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"Harmonizo meus pensamentos para criar com a visão". "Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e não mais lutando por dinheiro e poder, então nossa sociedade poderá enfim evoluir a um novo nível".

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Maria José Camargo Aragão

 30 de outubro

Por Sebastião Pinheiro

Na plateia todos se autodenominavam, esperançosos do “cem”, na verdade eram fugitivos dos “entas”, pois já haviam superados os oitenta e ansiavam escapar, embora não fossem mais que uma dúzia, alquebrados pela vida.

Lisarb, tentou empostar a voz para solenizar a presença deles, mas tinha um nó na garganta e os olhos marejados…. Spooky não perdia um detalhe, até mesmo na respiração auscultando os graus de enfisemas, pois ali todos tiveram tratamento vip na ditadura. Em respeito estava com seu charuto não acesso, e apenas mordido. Ao pescoço tinha a echarpe “Krama theleah”, pouco conhecido, e seu olhar vazio.

Lisarb deu com a lâmina da faca suavemente no copo: senhores, senhoras, por favor, vossas atenções! Antes das sobremesas que serão servidas à escolha e conforme as indicações recolhidas desejamos mais uma vez fazer uma saudação, para o que pedimos a autorização todos. Todos sorriram e assentiram. Spooky não perdia um detalhe.

Lisarb desembargou a voz com a mirada cortante de Spooky: disse com firmeza, Maria José Camargo Aragão de Pindaré Mirim, seu nome representa todos os camponeses do Pará e Maranhão dos dois estados brasileiros com o maior número de vítimas assassinadas na luta pela terra. Em silencio todos levantaram e se deram as mãos, com os olhos elevados como procurando seu meigo sorriso.

Sofremos um agravo, um “bate pau” do Vale da Ribeira ofendeu de forma cretina todo o povo maranhense e a senhora, uma mulher negra em 1950 foi ao Rio de Janeiro e voltou ao Pindaré-Mirim igual que foi, embora médica pediatra e ginecologista. É nosso orgulho máximo. Todos gritaram, Maria José presente, presente, presente.

Extremamente comovido, mas contido perguntou: senhoras, senhores desejam fazer alguma alocução.

 Todos sentaram e uma jovem negra surgiu e um rapaz também negro com um violão simples pediram licença: gostaríamos de musicar o poema de Bandeira Tribuzzi, que estudou em Coimbra e, também voltou a terra, seu poema é próprio para o momento.

Um cão ladrou

na noite obscura

tremores frios

de inanição

A mulher magra

esperou cansada

que a carne exausta

fosse chamariz

Poucos sexos jovens

se investigaram

muitos não conseguiram

fugir à frustração

Alguns descansaram

outros se diluíram

o caixote de lixo

esperou, esperou

Depois rompeu

a madrugada.

Eles então começaram a degustar suas sobremesas servidas que esperou o final dos versos.

Spooky então falou pausado com o Krama esticada nas mãos. Ninguém é ingênuo em ignorar que todos os trejeitos do “bate pau do vale da ribeira” seguem um rito meticuloso para ofender e agredir a consciência nacional, livre, soberana e constitucional. O ato de vestir a “camisa de torcedor boliviano” aqui da nossa terra, já prenunciava a agressão.

A Dra. Maria José sempre dizia que a pior doença é a mental, pois por respeito devemos dissimular no diagnóstico em comiseração aos parentes e responsáveis.

Lá no Vale da Ribeira foram usadas armas químicas francesas, muitos acreditavam que eram bombas incendiárias, mas na verdade eram bombas químicas. Essas armas são proibidas internacionalmente em conflitos bélicos por ser arma de extermínio em massa.

O mais grave é que as vítimas dessas armas desenvolvem doenças que jamais tem cura, eles apenas recebem alta.

Na primeira Guerra Mundial, um cabo alemão foi vítima de uma nuvem de gás químico inglês que o fez passar durante oito meses em tratamento, mas jamais conseguiu voltar à saúde, pois passou toda a sua vida sob o efeito de psicotrópicos e fez o que fez. Este cabo da Wehrmacht todos conhecem, foi Adolf Hitler.

O silêncio foi profundo. Um velhinho, também negro, apoiado por uma bengala, pois tinha uma prótese. Levantou-se e com voz forte pediu: os meninos podem servir o guaraná Jesus para lavar essa mácula e impedir sua nódoa. Todos ali sabiam que ele fora salvo das mãos e masmorras dos assassinos pela intercessão do Papa Paulo VI e o vale do Pindaré é o berço de heróis da terra.

O guaraná Jesus trouxe a alegria e o menino do violão e a que leu o poema começaram a cantar uma embolada típica das quebradeiras de coco babaçu.

 ***

- https://www.joaofilho.com/maria-aragao-a-eterna-heroina-do-maranhao/ 

- https://saladadefa-o-tos.blogspot.com/2017/07/maria-aragao-no-livro-dos-herois-da.html

- http://www.palmares.gov.br/?p=34305 

 


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