por Sebastião Pinheiro
Minha gente, para
comemorar o Dia Mundial do Meio Ambiente devo contar que retornei hoje de
Murici na Zona da Mata (Atlântica) alagoana, onde está sendo reintroduzido o
famoso mutum-de-Alagoas (Mitu mitu mitu) (foto) já praticamente (EW) extinto na
natureza, mas sendo reintroduzido com custos elevados. Historicamente é o
reduto da Serra da Barriga onde se refugiavam os indígenas, brancos e
quilombolas professando a Liberdade e que incomodou os negócios da Companhia
das Índias Ocidentais, primeira multinacional mercantil, orgulho dos
economistas clássicos e neoclássicos.
Fui convidado pelo
Instituto Federal de Educação Técnica do campus Murici (foto) através do amigo
Valtair Veríssimo ali professor no curso técnico de Agroecologia para a
comemoração do Alimento Orgânico. É triste, mas o primeiro selo de controle de
qualidade de alimentos no Brasil o idealizamos e realizamos em agosto de 1984
depois de irresponsáveis provocarem o escândalo dos moranguinhos na cidade de
Feliz/RS. Com a projeção do que viramos na Alemanha preparamos o
"antídoto", dentro do Ministério da Agricultura, no Acre com a Dir.
Téc. eng. agr. Denise Fripp criando o selo oficial de certificação da produção
orgânica em Rio Branco no inicio dos anos noventa, como aprendizado e
laboratório para evitar a pirataria futura que agora presenciamos, como
Cassandra na Odisseia de Homero antecipamos em 25 anos o que agora está
acontecendo e ninguém acreditou. Por isso somos periferia e colonia.
Ministramos um
curso de Cromatografia de Pfeiffer que é o certificado que a gigantesca
corporação “Hein Celestial”, monopolista dos produtos “kosher” impõe à
concessão de seu certificado que é o mais famoso do mundo. De forma antagônica
nós divulgamos essa técnica para conscientizar camponeses para que façam com
suas próprias mãos e em suas próprias casas com um custo inferior a 50 centavos
a análise do solo para determinar seu estado de saúde ou doença e tomar as medidas
necessária sem recorrer às compras caras do agronegócios abjeto. Tive a
oportunidade de reencontrar com M. Cavalcanti, M. Rita, Careca, Agberto Cariri
e outros assentados da Reforma Agrária que já haviam feito esse curso há mais
de três anos, além de outros técnicos e amigos. Entre eles estava o Leandro
Benatto, que quase desmaiou quando foi dito que o híbrido interespecífico
natural "umbu-güela" (Spondias tuberosa x Spondias purpurea ou S.
purpurea x S. tuberosa depende de macho e fêmea) era um caso de transgênia.
Isto é um erro grave indução mal intencionada de biólogos moleculares de pouco
conhecimento, que repetido causa estragos, principalmente para quem está em
formação. Há até mesmo os híbridos de gênero, mais raros, já há muito
conhecidos como o Triticale (trigo e Centeio ou o Colrabi feito na URSS) para
evitar esses excessos resolvi oferecer a doação dos livros Farinhas de Rocha,
Trofobiose e Agricultura Sustentável em coautoria com o falecido geólogo Dr.
Solón Barreto e o livro Transgênicos: O fim do Gênesis de minha autoria para o
IFAL.
Murici ficou
conhecido pela tragédia da tromba d’água que passou pela cidade há uns três
anos e ser ali o feudo dos Calheiros, sendo um deles presidente do Congresso
Nacional, cujo filho é governador do Estado e o tio deste o prefeito Municipal.
A mim o nome da cidade é importante, pois é uma frutinha muito traiçoeira da
família das Malphigeaceae Byrsonima crassifolia. Eu disse traiçoeira, pois a
conheci em Santa Helena em Chiapas, “area caliente” em um curso de agricultura
levado pelo Prof. Calderón da U.A.M de Xochimilco faz uns dez anos. Ali uma
menina assentada havia colhido o murici (por eles denominado nanche ou chacunga
na mata e me vendeu uma caneca. Eu desavisado comi toda a fruta e tarde da
noite pulei da rede no escuro e corri para o banheiro coletivo da comunidade
com minha lanterna onde por uma fração de segundo não despejei nas calças um
esguicho gigantesco. Aliviado e limpo voltei a dormir.
O triste é que eu
havia conhecido o murici já uns três anos antes e havia comido somente um
frutinho no sertão de Pernambuco sem me importar muito com ela, além de notar
que a semente é uma das coisas mais duras que eu já havia encontrado e bem
pretinha. Mais dura que o fruto da Achirra dos Incas, que os nossos indígenas
chamam de Biri da qual se faz farinha e confecciona biscoitos de nome totopos
na Colômbia e está sendo cultivada em Queensland na Austrália pela qualidade
nutricional com o nome de Arrowroot, uma imitação da verdadeira arrowroot, que
para nós é araruta, que casualmente corta diarreia de bebês.
Uns cinco anos
antes, no sertão de Pernambuco estive em uma rara fazenda onde havia muito
capim búfalo e era criado o gado Pardo Suíço. O dono tinha uma plantação de
jojoba (Simmondsia californica), uma planta nativa do deserto da Califórnia
muito usada pelos Hopis, Pimas e outros que habitam as cercanias do Deserto do
Mojave. Ele estava desesperado, pois as plantas não produziam e havia feito um
investimento pesado para trazer as mudar. Eu calado calculava trazer uma planta
de 42 graus de LN para 6 graus de LS é muito estranho quando não há um
diferencial de altitude ou que a mesma seja versátil o que é raro em plantas
não domesticadas. Ocorreu-me que a enxertia poderia ser o mecanismo de superar
o problema do produtor de jujuba e o murici era o melhor caminho, mas não
consegui os ramos para fazer a enxertia e testar a hipótese. Me ocorre que o
murici pode servir de porta enxerto da acerola (Malphiguea emarginata) que tem
muito mais afinidade.
O tempo passou e
após o quase desastre intestinal em Chiapas pus-me a estudar o nanche que é
riquíssimo em ácido oleico e os mexicanos fazem um picolé (paleta) muito
gostoso e famoso. Minha gente, não é que o pessoal do curso de Agroindústria do
IFAL nos presenteou com potes de sorvete de murici e eu repeti duas vezes. Três
horas depois tomei o avião para retorno à Porto Alegre. Mal consegui chegar a
casa e à cena de Santa Helena entre os Tzotzil (foto) quase se repetiu. Bem é
minha forma de comemorar o dia do meio ambiente com os intestinos limpos,
resiliente e longe dos agronegócios. Com o cromatograma de Pfeiffer os
estudantes de agroecologia aprenderam que é possível a baixo custo fixar os
gases do efeito estufa e afastar os riscos de mudança climática. Mas,
principalmente, que esse serviço tem de ser pago a eles e camponeses.
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