Produção de Hortaliças do P.D.S. João Ramalho/SP - Lote da família, Diva e Tião. Foto: Oliver Blanco |
A 10 km da cidade de Quatá, se estabelece mais um projeto de segurança social no paço de João Ramalho - SP - Brasil. Programa de Reforma Agrária brasileira (INCRA - atendimento técnico e social via ITESP..), Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) Boa Esperança, criado em dezembro de 2006 com capacidade, já assentada, de 29 famílias.
Este ano fiz algumas visitas em particular enquanto residia na cidade de Quatá; na medida do possível transmitir e receber generosidades. Conhecer e sempre olhar como se fosse a primeira vez. Muito apresso pelas amizades, e estou devendo outras visitas e também mais AGIR. 'Militar é agir'.
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Um total de 11 famílias se organizam na Cooperativa COOAABE. Pude participar de alguns dos encontros promovido em parceria dos assentados/as e Incop - Incubadora de Cooperativas Populares da Unesp de Assis e pelos jovens estudantes da AGAPE - Grupo de Agroecologia e Permacultura de Assis.
Toda quarta-feira, no campus da Unesp-Assis, no período da tarde (17h em diante) consumidores recepcionam um total de 40 a 50 cesta de alimentos frescos vindas do Assentamento. Alunos, professores e outros cidadãos, integram a "Rede Trem Bão" e contribuem com a economia das famílias produtoras.
Amostras de solo secando em local sombreado e arejado. |
ANÁLISES
Um cromatograma é uma imagem holográfica e pontual (momento da percepção real) em que se tirou as amostras. Assim como citado por Pierre LÉVY, "a teoria do conhecimento de Al-Farabi e de Avicena é inseparável de sua cosmologia: o mundo procede de um processo de percepção ou de contemplação e, simetricamente, todas as hierarquias celestes estão implicadas no menor ato de conhecimento". Pois é que tudo flui na natureza e as transformações é um continum no tempo e espaço. Nos dizia Spinosa, "os profetas inspirados pelo intelecto comum 'veem' ou 'entendem' diretamente a verdade, como uma percepção que sempre implica ao mesmo tempo o raciocínio", antigamente, no tempo de Aristóteles, para os filósofos era imprescindível a "capacidade excepcionais de perceber imagens mentais (e isso é exclusivo dos profetas)". Hoje temos celulares e muito falta de raciocínio. Observar e anotar todos os detalhes e com auxílio de uma câmera fazer o registro fotográfico é importante para a interpretação de um cromatograma.
Na cromatografia, metade (50%) da sua interpretação se encontra nas observações de campo (topografia, solo, histórico, o modus operandis de antropomorfização da área, e a fitossociologia - do passado e do presente, e outros coeficientes técnicos..), como também, da vivência do técnico comunicador em conciliar o entendimento das relações ecológicas locais e sociais, no momento do diagnóstico co-participativo - de preferência para que um maior número de agricultores e agricultoras possam completar o histórico - a dialogicidade, até porque entendo que a agroecologia constitui-se deste movimento de construção do pensamento coletivo com a possibilidade de compartilhar e construir conhecimentos. Bem, a outra metade na realização do croma é o capricho e as práticas em realizar uma boa fase laboratorial.
Canteiros de alface 5 dias pós plantio |
Na produção (foto) podemos considerar extensiva a um modo convencional que encontramos na maioria das propriedades do Estado de São Paulo em que se produz hortaliças do tipo folhosas. A primeira ação é um preparo mecânico de capina, logo em seguida, após aplicar o composto (estercos, cama de aviário) ou até mesmo o destruidor de solo NPK.., novamente, faz-se um preparo mecânico de incorporação do composto e de ação física (eliminar compactação superficial, adensamento e encharcamento - que é prejudicial para a cultura do alface) 'arrumando a cama' para receber as plântulas. A profundidade mexida pela máquina deste tipo de trato mecânico, fica entre 10 a 15 cm, portanto, para canteiros de hortaliças, deve-se fazer, quando possível, duas amostras nas profundidades de 3 cm e 25 cm.
