Prefácio para reedição de
“A
Máfia dos Alimentos no Brasil”
Sebastião Pinheiro
Prezado leitor, o livro que tens
às mãos, foi escrito na virada do Século XX, quando a preocupação mundial era
com o “Bug do Milênio” e uma escalada de propagandas baseadas em medo e terror
foi montada sobre o tema. Retorno a ela pois era inusitada e provocou muito
impacto, mas na época, nossa intenção era incorporar as nutricionistas no tema
da produção de alimentos frescos e naturais, e que elas necessitavam conhecer
algo do mundo da agricultura que às revelassem a poderosa “indústria de
alimentos”, uma mera manufatora de transformação dos alimentos produzidos por
eles em ação ultrassocial, através da transformação do Sol em cadeias de
Hidratos de Carbono, Gorduras e Proteínas, mas desvitalizados e contaminados
por ela.
Hoje o problema que afeta a todos
é a mudança climática. Nele o extermínio/extinção das abelhas, vítimas da agricultura que destrói a
biodiversidade, e envenena os alimentos, está na ordem do dia também pelas
poluições ionizantes.
Na questão da mudança climática
há os oportunistas que ultrapassam sua formação técnica e não se sabe a
evolução, pois há correntes com meios e fins também antagônicos. Isso não houve
na época do “bug”. Será uma evolução no nível de informações ou em suas
manipulações pelo poder?
A situação é de confronto e onde
o poder não foi competente na educação, bem estar social e qualidade de vida de
forma hegemônica há a necessidade de manejar os algoritmos antes aplicados em
decisões militares de inteligência. Usar mecanismos de propaganda e
desinformação para manter a ignorância, a alienação e a comodidade a suprir as
deficiências de infraestrutura, serviços, direitos e gestão
administrativa.
Durante 500 anos as maiorias
foram tratadas e segregadas como exóticas minorias inferiores. As elites
aliadas aos grandes interesses (neo)coloniais consolidaram um poder a seu
serviço, antidemocrático e totalitário, até a recente distensão como um
laboratório social, quando as minorias ganharam eleições e governo, mas não
poder, apenas podiam fazer o que o sistema financeiro mundial necessitava, sem
permitir que a educação consolidasse a identidade cultural sufocada durante
cinco séculos. A propaganda populista
foi eficiente em dar continuidade na oferta de comodidade, alienação e
ignorância, e nada mudou.
Aos governantes faltou habilidade
para atender anseios e logo vimos a reação das elites através dos meios de
informação, consumo e educação. As
quarteladas não tinham mais espaço, por consciência dos cidadãos dos países
centrais que bem conhecem seus governos e suas ações além fronteiras e
mares. A solução vimos em todos os
países da América Latina, quando necessária, em particular no Paraguai, Brasil,
Peru com processos legislativos. Era de se esperar o recrudescimento nas
eleições.
Há um início do refluxo, após
aquelas minorias expressarem o erro de haver permitido voz e vez aos
miseráveis. Tentam recuperar o tempo “perdido” e sanar o mal de haver compartilhado tempo e espaço com pessoas que adquiriram algo de informação,
dignidade e capital crematístico… É nossa realidade não só continental, mas
mundial, onde países se negam aceitar refugiados, pois não reconhecem erros,
nem admitem uma remediação e buscam enclausurar-se após a globalização
homogeneizadora para o consumo.
Eles necessitavam consolidar o
viés democrático e uniformizar financeiramente o mundo para uma OMC sólida e
mais rentável, mas a estagnação impedia a rentabilidade no capital financeiro.
Logo a levas de refugiados foram repelidas à sua sorte longe das fronteiras dos
países ricos.
Hoje os instrumentos autoritários
são a mentira em diversos níveis, o fanatismo “religioso” que estarrece “a
terra é plana”, “orgasmo é socialismo”, “o agro é pop, tech, tudo” e muitas
outras.
São massas gremiais usurpando fé
e crença em clubes imitando filigreses, para arrecadar/votar em picaretas que
atuam como proxeneta de carências de Educação, Estado, Governo e
Espiritualidade. Observem que a Educação está antes de Estado, pois nela não há
espaço para ideologia, crença que são intervenções de interesse econômico de
governos e religiões.
Esse livro foi motivado por algo
que presenciamos na Bahia em um luxuoso hotel na costa do Sauipe na noite
anterior ao início de um Seminário sobre cultivos Transgênicos organizado pelos
Ministérios Públicos naquele Estado.
Assisti a uma discussão em uma
mesa de jantar, e não de debate, onde um especialista, com as máximas
graduações acadêmicas e professor universitário sobre genética e “melhoramento
vegetal” se posicionava contrário aos cultivos geneticamente modificados. Foi
repelido com inusitada veemência, gostaria de dizer má educação pelo então
senhor presidente da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos. A agressividade
foi tal que o professor acuado ficou perplexo.
