31 janeiro 2019
por Sebastião Pinheiro
Prometo não vou
mais abordar nada sobre alteamento acima de 81 metros à montante ou barragem de
“fango” de sulfetos em zona onde chove mais de 1.400 mm anuais. Isto é assunto
de físico-química coloidal que não permite neófitos, nem cultivadores de
virtudes.
Tentar entender a
repetição de “Mariana” é difícil. Sou da raça do Nelson Rodrigues, para mim
toda unanimidade é coisa burra, e ninguém me faz de idiota. O primeiro
relatório acertou até mesmo no número de mortos e isso não é “causalidade”,
menos ainda casualidade, ambas totalmente antagônicas. Dizem que a inteligência
israelense, depois dos jogos olímpicos de Munique em 1972 diante de toda e
qualquer unanimidades é obrigada a recorrer a um grupo especial para não
admitir o óbvio e repetir a “casualidade”.
Hoje é difícil se
dizer: “Sou Cão sarnoso, sou Cínico, sou Estóico & Vivo em Autarquia. É
mais fácil aceitar o que dizia em 1977 a norte-americana Kathleen Lee Lyra:
“Brasileiro é muito bonzinho”. Sim, o “Museu Nhôtim” estava em um promontório
olímpico e o refeitório para a ralé ignara à jusante da geleia de lama.
A Vale foi
privatizada* por 3 bilhões de dólares por um congresso de cidadãos eleitos…
Neste patrimônio adquirido haviam recursos para serem explorados ao longo de 99
anos; mas haviam passivos que custaram um percentagem daquele montante.
Contudo, o valor negativo desses passivos crescem tão vertiginosamente quanto o
valor das ações da empresa. Hoje eles valem o mesmo percentagem do momento da
privatização, mas seu valor é parte de 400 bilhões de dólares.
Na primeira
barragem “desastrada” foram solucionados 12 milhões de metros cúbicos sem
custos fora da “expectativa causalizada”. Minha gente, a turma israelense a ser
chamada devia ser aquela contra a unanimidade burra...
Na nova barragem a
casualidade foi mais inusitada, pelo número de mortos, pois desnudou a
ambiguidade social da política anterior e a política eleitoreira servil atual
com sua arrogância e cretinismo repetida para todos ouvirem das favelas à
Davos.
Zenão, violeiro grego |
Hoje temos 25
milhões de metros cúbicos já socializados a um custo mínimo, que precisa se
mostrado exaustivamente durante uma semana com helicópteros transportando
corpos assassinados (agradeçam tranquilos foram doados 25 mil dólares a cada
parente de vítima, pelos brasileiros muito bonzinhos), pois a reforma
trabalhista garante apenas 50 salários. Que isso significa onde não há Estado
ou governo para todos, mas os mais iguais já recuperaram 8% dos 24% perdido.
Depois da primeira solução a empresa cresceu mais de 200 bilhões de dólares,
pois resolveu um passivo gigantesco com poucos recursos.
Agora está sendo
demonstrado o mesmo caminho da ditadura econômica, que alguns idiotas querem
disfarçar como ideológica, igual nas fotos do passado recente.
Sim, sou um cão
sarnoso, sou um cínico, sou estoico, vivo em autarquia, não dependo do Sol ou
do saber de ninguém.
*Em 1998 estávamos no auge das privatizações no Brasil, com o
risco iminente de que a Petrobrás, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica
Federal também tivessem este destino. Eu era o coordenador editorial da
Editora Fundação Perseu Abramo – ligada ao PT – e nas conversas no
conselho editorial e no conselho curador da Fundação havia a convicção
de que era importante produzir um livro sobre as privatizações, para
denunciar o que estava acontecendo e, ao mesmo tempo, servir como uma
fonte de informações para o debate sobre o tema, pois não havia uma
sistematização dessas informações para o grande público.
(...) O livro era impactante. São menos de cem laudas de texto, mas é
um material riquíssimo em informações e em análises que mostravam o
alcance e a gravidade do que estava acontecendo no país, com a entrega
de mão beijada de um patrimônio construído pela sociedade brasileira
durante décadas. O grande mérito do livro – além da liguagem clara e
direta – talvez tenha sido o fato de ter sintetizado e reunido as
informações que nos permitiram ter uma visão geral do desmonte a que o
Estado brasileiro estava sendo submetido, nas comunicações, no setor
bancário, no petróleo, na mineração etc.
(...) E de fato o livro teve um papel político importante, pois serviu
de instrumento de denúncia e de mobilização contra as privatizações.
Tornou-se uma espécie de cartilha da luta contra as privatizações do
governo FHC. Até hoje é usado para estudar esse processo. "
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