Chego em um momento de colheita do alface (foto). E percebo, que os agricultores são dedicados e minuciosos no plantio. As plântulas estavam na sua linearidade perfeita. Os canteiros tinham uma sequência em dias de desenvolvimento da produção: 5, 12, 22 e aos 30/32/36 dias se colhia o alface. Então, resolvo tirar as amostras simples neste padrão de tempo, em canteiros diferentes em que o alface desenvolvia, adubado com a cama de frango (foto), a uma profundidade de coleta: 10 cm. A família não aplica agrotóxicos e adubos químicos de alta solubilidade!
Pego também uma amostra do composto (cama de frango) utilizado na adubação. Acrescento que os canteiros passam por uma rotação de cultura, sendo alternado por cebolinhas e salsas, período curto, e outros com couve, berinjela, períodos mais longos.
Peço que observem o composto. O encontro com mau cheiro, ainda cru e sendo transformado por processos anaeróbicos. Por não ter uma dinâmica de oxigenação e ainda sendo armazenado desta maneira..: a lona para o agricultor o impede de molhar; porém, há o aprisionamento dos gases provenientes da putrefação com reações de energia altíssimas. Este composto ao ir para os canteiros desta maneira, incorporados, continua a liberar o oxigênio de sua matéria orgânica reduzida e consumida pelas putrefações com formação de metano.
Segundo PINHEIRO, 2015, "As putrefações tem mau cheiro*, principalmente pela formação de aminas tóxicas como cadaverina e putrescina (ptomaínas) que capturam também o Nitrogênio,.. (...) O racionamento cartesiano superficial e linear oferecido nas escolas não permite entender que na evolução dos ciclos os microrganismo patogênicos são incapazes de sintetizar seus próprios aminoácidos, mas podem aproveitar os aminoácidos a partir da matéria orgânica em decomposição. Muitos deles, necrotróficos, desenvolvem toxinas. Estas toxinas atuam à distancia e provocam a necrose progressiva das células, para que estas parasitas possam invadir e colonizar estes tecidos. Estas toxinas determinam até mesmo que a célula hospedeira produza sustâncias como água oxigenada. Sabemos que a água oxigenada no plasma de uma célula em presença do Sol causa queimaduras e destruição de tecidos, que permite a penetração e nutrição dos microrganismos patogênicos incapazes de aproveitar o Ferro bloqueado como Sideróforos pelos saprófitos". Assim conclui-se as doenças fúngicas e bacterianas observadas nas folhas do alface em contato direto com o solo.
1. CROMA AOS 5 DIAS PÓS PLANTIO DO ALFACE
As interpretações deste primeiro croma também cabe aos outros em sequência a baixo. As diferenças entre eles são sutis, em leves alterações na intensidade das cores; apesar de pontos diferentes da coleta da amostra, os canteiros tiveram intervenções agrícolas em tempos diferentes, seguindo um mesmo manejo.
O resultado não é bom. O solo, podemos dizer que está sendo sobre explorado e tratado como um suporte inerte. A família de produtores correm o risco de cair nas garras da indústria e utilizar fertilizantes químicos solúveis, por decadência da fertilidade natural e pressão da entrega das hortaliças.
A zona central quase não aparece, o que revela compactação, falta de oxigênio. A microbiologia não está presente neste solo. Solo com pouca vida.
De acordo com o manejo acima descrito, podemos dizer que este croma de 5 dias após o plantio do alface, possui cores mais suaves e até é possível notar a formação de alguns jovens dentes na zona externa, mostrando que a adubação (cama de frango) anterior foi totalmente mineralizada e o solo sobrevive com resíduos de cultura anterior. A nova adubação que recebe as primeiras águas da irrigação, assim como a recente escarificação (oxigenação) fixa esta característica em particular.
2. CROMA AOS 12 DIAS PÓS PLANTIO
Aos 12 dias, este croma fixa melhor, o que representa a utilização de um composto cru e sua incorporação ao solo, como vem sendo realizado neste manejo de produção de hortaliças. Algo que sufoca o solo (mecanização, irrigação, metabolismo anaeróbio do composto). As zonas se definem melhor e perdem aos poucos a leve harmonia que havia no croma anterior. Zona central está mais fechada, densa; o marrom forte bloqueia o acesso ao mineral, resultado da putrefação. Não há o metabolismo aeróbico - "quando os organismos aeróbicos sucumbem em favor dos anaeróbicos, acumulam-se substâncias tóxicas na atmosfera do solo (metano, amoníaco, fosfina, gás sulfídrico, borano) não há atividade de oxidação de minerais, ação fermentativa ou respiratória, há a quimiossintese pelo que, a cor é escura ou preta".
