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"Harmonizo meus pensamentos para criar com a visão". "Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e não mais lutando por dinheiro e poder, então nossa sociedade poderá enfim evoluir a um novo nível".

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

UMA COLHEITA DE INFORMAÇÃO ALARMANTE

Um pouco da leitura do livro, Genes alterados, verdade adulterada - do incrível 


 Capitulo X do livro - Os risco inevitáveis da modificação de sistema de informação complexos
Segurem que é rocha.. 
Boa leitura!
fonte
 

A incineração de Séralini


Como no caso de Pusztai, além de punir os pesquisadores, os defensores da biotecnologia a vezes têm agredido brutalmente o estudo em si. E quanto mais importantes as descobertas, mais intensos foram os ataques. Por conseguinte, um dos estudos mais importantes e alarmantes foi submetido a um abuso especial. Como a pesquisa de Malatesta, foi um estudo de longo prazo com um cultivo transgênico tolerante ao herbicida glifosato, mas neste caso o produto era o milho NK603 da Monsanto que, como a soja que ela analisou, estava desenhado para sobreviver à aplicação do herbicida Roundup® da companhia. Foi realizado por um grupo de pesquisadores dirigido por Gilles-Eric Séralini, um professor da Universidade de Caen, na França, e foi publicado depois de ser revisado por especialistas pares no ano 2012.138

A pesquisa surgiu de um estudo anterior que a equipe havia levado a cabo com o mesmo milho transgênico NK603. Voltaram a analisar os dados brutos que a Monsanto havia gerado durante uma prova curta de alimentação de 90 dias para convencer as autoridades reguladoras de que o produto era seguro. Mas a autoridade Europeia de Segurança Alimentar (EFSA) não necessitava de muito convencimento. Ainda que se detectaram diferenças entre os ratos que haviam consumido o milho transgênico e os que haviam consumido o milho não transgênico, os pesquisadores da Monsanto dispensaram sua importância, e afirmaram que não eram «biologicamente significativas».139 E a EFSA aceitou esta avaliação rapidamente.140

Entretanto, quando Séralini e seus colegas conseguiram os dados do estudo da Monsanto (o que requeria de uma ação legal e uma ordem judicial) encontraram sintomas de toxicidade no fígado e nos rins dos ratos alimentados com a dieta transgênica, e publicaram suas descobertas numa revista padrão em 2009.141

Então realizaram seu novo estudo, alimentando a ratas com milho transgênico durante dois anos em vez de durante só três meses, para determinar se esses fatos eram verdadeiramente despreciáveis a longo prazo. Assim mesmo, não somente foi seu estudo mais longo do que havia sido o da Monsanto, senão que foi o mais exaustivo. Também esteve melhor desenhado, porque podia distinguir entre os efeitos do herbicida Roundup que se aplicaria ao cultivo e os efeitos do próprio milho: foi o primeiro estudo em ter em conta este tipo de diferença.

Os resultados foram muito prejudiciais para a imagem dos cultivos transgênicos resistentes ao herbicida Roundup, porque demonstravam danos graves nas ratas que os consumiam. Revelaram que o Roundup e o milho transgênico, cada um de maneira independente, causava lesões graves no fígado e rins, a aparição anormal de grandes tumores e um aumento de mortalidade. Tais problemas não se tinha visto no estudo da Monsanto porque levou mais de 90 dias para se desenvolver. Por exemplo, os primeiros tumores não se formaram nos camundongos macho até que o estudo havia chegado ao quarto mês, um mês mais tarde que o de Monsanto; os primeiros tumores nas fêmeas não apareceram até o sétimo mês, e muitos dos tumores não foram evidentes até que passaram dezoito meses.

Os rins e os fígados no eram os únicos órgãos prejudicados. Se detectaram também danos estatisticamente significativos na glândula pituitária e nos tecidos mamários; e todos os efeitos negativos foram observados nas três categorias básicas de ratos de laboratório: nas que consumiam milho transgênico pulverizado com o herbicida Roundup, naquelas que consumiam milho transgênico sem pulverizar e nos que consumiam milho não transgênico mas recebiam pequenas quantidades de Roundup na água de beber (uma quantidade similar à quantidade que podia haver sido ingerida numa dose de milho pulverizado).

