunais" e que, moribundos recebessem a "visita da saúde";
Cadáveres levantassem nos necrotérios; Zumbis das tumbas ou acorrentados fossem
libertos e até pôs uma pá de cal na proposta de eleições extemporâneas
confundindo e levantando ondas ameaçadoras de retrocesso.
O jovem estudante
foi citado, por não querer deixar o país, quando o interessante é ensinar a
todos a chegar ao país como cidadãos e não como privi+legiados, como disse a
ministra dissecando a etimologia do termo. Lembro o militante e político
comunista que requeria recuperar o título nobiliárquico de seus antepassados,
em situação juvenil pior que a do estudante em preparação para ser elite
hereditária. Há a liberdade em deixar o barco pirata a qualquer tempo, pela
prancha...
Lembro ainda da
época estranha, à saída do sopor da ditadura: O traficante "Meio
Quilo" teve a bandeira nacional colocada sobre seu caixão, rapidamente
retirada por um policial em vergonha pessoal. Nada mudou desde Pero Vaz de
Caminha, os descendentes das capitanias hereditárias roubam desde a merenda à
pesquisa científica ou através das propinas centralizadas para os partidos,
campanhas, construção do patrimônio de seus caciques ou na prestação de
serviços (não convocação à CPI da Petrobras). Escolas são ocupadas por novos
"caras pintadas”, início de carreira política lembram o oportunismo para
se eleger e ter sua lancha em um condomínio em Miami. Policiais, promotores,
juízes, pastores, artistas, técnicos, analfabeto conquistam mandatos, não por e
para o exercício cidadão, mas por repercussão midiática de suas ações, úteis
para arrastar votos da massa, multidão ou horda, em campanhas que a cada dia
mais parece um show da Broadway, sem conteúdo, compromisso, apenas vaidades.
Motim só ocorre em
alto mar, como diria Haydée Tamara Bunke Bider, "Tania" em seu poema:
“Dejar un recuerdo”.
¿Con que he de irme,
cual flores que fenecen?.
¿Nada será mi
nombre alguna vez?.
¿Nada dejaré en pos
de mi en la tierra?.
¡Al menos flores,
al menos cantos!.
¿Cómo ha de obrar
mi corazón?.
¿Acaso en vano
venimos a vivir, a brotar en la tierra?
Na infância chorava
com o sentimento caipira na música de "Jararaca e Ratinho". Já com a
faca nos dentes concordei com “Reunião de Bacana” de Ary do Cavaco & Bebeto
di São João.
Se gritar pega ladrão
Não fica um meu
irmão
Se gritar pega
ladrão
Não fica um
Você me chamou para
esse pagode
Nem me avisou aqui
não tem pobre
Até me pediu pra
pisar de mansinho
Porque sou da cor
eu sou escurinho
Aqui realmente está
toda a nata
Doutores senhores
até magnata
Com a bebedeira e a
discussão
Tirei a minha
conclusão
Lugar meu amigo é
minha baixada
E ando tranquilo e
ninguém me diz nada
E lá camburão não
vai com a justiça
Pois não há ladrão
e é boa a polícia
Lá até parece a
Suécia bacana
Se leva o bagulho e
se deixa a grana
Não é como esse
ambiente pesado
Que você me trouxe
para ser roubado"
Os mais
pretensiosos preferirão a obra teatral de Fernando Melo, “Greta Garbo, quem
diria acabou no Irajá” ou “O triste fim de Policarpo Quaresma”, de Lima Barreto
melhor adequados ao salvado do naufrágio, na significação de Goya. Contudo, o
cangaceiro “Jararaca” foi baleado quando da invasão de Mossoró e enterrado vivo
(foto). Corre a voz no sertão que faz milagres. A propaganda anuncia que do
outro lado da prancha está a "Arca da Salvação". No portão de
Auschwitz dizia "O trabalho liberta".
A visão
premonitória de "Tânia" e seu lindo poema continuam.
"Vocês
passarão, eu passarinho".
Pois estou à bordo,
na minha Natureza e Lar.
E la nave va...
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