29 de agosto de 2013
por Pinheiro, Tião
Para perceber nossa realidade, muitas vezes, é
preciso sair do meio e do ambiente. Os rumos das devastações ambiental,
cultural e de minorias étnicas, além do assanhamento das transnacionais em
conluio com o regime, nos levaram, em novembro de 1982 (Lateinamerika
Unweltschutzseminar, Humboldt Universität, Berlin), a propor a criação de uma
entidade, para discutir a agricultura pós-agrotóxicos, a biotecnologia e a
engenharia genética.
Em 08 de outubro de 1983, em Altér do Chão, às
margens do rio Tapajós, no coração da Amazônia, foi idealizada a "Fundação
Juquira Candiru" ao denunciarmos os planos de cientistas alienados de
usarem herbicidas desfolhantes (Agente Laranja), nas linhas de transmissão e no
futuro lago da Usina Hidrelétrica de Tucuruí, em função de toda a corrupção e
incompetência para a retirada de madeira. Optamos por uma fundação em resposta
às similares de cunho argentário.
O manifesto foi escrito em fevereiro de 1984, no
Quilombo existente na "Ilha Tocantins" situada no rio de mesmo nome,
ao encontrarmos a primeira das setecentas castanheiras mortas com desfolhantes,
usados para expulsar os habitantes locais, e diz: "O brasileiro mais
autêntico, mais identificado com a natureza é o mais espezinhado e expulso
pelos interesses estranhos de seus compatriotas, cúmplices de imposições de
empresas, governos e organismos internacionais”.
Nem mesmo isolado nos últimos rincões, o homem
brasileiro é respeitado ou deixado em paz, pela cobiça e pugna entre interesses
internacionais da biotecnologia industrial (engenharia genética), ávida pelos
recursos naturais e os interesses obsequentes das elites agrárias nacionais, e
locais de destruição da floresta para ocupação de seu espaço com capim e gado.
O hileano autóctone ou sincretizado é destruído,
sem chances de preservar sua cultura e sobreviver com dignidade. Sua identidade
com o meio que o envolve e absorve-o é vista como nociva pelos usurpadores do
poder e elites.
Entretanto, nós somos a JUQUIRA, macega que
responde à moto-serra, ao fogo e devastação com a rebrota e cada vez que é
agredida fica mais enfezada e espinhenta, criando o ambiente para a restauração
da floresta. Somos também o pequeno peixe CANDIRÚ dos rios e igapós da
Amazônia, que entra pelos nove orifícios do invasor levando o desespero e
morte.
A "Juquira Candirú", muito antes de
defender elites, interesses e cidadãos do regime ou o ser ideal do Estado
defende o estado ideal do Ser Universal, através da autopoiese do Sol e
metabolismo das Rochas, antagônico ao TER, que são suas apropriações no tempo e
espaço, atualmente mal denominada de economia, porém mera crematística. Somos
parte e herança de uma civilização e cultura, ainda, viva e latente em todo o
continente americano. Transcendemos a tudo, defendemos a Vida.
A "Juquira Candirú" é virtual, não
adota estatutos, regras ou hierarquias. Todos os que assim desejarem farão
parte dela independente de credo, raça, ideologia ou saber.
Uma de suas insígnias é o "sapo cururu com
muitos olhos" ou "muiraquitã", sobre o "campo semeado de
milho", cercado pela "pata do jabuti".
Conta a história dos Kayabi que uma índia mandou
seu filho preparar o terreno para plantar. Para ajudá-lo e fazer vingar melhor
o cultivo disfarçou-se de cotia e escondeu-se em uma cova. No preparo do solo,
o filho pôs fogo na mata e a cotia, sua mãe morreu queimada. Entretanto, no
local, onde ela morreu, nasceu uma planta, que produzia muitos grãos todos
juntinhos, o milho. Para lembrar sua origem, ele, quando aquecido, através do
fogo, transforma-se em uma linda flor branca, a pipoca (ressurreição). O
"campo semeado de milho é a iniciativa de mudança. O "sapo
muiraquitã" é o aviso de bem-aventurança e sorte; o "sapo cururu com
muitos olhos" é o alerta para os riscos e perigos das inovações e a
"pata do jabuti" é a segurança no avançar. A serpente emplumada
arco-íris comendo a ponta da cauda é a renovação na busca da saber com arte
(sabedoria).
Em 1998 ao cumprir 15 anos soubemos que, para
formar uma fundação é necessário um bem próprio (prédio) e ao não possuí-lo,
mudamos sua denominação pela palavra SATYAGRAHA do sânscrito.
Aos seus trinta anos, diante do desespero social
e econômico que assola a humanidade, com seu consumismo, alienação e corrupção
impostas pela Ordem Internacional, ela adota a bandeira Joly Rouge (Jolly
Roger) nascida com os templários e usada pelos piratas. Sob sua autenticidade
todos tinham a liberdade de lutar pela igualdade sem medo; Quando necessário
confiscavam o produto da ambição dos poderosos; Se incompetente pagavam o preço
com a vida, nada mais justo. Esta como a cruz de Cristo é hoje mais necessária
que nunca para salvar o valor da Vida e mesmo o Planeta Terra da Eugenia
Mercantil.
As orbitas da caveira foram avivadas com o Sol,
nossa única forma de energia. Sob os ossos cruzados a divisa (Satyagraha) em
sânscrito anuncia “a verdade não se oculta” à não-violência, emulando Mahatma Gandhi.
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