Malverde |
26 de outubro de
2017
por Sebastião Pinheiro
-página do Facebook-
Ao retornar dos estudos na Alemanha
Federal, um território militarmente ocupado trouxemos elementos interessantes
sobre a Sociedade Industrial Moderna, sua ideologia muito bem delineada no
manifesto futurista, o que a eles muito custou desde a unificação (1871).
Tardamos quase 40 anos para entender a América Latina e o Brasil no, agora,
ANTROPOCENO EUROCENTRISTA, onde o camponês/operário transforma fótons em
cadeias de Carbono dos Alimentos roubado pelas autoridades.
Manifesto Futurista, de Filippo Tommaso Marinetti, Le Fígaro, fevereiro de 1909
"Então, com o vulto
coberto pela boa lama das fábricas - empaste de escórias metálicas, de suores
inúteis, de fuligens celestes -, contundidos e enfaixados os braços, mas
impávidos, ditamos nossas primeiras vontades a todos os homens vivos da terra:
1. Queremos cantar o amor ao perigo,
o hábito da energia e da temeridade.
2. A coragem, a audácia e a rebelião
serão elementos essenciais da nossa poesia.
3. Até hoje a literatura tem exaltado
a imobilidade pensativa, o êxtase e o sono. Queremos exaltar o movimento
agressivo, a insônia febril, a velocidade, o salto mortal, a bofetada e o
murro.
4. Afirmamos que a magnificência do
mundo se enriqueceu de uma beleza nova: a beleza da velocidade. Um carro de
corrida adornado de
grossos tubos semelhantes a serpentes de hálito
explosivo... um automóvel rugidor, que parece correr sobre a metralha, é mais
belo que a Vitória de Samotrácia.
5. Queremos celebrar o homem que segura
o volante, cuja haste ideal atravessa a Terra, lançada a toda velocidade no
circuito de sua própria órbita.
6. O poeta deve prodigalizar-se com
ardor, fausto e magnificência, a fim de aumentar o entusiástico fervor dos
elementos primordiais.
7. Já não há beleza senão na luta.
Nenhuma obra que não tenha um caráter agressivo pode ser uma obra-prima. A
poesia deve ser concebida como um violento assalto contra as forças ignotas
para obrigá-las a prostrar-se ante o homem.
8. Estamos no promontório extremo dos
séculos!... Por que haveremos de olhar para trás, se queremos arrombar as
misteriosas portas do Impossível? O Tempo e o Espaço morreram ontem. Vivemos já
o absoluto, pois criamos a eterna velocidade onipresente.
9. Queremos glorificar a guerra -
única higiene do mundo -, o militarismo, o patriotismo, o gesto destruidor dos
anarquistas, as belas ideias pelas quais se morre e o desprezo da mulher.
10. Queremos destruir os museus, as
bibliotecas, as academias de todo o tipo, e combater o moralismo, o feminismo e
toda vileza oportunista e utilitária.
11. Cantaremos as grandes multidões
agitadas pelo trabalho, pelo prazer ou pela sublevação; cantaremos a maré
multicor e polifônica das revoluções nas capitais modernas; cantaremos o
vibrante fervor noturno dos arsenais e dos estaleiros incendiados por violentas
luas elétrica: as estações insaciáveis, devoradoras de serpentes fumegantes: as
fábricas suspensas das nuvens pelos contorcidos fios de suas fumaças; as pontes
semelhantes a ginastas gigantes que transpõem as fumaças, cintilantes ao sol
com um fulgor de facas; os navios a vapor aventurosos que farejam o horizonte,
as locomotivas de amplo peito que se empertigam sobre os trilhos como enormes
cavalos de aço refreados por tubos e o voo deslizante dos aviões, cujas hélices
se agitam ao vento como bandeiras e parecem aplaudir como uma multidão
entusiasta.
É da Itália que lançamos ao mundo este manifesto de violência arrebatadora e incendiária com o qual fundamos o nosso Futurismo, porque queremos libertar este país de sua fétida gangrena de professores, arqueólogos, cicerones e antiquários.
Há muito tempo que a Itália vem sendo um mercado de belchiores. Queremos libertá-la dos incontáveis museus que a cobrem de cemitérios inumeráveis.
Museus: cemitérios!... Idênticos,
realmente, pela sinistra promiscuidade de tantos corpos que não se conhecem.