3. CROMAS AOS 22 DIAS PÓS PLANTIO
Idem ao croma anterior, caminhando...
4. CROMA AOS 36 DIAS, PÓS COLHEITA DO ALFACE
Idem ao croma anterior, caminhando...
5. CROMA DO COMPOSTO - CAMA DE 'FRANGO'
Este croma é típico de um croma de composto* cru. Não humificado. Não pronto para ser levado ao campo de produção. A imagem é como se apresenta este formato de organização de suas zonas: tendo a zona central branca e sem estrutura e a zona intermediária comprimida em um arco pela zona da borda. As cores pretas raiadas na zona intermediária indica a má qualidade do material e, também, manejo inadequado, putrefação (composto cru), monocultura, falta de cobertura, como foi descrito acima.
A organização das zonas (central, intermediária e externa) de um croma de composto é semelhante ao croma de um solo e da mesma maneira podemos observar e interpretá-lo. Um croma de composto se diferencia no seu estado de maturação: cru, ponto excelente (húmus) e passado (mineralizado). Quando os processos de humificação estão se desenvolvendo em um composto, ele se parece a um solo de boa qualidade.
Quanto melhor for os materiais que compõe um composto tanto melhor será as cores, a intensidade do marrom, ou pior, cores cinza, escuras, materiais de baixa qualidade.
*"Um 'composto' é um adubo bruto com a cama de aviário, cama de estábulo ou pocilga, ou uma adubo elaborado, geralmente com terra, palha, esterco, farelo, farinha de rocha, melaço, carvão mineral moído, leveduras e inoculantes microbiológicos. Esta mistura é homogeneizada e colocada para fermentar sob condições controladas permite observar o desarmar da matéria orgânica em diferentes componentes e seu rearme em matéria orgânica complexa pelas diferentes etapas sucessivas de fermentação" (PINHEIRO, 2015).
CONCLUSÃO
Apesar do estado atual do solo ser ruim, bem como nos revelou a cromatografia, no seu natural, é um solo bom e, em pouco tempo (3 meses) se consegue mudar totalmente esse quadro. Os cromas estão muita além, bem melhores, se comparados aos cromas das atividades agrícolas que caracterizam a região sucroalcooleira carregados de venenos, adubos químicos, mecanização pesada, transgenia.
Planejar as áreas de canteiros para que um ou dois, passem por uma rotação de cultura em que a planta seja utilizada como cobertura, biomassa (leguminosas, ou uma muvuca de sementes com espécies variadas); podendo ainda trazer essa biomassa de outra áreas. Entender a dinâmica dos policultivos, integrando melhor os espaços do alface; as raízes se comunicam e auto-disponibilizam minerais. Lembrando que, tamanho não é documento e sim, a qualidade, ou composição mineral deste alimento, nutracêutico. Aplicar a farinha de rocha e se possível, incorporada à munha de carvão vegetal, como base de um bom preparo de solo e canteiros; diminuir estão, a mecanização. Agregar ao composto calcário, gesso (o nitrogênio na forma de carbonato de amônio é diretamente prejudicial ao crescimento das plantas), está ação o neutralizaria. Porém, e melhor, seria aplicar a farinha de rocha e revirá-lo 2 x ao dia. Outra opção seria fazer o adubo fermentado tipo bocashi. O residual de uma adubação orgânica, neste caso, seria cada vez mais crescentes. A família, portanto passaria a fertilizar o solo, e o solo nutrir as plantas.
Agricultura orgânica é a habilidade do produtor em maximizar a independência de insumos externos, construindo o diagnóstico a partir de materiais locais, descobrindo as ferramentas e práticas adequadas, também as que possível se adaptam ao local, e eficientes para se processar o manejo de uma produção de alimentos holística, regenerativa, com coeficiente ascendente de fertilidade do organismo solo. Alimentar o solo é a melhor poupança, para se sacar no tempo certo, o melhor alimento.
