Um pouco da leitura do livro, Genes alterados, verdade adulterada - do incrível
Capitulo X do livro - Os risco inevitáveis da modificação de sistema de informação complexos
Segurem que é rocha..
Boa leitura!
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A incineração de Séralini
Como no caso de Pusztai, além de punir os
pesquisadores, os defensores da biotecnologia a vezes têm agredido brutalmente o estudo em si. E quanto mais importantes
as descobertas, mais intensos foram os ataques. Por conseguinte, um dos estudos
mais importantes e alarmantes foi submetido a um abuso especial. Como a
pesquisa de Malatesta, foi um estudo de longo prazo com um cultivo transgênico
tolerante ao herbicida glifosato, mas neste caso o produto era o milho NK603 da Monsanto que, como a soja
que ela analisou,
estava desenhado para sobreviver à aplicação do herbicida Roundup®
da companhia. Foi realizado por um grupo de pesquisadores dirigido por
Gilles-Eric Séralini, um professor da Universidade de Caen, na França, e foi publicado depois de ser revisado por especialistas
pares no ano 2012.138
A
pesquisa surgiu de um estudo anterior que a equipe havia levado a cabo com o
mesmo milho transgênico NK603. Voltaram a analisar os dados brutos que a Monsanto havia gerado
durante uma prova curta
de alimentação de 90 dias para convencer as autoridades reguladoras de que o produto era
seguro. Mas a autoridade Europeia de Segurança Alimentar (EFSA) não necessitava de
muito convencimento. Ainda que se detectaram diferenças entre os ratos que haviam consumido o milho
transgênico e os que haviam consumido o milho não transgênico, os pesquisadores
da Monsanto dispensaram sua importância,
e afirmaram que não eram «biologicamente significativas».139 E a EFSA
aceitou esta avaliação rapidamente.140
Entretanto,
quando Séralini e seus colegas conseguiram os dados do estudo da Monsanto (o que requeria de uma ação legal e
uma ordem judicial) encontraram sintomas de toxicidade no fígado e nos rins dos
ratos alimentados com a dieta transgênica, e publicaram suas descobertas numa
revista padrão em 2009.141
Então realizaram seu novo estudo,
alimentando a ratas com milho transgênico durante dois anos em vez de durante
só três meses, para determinar se esses fatos eram verdadeiramente despreciáveis a longo
prazo. Assim mesmo, não somente
foi seu estudo mais longo do que havia sido o da Monsanto, senão que foi o mais exaustivo. Também esteve melhor
desenhado, porque podia distinguir entre os efeitos do herbicida Roundup que se
aplicaria ao cultivo e os efeitos do próprio milho: foi o primeiro estudo em
ter em conta este tipo de diferença.
Os resultados foram muito prejudiciais para a
imagem dos cultivos transgênicos resistentes ao herbicida Roundup, porque
demonstravam danos graves nas ratas que os consumiam. Revelaram que o Roundup e
o milho transgênico, cada um de maneira independente, causava lesões graves no
fígado e rins, a aparição anormal de grandes tumores e um aumento de
mortalidade. Tais problemas não
se tinha visto no
estudo da Monsanto porque levou
mais de 90 dias para se
desenvolver. Por exemplo, os primeiros tumores não se formaram nos camundongos
macho até que o estudo havia chegado
ao quarto mês, um mês mais tarde que o de Monsanto; os primeiros tumores nas
fêmeas não apareceram até o sétimo mês, e muitos dos tumores não foram
evidentes até que passaram dezoito meses.
Os
rins e os fígados no eram os únicos órgãos prejudicados. Se detectaram também
danos estatisticamente significativos na glândula pituitária e nos tecidos
mamários; e todos os efeitos negativos foram observados nas três categorias
básicas de ratos de laboratório: nas que consumiam milho transgênico pulverizado com o herbicida
Roundup, naquelas que consumiam milho transgênico sem pulverizar e nos que consumiam milho não transgênico mas recebiam
pequenas quantidades de Roundup na água de beber (uma quantidade similar à
quantidade que podia haver sido ingerida numa dose de milho pulverizado).