Este misero mortal, sem eira nem
beira, extasiado com a agressividade do gremialista industrial,
não-sindicalista se perguntava: em que se arvora este senhor para defender algo
que técnica e cientificamente ignora? Já não bastam os funcionários públicos
corruptos, alienados e os especializados que defendem um produto comercial
clandestino introduzido criminosamente no país e induzidos que isso vantajoso,
mas sem análise criteriosa.
Formular questões e obter
respostas é ação de avançada circunscritas aos filósofos que necessitam de uma
formação tão complexa quanto a eclesiástica. Aquilo não tinha cabida. A memória
nos transportou ao discurso do ex-vice presidente dos EUA no governo de F.
Roosevelt, dono da maior produtora de sementes patenteadas do mundo Pionner
Hybrid o Sr. Henry Agard Wallace, enviado ao México como Embaixador
Plenipotenciário em 1930.
Ele ao observar a estrutura
milenar de produção de sementes naquele país enviou documento (classificado em
1930), e posteriormente, discursou na Universidade de Chicago (criada pelo
grupo Rockefeller pela lei de diversificação de atividades
econômico-financeiras) dizendo que se o México mantivesse aquela estrutura de
produção de sementes jamais os EUA entrariam naquele mercado com o comércio de
suas sementes protegidas por tecnologia.
Naquele momento começava a
preparação da Revolução Verde nos vales dos Três Rios sobre os territórios da
Reforma Agrária Mexicana em Sonora nos rios Yaco e Mayo, lançada no discurso do
presidente Harry Truman com o pomposo nome de “Ponto Quatro” em 20 de janeiro
de 1949 há setenta anos. No prefácio da primeira edição nos referimos à Revolução Chinesa como vermelha, o nome
dada a essa revolução foi de “Revolução Verde”, em analogia a cor da moeda dos
EUA sabendo que seu Banco Central é privado desde 1913 (Federal Reserve
System).
O tempo passou e o Secretário de
Estado dos EUA Sr. Henry Kissinger em
discurso afirmou, para controlar um povo e um país é suficiente controlar sua
produção de alimentos ou seu estomago e a China durante cem anos teve seu
estomago controlado e foi obrigada a drogar-se sem poder coibir o livre
comércio e consumo de drogas. O que provocou duas Guerras dos Boxers e a
caricatura do país sendo dividido como umas pizza pelos países imperiais.
Por favor, não podia haver motivo
maior pelo que me debrucei sobre o tema e comecei a escrever este livro. Se
passaram duas décadas e o que era feio piorou sobre maneira pelo que os
leitores merecem pelo menos um prefácio contextualizado, pois o chinês de 20
anos atrás não era nem imaginado do que é hoje, quando determina políticas
públicas em todos os quadrantes do mundo.
Estamos vendo a mineração a céu
aberto de carvão de baixa qualidade com a poluição da área metropolitana de
Porto Alegre, expulsando Assentados da Reforma Agrária que são os maiores
produtores de arroz orgânico do planeta; contaminando com Mercúrio,
Radionuclídeos e Arsênico as reservas de água do Banhado Grande, Lagoa dos
Patos e Aquífero Guarani. Será que
merecemos isto que mais parece uma
vingança mal ou enfocada. Ou somos ingênuos?
Impérios não possuem ética, moral
ou ideologia, apenas meios e fins lucrativos.
Sobre a “Revolução Verde” do
império decadente, no final do Século XIX e início do XX o governo mexicano já
tinha projetos de represas para produção
de energia elétrica e irrigação nos vales Yaco e Mayo em Sonora uma planície
com mais de 330 mil hectares com um solo com uma média de 3,5% de Matéria
Orgânica. Este território foi um dos primeiros a ser transformado em área de
Reforma Agrária Mexicana após a Guerra Civil (1910-1919).
A ingenuidade na consigna “Terra
e Liberdade” (Zemlya i Voyla, dos narodniks) não se preocupou com a Educação e
Ideologia do Desenvolvimento e os jovens filhos de camponeses com formação
militar no ensino superior do poderoso império, induzida pela General Education
Board da Rockefeller Foundation não souberam dar importância à “Questão
Agraria” e “Modelo de Agricultura” fechando com o “Território”, o triângulo do
Biopoder Camponês.
O império já tinha seu triângulo
e atuou sobre o vizinho em ação bem mais nefasta que a anexação dos territórios
do norte (Califórnia, Texas, Arkansas, Nebraska e Novo México). Os líderes
foram exterminados e a agricultura lentamente dominada. A sorte é existir um
tipo de agricultura único e que tinha mais que território, tinha a questão
agrária e o modelo agrícola em seu triângulo genuíno que garante chegarmos aos
dias de hoje.
