inferno verde |
'Não reconhecemos qualquer autoridade humana. Não reconhecemos senão um só rei e legislador, um juiz e líder da humanidade. Nossa pátria é o mundo inteiro; nossos compatriotas são todos os homens (e mulheres). Amamos todos os países como nosso próprio país, e os direitos dos nossos compatriotas não nos são mais caros do que os de toda a humanidade. Por isto, não aceitamos que o sentimento de patriotismo possa justificar a vingança de uma ofensa ou de um mal feito ao nosso país'.
- Willian Lloyd Harrison em 1838, citado no livro 'O Reino de Deus está em vós', de Tolstoi.
Jesus Cristo era um anarquista que recusava a violência como forma de combater ao mal...😉
do amigo Thomas Castilho in memoriam
14
de fevereiro
por Sebastião Pinheiro
O "Inferno Verde" é o lugar comum das
ficções, onde as expedições pioneiras são recebidas e apresentadas como
superiores, talvez pelo espírito ou impulso inconsciente de carregar
"poder" (tecnologia e armas). É assim que nos ensinam nas escolas e
adotamos esse comportamento cultural dos "assuntos" onde quer
que vamos e tudo mais passa a ser meros "objetos".
A prova confiável são os grandes descobrimentos de
espanhóis, portugueses, ingleses e outros, onde a realidade foi ignorada, escondida
pela ambição de riqueza e expansão do "conquistador" e pela
respectiva submissão dos "dominados" (arenga miliciana do Rio
de Janeiro).
Não é necessário citar a estrondosa situação encontrada
em Tenochtitlán, Cusco, Machu Pichu, Tiahuanaco; ou
ruínas em Tikal, Vedas, Sukhothai, Xia, Hititas,
Sumérios, etc., o interesse é idêntico. O recém-chegado passa a ser o
dono, proprietário, senhor, e impõe sua vontade em nome de sua coroa, deus ou
cultura e tudo passa a ser uma relação temporal do passado nativo sob o atual
poder exótico.
Haverá
muitos livros e narrativas, com por exemplo a do Inca Garcilaso da Veja
(foto), mas todas não são contadas a partir de sua referência ao inverso
do atual para o passado, como se o passado perdesse sua inflexão de futuro.
As pedras, monumentos e construções deixam aprisionadas e
a mesma sociedade compõe outra paisagem, mesmo quando a contradição é percebida
e identificada.
422 anos depois dessa introdução, que poderia ser chamada
de "colonização", os poucos colonizadores e os muitos
colonizados, regidos por organizações internacionais dos primeiros, onde os segundo
são meros figurantes co-validadoras dos interesses daqueles.
No coração da "Querida Amazônia", em 1932, o
empresário Henry Ford, se instalou nas margens do rio Tapajós e construiu duas
cidades para organizar o plantio da monocultura da seringueira (caucho).
Ele era o empresário que tentava dominar a Amazônia e havia um governo mais que
nacionalista, muito identico com os nossos dias. O colonizador externo e seu sócio
interno não respeitaram os trabalhadores da selva e os impediram de comer
farinha de mandioca... Rebelião... As ruínas da Fordlândia e Belterra
ainda permanecem lá, a maior de todas as derrotas do magnata americano, criador
do Fordismo, uma etapa do capitalismo mundial.
stupeur morne, se soulève en
proie à des tortures convulsives. Il semble qu`il vienne d`entrevoir l`enfer dans sa vie, et qu`il se soit révélé à lui quelque chose de plus que le désespoir.
Victor Hugo: Han d´Islande.
De 5 a 16 de junho de 1972, tivemos a Conferência das
Nações Unidas sobre "O Desenvolvimento Humano" em Estocolmo. No
entanto, os colonizadores não aprenderam o ensino. A visão era outra. A ciência
ou disciplina acadêmica criada por Ernst Haeckel (foto),
em 1866, com suas duas partes: Autoecologia e Sinecologia, vai ser as pupilas
dos olhos do capitalismo por sua necessidade de compatibilizar as ações humanas
na natureza com o mesmo sentido e ação do "colonizador" depois dos
grandes descobrimentos.
As regras vão harmonizar a grande contaminação industrial
(poluição) nos países colonizadores e a gigantesca devastação da natureza e da pobreza
social nos países colonizados. Pelo que uma terceira parte da Ecologia será
adicionada às duas primeiras: O "Ecossistema", onde o
gerenciamento da energia será continuamente avaliada pela ótica econômica do poder (tudo está
dominado). Isso traz uma situação esdrúxula, porque a história natural ou a
ecologia passa a ser vistas dentro de uma ambiguidade: por um lado, intacta vestal
e de outro passível de transformação, mas disfarçados ou maquiados pelo
governo, assumem as novas abordagens e custos.
