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"Harmonizo meus pensamentos para criar com a visão". "Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e não mais lutando por dinheiro e poder, então nossa sociedade poderá enfim evoluir a um novo nível".

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Dia Mundial do Meio Ambiente


por Sebastião Pinheiro

Minha gente, para comemorar o Dia Mundial do Meio Ambiente devo contar que retornei hoje de Murici na Zona da Mata (Atlântica) alagoana, onde está sendo reintroduzido o famoso mutum-de-Alagoas (Mitu mitu mitu) (foto) já praticamente (EW) extinto na natureza, mas sendo reintroduzido com custos elevados. Historicamente é o reduto da Serra da Barriga onde se refugiavam os indígenas, brancos e quilombolas professando a Liberdade e que incomodou os negócios da Companhia das Índias Ocidentais, primeira multinacional mercantil, orgulho dos economistas clássicos e neoclássicos.

Fui convidado pelo Instituto Federal de Educação Técnica do campus Murici (foto) através do amigo Valtair Veríssimo ali professor no curso técnico de Agroecologia para a comemoração do Alimento Orgânico. É triste, mas o primeiro selo de controle de qualidade de alimentos no Brasil o idealizamos e realizamos em agosto de 1984 depois de irresponsáveis provocarem o escândalo dos moranguinhos na cidade de Feliz/RS. Com a projeção do que viramos na Alemanha preparamos o "antídoto", dentro do Ministério da Agricultura, no Acre com a Dir. Téc. eng. agr. Denise Fripp criando o selo oficial de certificação da produção orgânica em Rio Branco no inicio dos anos noventa, como aprendizado e laboratório para evitar a pirataria futura que agora presenciamos, como Cassandra na Odisseia de Homero antecipamos em 25 anos o que agora está acontecendo e ninguém acreditou. Por isso somos periferia e colonia.

Ministramos um curso de Cromatografia de Pfeiffer que é o certificado que a gigantesca corporação “Hein Celestial”, monopolista dos produtos “kosher” impõe à concessão de seu certificado que é o mais famoso do mundo. De forma antagônica nós divulgamos essa técnica para conscientizar camponeses para que façam com suas próprias mãos e em suas próprias casas com um custo inferior a 50 centavos a análise do solo para determinar seu estado de saúde ou doença e tomar as medidas necessária sem recorrer às compras caras do agronegócios abjeto. Tive a oportunidade de reencontrar com M. Cavalcanti, M. Rita, Careca, Agberto Cariri e outros assentados da Reforma Agrária que já haviam feito esse curso há mais de três anos, além de outros técnicos e amigos. Entre eles estava o Leandro Benatto, que quase desmaiou quando foi dito que o híbrido interespecífico natural "umbu-güela" (Spondias tuberosa x Spondias purpurea ou S. purpurea x S. tuberosa depende de macho e fêmea) era um caso de transgênia. Isto é um erro grave indução mal intencionada de biólogos moleculares de pouco conhecimento, que repetido causa estragos, principalmente para quem está em formação. Há até mesmo os híbridos de gênero, mais raros, já há muito conhecidos como o Triticale (trigo e Centeio ou o Colrabi feito na URSS) para evitar esses excessos resolvi oferecer a doação dos livros Farinhas de Rocha, Trofobiose e Agricultura Sustentável em coautoria com o falecido geólogo Dr. Solón Barreto e o livro Transgênicos: O fim do Gênesis de minha autoria para o IFAL.

Murici ficou conhecido pela tragédia da tromba d’água que passou pela cidade há uns três anos e ser ali o feudo dos Calheiros, sendo um deles presidente do Congresso Nacional, cujo filho é governador do Estado e o tio deste o prefeito Municipal. A mim o nome da cidade é importante, pois é uma frutinha muito traiçoeira da família das Malphigeaceae Byrsonima crassifolia. Eu disse traiçoeira, pois a conheci em Santa Helena em Chiapas, “area caliente” em um curso de agricultura levado pelo Prof. Calderón da U.A.M de Xochimilco faz uns dez anos. Ali uma menina assentada havia colhido o murici (por eles denominado nanche ou chacunga na mata e me vendeu uma caneca. Eu desavisado comi toda a fruta e tarde da noite pulei da rede no escuro e corri para o banheiro coletivo da comunidade com minha lanterna onde por uma fração de segundo não despejei nas calças um esguicho gigantesco. Aliviado e limpo voltei a dormir.

O triste é que eu havia conhecido o murici já uns três anos antes e havia comido somente um frutinho no sertão de Pernambuco sem me importar muito com ela, além de notar que a semente é uma das coisas mais duras que eu já havia encontrado e bem pretinha. Mais dura que o fruto da Achirra dos Incas, que os nossos indígenas chamam de Biri da qual se faz farinha e confecciona biscoitos de nome totopos na Colômbia e está sendo cultivada em Queensland na Austrália pela qualidade nutricional com o nome de Arrowroot, uma imitação da verdadeira arrowroot, que para nós é araruta, que casualmente corta diarreia de bebês.

Uns cinco anos antes, no sertão de Pernambuco estive em uma rara fazenda onde havia muito capim búfalo e era criado o gado Pardo Suíço. O dono tinha uma plantação de jojoba (Simmondsia californica), uma planta nativa do deserto da Califórnia muito usada pelos Hopis, Pimas e outros que habitam as cercanias do Deserto do Mojave. Ele estava desesperado, pois as plantas não produziam e havia feito um investimento pesado para trazer as mudar. Eu calado calculava trazer uma planta de 42 graus de LN para 6 graus de LS é muito estranho quando não há um diferencial de altitude ou que a mesma seja versátil o que é raro em plantas não domesticadas. Ocorreu-me que a enxertia poderia ser o mecanismo de superar o problema do produtor de jujuba e o murici era o melhor caminho, mas não consegui os ramos para fazer a enxertia e testar a hipótese. Me ocorre que o murici pode servir de porta enxerto da acerola (Malphiguea emarginata) que tem muito mais afinidade.
O tempo passou e após o quase desastre intestinal em Chiapas pus-me a estudar o nanche que é riquíssimo em ácido oleico e os mexicanos fazem um picolé (paleta) muito gostoso e famoso. Minha gente, não é que o pessoal do curso de Agroindústria do IFAL nos presenteou com potes de sorvete de murici e eu repeti duas vezes. Três horas depois tomei o avião para retorno à Porto Alegre. Mal consegui chegar a casa e à cena de Santa Helena entre os Tzotzil (foto) quase se repetiu. Bem é minha forma de comemorar o dia do meio ambiente com os intestinos limpos, resiliente e longe dos agronegócios. Com o cromatograma de Pfeiffer os estudantes de agroecologia aprenderam que é possível a baixo custo fixar os gases do efeito estufa e afastar os riscos de mudança climática. Mas, principalmente, que esse serviço tem de ser pago a eles e camponeses.

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