"

"Harmonizo meus pensamentos para criar com a visão". "Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e não mais lutando por dinheiro e poder, então nossa sociedade poderá enfim evoluir a um novo nível".

sábado, 4 de abril de 2020

Cohiba



 03 de abril
por Sebastião Pinheiro

Duas batidas rápidas na porta com os nós dos dedos e o ruído do indicador deslizando sobre o verniz assustaram Lisarb, pois ele não sentiu o cheiro do Kristoff, o Sumatra de ponta cônica. Abriu a porta. Sim, ...era Spooky segurando o gigantesco Cohiba, e com ele parado fazendo o sinal de silêncio nos lábios. Spooky entrou sem cerimônias sorrindo.

 Onde estava? - Em Beijing, como chegastes lá, tudo está fechado. - Para mim, não. Eles me ligaram, levaram e trouxeram ... - Para quê?

- No dia seguinte, o amanhã e depois... O mundo de ontem e de hoje está morto e deve ser substituído por outra ordem que não seja a da Coroa Inglesa, Goldman Sachs, FED ou FMI. A pandemia colocou os políticos diante dos reféns da ditadura dos economistas (Chicago Boys) do monetarismo gringo, subordinados ao medo e risco do coronavírus tecnocrático. Esse é o problema que não é deles. É um mundo que precisa aprender a lição, sem perdas. Eles estão trabalhando com matemáticos, confucionistas, filósofos binários ou cientistas da computação, e dando um giro teatral, a novidade: genética e evolução através da "inteligência artificial" (memétics) na multiplicação e crescimento de microorganismos.

Nos últimos vinte anos, tivemos dez epidemias globais e a atual parou o planeta em todos os sentidos e o preço está muito salgado. Esse modelo de agricultura do B&MGF, com tecnologia antinatural contra ecológica, não tem sustentabilidade, nem resiliência. Somente uma visão confucionista permite mudar tudo e o Ocidente está dois mil anos atrasado em comparação com os orientais, e segurou o Cohiba.

Lisarb sorriu, como você o apelidou? - Bênção Calvinista, mas hoje seria "Pare de Sofrer", que é o mesmo, porque custa muito, os chineses me deram duas caixas. - Olha, eu vim para deixar o documento que eles querem uma análise e eu li 64 vezes no voo. É curto como um coice de porco, mas assombroso, tem várias mãos e é ocidental. Eles nos pediram para dissecá-lo para que tivessem uma interface temperada de camponeses indígenas. Eu li 64 vezes, mas depois da vigésimo torna-se mais cristalino…. Zàijiàn, é ciao (tchau) em mandarim.

Lisarb sentou-se e começou a ler o documento de Tina Adcock, Simon Fraser University:

Declinacionismo decrescente: até uma história ambiental crítica e esperançosa

"Sim, os historiadores do meio ambiente negligenciarão a questão da esperança1 até o momento, parte da razão certamente deve estar na afinidade do campo pelo declínio2. Definido por Carolyn Merchant como "uma estrutura narrativa ou uma trama que retrata a história ambiental como uma espiral descendente", o declínio pode ser o mais próximo que a história ambiental tem a uma grande narrativa. Para espectadores acadêmicos e leigos, continua sendo uma das características definidoras do campo.

Para muitos entre a primeira geração de historiadores do meio ambiente, o declicionismo era um contrapeso necessário às narrativas progressistas ou whiggismo (whiggísticas) que celebravam o crescente domínio humano sobre o mundo não humano, às vezes sem reconhecer os custos associados às comunidades humanas e não humanas. No entanto, desde o início dos anos 90, uma segunda geração de historiadores ambientais tem criticado o declinacionismo por seu reducionismo, seu determinismo e sua tendência a provocar depressão e tédio entre os leitores. Afinal, nas palavras de J.R. McNeill, quantas vezes realmente você pode contar a história de "uma maldita década após outra?"

As histórias da declinação sempre estarão conosco, é claro, apenas porque às vezes refletem com mais fidelidade os eventos e tendências ambientais históricas3. Mas, à medida que o domínio do declinacionismo no campo enfraquece, deveríamos revisar as possibilidades interpretativas do que chamo de narrativas "ascensionistas". Isso poderia formar a base para um novo gênero de esperançosas de histórias ambientais críticas, que espero venham a caracterizar a terceira geração de nosso campo4.