Há três dias, no Jornal da Televisão, vimos a criação de
um novo Conselho Nacional da Amazônia, com a eliminação de todos os
órgãos civis, que nos últimos 50 anos fizeram a gestão tripartite com controle
nacional, sociedade civil organizada, mantida através de doações interessadas
ou não de colonizadores e de organizações multilaterais de raízes e intenções
idênticas. Foi uma antecipação da apresentação do resultado do Sínodo e Documento Papal. Por outro lado, os
ativistas amazônicos começaram a adquirir identidade com o bioma e passaram a
ser incômodos para os interesses das grandes transnacionais, capital financeiro
e políticas públicas retrógradas.
Na
criação do Conselho, a situação é tão estapafúrdia que os governadores dos nove
Estados Amazônicos foram ignorados e confiscados em seu território, igualzinho
o que se passava na ditadura, quando um governador não tinha ação sobre o
território. Era época do GETAT e GEBAM.
Na criação do referido conselho, com discursos de pompa e
circunstância, após o discurso do presidente da república, que fala por último,
em quebra do protocolo um ministro militar, pegou o microfone e convidou seus
pares militares em arenga (pronunciar em público) - Viva o Amazônia! Todos gritaram
"Selva", não satisfeito ele repetiu e eles em uníssono voltaram a
gritar mais alto "Selva". Essa é a palavra militar para aqueles que
ali receberam treinamento militar anti-guerrilha desde 1969, quando foi criada
uma super infraestrutura (estrada) militar de nome trans-Amazônica e centenas
de Batalhões de Infantaria de Selva, nos moldes do que os britânicos tinham
como “comandos” na Malásia na era colonial, pela insatisfação e desejo de
independência dos indígenas malaios (foto).
Em um filme-documentário, o ex-deputado e atual
presidente afirma que ali houve uma "guerrilha", comparada a um grupo
militar que existia no país vizinho. Exagero. O xadrez da Guerra Fria e muitas
palavras inapropriadas são usadas como propaganda, dissuasão (está tudo dominado
de miliciano) desde o golpe militar de 1964 determinado pelos EE.UU.
Tanto a visão exagerada do "colonizador",
quanto a "canção épica" dos colonizados não são verdades cristalinas
e necessitam de análises científicas com honestidade e seriedade em suas
dimensões, pois o que houve ali foi muito parecido com Canudos, com pessoas sem
perspectivas que lutaram contra a "nova colonização", indígenas foram
levados a milhares de quilômetros de distância e suas terras confiscadas pelos
políticos, no entanto, são terras indígenas e a ameaça é idêntica. Os incêndios
(fogo) que era um ato legal de benefício naquela época, volta contra a selva e
o cidadão para expansão da fronteira da milícia dos agronegócios. (agronecrócios)
Voltando à região da guerrilha no local, que era muito
mais educação e extensão da cidadania, o que é indiscutível é que a população
local sabia que havia uma gigantesca mina de ouro que estava sendo cercada para
exploração mecanizada pelo grupo Rockefeller. O próprio Sr. David
Rockefeller baixou de helicóptero na mina para parabenizar os geólogos yanques
e as contrapartes brasileiras que fizeram a pesquisa. E o Jary do D. Ludwig? Há
muito o que explicar.
A “mina desapropriada” recebeu o nome de Serra Pelada e
passou a ter 120 mil clientes regulares em busca de ouro (paládio), e recebendo
em troca papel moeda colorido com tantos zeros e carimbado transformado em
centavos, sendo desvalorizado em 10% ao mês, pior do que um ataque de
guerrilha.
Entre as obras faraônicas daquela época com seus
problemas como Balbina, Tucuruí, recordamos o Acordo Nuclear Brasil Alemanha
(1975) que levaria à construção de 8 usinas atômicas, coincidentemente 2 no Rio
Grande do Sul, na região metropolitana de Porto Alegre.
Quando, do assassinato de Chico Mendes, que
indignou o Banco Mundial e todas as nações colonizadoras, desesperadas e
surpresas com a realidade ambiental, iniciaram o Programa Nossa Natureza, onde
toda a legislação estratégica foi colocada em um pacote legislativo. Foi por
isso que a Lei Nacional dos Agrotóxicos, 7802/89, foi aprovada.
No nascimento do período democrático, houve outra
Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e o Desenvolvimento Humano,
no Rio de Janeiro, 1992.
Não é ficção, nem literatura, estamos em retrocesso
democrático, em queda livre pior que meio século atrás, quando não existia a
Rede Globo, os pastores despachantes, deputados, senadores, governadores e
presidentes de participações (mordidas-piratas), nem milicianos, regulares inconformados.
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