"

"Harmonizo meus pensamentos para criar com a visão". "Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e não mais lutando por dinheiro e poder, então nossa sociedade poderá enfim evoluir a um novo nível".

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Ze Claudio Ribeiro

  Isto vai acontecer por muito anos ainda, até nós humanos entendermos que derrubar uma árvore é como matar um semelhante. Até lá vamos vivenciar isto. Somos, dos seres que habitam este planeta: a peste, o cancer e a solução.

  Pena que quem matou não sabe disto. Sem lamentar, buscar com inteligência soluções de todas estas imperfeições. Mexa o doce por ai.
Pai
(Luiz Blanco)


TEDxAmazônia: Uma notícia triste

Queridos, TEDxsters

     Ontem à noite, um de nossos palestrantes, Ze Claudio Ribeiro, foi assassinado junto com sua esposa, Maria do Espirito Santo, quando voltava para casa, no Assentamento Agroextrativista Praia Alta Piranheira, em Nova Ipixuna, no sul do Pará.

     José Claudio Ribeiro era castanheiro e vivia da extração de castanhas e outras frutas na floresta. O lugar onde morava é protegido por lei e o corte de árvores, ilegal. Assim, Zé Claudio negava-se a negociar as árvores com os madeireiros da região. A pressão era grande: muita gente já tinha abandonado o assentamento e vendido, ilegalmente, as terras. Zé Claudio denunciava os crimes e, por isso, as ameaças eram constantes.
 
     Sua palestra no TEDxAmazônia conta exatamente essa história. Num trecho, ele diz: “A mesma coisa que fizeram no Acre com Chico Mendes, querem fazer comigo”. E fizeram.

     Neste momento, pedimos que comunidade TED se mobilize e espalhe essa notícia para que o assassinato não caia no esquecimento.

     Se você tem algo que gostaria de compartilhar: suas impressões sobre Zé Cláudio, o impacto da palestra, sua sensação com a notícia, fiquem à vontade. A ideia não é receber nada dramático ou forçado, mas apenas deixar o canal aberto. Caso tenha fotografia dele, peço que nos envie também, pois queremos preparar um espaço dedicado a ele no site.

Abraços,

Lívia Ascava

 Assista agora!

Equipe TEDx Amazônia

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Confiar solamente se o agronegócio for nosso...

       
          O texto do zootecnista Ricardo Alexius é muito bom. Possui uma linha de pensamentos cabendo a divulgação neste blog. Em minha opinião, acho que faltou um ponto de interrogação no título: "Queremos confiar no agronegócio?" Eu particulamente quero confiar, desde que:
- seja realmente nosso negócio e não de empresas estrangeiras;
- seja melhor distribuido em Agroindústrias por todo território nacional;
- que nosso Governo pare de subisidiar a compra de Agrotóxicos, Adubos solúveis e sementes transgênicas de empresas estrangeiras; no caso de agrotóxicos e transgênicos de nenhuma empresa;
- que pelo menos uma vez, na hierarquia política do Ministério da Agricultura do Brasil, seja ocupado por uma pessoa ética, com extrema experiência na agricultura familiar brasileira e formação na área e, que não seja um latifundiário;
- que as leis do velho e excelente Código Florestal brasileiro seja botada em prática;
- e que, creio que essa seja a mais importante, todo político do Brasil, para exercer o cargo público perante a nação, que não seje um latifundiário e tenha no máximo 4 módulos mínimos de terra. Eu disse: presidente, ministros, senadores, governadores, deputados, vereadores...
 
          Vamos ao texto...

Queremos confiar no agronegócio

Quando uma empresa desenvolve e pretende lançar no mercado brasileiro um novo agrotóxico, a sua fórmula necessita ser avaliada e aprovada, por exigência legal, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que deve agir em conjunto com o Ministério da Agricultura e o Ibama.
 
A semente transgênica a qual alguma empresa pretenda comercializar deve passar pelo crivo da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). Numerosas notícias, evidentemente não divulgadas pela mídia dominante, dão conta que Anvisa e CTNBio estariam impregnados de ''profissionais'' ligados de alguma forma (monetária) às transnacionais que necessitam burlar as regras dos órgãos governamentais para que seus protutos tóxicos sejam aceitos, e considerados inofensivos à saúde humana e ao meio ambiente.

Enquanto lideranças ruralistas, com generosos espaços na imprensa, alardeiam as benesses dessas ''novas tecnologias'', acreditando na propaganda da famigerada indústria dos pesticidas, um relatório recentemente divulgado na Europa denuncia que membros da agência europeia responsável por regulamentar agrotóxicos e alimentos estão diretamente ligados à indústria que eles deveriam policiar.

Em março último, Angelo Moretto renunciou da EFSA PPR Panel, a comissão de Produtos para a Proteção de Plantas e seus Resíduos da Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos, depois de conflitos de interesses, uma vez que o pesquisador está ligado a uma empresa de consultoria chamada Melete Srl., fundada para ajudar empresas a cumprir as determinações da agência europeia Reach, que regulamenta o uso de substâncias químicas, assim como a Anvisa no Brasil.

Entretanto, essa ligação é apenas a ponta do iceberg. Moretto é apenas um dos vários membros da EFSA ligados ao International Life Sciences Institute (ILSI), uma organização dos EUA fundada por multinacionais de agrotóxicos, substâncias químicas, sementes transgênicas e indústrias alimentícias. Os patrocinadores do ILSI incluem a Monsanto, Basf, Bayer, ADM, Cargill, DuPont, Kraft, Mars, Syngenta e Unilever.

O título do relatório, na tradução livre do inglês, seria ''Reguladores europeus sobre agrotóxicos e segurança dos alimentos - para quem eles trabalham?''. Claire Robinson, sua autora, diz que ''o ILSI se dedica a redesenhar processos de avaliação de risco de agrotóxicos, substâncias químicas e alimentos transgênicos nos EUA e na Europa. A organização se apresenta como imparcial, mas suas recomendações científicas seguem a tendência de reduzir os custos e o rigor dos testes de segurança. Isto atende bem à indústria, mas coloca a população em risco de saúde''.