Os historiadores ambientais relutam curiosamente em explorar o potencial das linhas narrativas ascendentes ou descendentes. Talvez temessem ser rotulados como historiadores whig. Talvez temessem que as narrativas ensolaradas deixassem seus leitores sentindo-se complacentes sob o capitalismo e o consumismo, no lugar de se motivar a corrigir os erros que esses sistemas haviam cometido, e continuar a causar estragos nos ecossistemas. Talvez, em uma era de fidelidade acadêmica e popular aos modos de fala irônicas, eles temessem que as histórias narradas esperançosas parecessem ingênuas ou tolas. Ou talvez, com Donald Worster, simplesmente sentiram que se podia escrever uma história crítica ou uma história esperançosa, mas não ambas.

No entanto, existem modelos de histórias ambientais críticas e esperançosas. A reparação da terra de Marcus Hall (Land Repair) foca em histórias comparativas de restauração ambiental. Este tema, juntamente com a reconstrução, poderia ocupar um lugar de destaque em um giro "esperançoso" ou "ascensionista". Enquanto Hall aborda a esperança como um tema de estudo histórico, Gregg Mitman e Julie Courtwright posicionam a esperança como um agente de mudança histórica. Mitman explora o que chama de "paisagens de esperança" de Denver, e revela como essa emoção atraiu pessoas em busca de saúde para os espaços da cidade e seus arredores nos séculos XIX e XX. A esperança também pode obrigar as pessoas a permanecer em seu lugar, como demonstrou Courtwright em seu artigo sobre a chuva nas Grandes Planícies. A esperança de que os humanos pudessem tirar a umidade do céu convenceu os agricultores a continuar vivendo e cultivando essas paisagens semi-áridas, uma decisão que teve profundas consequências ambientais.

As histórias ambientais esperançosas e críticas podem nos ajudar a enfrentar os desafios do Antropoceno, especialmente trazendo à tona histórias de resiliência e sustentabilidade.[6] Mas, ao contemplarmos a melhor maneira de escrever histórias esperançosa, precisamos aprender com as deficiências dos declinacionistas. Tais narrativas frequentemente falham em capturar a complexidade, a contingência e multidirecionalidade das interações históricas entre os seres humanos e o meio ambiente. As histórias ascensionistas devem evitar essa armadilha simplista se quiserem ter sucesso.

Poderíamos olhar então, para a visão de esperança pouco ortodoxa, mas memorável que Brett Walker apresenta no final do "Arquipélago Tóxico". Ele prevê que o capitalismo causará um colapso ambiental total. No entanto, antecipa encontrar a beleza entre as ruínas:
 Para mim, a… fotografia de Uemura Tomoko envenenada com mercúrio e sua mãe tomando banho no ofurô é sublime5. Também sublime são os cedros que se espreitam através das ruínas no local da mina Kodaki em Ashio, onde os macacos cuidam dos recém nascidos. Mas também sublime é uma mãe orca cuidando de seu filhote deformado embora sejam esmagados juntos contra as margem do Japão. Estes momentos de compaixão desinteressada e transcendente beleza me dão esperança6.

Essa visão obscura e até perturbadora da esperança assinala a possível complexidade e riqueza das narrativas ascensionistas. Talvez, para falar de Emily Dickinson, a esperança no Antropoceno seja melhor vista como algo danificado com plumas. Como historiadores ambientais críticos e esperançosos, devemos reconhecer esse dano à medida que procuramos corrigi-lo.”

Lisarb apagou a lâmpada e ficou na escuridão desfrutando o odor do Cohiba, pensando e fez suas anotações:

1 A ligação entre natureza e humano, não pode ser o vínculo entre torturador e torturado de Francis Bacon do Século XVI, ainda mais quando na humanidade há exemplos anteriores e posteriores em níveis bem mais elevados [Aristóteles, Buda, Ashoka, Francisco, Confúcio, Nezahualcóyotl, Siete Cueros, Darwin, Ernest Haeckel, Mayr, Mazibuko, Chico Mendes]
2 Esta redução do impacto humano sobre a natureza, entre outras causas pela racionalização de energia, eficácia e evolução tecnológica, sistemas e métodos de gestão...
3 Nas sociedades industriais modernas a “res externa” isolada da “res cogitans” permite ignorar os valores da consciência, espiritualidade e identidade cósmica par e passo com os avanços tecnológicos por questões de poder político hegemônico.
4 As leituras de Humboldt, Goethe, Kozo-Polianky, Vernadsky, Steiner, Jay Gold, Illich, Carl Sagan e Lynn Margoulis mostram o sólido que é o caminho até a “noosfera” e espiritualidade.

