13 de fevereiro
Por Lisarb
Em meio ao “negacionismo”, “terra plana” e outras atualizações das loucuras extraídas da leitura de Mein Kampf de Hitler formatadas em laboratórios de inteligência, para assolar o país, fui obrigado a suspender meus estudos sobre sucessão vegetal e a juquira. Estudar, após o podcast organizado para “putsch” eleitoral, uma piada pronta. Alguém duvida que no retorno de Moscou, ocorra uma escala em Kiev para melhorar performance. O desespero justifica.
Não é fácil entender tudo isso. Um pedagógico “auxílio luxuoso” nos empresta a filósofa alemã, de origem judia Hannah Arendt, que traz sua luz.
Ela, ao acompanhar o processo e assistir o julgamento do “burocrata” e oficial SS, Adolf Eichmann, responsabilizado pelo extermínio de judeus de forma sistemática no Holocausto durante a segunda guerra mundial.
Ela chocou o mundo e provocou revolta com o conteúdo de seu livro “Eichmann em Jerusalém”, antecipado resumidamente no New Yorker Times; ao abordar a ambiguidade do conceito “maldade” pelo qual pessoas podem ser manipuladas em base a conceitos frívolos de mau e bom, que não atenuam ou minimizam a crueldade de seus efeitos ao cunhar a expressão “banalidade do mal”.
A loucura de ódio/medo/vingança como doutrina ideológica e escala de valores do regime militarista, fanático oferecia a cômoda ascensão social alienada, que hoje conhecemos no atual fascismo governamental como “negacionismo”.
Pasmem, Arendt afirma que Eichmann era um devoto “sionista” e não possuía desvios de personalidade, embora tosco e não usava o pensamento para refletir sobre as ordens que cumpria e morreu renegando conscientizar se como criminoso (genocida).
É ela que afirma: “O pensamento é uma atividade espiritual, diferente de qualquer outra forma de conhecimento, que decide o que vale a pena conhecer e tal decisão não pode ser científica. Pensar é especular com significado e como o sentido da vida.”
"A ausência de pensamento é um fator poderoso nos assuntos humanos, estatisticamente o mais poderoso, e não apenas no comportamento da maioria, mas no de todos."
É um perigoso instrumento totalitário quando manipulado (algoritmos) com fins inconfessáveis de poder.
Para a filósofa de Könisberg: “O “mal radical” surgiu da relação em um sistema em que todos os humanos se tornaram igualmente supérfluos”, para não pensar, mas somente consumir para sua satisfação mundana, não existencial.
A partir dessa abordagem, o pensamento tem uma importante função preventiva no campo ético-político, na medida em que a autorreflexão nos alerta para a “banalidade do mal” e, com isso, para a ambiguidade do conceito de mal que alguns supõem, o que torna manipulável qualquer conceito superficial de bom e mau; banalidade que não minimiza a crueldade de seus efeitos no privado e no público. O exercício do pensamento não depende do nível informativo do Sujeito, nem de qualquer outro fator cultural, mas basicamente de sua liberdade.
O que se torna uma responsabilidade maior para o Sujeito, mas também um sopro esperançoso para a apropriação de algum passo em direção ao progresso. Em um mundo com tantos preconceitos sociais e religiosos, com tanta informação distorcida pela mídia e com tanta demagogia política, assumir a “dúvida socrática” pode nos alertar ou nos impedir de critérios perniciosos. Afinal, nenhum pensamento é demais...
O que está sendo feito em nome dos agronegócios nos biomas do planeta, aliados aos comportamentos de políticos em causa própria, militares subalternos e empresários garimpeiros, todos ignorando o que seja a atividade “ultrassocial” da agricultura. A culpa do burocrata Eichmann é encarnada em todos eles, que comungam na antessala do grande julgamento que dia a dia caminha para a sua sentença final não só no Brasil, mas em todo o mundo.
O pensamento, igual a luz ao passar por um prisma se decompõe, e ganha diferentes cores e tonalidades no espaço tempo.
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"no artigo 5º, inciso IV da Carta da República: 'é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato'."