Dado que os reguladores muitas vezes não requereram nenhum estudo toxicológico de alimentação, e nunca requereriam alguma prova que seja mais longa que 90 dias e como o estudo de Séralini mostrava que um produto de bioengenharia que havia ganho aprovação mundial com base numa prova de 90 dias podia, não obstante, induzir graves e amplos danos quando era consumido durante longo prazo, ameaçou desacreditar todo o conjunto do sistema de regulação e prejudicar toda a empresa de alimentos GM. Por isso os defensores dos transgênicos rapidamente se propuseram desacreditar na pesquisa de Séralini.

Como de costume, seu ataque foi enérgico, venenoso, enganoso e eficaz. 

Seu argumento chave era que o estudo havia sido desenhado defeituosamente; mas esta queixa se baseava na noção de que seu objetivo era detectar câncer, apesar de que claramente não havia sido seu propósito. Por conseguinte sua crítica estava fora de contexto. Em realidade, o estudo não tinha por objeto seguir de perto sinais de câncer senão detectar toxicidade a longo prazo; e os dois tipos de provas tinham protocolos de desenho diferente. Assim mesmo, o estudo que realizou Séralini não só satisfazia todos os critérios para tal estudo de toxicidade, os superava em alguns aspectos. Portanto todas suas medições de efeitos tóxicos foram obtidas de maneira confiável, e inclusive sem ter em conta os tumores e estas foram mais que suficientes para emitir uma dúvida razoável sobre a segurança do produto (o milho NK603).

Além do que, é legítimo tomar também em conta os tumores. Ainda que os críticos se queixam de que os estudos de câncer requerem empregar mais ratos por grupo que as que utilizou Séralini, essa pauta serve para fazer os estudos mais sensíveis à incidência anormal de tumores. Em linguagem técnica, é uma medida precatória para evitar falsos negativos, não para prevenir falsos positivos. Em outras palavras, o propósito de usar mais ratos é diminuir a probabilidade de que exista uma taxa de incidência incomum de tumores e não se detecte, não para se proteger de julgar como significativas as diferenças na aparição de tumores que em realidade não o são.142 Por conseguinte, como vários especialistas enfatizaram, dado que o estudo de Séralini era menos sensível que a prova padrão de detecção de tumores e ainda assim detectou numerosos tumores, seus resultados são inclusive mais graves que se houvesse sido utilizado um número maior de ratos.143

Portanto, os críticos estão alegando desde que o estudo utilizou menos ratos das normalmente necessárias para detectar tumores, os tumores que detectou realmente não contam, e que isto de alguma maneira anula as múltiplas descobertas de toxicidade que foram obtidos através de procedimentos padrões de provas de toxicidade. Obviamente, este argumento não é só falso senão ridículo, e também os outros argumentos que expuseram.

Por exemplo, o estudo foi atacado por usar uma linhagem de ratos especialmente propensas a tumores, o que presuntivamente provocaria ditos crescimentos ainda na ausência de milho transgênico e do Roundup.® Mas os pesquisadores usaram a mesma linha que havia utilizado a Monsanto em seu estudos de 90 dias no milho e em seus estudos de ratos com glifosato. E esta é a linhagem padrão utilizada em estudos de longo prazo sobre toxicidade e também em estudos sobre câncer. Assim que se utiliza da cepa (tensão?) invalida o estudo de Séralini, também invalida os estudos da Monsanto e todos os outros estudos onde foi empregada — estudos que incluíram outros alimentos GM.

Além disso, o ridículo do argumento é ainda maior se consideramos que os ratos que consumiram o milho transgênico (e o Roundup somente) desenvolveram tumores mais rápido e com uma incidência mais alta que os ratos controle, o que demonstra que há algo ademais da linha que exerceu um efeito de indução de tumores.144

Mas, ainda que suas críticas foram sumamente injustificadas, uma grande quantidade de defensores da engenharia genética manteve obstinadamente o esforço por desacreditar no estudo. Especialmente humilhante para eles era o fato de que houvesse sido publicado numa revista especializada, Toxicologia Química e Alimentar (Food and Chemical Toxicology, FCT), que o dotava com uma credibilidade que eles não podiam permitir. De maneira que exerceram uma pressão enorme sobre a revista; e mais de um ano depois de que se publicara o estudo, os editores sucumbiram finalmente e deram o extraordinário passo de se retratar; um passo que bem poderia haver sido facilitado pela nomeação de um ex-cientista da Monsanto no conselho editorial da revista.

