"As transnacionais roubaram sangue dos indígenas karitianas, suruís, kampas, kulinas e oferecem o DNA deles por 50 dólares a dose. Fascínio, desconfiança ou embasbacados?
Se esta é tua ética, não vais entender nunca o batismo ético a que se refere a índia Menchú e que cidadania, vida, consumos e lucro, não são sinônimos."
Ladrões de Natureza, pg 325 - Fundação Juquira C.
Rigoberta Menchú Tum: Lenda viva na defesa dos povos indígenas
por Iêda Vilas Boas
Mais uma data definida ao acaso, por convenção, e criou-se o dia 19
de abril, Dia do Índio. Poderia ser o mês todo dedicado aos povos
indígenas e à preservação de seus direitos e suas ricas culturas.
Deveria ser o ano inteiro dedicado aos valorosos guerreiros e guerreiras
que honram suas nações, quer sejam empunhando arcos e flecha, nas
tribunas de oratória, ou no enfrentamento direto e mortal na defesa de
suas terras e direitos.
Os indígenas se desdobram vigilantes, defendem, valorizam e perpetuam
a memória de seus parentes, tribos, costumes e tradições. É preciso que
o Brasil resgate sua dívida com seus povos originários, primevos e
verdadeiros donos do lugar. E já! Basta de massacres, de suicídios, vida
sem perspectiva. É hora de reconhecer, valorizar, dar visibilidade e
oferecer políticas públicas efetivas para os verdadeiros guardiães dessa
nossa Pachamama.
Nesse artigo, destacamos a figura representativa de uma valente
mulher indígena, que ainda luta e atua nos dias de hoje: Rigoberta
Menchú Tum. Através dela, prestamos homenagem a todos os povos indígenas
do mundo.
Rigoberta nasceu em Uspantán – Guatemala, em 09 de janeiro de 1959. É
uma líder guatemalteca indígena, membro do grupo Quiche Maya, filha de
Vicente Menchú Tum Kotoja Perez e Juana, duas lideranças que foram muito
respeitadas em sua comunidade.
Do pai camponês herdou os impulsos ativistas na defesa das terras e
direitos de seu povo. Da mãe, que era parteira indígena, recebeu os
ensinamentos e tradições passadas de geração em geração sobre as
beberagens milagrosas, a sabedoria para ensinar aos moços e a
sensibilidade para solucionar conflitos.
Ao longo de sua vida, Rigoberta firmou-se como uma defensora dos
direitos humanos. Foi proclamada Embaixadora da Boa Vontade da UNESCO.
Venceu o Prêmio Nobel das Astúrias de Cooperação Internacional (1998) e o
Prêmio Nobel da Paz (1992). Sua liderança nos movimentos e lutas
sociais é reconhecida em âmbito nacional e internacional.
Desde sua tenra juventude, Rigoberta tomou consciência de que através
da política representativa as necessidades dos povos indígenas teriam
visibilidade. Nessa linha, Rigoberta, em 2007, concorreu às eleições
presidenciais na Guatemala. Ficou em quinto lugar, com 3,09% dos votos.
A derrota não esmoreceu a grande líder, que continuou formando uma
grande caminhada política rumo à democracia, denominada Frente Ampla da
Guatemala, que deu a vitória, nas eleições presidenciais seguintes, a um
candidato indígena.
Rigoberta Menchú sentiu na própria pele o sofrimento de ser mulher e
índia. Conheceu a injustiça, a discriminação e a exploração a que são
submetidos seus irmãos índios da Guatemala, seus parentes, que vivem em
estado de pobreza extrema.
Com apenas cinco anos de idade, ela passou a trabalhar em uma fazenda
de café em condições precárias e desumanas, onde pereceram muitos de
seus irmãos e amigos. Seu país era controlado pela repressão imposta
pelos grandes proprietários de terras e pelo exército da Guatemala.
O gênio dócil, entretanto, rebelde e inquisidor, fez com que se
envolvesse nas lutas dos povos indígenas e camponeses, e enfrentasse com
coragem e determinação a perseguição política e o exílio.
Rigoberta foi membro fundador da CUC (Comitê de Unidade Camponesa) e
do RUOG (Representação Unitária da Oposição Guatemala), entidades que
traziam em seu bojo o desejo de libertação do jugo. A violência eclodira
e tomara seu país. Seu povo sofria vitimado pelos algozes. O resultado
desse período foi a Guerra Civil entre 1962 e 1996.
Menchú, em linha de frente, presenciava as maiores atrocidades da
Ditadura. Vilas inteiras arrasadas, comunidades indígenas destroçadas,
milhares de agricultores, principalmente indígenas, dizimados, centenas
de sindicalistas e estudantes sumidos e mortos, jornalistas
desaparecidos na tentativa de realizar seu trabalho de divulgar o terror
pelo qual a Guatemala era submetida.
Vários membros da sua família, incluindo sua mãe, foram torturados e
mortos pelos militares ou pela polícia paralela de “esquadrões da
morte”. Seu pai, em 31 de janeiro de 1980, fez parte das 37 pessoas que
foram queimadas vivas. Diante desse quadro de horror, alguns de seus
irmãos juntaram-se aos guerrilheiros.
Rigoberta Menchú escolheu o caminho da paz e começou uma campanha
pacífica de denúncia do regime da Guatemala e da violação sistemática
dos direitos humanos a que eram submetidos seu povo e camponeses
indígenas. Ela própria era o luto encarnado.
Nos piores momentos, essa mulher que simbolizava o sofrimento de seu
povo manteve o olhar sereno e firme, a dignidade natural com que se
molda um líder e a notável inteligência e facilidade de comunicação que
lhe são peculiares. Assim, Rigoberta deu maior visibilidade aos graves
problemas de seu país e redimensionou a denúncia sobre a situação das
mulheres indígenas na América Latina.
Essa espetacular mulher exilou-se no México para manter sua vida que
era objetivo principal para o sucesso da repressão. Ali, publicou sua
autobiografia, em 1983. Depois, percorreu o mundo no seu papel social de
Arauta da Paz na Guatemala, levando sua denúncia e sua mensagem contra
as injustiças. Sua voz alcançou as Nações Unidas e ecoou pelo mundo.
Protegida por seu prestígio internacional, em 1988 retorna ao seu país.
No ano de 1992, Rigoberta Menchú Tum recebeu o título de Prêmio Nobel
da Paz. Neste mesmo ano celebrava-se oficialmente o quinto centenário
da descoberta da América. Sua posição de liderança lhe permitiu atuar
como mediadora no processo de paz entre o Governo e os guerrilheiros da
Guatemala.
Fonte: Xapuri Socioambiental
Quando as montanhas tremem
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