5 A arte do fotógrafo William Eugene Smith em “Tomoko em seu banho”, não justifica a sensibilidade prepositivamente descontextualizada, da mesma forma que uma vítima do Talidomina sem membros sorridente, contém uma responsabilidade/culpa; por outro lado, a mina de cobre de Kodaki, Ashio em operação desde 1600, e em 1875 começou a matar os peixes de um rio destruindo o trabalho de 3.000 pescadores não pode ser enquadrado em risco/benefício e vice-versa conforme estudos de Ulrike Beck.  

6 Esse desejo da autora é a crença de que o status quo do atual modelo ocidental continuará.  Em meio à pandemia de coronavírus (covd-19), vemos que os países começam a subtrair os  números de expansão da contaminação e as estatísticas dos mortos com a finalidade de  retomada das atividades econômicas e parece estar cumprindo ordens do poder econômico financeiro (Banco Mundial , FMI, OMC, FED, etc.)

O segundo documento era de Richter, Daniel de B. Duke Universidade, no Norte da Carolina.

“A crises da narrativa ambiental no Antropoceno”

O público está muito familiarizado com as narrativas declinacionistas sobre o meio ambiente,  com histórias de extinção, degradação, poluição, desmatamento e mudança climática, mesmo  que a declinação como termo tenha circulado principalmente entre historiadores ambientais e  críticos literários. Os cientistas ambientais, mesmo em meu próprio campo da ciência do solo,  quiçá pensam com menos frequência nas estruturas narrativas através das quais nosso trabalho  se comunica e adquire uma influência mais ampla. Os geólogos estão debatendo se a época geológica contemporânea do Holoceno será renomeada Antropoceno.1

Para muitos, o Antropoceno promoverá a narrativa do declinação em escala global. De fato, o Antropoceno apresenta todo tipo de problema, um dos quais é que se a declinação é nossa única narrativa ambiental, os seres humanos nada mais são do que agentes de destruição planetária. Enquanto que os estudiosos de hoje discutem livremente os problemas posteriores ao Holoceno, considerem os professores de escola no Antropoceno, que e devem motivar seus alunos diante da perda da natureza! Novas narrativas ambientais são necessárias para combater e enriquecer a da declinação ambiental.

A necessidade de novas narrativas ambientais não é nova. “Down, Down, Down, No More” de Ted Steinberg clamou por uma alternativa à declinação.2

De fato, quando o geógrafo Carl Sauer escreveu na década de 1930, tratou de motivar ao perguntar valentemente se os seres humanos alguma vez poderiam distinguir “desempenho do montante”.3

O falecido Thomas Berry escreveu explicitamente para as pessoas no Antropoceno.4

Aqui, faço uma narração georgiana para confrotar a da declinação. Derivadas da georgiana de Virgílio, um ciclo de poemas que enquadram a Terra como o lar da natureza e dos seres humanos, as narrativas georgianas enquadram o mundo natural como um lar não apenas altamente vulnerável à ação humana, mas completamente dependente pela sua sobrevivência da qualidade dos seres humanos. "Trabalho duro, implacável."5

Em poucas palavras: se as narrativas de declinação separam os seres humanos de um mundo natural que saqueamos, a georgina tem seres humanos que trabalham intimamente de maneira construtiva com o mundo natural, sem importar com as perspectiva futuras.

Como estudo de caso, eu gostaria de aplicar a narrativa georgiana para pensar na degradação e remediação ambiental em larga escala, usando o Piemonte do Sul dos Estados Unidos, onde se tem centrado meu trabalho no solo. No sul do Piemonte, o cultivo em grande parte do algodão do Velho Sul conduziu diretamente à degradação mais séria da terra e do ser humano na América do Norte. Enquanto a economia agrícola da primeira nação se beneficiou muito do algodão do Piemonte, muitas vezes criado por trabalhadores escravizados, as chuvas erosivas da região, o solo erodível e as práticas agrícolas durante cerca de 100 anos combinaram-se para eliminar aproximadamente 15 centímetros de solo de cerca de 25 milhões de hectares.6

A agricultura transformou a região e sua gente, segundo o professor da Universidade de Fisk,  Charles Spurgeon Johnson, em “um panorama miserável de casas sem pinturas, campos de  chuva, cercas retardatárias, armadilhas, sujeira, pobreza, doenças, trabalho pesado e monotonia que se estendem por milhares de quilômetros através do cinturão do algodão”.7

O solo historicamente mobilizado das fazendas de algodão do Piemonte contaminará os córregos e rios da região por décadas, séculos e até milênios. As zonas úmidas ribeirinhas da região são inundadas com até um metro ou mais do que é tecnicamente denominado de "sedimento herdado".8

Depois de aproximadamente 1920, inúmeráveis famílias de agricultores do Piemonte, a maioria afetadas pela pobreza, abandonaram suas fazendas em um doloroso êxodo para cidades ou regiões com um agricultura mais promissora.