Se essas transnacionais agem sorrateiramente no mundo inteiro, como vamos acreditar nas falácias do nosso agronegócio que ludibria o agricultor, prometendo lucratividade, inclusive a ponto de convencê-lo que devemos derrubar mais e mais florestas para ''salvar o povo do flagelo da fome''? Escravos é o que seremos quando essas multinacionais dominarem a política alimentar, ditando preços de sementes, de royalties, de adubos químicos e de venenos.

RICARDO ALEXIUS é zootecnista especialista em Ciências e Educação Ambiental em Medianeira

RECEITAS ALTERNATIVAS III - Uso do Enxofre

"O enxofre elementar, aplicado sobre as plantas, é encontrado em suas proteínas. Isto, alias, não escapou à observação de certos agricultores, que notaram o seu efeito benéfico sobre a vegetação da planta. Por outro lado, ele também pode agir sobre a resistência da planta através da fertilização do solo".  
- Francis Chaboussou - Plantas doentes pelo uso de Agrotóxicos, página 252.

Uso do enxofre e da calda sulfocálcica
para tratamento fitossanitário


O enxofre é um produto natural que tem poder fungistático. Pode ser usado puro ou, então, ser feita a calda sulfocálcica.

1) USO DE ENXOFRE PURO: misturar, a seco, 800 g de enxofre e 200 g de farinha de milho bem fina. Diluir 34 g em 20 litros de água e aplicar sobre as plantas. (_ acreditamos que o uso do elemento S puro, 96, 98% e 99% - que se consegue na sua dupla ventilação - para a ação esperada, e assim amplamente conhecida, no combate a enfermidades fitoparasitárias fungosas em plantas desequilibradas energéticamente em seu meio,  como sempre foi tecnicamente conhecida a "fungicida", mas sem atentar-se para uma ação mineral secundária, sua absorção que na maioria dos casos, ainda erram nas doses, por falta da precisão da densidade, e praticulturas estabelecidas, como o não uso em cucurbitaceas, baixa eficiência no frio, e outras notas técnicas variáveis para cada ambiente. 

   O êxito da calda é a fervura do S. Na reação oxi-redução junto a cal apagada, a solubilidade aumenta e se estabiliza. 

2) CALDA SULFOCÁLCICA: a calda é preparada com enxofre e cal apagada, Cal de construção, hidróxido, óxido de Ca...

Material:

 
- 2 tonéis
- 1 pano para coar
- 4 quilos de cal virgem em pó
- 1 balde de plástico
- 5 quilos de enxofre peneirado
- 1 bastão de madeira
- "espalhante adesivo": farinha de milho, cachaça ou leite

Preparo da Calda: 

Colocar 25 litros de água limpa em um tonel para aquecer ao fogo. Então, retira-se um balde de água morna e misturamos o enxofre peneirado. Para facilitar a mistura, convém o uso de enxofre e calda sulfocálcica para tratamento fitossanitário colocar um pouco (meio copo) do "espalhante adesivo". Em outro tonel, colocar 4 kg de cal virgem e queimar com 2 a 3 litros de água morna, retirada do primeiro tonel. Quando a cal começar a queimar, mistura-se o enxofre, mexendo sempre com o bastão de madeira. Em seguida, adiciona-se o restante da água quente, marcando a altura que a mistura alcançou. Ferver a mistura durante uma hora com fogo não muito forte, mexendo com o bastão e repondo a água evaporada na altura da marca. Após uma hora, deixar o fogo apagar e esfriar a calda. Retira-se a calda do tonel e, com o auxílio de um pano, o produto é filtrado (coado). A calda deve ser guardada em vasilhas de vidro, madeira ou plástico bem fechadas. Na hora de preparar a calda, deve-se preparar somente a quantidade a ser usada nos próximos dias, isto é, não deixar a calda envelhecer, usá-la até um mês depois de pronta. Para se saber a quantidade de calda para cada litro de água, é só utilizar o Aerômetro de Baumé, e verificar no quadro a seguir a quantidade de água a ser misturada para cada tipo de tratamento que for feito.
Fonte: Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.2, n.1, jan./mar.2001 

ABC da Agricultura Orgânica - Jairo Restrepo



 

terça-feira, 17 de maio de 2011

Rede APA compartilhando

 Com a palavra, a coordenação:


     Saudações Agroecológicas!

 Estamos a pouco mais de um mês da 10ª Jornada de Agroecologia, que vai acontecer entre os dias 22 e 25 de junho, em Londrina, no campus da UEL, e o coletivo coordenador deste grande evento está muito empenhado para que tenhamos uma bela atividade, com muita formação, articulação e divulgação da Agroecologia no Paraná, no Brasil, na América Latina e no Mundo.

 A Jornada de Agroecologia é uma articulação de vários movimentos sociais e organizações da agricultura familiar camponesa, organizações da sociedade civil do campo popular, estudantes, técnicos e acadêmicos e se insere no grande movimento de lutas dos povos contra a mercantilização da vida comprometendo-se a construir uma nova sociedade sustentável capaz de satisfazer suas necessidades fundamentais e garantir os direitos das gerações futuras.

 Ao longo de um árduo processo de trabalho e luta contra o agronegócio, fortalecemos nossa unidade política e de ação como um movimento agroecológico e de transformação da sociedade protagonizado pela agricultura familiar camponesa e povos tradicionais, em cooperação com todos os que lutam por um mundo digno e sustentável, no campo e na cidade.