Dado
que os reguladores muitas vezes não requereram nenhum estudo toxicológico de alimentação, e nunca requereriam alguma prova que
seja mais longa que 90 dias e como o estudo de Séralini mostrava que um produto
de bioengenharia que havia ganho aprovação mundial com base numa prova de 90
dias podia, não obstante, induzir graves e amplos danos quando era consumido
durante longo prazo, ameaçou desacreditar todo o conjunto do sistema de
regulação e prejudicar
toda a empresa de alimentos GM. Por isso os defensores dos transgênicos
rapidamente se propuseram desacreditar na pesquisa de Séralini.
Como
de costume, seu ataque foi enérgico, venenoso, enganoso e eficaz.
Seu
argumento chave era que o estudo havia sido desenhado defeituosamente; mas esta
queixa se baseava na
noção de que seu objetivo era detectar câncer, apesar de que claramente não
havia sido seu propósito. Por conseguinte sua crítica estava fora de contexto.
Em realidade, o estudo não tinha por objeto seguir de perto sinais de câncer
senão detectar toxicidade a longo prazo; e os dois tipos de provas tinham
protocolos de desenho diferente. Assim mesmo, o estudo que realizou Séralini
não só satisfazia todos os critérios para tal estudo de toxicidade, os superava em alguns aspectos. Portanto todas suas medições de efeitos tóxicos foram obtidas
de maneira confiável, e
inclusive sem ter em conta os tumores e estas foram mais que suficientes para
emitir uma dúvida razoável
sobre a segurança do produto (o milho NK603).
Além do que, é legítimo tomar
também em conta os tumores. Ainda que os críticos se queixam de que os estudos
de câncer requerem empregar mais ratos por grupo que as que utilizou Séralini,
essa pauta serve para fazer os estudos mais sensíveis à incidência anormal de
tumores. Em linguagem técnica, é uma medida precatória para evitar falsos
negativos, não para prevenir falsos positivos. Em outras palavras, o propósito
de usar mais ratos é diminuir a probabilidade de que exista uma taxa de incidência incomum de
tumores e não se detecte, não para se proteger de julgar como significativas as
diferenças na aparição de tumores que em realidade não o são.142 Por
conseguinte, como vários especialistas
enfatizaram, dado que o estudo de Séralini era menos sensível que a prova padrão de detecção de tumores e ainda assim detectou
numerosos tumores, seus resultados são inclusive mais graves que se houvesse
sido utilizado um número maior de ratos.143
Portanto,
os críticos estão alegando desde
que o estudo utilizou menos ratos das normalmente necessárias para
detectar tumores, os tumores que detectou realmente não contam, e que isto de
alguma maneira anula as múltiplas descobertas de toxicidade que foram obtidos
através de procedimentos padrões
de provas de toxicidade. Obviamente, este argumento não é só falso senão
ridículo, e também os outros argumentos que expuseram.
Por
exemplo, o estudo foi atacado por usar uma linhagem de ratos especialmente
propensas a tumores, o que presuntivamente provocaria ditos crescimentos ainda
na ausência de milho transgênico e do Roundup.® Mas os pesquisadores
usaram a mesma linha que havia utilizado a Monsanto em seu estudos de 90 dias no milho e em
seus estudos de ratos com glifosato. E esta é a linhagem padrão utilizada em estudos
de longo prazo sobre toxicidade e também em estudos sobre câncer. Assim que se utiliza da cepa (tensão?) invalida o estudo
de Séralini, também invalida os estudos da Monsanto e todos os outros estudos
onde foi empregada — estudos que incluíram outros alimentos GM.
Além disso, o ridículo do argumento é ainda maior se consideramos que
os ratos que consumiram o milho transgênico (e o Roundup somente) desenvolveram
tumores mais rápido e com uma incidência mais alta que os ratos controle, o que
demonstra que há algo ademais da linha que exerceu um efeito de indução de
tumores.144
Mas,
ainda que suas críticas foram sumamente injustificadas, uma grande quantidade
de defensores da engenharia genética manteve obstinadamente o esforço por desacreditar no estudo. Especialmente
humilhante para eles era o fato
de que houvesse sido publicado numa revista especializada, Toxicologia Química e Alimentar
(Food and Chemical Toxicology, FCT), que o dotava com uma credibilidade que eles
não podiam permitir. De maneira que exerceram uma pressão enorme sobre a
revista; e mais de um ano depois de que se publicara o estudo, os editores
sucumbiram finalmente e deram o extraordinário passo de se retratar; um passo
que bem poderia haver sido facilitado pela nomeação de um ex-cientista da
Monsanto no conselho editorial da revista.
