"Para entender a diferença entre o modernismo (r)evolucionário e a contra-revolução verde é preciso repetir que o primeiro aplicava a educação e o segundo a repressão" (Pinheiro: 2005,9) |
Livro: Ladrões de Natureza
Durante a época da ditadura tornou-se célebre a frase:
o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil. Ela foi proferida por
algum governante idiota de lá e repetida por algum dos muitos governantes
idiotas de cá. Não se observou, porém que a frase-equação só era válida num
sentido. Ou seja, nem tudo que é ruim para os Estados Unidos é ruim para o
Brasil. O melhor exemplo foi escancarado em 1994.
Duas empresas americanas, a “DNAPlant Technology” e a
“Brown & Willianson Tobacco”, desenvolveram e patentearam nos
Estados Unidos, em 1993, uma variedade transgênica de fumo, denominada Y-1, que
concentra duas vezes mais nicotina que a encontrada naturalmente na planta. Por
razões de biossegurança, o governo americano não permitiu que a “British
American Tobacco” fizesse experimentos com fumo em seu território. Os EUA sabem
o risco que representa a entrada no meio ambiente de um ser com DNA alterado.
Sabem que é mais perigoso que mexer com vírus,
radioatividade ou toxinas, porque pode haver multiplicação descontrolada,
eliminação de espécies humanas ou vegetais.
Quando se fala em democracia no planeta, o primeiro país
a ser citado como exemplo é os Estados Unidos. O discurso é ideológico, e tem
sido repetido com tanta insistência pelas classes dominantes, usando a mídia,
principalmente, que até os pobres adotaram como seu.
Nada é gratuito. O cinema americano dá uma grande
contribuição à propagação da ideologia. Filme americano tem que ter perseguição
com automóveis, efeitos especiais e julgamento. A perseguição revela a paranóia
da sociedade americana (o nome da patologia é “mania de perseguição”), e acaba justificando
o fazer justiça com as próprias mãos, daí tantos Rambos e similares.
Os automóveis e efeitos especiais servem para mostrar
ao mundo, arrogantemente e ameaçadoramente, o avanço tecnológico industrial (e
quase sempre a serviço da morte). Finalmente, a justiça é apresentada como
modelo para o mundo. Pois este modelo foi adotado em benefício de alguns grupos
em particular, e da sociedade americana - conservadora, moralista - de um modo
geral.
As leis americanas estão preocupadas com o que pode beneficiar
o povo norteamericano, e, preferencialmente, os brancos. Por este motivo a
maior nação democrática do planeta aprovou no Congresso uma lei que permite aos
Estados Unidos invadirem qualquer outra nação no planeta (e eles usam esta
prerrogativa à média de uma invasão a cada dois anos); com o fim da guerra
fria, os EUA, exemplo de democracia, tornaram-se os maiores fabricantes e
vendedores de armas do mundo, e não há lei proibindo esse tipo de negócio. Uma
outra lei dos EUA proíbe toda empresa americana de negociar com Cuba, mesmo que
isso represente a morte de pacientes dependentes de alguns medicamentos
produzidos pelos americanos. Felizmente a medicina em Cuba é tão avançada que pode
dispensar a maior parte da produção dos EUA.
Voltando à questão do fumo engenheirado...
Com uma ética tão vagabunda como esta, é natural,
portanto, que os EUA proíbam experimentos com plantas consideradas perigosas
dentro de suas fronteiras, mas não proíbam que empresas americanas façam
experimentos fora do país, preferivelmente no Terceiro Mundo, como se tornou
praxe. Foi o caso da espécie de fumo Y-1.
É importante frisar que eles (os senhores
representantes da democrática justiça americana) não proibiram o patenteamento,
mas sim a experimentação em seu território. Ou seja, o plantio experimental
teria que ser feito fora dos EUA... Foi o diretor da “Food and Drug Administration”,
FDA, David Kessler, quem denunciou no Congresso americano a traição. Ele não
questionou o patenteamento e nem mesmo a produção do Y-1; ele reclamou do fato
de estarem vendendo esse fumo no seu país. Que o vendessem na Conchinchina, na
África, no Brasil, mas não nos Estados Unidos! Afinal, se tem mais nicotina,
vai aumentar a dependência de cigarros, os jovens serão os primeiros
prejudicados.
David Kessler, enquanto diretor de uma empresa estatal
responsável pela qualidade dos alimentos da população do seu país, estava
indignado com a quebra do (mafioso) acordo - a Souza Cruz podia vender lá fora,
mas não nos Estados Unidos. Foi a quebra desse trato de bandidos que fez com
que o escândalo aparecesse: o fumo transgênico Y-1 estava sendo plantado no
Brasil e exportado para os Estados Unidos. Para lá já teriam sido enviados 1,8
mil toneladas do produto.
Quem fez o plantio foi a Souza Cruz, uma empresa da
Coroa Britânica, uma estatal portanto, oficialmente conhecida como “British
American Tobacco”. Inescrupulosamente a Souza Cruz plantou o Y-1 no Rio Grande
do Sul, Santa Catarina e Paraná. Segundo o jornal Folha de São Paulo, o
experimento foi mantido em segredo por dez anos. O Governo brasileiro não foi
comunicado do plantio. A denúncia veio de lá, da matriz.
Segundo a Folha de São Paulo, a indústria do
fumo nos EUA movimentou em 1994 US$ 48 bilhões. As autoridades médicas dos
Estados Unidos (segundo a mesma fonte) informam que, se o fumo fosse proibido,
haveria uma economia de US$ 52 milhões ao ano; 400 mil pessoas que morrem
devido ao fumo por ano viveriam pelo menos mais sete anos. No Brasil, devido às
doenças causadas pelo fumo, morrem 10 pessoas a cada hora, ou 100 mil por ano.
Isto é, a Souza Cruz mata o equivalente a uma
Hiroshima por ano no Brasil.
Capítulo, Alergias Alimentares, p. 71-73 - Ladrões de Natureza, uma reflexão sobre a biotecnologia e o futuro do Planeta (Sebastião Pinheiro e Dioclécio Luz)
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