 A Jornada de Agroecologia se configura como um espaço de estudo, mobilização e troca de experiências, de caráter massivo, reune cerca de 4000 agricultores familiares e camponeses a cada ano. Já estamos com uma Programação quase fechada e muitas participações confirmadas. Todas as informacões estão disponíveis no blog
http://jornadaagroecologia.blogspot.com/ e no perfil do face book: Jornada de Agroecologia, saem as informações mais quentes!

 IMPORTANTE: com relacão a Alimentacão e Alojamento, é imprescindível que as comitivas/brigadas entrem em contato diretamente com a secretaria operativa do evento pelo email
jornadaagroecologia.pr@gmail.com.

Globalizemos a luta! Globalizemos a esperança!

Pela Coordenação,
Daniel Augusto R. de Mendonça
Via Campesina Brasil, Londrina – PR (043) 99749033 – TIM (043) 30262253

Contatos: Vanessa Gardim - Secretaria Operativa da 10ª Jornada de Agroecologia Via Campesina Brasil Londrina – Paraná (43) 99372948 (TIM) http://jornadaagroecologia.blogspot.com/ Facebook: jornada de agroecologia


Rede APA - Articulação Paulista de Agroecologia, do Estado de São Paulo - Brasil

domingo, 15 de maio de 2011

Aqui Tem

O Código Florestal e as lições da história

09/5/2011 - 10h20
por Edson Beú*

Quando o viajante sobrevoa o Centro Oeste brasileiro e olha para baixo, vê um mosaico de poligonais demarcando plantações de soja ou de outras monoculturas.  Com certo esforço, consegue visualizar minguados filetes de mata ciliar que emolduram margens de rios e córregos, a maioria deles assoreados e poluídos.  Acostumado a percorrer a mesma rota, é provável que a extinção da vegetação nativa não lhe cause grande — talvez, nenhum — impacto.  Por uma razão muito simples: poucos estariam aptos a comparar o cenário visto hoje, por meio de uma janelinha de avião, com aquele de décadas atrás.  O hipotético passageiro deste artigo sofre de um mal comum a todos nós, que o cientista Jared Diamond, Prêmio Pulitzer 1998, conceitua de “amnésia de paisagem” em seu instigante livro Colapso: Como as Sociedades Escolhem o Fracasso ou o Sucesso (Record, 2006).

A “amnésia de paisagem”, segundo o escritor norte-americano, é um dos fenômenos, entre 12 classificados por ele, que ajudam a explicar porque alguns povos não conseguiram evitar o colapso de suas civilizações, provocado por desequilíbrios ambientais, apesar dos sinais cada vez mais evidentes nesse sentido.  A expressão criada pelo biofísico e biogeógrafo significa “esquecer-se de quão diferente era a paisagem há 50 anos devido às mudanças graduais ano a ano”.  Àqueles que defendem a redução das áreas de preservação permanente que protegem a bacia fluvial do país, previstas no Código Florestal, um alerta: o fator desencadeante dos colapsos estudados pelo autor foi a extinção da vegetação nativa.

O conceito da “amnésia de paisagem” permite entender porque ministros são levados a anunciar, em tom comemorativo, a redução do ritmo de desmatamento na Amazônia em relação a algum período imediatamente anterior, mesmo que isto tenha significado a destruição de milhares de quilômetros quadrados de florestas.

O alerta feito pelo pesquisador é globalizado e não poupa o próprio país.  Um dos relatos mais dramáticos de sua obra, porém, refere-se ao colapso ocorrido na Ilha de Páscoa.  Os desequilíbrios causados pela derrubada da mata nativa tornaram-na estéril.  Em meio a sangrenta disputa interna, a escassez de alimentos levou os nativos a comerem ratos e até restos de cadáveres humanos.  As árvores foram sendo ceifadas uma a uma ao longo de anos.  Os ancestrais dos atuais pascoenses não deram a mínima importância ao corte da última palmeira do território, porque a imagem das florestas já havia sido apagada, lenta e gradualmente, através dos séculos, da memória das testemunhas da derradeira machadada.  Ironicamente, as “místicas” e gigantescas estátuas que tanta admiração causam aos turistas do mundo inteiro, os moais, erguidos pelos chefes de clãs, são tão somente vestígios trágicos de uma era de decadência e atrocidades.

Jared Diamond, contudo, não é derrotista, como indica o subtítulo de seu livro.  Impedir a extinção de florestas não é um sonho impossível.  Depende de vontade política, exemplo dado pelos japoneses, assustados com os índices do desmatamento que atingiu um quarto do território já na primeira metade do Século 16.  Sob as ordens dos xoguns, os japoneses reorientaram até seu padrão de consumo, com maior inclusão de frutos do mar, por exemplo, com a finalidade de diminuir a pressão da agricultura sobre a vegetação nativa.  Administradores fizeram minuciosos inventários das florestas, a fim de garantir pleno controle de seu uso.  “A mudança veio de cima, liderada por sucessivos xoguns, que invocaram princípios de Confúcio para promulgar uma ideologia oficial que encorajava limitar o consumo e acumular reservas de modo a proteger o país contra o desastre”, assinala o autor.

Séculos se passaram e os japoneses não se esqueceram da lição.  Desde há algumas décadas, tornaram-se grandes financistas de projetos agrícolas nos países do Terceiro Mundo com vasta extensão territorial.  O objetivo foi o de apenas proteger suas preciosas florestas.  Ou seja, o Japão solucionou parcialmente seus problemas de escassez de recursos naturais provocando escassez de recursos naturais em outros pontos do planeta, estratégia adotada por vários países desenvolvidos.  Enquanto isso, o Brasil tem agido como aluno míope, incapaz de aprender o beabá da cartilha ambiental.

* Publicado originalmente no jornal Correio Braziliense e retirado do site Amazônia.org.br.