O que nos entristece é a "extensão", o "ATER" 'Itespiano'/INCRA caduco, falidos no orçamento e na mente. Isso me deixa com muita vergonha. O assentamento se estabelece oficialmente em 2006, quer dizer que as famílias, não tenho a informação, pode estar a mais tempo na área (a velha maldita burocracia...); quando faço uma primeira visita, em 2017, 11 anos depois, encontro a família mais motivada do assentamento padecendo de informações simples, como as descritas acima; técnicas simples que em 3 meses, 6 meses, um ano, daria um salto de qualidade produtiva e social.
Faço aqui uma denúncia e peço explicação ao sistema Itesp/INCRA. Façam essa publicação chegar aos 'técnicos' que atendem estes agricultores e agricultoras, e aos seus diretores indignos! Mirem a placa... Projeto de 'Desenvolvimento' Sustentável; (será?)
O agricultor Tião e sua esposa Diva são de uma simpatia e motivação incrível. A família possui também uma estufa; Tião contente, em outras visitas me dizia, "vou plantar tomates!". Logo lhe forneci informações de cobertura do solo, adubação, e alguns manejos para se planejar, antes de instalar a cultura. No dia em que colhi as amostras, vi a estufa e os tomates plantados. Não havia cobertura do solo. Dizia que ao lado de
cada pé tinha enterrado, um preparado de adubo orgânico misturado com um mineral e fez uma calagem. Analiso alguns pés amarelecidos.. Em outro momento encontro um saco de adubo (foto). O produtor então me diz: "foi recomendação do técnico do Itesp" que dizia que não se colhia tomates sem ele... via foliar: ((aplicar nitrogênio sintético, solúvel, é prejudicial para qualquer cultura - trofobiose))
Em outro lote visito uma estufa (fotos) fechada por um quebra vento alto de capim-napier. Entro e sinto um ar parado e forte, que pelo jeito havia se aplicado algum tipo de fungicida a poucas horas.. Estufa é um perigo pois aprisiona os gases, sufoca.. O quebra vento estava muito próximo o que dificultava ainda mais a passagem do ar pela estufa. A plantação de abobrinhas estava vistosa, arrumada e iniciava a formação de seus frutos (foto).
Em outro momento visito novamente o produtor e pergunto sobre a produção da estufa. Desanimado me disse que não conseguiu colher nada, e que tinha perdido toda produção em doenças... Caramba! Isso me mata...
A presença do grupo de agroecologia no assentamento os motiva. Com oficinas técnicas (compostagem, cisterna, agrofloresta, sistema de tratamento de esgoto), teatro, e diálogos sobre os andamentos administrativo da Cooperativa. No entanto, a teoria produtiva se encontro ainda, distante da realidade. Militar é 'mão-na-massa'.
Pergunto ao Governo Federal (INCRA) como se permite a instalação de projetos de desenvolvimento sustentável, diante da luz de tanto conhecimento, sem ter instalado durante a construção das moradias, o tratamento de esgoto? Ou ao menos ter fornecido um técnico com informações simples, carregando na bagagem alternativas que a própria família o faria.. (permaCultura..) Descaso de um sistema burocrático, sucateado e caduco!
De alguma maneira as famílias possuí informações e vem sendo amparadas... Em prosa com o produtor Tião, dizia que tinha indo a São Paulo para a tal "certificação agroecológica dos alimentos lançado pelo Estado" e que levaria cinco (5) anos para adquiri-la; dizia que deveria conduzir sua produção por 5 anos com BOAS PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS. Transição agroecológica. Ilusão! Quem precisa de uma transição é o Governo desta pauliceia. Repito, basta um ano de capacitações, acompanhamentos técnicos, para se criar um planejamento local e,... para se ter Saúde no Solo de fato!
Acompanhei pesquisadores da Apta 'agronegócio' e SENAR (sindicato patronal) em atividades práticas e cursos sobre agricultura orgânica em 'extensão'... o Fazer está muito longe do Saber. Até reconheceria que o aprendizado para alguns é lento, gradual e algumas vezes depende do acaso. Mas isso, segundo os estudos sociológicos de campo remete aos agricultores... Como dizia Bernard Shaw quem saber faz, quem não sabe ensina!