E assim como o exame realizado por especialistas da Sociedade Real de pesquisa de Pusztai não tinha precedentes, tampouco o tinha a retratação do estudo de Séralini por uma revista revisada por pares. De acordo ao Comitê de Ética em Publicações (COPE, por sua sigla em inglês) a única razão válida para se retratar de um artigo são descobertas pouco fidedignas (devido a faltas ou erros reais), plágio, publicações redundantes ou pesquisa sem ética.145 Mas, em sua primeira declaração sobre a retratação, o editor em chefe da FTC, A. Walace Hayes, não cita nenhuma destas razões e em seu lugar lança a culpa a resultados «não conclusivos» no que respeita às taxas de incidência de tumores e mortalidade. Alegou que o caráter pouco conclusivo se devia ao uso de poucos ratos e também à linha particular de rato que se empregou; afirmações que, como vimos, careciam de fundamento.

Entretanto, depois de receber várias cartas criticando que não houvesse respeitado as diretrizes do COPE, e tardiamente dando-se conta de que não se pode retratar uma publicação por suas descobertas «inconclusas», ampliou abruptamente seu argumento. Dado que as diretrizes sim permitiam retratar se há «clara evidência de que as descobertas são pouco fidedignas» devido a faltas ou «erro honesto» fez um audaz e incomodo intento de converter a presuntiva falta de dados conclusivos num caso de falta de confiabilidade baseada no erro. Afirmava que dado que os dados «não são conclusivos […] a afirmação (é dizer, conclusão) de que o milho Roundup Ready NK603 e/ou o herbicida Roundup tem vínculo com o câncer não é confiável». E depois ele atribuiu esta reclamação «não confiável» a um «erro honesto».146

Mas este intento de reabilitar a retratação foi uma má jogada porque se baseava numa grande equivocação. E ainda que o Dr. Hayes atribuísse o suposta falta de Séralini a um «erro honesto», é difícil fazer o mesmo respeito ao seu. Em nenhuma parte do artigo de Séralini se afirma que o milho transgênico ou o Roundup estejam vinculados ao câncer. De fato, a palavra «câncer» nem sequer aparece.147 Entretanto apesar desta realidade, o Dr. Hayes não estava contente com a falsa acusação de que Séralini e seus coautores haviam declarado um vínculo entre NK603 e o câncer. Continuou aumentando a falsidade e declarou que o documento continha «a afirmação de que há um vínculo definitivo entre os OGM e o câncer» e portanto lhes atribuiu haver estendido irresponsavelmente suas afirmações a todos os cultivos transgênicos.

Mas a única irresponsabilidade que havia era a sua. Não somente a equipe de Séralini se havia comportado responsavelmente, já que haveriam sido irresponsáveis se não houvessem mencionado os tumores. Segundo os protocolos padrões, os pesquisadores que realizam provas de toxicidade crônica devem informar da presença de tumores, ainda que seus estudos não estão desenhados para detectá-los.148 E isso foi tudo o que fez a equipe de Séralini. Eles relataram diligentemente os dados dos tumores sem fazer nenhuma afirmação sobre seu vínculo com o câncer. E ao tratar de qualificar este comportamento consciente como delinquência, o Dr. Hayes tergiversou consideravelmente a verdade.

Inclusive se houvesse tido uma base legítima para rechaçar o que mencionassem os tumores, isto não haveria proporcionado motivos válidos para a retratação do artigo inteiro. As diretrizes do COPE afirmam que «se só uma mínima parte do artigo informa dados errôneos», a «melhor» forma de atuar é retificá-los através de uma correção. E enfatizam que: «A retratação deveria se reservar normalmente para publicações que são tão gravemente errôneas […] que suas descobertas ou conclusões não se deveriam utilizar». Mas as descobertas de Séralini de respeito aos efeitos tóxicos múltiplos que estavam vinculados tanto ao milho transgênico como ao Roundup eram não somente sólidos, eram a parte central de seu estudo; e sua discussão sobre os tumores não estava conectada com eles. Assim que inclusive se a discussão houvesse sido inapropriada ou pouco fidedigna, seguiria sem haver debilitado essas descobertas de modo algum. De fato, Hayes reconheceu que a quantidade de ratos era a adequada para apoiar essas descobertas,149 e também reconheceu que os dados em sim eram acertados.150 De maneira que a retratação viola as normas básicas e ofende a lógica.