Fonte: Correio Braziliense
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terça-feira, 10 de maio de 2011

Não ao Novo Código Florestal


Do Código Florestal para o Código da Biodiversidade
por Aziz Nacib Ab Sáber
Em face do gigantismo do território e da situação real em que se encontram os seus macro biomas – Amazônia Brasileira, Brasil Tropical Atlântico, Cerrados do Brasil Central, Planalto das Araucárias, e Pradarias Mistas do Brasil Subtropical – e de seus numerosos mini-biomas, faixas de transição e relictos de ecossistemas, qualquer tentativa de mudança no “Código Florestal” tem que ser conduzido por pessoas competentes e bioeticamente sensíveis. Pressionar por uma liberação ampla dos processos de desmatamento significa desconhecer a progressividade de cenários bióticos, a diferentes espaços de tempo futuro, favorecendo de modo simplório e ignorante os desejos patrimoniais de classes sociais que só pensam em seus interesses pessoais, no contexto de um país dotado de grandes desigualdades sociais. Cidadãos de classe social privilegiada, que nada entendem de previsão de impactos, não têm qualquer ética com a natureza, nem buscam encontrar modelos tecnico-cientificos adequados para a recuperação de áreas degradadas, seja na Amazônia, seja no Brasil Tropical Atlântico, ou alhures. Pessoas para as quais exigir a adoção de atividades agrárias “ecologicamente auto-sustentadas” é uma mania de cientistas irrealistas.

Por muitas razões, se houvesse um movimento para aprimorar o atual Código Florestal, teria que envolver o sentido mais amplo de um Código de Biodiversidades, levando em conta o complexo mosaico vegetacional de nosso território. Remetemos esta ideia para Brasília, e recebemos em resposta que esta era uma ideia boa mas complexa e inoportuna (…). Entrementes, agora outras personalidades trabalham por mudanças estapafúrdias e arrasadoras no chamado Código Florestal, razão pela qual ousamos criticar aqueles que insistem em argumentos genéricos e perigosos para o futuro do país, sendo necessário, mais do que nunca, evitar que gente de outras terras sobretudo de países hegemônicos venha a dizer que fica comprovado que o Brasil não tem competência para dirigir a Amazônia (…). Ou seja, os revisores do atual Código Florestal não teriam competência para dirigir o seu todo territorial do Brasil. Que tristeza, gente minha!

O primeiro grande erro dos que no momento lideram a revisão do Código Florestal brasileiro – a favor de classes sociais privilegiadas – diz respeito à chamada estadualização dos fatos ecológicos de seu território especifico. Sem lembrar que as delicadíssimas questões referentes à progressividade do desmatamento exigem ações conjuntas dos órgãos federais específicos, em conjunto com órgãos estaduais similares, uma Polícia Federal rural, e o Exército Brasileiro. Tudo conectado ainda com autoridades municipais, que têm muito a aprender com um Código novo que envolve todos os macro-biomas do país, e os mini-biomas que os pontilham, com especial atenção para as faixas litorâneas, faixas de contato entre as áreas nucleares de cada domínio morfoclimático e fitogeográfico do território. Para pessoas inteligentes, capazes de prever impactos, a diferentes tempos do futuro, fica claro que ao invés da “estadualização”, é absolutamente necessário focar para o zoneamento físico e ecológico de todos os domínios de natureza do país. A saber, as duas principais faixas de florestas tropicais brasileiras (a zona amazônica e a zona das matas atlânticas), o domínio dos cerrados, cerrados e campestre, a complexa região semiárida dos sertões nordestinos, os planaltos de araucárias e as pradarias mistas do Rio Grande do Sul, além do nosso litoral e do Pantanal Mato-grossense.

Seria preciso lembrar ao honrado relator Aldo Rabelo – a meu ver bastante neófito em matéria de questões ecológicas, espaciais e em futurologia – que atualmente na Amazônia brasileira predomina um verdadeiro exército paralelo de fazendeiros que em sua área de atuação tem mais força do que governadores e prefeitos. O que se viu em Marabá, com a passagem das tropas de fazendeiros, passando pela Avenida da Transamazônica, deveria ser conhecido pelos congressistas de Brasília, e diferentes membros do executivo. De cada uma das fazendas regionais passava um grupo de cinquenta a sessenta camaradas, tendo a frente em cavalos nobres, o dono da fazenda e sua esposa, e os filhos em cavalos lindos. E os grupos iam passando separados entre si, por alguns minutos. E, alguém a pé, como se fosse um comandante, controlava a passagem da cavalgada dos fazendeiros. Ninguém da boa e importante cidade de Marabá saiu para observar a coluna amedrontadora dos fazendeiros. Somente dois bicicletistas meninos, deixaram as bicicletas na beira da calçada olhando silentes a passagem das tropas. Nenhum jornal do Pará, ou alhures, noticiou a ocorrência amedrontadora. Alguns de nós não pudemos atravessar a ponte para participar de um evento cultural.

Será certamente, apoiados por fatos como esse, que alguns proprietários de terras amazônicas deram sua mensagem, nos termos de que “a propriedade é minha e eu faço com ela o que eu quiser, como quiser e quando quiser”. Mas ninguém esclarece como conquistaram seus imensos espaços inicialmente florestados, sendo que, alguns outros, vivendo em diferentes áreas do cetro-sul brasileiro, quando perguntados sobre como enriqueceram tanto, esclarecem que foi com os “seus negócios na Amazônia” (…). Ou seja, por meio de loteamentos ilegais, venda de glebas para incautos em locais de difícil acesso, os quais ao fim de um certo tempo são libertados para madeireiros contumazes. E o fato mais infeliz é que ninguém procura novos conhecimentos para reutilizar terras degradadas ou exigir dos governantes tecnologias adequadas para revitalizar os solos que perderam nutrientes e argilas, tornando-se dominadas por areias finas (siltização).