Cem anos de Revolução Verde, o
resultado é que o solo dos vales dos Três Rios tem apenas e tão somente 0,05%
de Matéria Orgânica, estando literalmente mortos em todas suas latitudes. Mas,
com a cromatografia de Pfeiffer é muito fácil os próprios camponeses começar a
restaurarem a fertilidade, saúde e equilíbrio da matéria orgânica,
microrganismos, sua metagenômica e metaproteômica nos solos de cada propriedade
na construção do Biopoder Camponês pela restauração do Clima no Planeta.
Criminosamente o agronegócios
desseca livremente os cultivos com herbicidas (Gramoxone, Glyphosate e
similares) e utiliza 2,4-D e similares para controlar as ervas daninhas
mutantes invasoras originadas pelo uso de sementes transgênicas. Todos
alimentos são legalmente contaminados com quantidades dez mil vezes maior que
as proibidas há vinte anos atrás.
A catástrofe das abelhas tem
relação com um novo tipo de inseticida, os neonicotinóides, que são tóxicos
para abelhas em níveis de 0,004 ng/abelha Melipona (1x10-12 da
grama). Igual que o Glyphosate e muitos
outros eles são componentes de armas binárias, (aquelas formadas por dois
componentes que só se tornam extremissimamente tóxicos quando se misturam).
Em Michigan um jovem misturou
fumo de rolo na carne moída destinada a elaboração de hambúrguer e intoxicou algumas
centenas de consumidores. Descobriu-se que as etnias humana possuem taxa de
metabolização do sistema citocromo (CYP2A6) diferentes, pois vários
afrodescendentes ficaram hospitalizados.
O valor mundial do comércio de
mel é pouco mais de 3 bilhões de dólares, contudo o valor do trabalho de
polinização das abelhas é superior a 300 bilhões de dólares/ano. O que torna
um absurdo o uso de Neonicotinoides, venenos extremamente tóxicos para
polinizadores.
Na II Guerra Mundial o cientista
alemão, Prêmio Nobel Richard Kuhn em colaboração com Konrad Henkel criaram o
SOMAN um metil fosfonato muito similar
ao Glyphosate (metil Phosphonyl glicina, M 687) que possui 4 isômeros quirais,
milhares de vezes mais tóxicos.
É sabido que as fábricas de
agrotóxicos funcionam nos tempos civis, mas estão prontas para uma pequena
mudança para produzir seletivamente apenas esses isômeros quirais para guerra.
Isto justifica a suspeita que o
desenvolvimento de Neonicotinoides visa subsidiar o desenvolvimento das pesquisas
para implementar o setor militar de armas binárias com finalidade étnicas.
A transformação ultrassocial do
Sol em cadeias de Hidrato de Carbono, Gorduras e Proteínas é algo tão magnifico
e necessário, que é anomia o uso de venenos de guerra em alimentos como
tecnologia. Nenhum ser vivo vive sem
alimentos e somente as cinco espécies ultrassociais fazem agricultura, logo o
ato de comer não é consumo como de interesse da indústria de alimentos. É uma
necessidade existencial, logo permitir que o alimento envenenado não tenha
regulação como se isso fosse normal, e
de outro lado exigir restritas normas de produção para os alimentos sem veneno,
que são vendidos mais caro é uma ofensa à humanidade, senão mais, no mesmo
plano do desenvolvimento de armas binárias étnicas (eugenia às avessas).
Educar para a gastrosofia é a
função do nutricionista, onde a qualidade do alimento substitui a incompetência
da agricultura moderna com suas quantidades, que não foi de alimentos, mas de acúmulo de capital,
poluição e devastação, até do clima do planeta.
Felizmente as nutricionistas,
podem melhor que os agrônomos explicar para a população que, quando o solo é
saudável, sementes sãs, na agroecologia as plantas crescem saudáveis sem a
necessidade do uso de agrotóxicos e a produção é de melhor qualidade
nutricional para todos, pois não é consumo, é remédio para a cura, também em
nível espiritual conforme postulou Hipócrates.
Boaventura de Souza Santos ensina
que em uma sociedade onde o rico pode pagar mais caro e o pobre é obrigado a
comer com resíduos de venenos, não é igualitária e democrática. Ao contrário é uma sociedade perversa e
fascista.
Fica para mim, então, entender
todos os líderes gremialistas que não sabem a função ultrassocial dos alimentos
ao discutirem os transgênicos com aquele amigo cientista. Nas aulas na
Argentina era muito comum a figura do asno pastejando nos jardins de um
palácio… Para ele só existia grama.
Uma boa leitura sempre desperta.
Primavera
austral de 2019.
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