Também diferia notoriamente do curso da ciência. Numerosos cientistas protestaram por esta retratação, enfatizando que uma investigação não conclusiva pode ser depois de tudo importante e não pode ser descartada unicamente sobre essa base. Reflexionando sobre esta opinião, David Schubert escreveu:


Os editores afirmam que a razão (da retratação) foi que «não pode se alcançar conclusões definitivas». Como cientista, posso assegurar lhe que se isto fosse uma razão válida para retratar uma publicação, uma grande parte da literatura científica não existiria.151


Não obstante, ainda que não tinham nem fatos nem lógica nem a ciência de seu lado, as forças que promovem a empresa dos alimentos transgênicos foram novamente capazes de desacreditar um estudo bem desenhado que vinculava solidamente um cultivo transgênico com efeitos adversos para a saúde, apesar do fato de que este havia sido revisado por especialistas e publicado numa revista respeitável. Assim mesmo, alguns aspectos seu ataque ao trabalho de Séralini foi mais exitoso que o que montaram contra Pusztai. Neste último caso não puderam prevenir que a pesquisa se publicara, e ainda que a má informação que difundiram enganou a muita gente a acreditar que se foi publicado contra a decisão dos especialistas que o revisaram — e a outros muitos a acreditar que nem sequer se havia chegado a publicar — Entretanto, se sustenta como um estudo revisado por especialistas numa revista importante. Mas no caso de Séralini, pressionaram à revista para que se retratara do estudo, o que lhe tirava a distinção de uma publicação e formalmente o assinalava como pouco confiável.

Ainda que ambos estudos tinham amplas implicações, foi devido à desinformação que essas implicações foram essencialmente ignoradas. A pesquisa de Pusztai indicava que os danos que detectou poderiam haver sido causados por uma ou mais características gerais do processo de bioengenharia,152 enquanto que a pesquisa de Séralini indicava que o herbicida Roundup® aspergido intensivamente em muitas variedades de cultivos transgênicos confere um nível preocupante de risco e também uma variedade de milho transgênica para tolerar o Roundup (ainda quando não tenha sido pulverizada).

Por conseguinte, o processo de engenharia genética joga dúvidas razoáveis sobre a maioria dos cultivos transgênicos no mercado, enquanto que a pesquisa de Séralini mostra que o próprio Roundup (que é pulverizado na maioria das plantas transgênicas que consumimos) e ao menos uma variedade de milho resistente ao próprio Roundup por si mesmo sim causa dano quando se lhe dá de comer a ratos; portanto põe em dúvida também a segurança inerente de todos os cultivos resistentes ao Roundup.153 Entretanto, não só houve pouco reconhecimento destas realidades: como a impressão dominante foi que o estudo de Séralini se enfocava somente no câncer, poucas pessoas sequer sabem que encontrou efeitos tóxicos severos nos rins, fígados e glândulas pituitárias e que o chefe editorial da revista não havia rebatido estas descobertas.

Esta falta de informação se deve às constantes queixas dos críticos sobre os dados referentes aos tumores e a uma total indiferença para as outras descobertas. Como um mago que confunde a atenção da gente de maneira que não veja o que seria óbvio, os inimigos do estudo concentraram suas críticas nas descobertas relacionados com tumores e criaram o engano de que não havia nenhum outro. E o engano foi tão forte que foi adotado por jornalistas experimentados. Por exemplo, em seu relatório sobre a retratação, um jornalista do New York Times que havia coberto regularmente temas de biotecnologia examinou somente as descobertas controvertidas sobre tumores e não fez menção a outras descobertas, apesar de que estavam solidamente estabelecidos e muito além de disputas razoáveis.154


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