Entre os muitos aspectos caóticos, derivados de alguns argumentos dos revisores do Código, destaca-se a frase que diz que se deve proteger a vegetação até sete metros e meio do rio. Uma redução de um fato que por si já estava muito errado, porém agora esta reduzido genericamente a quase nada em relação aos grandes rios do país. Imagine-se que para o rio Amazonas, a exigência protetora fosse apenas sete metros, enquanto para a grande maioria dos ribeirões e córregos também fosse aplicada a mesma exigência. Trata-se de desconhecimento entristecedor sobre a ordem de grandeza das redes hidrográficas do território intertropical brasileiro. Na linguagem amazônica tradicional, o próprio povo já reconheceu fatos referentes à tipologia dos rios regionais. Para eles, ali existem, em ordem crescente: igarapés, riozinhos, rios e parás. Uma última divisão lógica e pragmática, que é aceita por todos os que conhecem a realidade da rede fluvial amazônica.

Por desconhecer tais fatos os relatores da revisão aplicam o espaço de sete metros da beira de todos os cursos d’água fluviais sem mesmo ter ido lá para conhecer o fantástico mosaico de rios do território regional. Mas o pior é que as novas exigências do Código Florestal proposto têm um caráter de liberação excessiva e abusiva. Fala-se em sete metros e meio das florestas beiradeiras (ripario-biomas), e, depois em preservação da vegetação de eventuais e distantes cimeiras. Não podendo imaginar quanto espaço fica liberado para qualquer tipo de ocupação do espaço. Lamentável em termos de planejamento regional, de espaços rurais e silvestres. Lamentável em termos de generalizações forçadas por grupos de interesse (ruralistas).

Já se poderia prever que um dia os interessados em terras amazônicas iriam pressionar de novo pela modificação do percentual a ser preservado em cada uma das propriedades de terras na Amazônia. O argumento simplista merece uma crítica decisiva e radical. Para eles, se em regiões do centro-sul brasileiro a taxa de proteção interna da vegetação florestal é de 20%, porque na Amazônia a lei exige 80%? Mas ninguém tem a coragem de analisar o que aconteceu nos espaços ecológicos de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Minas Gerais com o percentual de 20%. Nos planaltos interiores de São Paulo a somatória dos desmatamentos atingiu cenários de generalizada destruição. Nessas importantes áreas, dominadas por florestas e redutos de cerrados e campestres, somente o tombamento integrado da Serra do Mar, envolvendo as matas atlânticas, os solos e as aguadas da notável escarpa, foi capaz de resguardar os ecossistemas orográficos da acidentada região. O restante, nos “mares de morros”, colinas e várzeas do Médio Paraíba e do Planalto Paulistano, e pró-parte da Serra da Mantiqueira, sofreram uma detruição deplorável. É o que alguém no Brasil – falando de gente inteligente e bioética – não quer que se repita na Amazônia brasileira, em um espaço de 4.200.000 km².

Os relatores do Código Florestal falam em que as áreas muito desmatadas e degradadas poderiam ficar sujeitas a “(re)florestamento” por espécies homogêneas, pensando em eucalipto e pinus. Uma prova de sua grande ignorância, pois não sabem a menor diferença entre reflorestamento e florestamento. Esse último, pretendido por eles, é um fato exclusivamente de interesse econômico empresarial, que infelizmente não pretende preservar biodiversidades, sendo que eles procuram desconhecer que para áreas muito degradadas foi feito um plano de (re) organização dos espaços remanescentes, sob o enfoque de revigorar a economia de pequenos e médios proprietários: Projeto FLORAM. Os eucaliptologos perdem éticos quando alugam espaços por trinta anos, de incautos proprietários, preferindo áreas dotadas ainda de solos tropicais férteis, do tipo dos oxissolos, e evitando as áreas degradadas de morros pelados reduzidas a trilhas de pisoteio, hipsométricas, semelhantes ao protótipo existente no Planalto do Alto Paraíba, em São Paulo.

Ao arrendar terras de bisonhos proprietários, para uso em 30 anos, e sabendo que os donos da terra podem morrer quando se completar o prazo. Fato que cria um grande problema judicial para os herdeiros, sendo que ao fim de uma negociação as empresas cortam todas as árvores de eucaliptos ou pinos, deixando miríades de troncos no chão do espaço terrestre. Um cenário que impede a posterior reutilização das terras para atividades agrárias. Tudo isso deveria ser conhecido por aqueles que defendem ferozmente um Código Florestal liberalizante.

Por todas as razões somos obrigados a criticar a persistente e repetitiva argumentação do deputado Aldo Rebelo, que conhecemos há muito tempo, e de quem sempre esperávamos o melhor, no momento somos obrigados a lembrar a ele que cada um de nós tem que pensar na sua biografia, e, sendo político, tem que honrar a história de seus partidos. Mormente em relação aos partidos que se dizem de esquerda e jamais poderiam fazer projetos totalmente dirigidos para os interesses pessoais de latifundiários.

Insistimos que em qualquer revisão do Código Florestal vigente deve-se enfocar as diretrizes através das grandes regiões naturais do Brasil, sobretudo domínios de natureza muito diferentes entre si, tais como a Amazônia e suas extensíssimas florestas tropicais, e o Nordeste Seco, com seus diferentes tipos de caatingas. Trata-se de duas regiões opósitas em relação à fisionomia e à ecologia, assim como em face das suas condições socioambientais. Ao tomar partido pelos grandes domínios, administrados técnica e cientificamente por órgãos do executivo federal, teríamos que conectar instituições específicas do governo brasileiro com instituições estaduais similares. Existem regiões como a Amazônia que envolve conexões com nove estados do Norte brasileiro. Em relação ao Brasil tropical atlântico os órgãos do Governo Federal – IBAMA, IPHAN, FUNAI e INCRA – teriam que manter conexões com os diversos setores similares dos governos estaduais de Norte a Sul do Brasil, e assim por diante.