Museus: dormitórios públicos onde se repousa sempre ao lado de seres odiados ou
desconhecidos! Museus: absurdos dos matadouros dos pintores e escultores que se
trucidam ferozmente a golpes de cores e linhas ao longo de suas paredes! Que os
visitemos em peregrinação uma vez por ano, como se visita o cemitério dos
mortos, tudo bem. Que uma vez por ano se desponte uma coroa de flores diante da
Gioconda, vá lá. Mas não admitimos passear diariamente pelos museus, nossas
tristezas, nossa frágil coragem, nossa mórbida inquietude. Por que devemos nos
envenenar? Por que devemos apodrecer?
E que se pode ver num velho quadro,
senão a fatigante contorção do artista que se empenhou em infringir as
insuperáveis barreiras erguidas contra o desejo de exprimir inteiramente o seu
sonho?... Admirar um quadro antigo equivalente a verter a nossa sensibilidade
numa urna funerária, em vez de projetá-la para longe, em violentos arremessos
de criação e de ação. Quereis, pois, desperdiçar todas as vossas melhores
forças nessa eterna e inútil admiração do passado, da qual saís fatalmente
exaustos, diminuídos e espezinhados?
Em verdade eu vos digo que a
frequentação quotidiana dos museus, das bibliotecas e das academias (cemitérios
de esforços vãos, calvários de sonhos crucificados, registros de lances
truncados!...) é, para os artistas, tão ruinosa quanto a tutela prolongada dos
pais para certos jovens embriagados, vá lá: o admirável passado é talvez um bálsamo
para tantos os seus males, já que para eles o futuro está barrado... Mas nós
não queremos saber dele, do passado, nós, jovens e fortes futuristas!
Bem-vindos, pois, os alegres
incendiários com os seus dedos carbonizados! Ei-los!... Aqui!... Ponham fogo
nas estantes das bibliotecas!... Desviem o curso dos canais para inundar os
museus!... Oh, a alegria de ver flutuar à deriva, rasgadas e descoradas sobre
as águas, as velhas telas gloriosas!... Empunhem as picaretas, os machados, os
martelos e destruam sem piedade as cidades veneradas!
Os mais velhos dentre nós têm 30
anos: resta-nos assim, pelo menos um decênio mais jovens e válidos que nós
deitarão no cesto de papéis, como manuscritos inúteis. - Pois é isso que
queremos!
Nossos sucessores virão de longe contra nós, de toda parte, dançando à cadência alada dos seus primeiros cantos, estendendo os dedos aduncos de predadores e farejando caninamente, às portas das academias, o bom cheiro das nossas mentes em putrefação, já prometidas às catacumbas das bibliotecas.
Mas nós não estaremos lá... Por fim
eles nos encontrarão - uma noite de inverno - em campo aberto, sob um triste
telheiro tamborilado por monótona chuva, e nos verão agachados junto aos nossos
aviões trepidantes, aquecendo as mãos ao fogo mesquinho proporcionado pelos
nossos livros de hoje, flamejando sob o voo das nossas imagens.
Eles se amotinarão à nossa volta,
ofegantes de angústia e despeito, e todos, exasperados pela nossa soberba,
inestancável audácia, se precipitarão para matar-nos, impelidos por um ódio
tanto mais implacável quanto os seus corações estiverem ébrios de amor e
admiração por nós.
A forte e sã injustiça explodirá
radiosa em seus olhos - A arte, de fato, não pode ser senão violência,
crueldade e injustiça.
Os mais velhos dentre nós têm 30 anos: no entanto, temos já esbanjado tesouros, mil tesouros de força, de amor, de audácia, de astúcia e de vontade rude, precipitadamente, delirantemente, sem calcular, sem jamais hesitar, sem jamais tra as ameaças repousar, até perder o fôlego... Olhai para nós! Ainda não estamos exaustos! Os nossos corações não sentem nenhuma fadiga, porque estão nutridos de fogo, de ódio e de velocidade!... Estais admirados? É lógico, pois não vos recordais sequer de ter vivido! Erectos sobre o pináculo do mundo, mais uma vez lançamos o nosso desafio às estrelas!
Vós nos opondes objeções?... Basta! Basta! Já as conhecemos... Já entendemos!... Nossa bela e hipócrita inteligência nos afirma que somos o resultado e o prolongamento dos nossos ancestrais. - Talvez!... Seja!... Mas que importa? Não queremos entender!... Ai de quem nos repetir essas palavras infames!… Cabeça erguida!...
Eretos sobre o pináculo do mundo, mais uma vez lançamos o nosso desafio às estrelas."