E
assim como o exame realizado por especialistas da Sociedade Real de pesquisa de Pusztai não tinha
precedentes, tampouco o tinha a retratação do estudo de Séralini por uma
revista revisada por pares. De acordo ao Comitê de Ética em Publicações (COPE,
por sua sigla em inglês) a única razão válida para se retratar de um artigo são
descobertas pouco fidedignas (devido a faltas ou erros reais), plágio, publicações
redundantes ou pesquisa sem ética.145 Mas, em sua primeira
declaração sobre a retratação, o editor em chefe da FTC, A.
Walace Hayes, não cita nenhuma destas razões e em seu lugar lança a culpa a
resultados «não conclusivos» no que respeita às taxas de incidência de tumores
e mortalidade. Alegou que o caráter pouco conclusivo se devia ao uso de poucos
ratos e também à
linha particular de rato que se empregou; afirmações que, como vimos, careciam
de fundamento.
Entretanto,
depois de receber várias cartas criticando que não houvesse respeitado as
diretrizes do COPE, e tardiamente dando-se conta de que não se pode retratar
uma publicação por suas descobertas «inconclusas», ampliou abruptamente seu
argumento. Dado que as diretrizes sim permitiam retratar se há «clara evidência de que as descobertas
são pouco fidedignas»
devido a faltas ou «erro honesto» fez um audaz e incomodo intento de converter
a presuntiva falta de dados conclusivos num caso de falta de confiabilidade baseada no
erro. Afirmava que dado que os dados «não são conclusivos […] a afirmação (é
dizer, conclusão) de que o milho Roundup Ready NK603 e/ou o herbicida Roundup
tem vínculo com o câncer não é confiável».
E depois ele atribuiu esta reclamação «não confiável» a um «erro honesto».146
Mas
este intento de reabilitar a retratação foi uma má jogada porque se baseava
numa grande equivocação. E ainda que o Dr. Hayes atribuísse o suposta falta de
Séralini a um «erro honesto», é difícil fazer o mesmo respeito ao seu. Em
nenhuma parte do artigo de Séralini se afirma que o milho transgênico ou o
Roundup estejam vinculados ao câncer. De fato, a palavra «câncer» nem sequer aparece.147
Entretanto apesar desta realidade, o Dr. Hayes não estava contente com a falsa acusação de
que Séralini e seus coautores haviam declarado um vínculo entre NK603 e o
câncer. Continuou aumentando a falsidade e declarou que o documento continha «a
afirmação de que há um vínculo definitivo entre os OGM e o câncer» e portanto
lhes atribuiu haver estendido irresponsavelmente suas afirmações a todos os
cultivos transgênicos.
Mas a
única irresponsabilidade que havia era a sua. Não somente a equipe de Séralini
se havia comportado responsavelmente, já que haveriam sido irresponsáveis se
não houvessem mencionado os tumores. Segundo os protocolos padrões, os pesquisadores que
realizam provas de toxicidade crônica devem informar da presença de tumores,
ainda que seus estudos não estão desenhados para detectá-los.148 E
isso foi tudo o que fez
a equipe de Séralini. Eles relataram diligentemente os dados dos tumores sem
fazer nenhuma afirmação sobre seu vínculo com o câncer. E ao tratar de
qualificar este comportamento consciente como delinquência, o Dr. Hayes
tergiversou consideravelmente a verdade.
Inclusive
se houvesse tido uma base legítima
para rechaçar o que mencionassem os tumores, isto não haveria proporcionado
motivos válidos para a retratação do artigo inteiro. As diretrizes do COPE
afirmam que «se só uma mínima parte do artigo informa dados errôneos», a
«melhor» forma de atuar é retificá-los através de uma correção. E enfatizam
que: «A retratação deveria se reservar normalmente para publicações que são tão
gravemente errôneas […] que suas descobertas ou conclusões não se deveriam
utilizar». Mas as descobertas de Séralini de respeito aos efeitos tóxicos múltiplos que
estavam vinculados tanto ao milho transgênico como ao Roundup eram não somente
sólidos, eram a parte central de seu estudo; e sua discussão sobre os tumores
não estava conectada com eles. Assim que inclusive se a discussão houvesse sido
inapropriada ou pouco fidedigna, seguiria sem haver debilitado essas
descobertas de modo algum. De fato, Hayes reconheceu que a quantidade de ratos era a adequada
para apoiar essas descobertas,149 e também reconheceu que os dados
em sim eram acertados.150 De maneira que a retratação viola as
normas básicas e ofende a lógica.