Enquanto o mundo inteiro repugna para a diminuição radical de emissão de CO2, o projeto de reforma proposto na Câmara Federal de revisão do Código Florestal defende um processo que significará uma onda de desmatamento e emissões incontroláveis de gás carbônico, fato observado por muitos críticos em diversos trabalhos e entrevistas.

Parece ser muito difícil para pessoas não iniciadas em cenários cartográficos perceber os efeitos de um desmatamento na Amazônia de até 80% das propriedades rurais silvestres. Em qualquer espaço do território amazônico, que vem sendo estabelecidas glebas nas quais se poderia realizar um desmate de até 80%, haverá um mosaico caótico de áreas desmatadas e faixas inter-propriedades estreitas e mal preservadas. Lembrando ainda que, nas propostas de revisão, propriedades de até 400 hectares teriam o direito de um desmate total em suas terras, vejo-me na obrigação de que a médio e longo prazo existiria um infernal caleidoscópio no espaço total de qualquer área da Amazônia. Nesse caso, as bordas dos restos de florestas, inter-glebas, ficarão à mercê de corte de árvores dotadas de madeiras nobres. E, além disso, a biodiversidade animal certamente será a primeira a ser afetada de modo radical.

Uma cartografia simbólica dos desmates, em propriedades de diferentes tamanhos, permite uma previsão visual do que seria a dinâmica do cenário do desmatamento regional, antevisto a médio prazo. Baseados em fatos reais já acontecidos no vale do Tocantins (Pará) e nos planaltos interiores de São Paulo e Minas Gerais. No caso da Amazônia (o que mais nos preocupa),  machadeiros e motoserristas – acompanhados de queimadas sincopadas – o roteiro dos desmatamentos seguiu por rodovias, ramais e sub-ramais, atingindo radicalmente as “espinhelas de peixe” dos loteamentos feitos em quarteirões especulativos no interior das matas biodiversas. Lotes de cinquenta a cem hectares, considerados pequenos na Amazônia, foram vendidos a incautos moradores de regiões distantes. Neste último caso, os numerosos aquisidores, que nem mesmo puderam chegar ao sítio das terras compradas à distância, cederam o espaço para madeireiras espertas e persistentes. Fato que pode ser visto e analisado em imagens de satélite na região norte do Mato Grosso, no médio Tocantins, na Bragantina, Acre sul – oriental, Rondônia, Oeste-noroeste do Maranhão, e diversos outros setores das terras amazônicas.

Insistimos em prever que se houver um Código que limite a área de proteção das florestas a apenas 20% do espaço total de cada propriedade, seja qual for o seu tamanho, de 400 a um milhão de hectares – o arrasamento a médio prazo será inimaginavelmente grande e progressivo.

Uma das justificativas mais frequentes para os que são favoráveis para a ampliação de áreas desmatáveis, – em cada propriedade de terra firme na Amazônia – é de que, assim, haverá mais emprego para trabalhadores amazonidas. Pouca gente lembra, entretanto, que em numerosas fazendas e fazendinhas da Amazônia brasileira predomina o trabalho semi-escravo. Desde o início da ampliação das chamadas fronteiras ditas agrícolas, predominaram o trabalho braçal periódico ou temporário, para machadeiros, criadores de gado, madeireiros e plantadores de eucaliptos. Sendo que, nas raras áreas de solos melhores, estabeleceu-se o vai-e-vem tradicional de empregos no preparo da terra e plantio, em períodos limitados.  E, mais tarde, diversas atividades na época da colheita. Caminhoneiros fizeram penetrações esdrúxulas para atingir locais de madeiras nobres ou transportar troncos de árvores para serrarias ou para o transporte de produtos das raras commodities. Agora, em espaços da soja, da cana, e muito eventualmente do arroz. Sendo que somente os capatazes mandonistas ganham razoavelmente.

Quem procura um emprego qualquer, em uma fazenda, ainda que temporário, sofre um drama trágico e muito cansativo. Para chegar à fazenda escolhida, marcham a pé com sua matulinha mirrada de roupas singelas, caminhando por quilômetros nas estreitas trilhas das florestas, até atingir as propriedades onde conseguirão um emprego braçal – seja o preparo do solo para plantações, seja a ampliação dos capinzais para o gado, seja no corte de árvores para ampliação dos espaços ditos produtivos, seja no trabalho rápido e esgotante nas épocas de colheitas. Quando despedidos são obrigados a voltar para áreas de beira de estradas onde existem rústicas aldeias ou “ruas” pseudo-comerciais.

Temos acompanhado, desde 1972, os problemas criados por capatazes autoritários em propriedades amazônicas, pertencentes a pessoas ou grupos de pessoas alienígenas. Conflitos dos mais diferentes tipos acontecem entre pobres trabalhadores silvos-rurais e os donos de propriedades dos mais diferentes tipos. Há uma resistência permanente em face à remuneração dos que vem de fora em face dos minguados preços pagos aos que nasceram na própria Amazônia. Reciprocamente, o comportamento dos proprietários em relação aos poucos tratos de terras férteis pertencentes a reservas indígenas é catastrófico e quase insolúvel. Um dia encontrei em um aeroporto um proprietário de uma fazenda, que ia viajar para a Amazônia no noroeste da Roraima, onde possuía suas terras. Perguntei-lhe qual era a relação entre seus camaradas e os índios Yanomamis da região, e a resposta infeliz veio rápida e antiética: “Para eles, é o meu capataz que responde, erguendo seu perigoso facão”.
Numa ocasião, ao término de uma visita a uma fazenda dedicada à pecuária, nos pediram que em nossa volta levássemos para uma farmácia um camarada doente, que estava passando muito mal. Na realidade, era alguém que contraiu uma malária radical, designada por “tersã maligna”. Não dá para falar sobre o triste estado do pobre trabalhador, sentado no banco detrás do meu carro. Na farmácia, tomamos conhecimento que em casos similares a única providencia era um coquetel de remédios agressivos, por meio dos quais o pobre doente “melhorava ou morria”.