Essa história humano-natural se encaixa bem em uma narrativa de declinação.

No entanto, a Terra e seus povos não são mais que dinâmicos. Passado quase 100 anos desde o pico da erosão do solo e do abandono agrícola. As florestas voltaram a crescer em muitas terras antigas de cultivo; os ambos erosionados tem se convertido para outros usos, incluindo os novos.

Local de origem. O mais impressionantes são as muitas pequenas fazendas e jardins do Piemonte que estão recultivando terras anteriormente erosionadas para fornecer alimentos aos mercados, restaurantes e mercearias dos agricultores locais. Uma nova narrativa está crescendo no Piemonte, uma narrativa que pode chamar com razão de georgiana porque só surge do trabalho humano persistente destinado a renovar ou regenerar a terra.

No campus da Universidade de Duke em Durham, Carolina do Norte, um jardim Blomquist de 50 anos e a nova fazenda de Duke Campus estão crescendo em terras de cultivo erodidos.

Embora a fazenda do campus esteja moderadamente erodida, os barrancos que cicatrizam profundamente os antigos campos agrícolas compõem o Jardim Blomquist, com cerca de três metros de profundidade. O solo erodido da fazenda do campus produz alimentos para o campus e para uma comunidade em crescimento. No Jardim Blomquist, a regeneração natural dos pinheiros é incentivada e uma grande coleção da flora nativa do Sul é cuidada diretamente nos velhos campos de barrancos.

Milhares de visitantes todos os anos são atraídos para o Jardim Blomquist e a fazenda do campus, mas muito poucos apreciam o significado total do que estão visitando. Ambos são apresentados principalmente na narrativa do declínio, como uma celebração da natureza e da vida vegetal, como um refúgio rústico e natural e uma pausa bem-vinda do agitado negócio industrial dos assuntos humanos. Quão mais convincentes e significativos seriam estes lugares se eles apresentarem uma narrativa georgiana e os explicitamente experimentassem como criações naturais humanas, com seus personagens derivados não apenas de sua celebrada vida vegetal, mas também de seus jardineiros e agricultores que trabalham a muito tempo?

O que torna o jardim Duke’s Blomquist e a fazenda do campus sejam inestimável não são suas alocações financeiras da Duke, mas a narrativa georgiana que nos diz que o trabalho humano hábil por décadas e o "trabalho incansável" podem promover valores estéticos e ecológicos mesmo em terras severamente degradadas.10 Enquanto as chuvas regam os solos do Piemonte que ainda podem escorrer através de velhos barrancos de campos da fazenda, o escoamento superficial hoje carrega muito menos erosão do solo do que no passado, devido às mantas de matéria orgânica e a ancoragem das raízes de plantas assistidas por humanos. Se os valores estéticos, a vida prolífica das plantas e a água mais limpa puderem surgir do sul do Piemonte, profundamente cicatrizado, uma narrativa georgiana pode ir contra do declínio ambiental e reforçar o importante trabalho, longo e árduo trabalho que será necessário para sustentar nosso planeta no antropoceno.

O rico cheiro do Cohiba já se havia dispersado, e Lisarb bem compenetrado foi buscar o poema Georgicas para contextualizá-lo no texto e no anterior.

Peremptoriamente o qualificou de forma oportunista pelo uso do poema no contexto dos agronegócio que ignora os impactos socioambientais sobre o território, questão agrária e natureza sintetizada na expressão: Labor omnia vincit improbus, et duris urgens in rebus aegestas (Toda dificuldade é superada pelo trabalho árduo e pela pressão da necessidade urgente) válida como estímulo ou Cesar Augusto não estimula as atividades rurais.

***
- whiggismo - http://www.eneq2016.ufsc.br/anais/resumos/R1054-2.pdf
-  

Um comentário:

jaime carvalho disse...

"E se o Mundo se acabasse numa tragédia bravia
Assim mesmo eu cantaria
Um Mundo nascendo doutro
A Indiada domando potro
E a bugra lavando a cria"
Jaime caetano braun
Pajada das Missões

Postar um comentário

"no artigo 5º, inciso IV da Carta da República: 'é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato'."

Rede Soberania

Rede Soberania
Esta Nação é da Multitude brasileira!

Blogueiros/as uni vós!

.

.
.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...