Desejamos que faças o contraponto com
o aforismo de von Goethe sobre a “Teoria da Natureza” para perceber ambos
significados para as comunidades de camponeses que se levantaram na Revolução
Francesa (1760 - 1772); os escravagistas da Revolução Norte-americana
(1771-1776; os camponeses e indígenas da Revolução Mexicana (1910 -1919), e
finalmente as Revoluções Cubana (1959) e Iraniana (1979). Caso não concorde
rogamos que leia o livro: “A Sociedade do Risco para uma nova Modernidade, de
Ulrich Beck de 1986, de onde extraímos estes trechos:
“Contra as ameaças da natureza exterior aprendemos a construir cabanas e acumular conhecimentos. Pelo contrario, estamos quase entregues sem proteções às ameaças industriais da segunda natureza incluída no sistema industrial. Os perigos se converteram em policiais do consumo normal. Viajam com o vento e com a água, estão presentes em tudo e atravessam com o mais necessário para a vida (o ar, o alimento, a roupa, os móveis) todas as zonas protegidas da modernidade, que estão controladas tão estritamente. Onde após o acidente estão excluídas a defesa e a prevenção, só resta como atividade (aparentemente) única: negar, uma tranquilidade que dá medo e de desenvolve sua agressividade na medida que os afetados são condenados à passividade. Este resto de atividade à vista do resto do risco existente realmente tem na não-imaginibilidade e impercepitibilidade do perigo seus cúmplices mais poderosos. O contrario da natureza socializada é a socialização da destruição da natureza, sua transformação em ameaças sociais, econômicas e políticas do sistema de sociedade mundial superindustrializada.” ...
“A história da divisão dos riscos
mostra que estes seguem, igual às riquezas, o esquema e classes, mas ao revés:
As riquezas se acumulam em cima e os riscos em baixo. Portanto, os riscos parecem
fortalecer e não suprimir a Sociedade de classes... A miséria é hierárquica, e
o smog é democrático.”
“A evidencia da miséria impede a
percepção dos riscos: mas só sua percepção, não sua realidade nem seu efeito:
Os riscos negados crescem especialmente bem e rápido. Em um nível determinado
da produção social que se caracteriza pelo desenvolvimento da indústria química
(mas também pela tecnologia nuclear, a microeletrônica e a tecnologia
genética), o predomínio da lógica, os conflitos da produção da riqueza e,
portanto, a indivisibilidade social da sociedade do risco não são uma prova da
irrealidade desta, senão ao contrário: São um motor de seu surgimento e,
portanto, uma prova de sua realidade.”
“Frente a eles, a crítica da ciência
e os medos ao futuro são estigmatizados como “irracionais”. Eles seriam – se
diz – as autenticas causas de todos os males. Pois o risco formaria parte do
progresso, igual que a onda de proa do barco em alto mar. O risco não seria uma
invenção da Idade Moderna, e incluso seria aceito em muitos âmbitos da vida
social.”
“Da Solidariedade da miséria à
solidariedade do medo? …. o movimento que se põe em marcha com a sociedade do
risco se expressa na frase: Tenho medo! Em lugar da comunidade da miséria
aparece a comunidade do medo. Neste sentido, o tipo da sociedade do risco marca
uma época social na que a solidariedade surge por medo e se converte numa força
política.”
“Esta distinção na afetação pelas
posições de classe e de risco é essencial. Falando de maneira esquemática e
precisa, em posições de classe o Ser determina a consciência, enquanto que em
situações de risco sucede ao contrário, a consciência determina o Ser.”
“Um truque de magica aberta: Os
valores limites de tolerância… Já que os cientistas nunca estão desprevenidos,
tem para sua própria ignorância muitos termos, muitos métodos, muitas cifras.
Um conceito chave para o “eu tampouco sei” no trato com riscos é o conceito de
“valores limites de tolerância” … Ainda que os valores limites de tolerância
evitem o pior, supõe a vez uma “carta branca” para envenenar um pouco à
natureza e ao homem. Aqui não vamos nos ocupar do fato que os valores, também
valores limites de tolerância, não foram em seu dia um assunto de química senão
de ética”. ...Os valores limites de tolerancia o pouco de envenenamento traz
normalidade.”
“… as reflexões precedentes
significam: O final da contraposição entre natureza e sociedade. Dito: A
Natureza já não pode ser pensada sem a Sociedade e a sociedade já não pode ser
pensada sem a natureza.”
Ainda mais, quando nela o camponês
ultrassocial necessita transformar o Sol em cadeias de Carbono para os alimentos
e é mantido na ignorância por uma academia incompetente, servil e vaidosa
submetida aos desígnios da Indústria Internacional de Alimentos (Complexo
Agroindustrial Militar de Eisenhower, 1954), que lhe nega existência.
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