Na rodovia entre Rio Branco e Brasiléia (Acre), pudemos sentir o ódio que alguns jovens tinham para o que chamavam de “paulistas”, os quais teriam comprado terras durante os trabalhos de construção da estrada. O desmate interfluvial fez com que as cabeceiras de igarapés secassem; e que muitas propriedades da terra firme desmatada, ficassem sem qualquer atividade produtiva. Explicação dos acreanos: inadimplência dos proprietários alienígenas  “porque nunca eles quiseram fazer uma parceria conosco,  que temos muito mais experiência sobre atividades agrárias em nossa região”.  Note-se que o termo “paulista” dizia respeito a qualquer pessoa procedente do centro sul do Brasil. Tal como nessa imensa área, todos os migrantes são designados por “baianos”, independentemente de onde tenham vindo.

Aqui chegados em nossas considerações, torna-se indispensável referir-se a atividades de pequenos produtores familiares, dotados de terras mais férteis, de dimensões limitadas, tais como várzeas de ricos solos fluvio-aluviais ao longo do rio Amazonas, ou de pequenas áreas de terra firme dotadas de oxisolos oriundos da decomposição de basaltos ou diabásios [infelizmente, porém, essas últimas áreas são bastante raras, envolvendo em seu espaço total menos de oito mil quilômetros quadrados]. Ou em um modelo localizado de plantações em praias de estiagem do rio Acre. Ou, onde vicejam linearmente melancias, melões e algumas plantas alimentares. Ou em bordas de florestas restantes em terrenos de projetos falidos, onde se estabeleceu o importante e famoso projeto RECA. Houve um tempo em que muito se falou em reservas extrativistas, a partir do Acre de Chico Mendes, ampliado para todo o território amazônico. Evidentemente, houve muito exagero nessa campanha, tão simpática quanto inviável. Mas aconteceu felizmente uma proposta bem mais complexa e diversificada, que pode ter grande aplicação a curto e médio prazo; a qual introduzia atividades mais lógicas e produtivas, sem de tudo eliminar o sentido complementar do extrativismo. Trata-se de um modelo pioneiro, inventado por um ex-padre francês, de origem rural, que após conhecer o Paraná foi para o Acre com a ideia de trabalhar na reutilização de áreas degradadas. Após conversar com o inteligente Bispo Don Grec, em Rio Branco, resolveu fazer uma experiência extremamente válida e quase científica porque se utilizou do chamado “efeito de borda” para iniciar plantações com espécies amazônicas, tais como açaí, cupuaçu e pupunha. Seu projeto foi feito em cooperação com amazonidas residentes na fronteira da Rondônia com o Acre, tendo foco inicial na pequena cidade de Nova Califórnia.

Nenhum governo soube perceber o quanto o projeto ali instalado e desenvolvido, poderia ser útil para numerosas outras áreas de borda de matas remanescentes. Sem falar que no seio da floresta continuava o projeto extrativista tão caro aos companheiros do extraordinário acreano Chico Mendes. Além do que, o chamado “reflorestamento econômico concentrado e adensado” (RECA), teve um caráter didático para os cooperados que se integraram no trabalho, produzindo espécies amazônicas e produtos comestíveis importantes para sua alimentação (como açaí, abacaxis, castanhas e, sobretudo, mandioca). Na borda das florestas, devido à forte luminosidade e hidratação caída das folhas e galhos poderão ser produzidas muito mais coisas ainda, a favor dos amazonidas, tais como bananeiras e mamoeiros, e diversas outras plantas frutíferas. Muita coisa ainda resta ser analisada, no famoso projeto, que infelizmente foi muito pouco compreendido por técnicos e governantes.

Nas mudanças que se pretendem fazer para o atual Código Florestal existem alguns tópicos extremamente criticáveis. Ao se discutir o tamanho de propriedades familiares se definiu as mesmas até quatrocentos hectares. Fato que significa que todas as pequenas e médias propriedades produtoras, ou parcialmente aproveitadas, até 400 hectares poderão ser totalmente desmatadas. O fato de considerar o espaço de propriedades familiares até o nível de 400 hectares é um absurdo total. Trata-se de uma excessiva flexibilização que poderá produzir um mosaico detruidor de florestas ao longo de rodovias, estradas, riozinhos e igarapés. Um cenário trágico para o futuro, em processo no interior da Amazônia brasileira. No entanto, propriedade de 100 a 400 hectares, que conservassem um razoável percentual de matas no seu entorno, poderiam receber esquemas parecidos com o projeto RECA, na borda dos remanescentes florestais. Fato que não foi considerado nem de passagem pelos idealizadores e relatores de um novo Código Florestal. Razão pela qual deixamos aqui além de uma crítica, que julgamos absolutamente necessária, uma proposição de acréscimos de atividades para pequenas e médias propriedade familiares. Lembrando que quem faz críticas tem que elaborar propostas bem planejadas para resolver as situações consideradas negativas.

Anotamos ainda que a ideia de reduzir para 15 metros faixas de proteção de florestas beiradeiras (mini-biomas ripários) tem um caráter extremamente genérico e de duvidosa aplicabilidade.  A nosso ver não é possível limitar, generalizadamente, as áreas beiradeiras, em termos de alguns metros de largura. Pelo contrário, é necessário considerar os fatos relacionados a igarapés, riozinhos, rios, e “parás” (grandes rios), utilizando a tipologia popular amazonida. A impressão que se tem é de que, determinando uma largura geral para proteção, estaríamos possibilitando desmates no nível de todos os espaços situados entre a beira de cursos d’água até muito além onde se situam os interflúvios de colinas ou encostas de pequenas serranias amazônicas. Existe toda uma aula a ser dada sobre essa problemática que tende a criar cenários extremamente caóticos em relação ao futuro a diferentes profundidades de tempo.