Também
diferia notoriamente do curso da ciência. Numerosos cientistas protestaram por
esta retratação, enfatizando que uma investigação não conclusiva pode ser
depois de tudo
importante e não pode ser descartada unicamente sobre essa base. Reflexionando
sobre esta opinião, David Schubert escreveu:
Os editores afirmam que a razão (da
retratação) foi que «não
pode se alcançar conclusões definitivas». Como cientista, posso assegurar lhe que se isto fosse uma razão
válida para retratar uma publicação, uma grande parte da literatura científica
não existiria.151
Não obstante, ainda que não tinham nem fatos nem lógica nem a
ciência de seu lado, as forças que promovem a empresa dos alimentos
transgênicos foram novamente capazes de desacreditar um estudo bem desenhado
que vinculava solidamente um cultivo transgênico com efeitos adversos para a
saúde, apesar do fato
de que este havia sido revisado por especialistas e publicado numa revista respeitável. Assim mesmo,
alguns aspectos seu ataque ao trabalho de Séralini foi mais exitoso que o que
montaram contra Pusztai. Neste último caso não puderam prevenir que a pesquisa
se publicara, e ainda que a má informação que difundiram enganou a muita gente
a acreditar que se foi publicado
contra a decisão dos especialistas
que o revisaram — e a outros muitos a acreditar que nem sequer se havia chegado
a publicar — Entretanto, se sustenta como um estudo revisado por especialistas
numa revista importante. Mas no caso de Séralini, pressionaram à revista para
que se retratara do estudo, o que lhe tirava a distinção de uma publicação e
formalmente o assinalava como pouco confiável.
Ainda que ambos estudos tinham amplas implicações, foi
devido à desinformação que essas implicações foram essencialmente ignoradas. A
pesquisa de Pusztai indicava que os danos que detectou poderiam haver sido
causados por uma ou mais características gerais do processo de bioengenharia,152
enquanto que a pesquisa de Séralini indicava que o herbicida Roundup® aspergido
intensivamente em muitas variedades de cultivos transgênicos confere um nível
preocupante de risco e também uma variedade de milho transgênica para tolerar o
Roundup (ainda quando não tenha sido pulverizada).
Por conseguinte, o processo de engenharia genética joga dúvidas razoáveis sobre
a maioria dos cultivos transgênicos no mercado, enquanto que a pesquisa de
Séralini mostra que o próprio Roundup (que é pulverizado na maioria das plantas transgênicas que
consumimos) e ao menos uma variedade de milho resistente ao próprio Roundup por
si mesmo sim causa dano quando se lhe
dá de comer a ratos; portanto põe em dúvida também a segurança inerente de
todos os cultivos resistentes ao Roundup.153 Entretanto, não só
houve pouco reconhecimento destas realidades: como a impressão dominante foi
que o estudo de Séralini se enfocava somente no câncer, poucas pessoas sequer
sabem que encontrou efeitos tóxicos severos nos rins, fígados e glândulas
pituitárias e que o chefe editorial da revista não havia rebatido estas
descobertas.
Esta falta de informação se deve às constantes queixas dos críticos sobre os
dados referentes aos tumores e a uma total indiferença para as outras
descobertas. Como um mago que confunde a atenção da gente de maneira que não
veja o que seria óbvio, os inimigos do estudo concentraram suas críticas nas
descobertas relacionados com tumores e criaram o engano de que não havia nenhum
outro. E o engano foi tão forte que foi adotado por jornalistas experimentados.
Por exemplo, em seu relatório sobre a retratação, um jornalista do New York Times que havia coberto
regularmente temas de biotecnologia examinou somente as descobertas controvertidas sobre tumores e não fez
menção a outras descobertas, apesar de que estavam solidamente estabelecidos e
muito além de disputas razoáveis.154
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