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"Harmonizo meus pensamentos para criar com a visão". "Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e não mais lutando por dinheiro e poder, então nossa sociedade poderá enfim evoluir a um novo nível".

sábado, 23 de janeiro de 2016

O tempo é o senhor da razão


por Sebastião Pinheiro (facebook)

O dia de Oxóssi passou e parece que muitos não prestaram suas obrigações: No dia seguinte à sua festa o "Jornal da Band" mostrou o Ministro da Fazenda Nélson Barbosa sendo "mijado" por um Prêmio Nobel em Economia em Davos, que tripudiou sobre a ressurreição da CPMF. Foi humilhação nacional. Na antevéspera foi a vez do Presidente do Banco Central, Alexandre Tombini passar a mesma vergonha sendo obrigado a dizer algo esdrúxulo, não se sabe se por ordem ou vontade.

Para muitos, ambos fatos podem ter ficado em segundo plano, em função da jactância: "Neste país, não tem uma viva alma mais honesta do que eu". Publicitários fazem milagres, mas não podem modificar fatos públicos e só tempo é senhor da razão.

O amigo Benatto era o Diretor da Divisão de Ecologia Humana e Saúde Ambiental do Ministério da Saúde e tinha feito contribuições fantásticas com a Extensão da UFRGS ao conseguir três passagens para estudantes de Medicina irem ao Amazonas integrarem o Circo Mocorongo no Projeto Saúde & amp; Alegria (foto). A oportunidade forjou três profissionais engajados.

Um tempo depois ele me pediu para a retornar a Santos, SP e tratar com lideranças políticas interessadas em informações sobre os riscos em Samaritá, Quarentenário e Baixada Santista em 1999, onde eu trabalhara em 1991 a pedido do amigo Lutzenberger, (foto).

No mesmo "Jornal da Band" aparecia pelo segundo dia denúncias sobre o que está ocorrendo naquela área. Um dos grandes financiadores da candidatura de Collor de Mello à presidência foi o empresario Vaz Musa, da Rhodia. Aquela empresa tinha transferido fábricas proibidas na Europa e sintetizava compostos organoclorados já banidos por seus resíduos industriais HCB, Pentaclorofenol (PCP) ricos em Dioxinas e Furanos. Criminosamente distribuía esse lixo tóxico entre agricultores dizendo ser adubo que ia melhorar a terra. Na época acionamos o Ministério Público de SP e tivemos o apoio do Dr. Edis Milaré, e logo, conseguimos fechar o incinerador da Rhodia e interditar toda a área do Quarentenário, um terreno do Ministério da Agricultura em área de mangue que era usado pela empresa corrupta como lixão químico clandestino.

Na matéria a TV Bandeirantes denunciou ser um bairro popular onde todos estão condenados à doenças degenerativas devidas à contaminação do HCB, PCP e Dioxinas e Furanos Clorados igual a que em Love Canal, EUA; Seveso, Itália.

Naquela viagem, desde o ônibus pude ver que o antigo gigantesco terreno prístino, mas quimicamente envenenado do Ministério da Agricultura, que servira de depósito clandestino de lixo químico de classe I, agora transformado em um loteamento gigantesco. Sobressaiam-se na paisagem caixas de água do tipo cilindro metálico equidistantes, dando a entender que não usavam a água contaminada (a região possuía mais de 30 piezômetros para o controle da mesma pela CETESB), aquilo desejava dar aparência saudável à área. Cheguei à reunião apavorado, pois aquilo era mais que criminoso era manipulação populista.

Ninguém estava interessado no que eu alertava, fingiam não entender. Deixei com eles um exemplar do livro "Ladrões de Natureza", onde há o capítulo sobre Samaritá - Quarentenário e outro sobre a Cidade dos Meninos no Rio de Janeiro, onde a esposa do Presidente Collor queria criar um asilo infantil e no solo havia os mesmos índices de HCB, BHC, Dioxinas e Furanos, e, nós também conseguimos colocar uma pá de cal na ideia.

Vinte anos depois, vendo a notícia na "Band" me senti mais que envergonhado, me senti culpado. Lembrei de Tucuruí, lembrei dos soldados franceses ao encontraram em 1982, os últimos 40 tambores de Seveso, escondidos em 1976 por um corrupto, inescrupuloso. Eles e toda a cidadania estava tão esfuziante que ainda fardados sobre os caminhões foram recebidos pelas autoridades com garrafas de champanhe, pelo peso que tinham tirado da coletividade. Haviam sido 60 dias de desespero em toda Itália, França, Alemanha, onde eu trabalhava no Laboratório de Analise de Alimentos em Trier e Saarbruecken.

Mesmo tendo feito um trabalho sério com as autoridades. Pude perceber cafajestes travestidos de políticos progressistas tinham urbanizado uma área comprometida de forma criminosa. Uma área que fora recomendada ser totalmente isolada, remediada e transformada em reserva.

Vendo as imagens e diálogos na TV sobre o Quarentenário comecei a refletir sobre o que eu passei. "Pode haver ser humano tão honesto, mas não mais honesto que eu no país" foi uma das frases da semana. Senti ânsia de vomito. Honestidade é um valor espiritual absoluto acima de religião, ideologia ou interesses e luta de classes.

O Jornal da Band foi pródigo, me tirou da "fossa", um antídoto na notícia final sobre o envenenamento do ex-espião soviético asilado em Londres com um chá de Polônio 210. Pareceu-me galhofa diante do macabro político anterior.

Para extrair o veneno e mágoa de meu interior usei a alquimia de transmutar situações tristes em alegres: Os russos já haviam dado uma sopa de TCDD a Yússhchenko, agora um chá radioativo. La venditta é un piatto que se manja fredo.

Os desesperados de Samaritá – Quarentenário (foto) estão mais que tomando chá, estão respirando, engolindo HCB, PCP, Dioxinas e Furanos Clorados e quem está servindo
são os políticos que usufruem seus votos democráticos...

Os assassinos russos eliminam o desertor (que sabia o risco corria e optou por fugir e colaborava com o inimigo) por seus interesses e segurança dos ex-colegas do mesmo. O que a noticia não pode dizer é que os ingleses foram, pelo método, transformados em incompetentes e corruptos ao não saberem proteger seu "tesouro"; Ou será que eles administraram o Polônio 210 ao russo para criar problemas à Russia? No mundo da espionagem, inteligencia e economia não há ética.

Assassinatos são injustificáveis pela ética; mas é preciso coragem e honestidade para abordá-lo em quaisquer circunstâncias. Contudo, a frase do pai: "Meu filho, e as crianças daqui sofrem de leucopenia (caminho à leucemia), sem nunca terem entrado em uma fábrica", me fez cair na realidade: O fluxo de ódio, ignorância, corrupção e incompetência no exercício do poder vitimiza mais aqueles que, deveriam proteger. Ao que se pode dizer que é situação antagônica à dos russos por ser a ética um valor absoluto.

Desculpem a sinceridade, mas algum desgraçado bem intencionado vai fazer seu doutorado sobre o bairro Quarentenário e apresentar os números e índices macabros para inveja dos pares nos congressos, revistas, artigos, mas jamais poderá ser respeitado como um cidadão honesto, pois o tempo é o senhor da razão.

O amigo A. Benatto foi exonerado do cargo por uma pessoa que aproximou-se dele usando nossa amizade. Ficou dez anos no cargo e transformou o país no primeiro consumidor de agrotóxicos do mundo.

Garçon ma tasse avec lait s'il vous plaît.

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