Um comentário quase final: não se faz qualquer projeto de interesse nacional pensando apenas em favorecer de imediato só uma geração do presente, em termos de especulação com espaços ecológicos, mesmo porque somos de opinião que devemos pensar no sucesso de todos os grupos humanos, ao longo de muito tempo. Uma questão de bioética com o futuro. Sem pensar na grande capacidade que o conjunto das imensas florestas equatoriais zonais preservadas da Amazônia tem em relação ao clima do planeta Terra; assunto que preocupa todos os pesquisadores sensíveis do mundo. Gente que espera que o Brasil faça uma proteção integrada da maior área de vegetação florestal que ainda resta em regiões equatoriais e sub-equatorias do mundo. Será muito triste, cultural e politicamente falando, que pessoas de diversas partes do mundo ao lerem as mudanças absurdas pretendidas para o Código Florestal, venham a dizer que fica comprovado que “o Brasil não tem capacidade para administrar e gerenciar a Amazônia”. Ainda que em outros países haja um interesse permanente em adquirir por preços irrisórios as madeiras do território amazônico. Tristes frases que sempre vem sendo ditas ao sabor de trágicos acontecimentos ocorridos em nossa principal área de vegetação florestal, que se estende por alguns milhões de quilômetros quadrados.

A utopia de um desenvolvimento com o máximo de florestas em pé não pode ser eliminada por princípio em função de mudanças radicais do Código Florestal, sendo necessário pensar no território total de nosso país, sob um ampliado e correto Código de Biodiversidade. Ou seja, um pensamento que envolva as nossas grandes florestas (Amazônia e Matas Tropicais Atlânticas), o domínio das caatingas e agrestes sertanejos, planaltos centrais com cerrados, cerradões e campestres; os planaltos de araucárias sul-brasileiros, as pradarias mistas do Rio Grande do Sul, e os redutos e mini-biomas da costa brasileira e do Pantanal mato-grossense, e faixas de transição e contrato (core-áreas) de todos os domínios morfoclimáticos e fitogeográficos brasileiros).

Seria necessário que os pretensos reformuladores do Código Florestal lançassem sobre o papel os limites de glebas de quinhentos a milhares de hectares, e dentro de cada parcela das glebas colocasse indicações de 20% correspondente às florestas ditas preservadas. E, observando o resultado desse mapeamento simulado, poderiam perceber que o caminho da devastação lenta e progressiva iria criar alguns quadros de devastação similares ao que já aconteceu nos confins das longas estradas e seus ramais, em espaços de quarteirões implantados para venda de lotes de cinquenta a cem hectares, onde o arrasamento de florestas no interior de cada quarteirão foi total e inconseqüente, decorridos poucos anos.
São Paulo, 21 de julho de 2010

quinta-feira, 5 de maio de 2011

TREMOÇO

    
     Originário da Península Balcânica, o Tremoço (Lupinus albus L.) é muito cultivado em lugares onde o solo é arenoso e ácido, assim, encontra-se a  planta na região mediterrânea, centro e sudeste da Europa, Rússia, norte da África, África do Sul, Austrália e América do Sul.

     O Tremoço é uma alternativa para uma rápida cobertura do solo, após 49 dias de seu plantio, 53% da área plantada é coberta e a 79 dias de seu plantio, 85% da área possui proteção vegetal (comunicado técnico Embrapa). Sendo uma Leguminosa, portanto uma fabácea, o tremoceiro fixa o nitrogênio atmosférico ao solo pelas suas raízes, fazendo com que solos arenosos, um “areião” danado, regenerem ou iniciem o seu importante horizonte A, a matéria orgânica, dando vida à ciclagem de seus macronutrientes.

     Sua semente, amarelinha, é muito consumida em Portugal e no Brasil como petisco ou aperitivo (acepipe) dando uns goles numa cerveja “bem ghelaaada” como diz os cuiabanos. Diz-se da origem de seu consumo que surgiu no Egito. O consumo in natura não é aconselhado, pois a semente possui suas defesas e contém aminoácidos neurotóxicos. Dizem que é excelente para diminuir o diabetes.

     Acompanhei o desenvolvimento de sua cultura numa seara plantada no município de Itaberá/SP (Assentamento Pirutuba II, Agrovila 5, espaço da Regional do MST) pela nossa equipe de técnicos (Diego, André, Eder, Robinson...) e planejada por alunos do Instituto Técnico de Ensino e Pesquisa Laudenor de Souza. O plantio foi a lanço e realizado por uma distribuidora de calcário cujo consórcio da oleaginosa (nabo forrageiro), gramínea (aveia branca) e leguminosa (tremoço) foi enriquecedor ao solo e aos nossos olhos.

      Aqui a gente conta a história e mostra as fotos. Lembrando que as fotos podem ser compiladas e levadas a utilização para o bem da humanidade e dos solos arenosos, a todos os rincões deste mundão.
Oliver Blanco
as sementes

mistura
plantio
o tratorista Robinson

após a distribuição

começo da germinação
plântula Tremoço germinando
a plântula

Plântulas: de tremoço, nabo forrageiro e de aveia














planta com orvalho

de manhã

tremoço

mantendo o solo com boa umidade

proteção do solo


bem próximo

Diego dando uma conferida

boa massa verde
vagens
André e Eder

altura

solo totalmente coberto

boa cobertura vegetal

raíz fixadora de nitrogênio

algumas falhas

varetas do tremoço

planta adulta


tremoço sobreçaindo

a cultura

raíz com nódulos róseos indicando a atividade fixadora

detalhe dos pecíolos

flor

a aveia e o nabo forrageiro completam a cobertura do solo mais a baixo das folhas do tremoço, logo, também participam da ciclagem de nutrientes





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