Enquanto a certificação não chega para o Tião, o seu fertilizante fermentado com Sideróforos amadurece... Nossa proposta humanista, é graças à passagem pelos mundos virtuais, que, quando está em campo, adquire-se um corpo angélico, que as almas melhor imaginam a humanidade, de onde se segue talvez, com o desejo de aprender, a extensão da amizade entre os homens.
Será que já caiu a ficha aos militantes técnicos sobre o MAPA 'agroecológico'? Esbarrei seu coordenador 'infiltrado' RD no EIA - encontro internacional de agroecologia - Botucatu/2013, nas oficinas agroecológicas da ONG Giramundo, quem organizou o evento e outros. Saquei logo o esquema, e em prosa alertei o amigo Kawamura da rede APA. Tempo passou... amadurecemos e, em tempo de Golpe e retrocessos, juntar-se ao opressor para mim é uma vergonha.
Em épocas em que a agricultura familiar camponesa não depende mais dos insumos da agricultura dominante industrial, pois é capaz de ser sujeito de sua produção de insumos "eco-tech", conhecimentos agroecológicos campesinos, e avanços reais de uma revolução agrária, sendo 'competidora' direta e que para as multinacionais & corporações de grande capital, isso deve ser inibido, impedido e destruído para o bem da economia industrial e governo. Até porque estão de olho neste potencial de mercado da Agricultura Familiar e seus 80 milhões de hectares (foto projeção do PRONAF) "Isto é feito por todos os meios: ideológicos, tecnológicos, financeiros e econômicos, pois a criação e acumulação de riqueza por este agricultor é subversiva ao sistema e não promove as metas de crescimento e desenvolvimento de infraestrutura e mecanismo econômico e financeiros".
Sobre a mão-de-obra familiar um exemplo: "Se alguém tem alguns hectares de terra (vide estes vídeos da família do produtor Jairo 1,8 ha como exemplo: Vídeo 1 e Vídeo 2), cria algumas galinhas, uns porcos, tem uma vaquinha de leite e para mantê-los planta milho, trigo, aveia, arroz, tem uma horta e pomar, além de produzir algum mel e peixes etc. O que ele pode ter é uma mesa farta, por conseguinte saúde, uma vida idílica, ou de alta qualidade, mas nada disso promove o crescimento e desenvolvimento da sociedade industrial globalizada. Ao contrário, isto prejudica a produção, comércio e indústria de ovos, frango-de-corte, suínos, leite, manteiga, queijo, bovinos etc. (Sadia, Perdigão, Swift-Armour etc.), por uma concorrência 'desleal'. Ao prejudicar a indústria de alimentos, prejudica a indústria de rações, medicamentos veterinários, embalagens, de energia, de transporte, de créditos etc. De forma cética podemos afirmar que, também, a mesa farta é um entrave aos objetivos e metas da indústria farmacêutica, indústria de assistência hospitalar, indústria de assistência médica etc. Com agravante que o agricultor não-industrial compete com seu produto (de poucas inversões-industriais), de forma muito vantajosa pois usa insumos não-industriais e natureza de sua própria propriedade e se apropria da 'mais valia industrial indevidamente' ".
Meus amigos, caminhamos para o fim deste post, com uma passagem da A inteligência coletiva: "Redefinidas numa perspectiva humana, as regiões angélicas abrem o espaço da comunicação das coletividades consigo mesmas, sem passagem pela divindade, nem por qualquer representação transcendente (lei revelada, autoridade ou outras formas definidas a priori e recebidas de cima). Os mundos virtuais se propõem como instrumentos de conhecimento de si e de autodefinição de grupos humanos, que podem então constituir-se em intelectuais coletivos autônomos e autopoiéticos. (...) Acolhem de igual modo os 'corpos angélicos' (ou imagens virtuais) dos membros dos intelectuais coletivos - indivíduos ou equipes - , encorajando-os à observação de si e ao contato recíproco. Sintetizando a complexidade e as transformações do mundo terrestre, os mundos virtuais põem as inteligências em comunicação e acompanham as navegações dos indivíduos e dos grupos de conhecimento coletivo. Graças aos mundos virtuais, o mundo terreno ainda prolifera, transforma-se, abrem-se novas vias de singuralização, as quais, por sua vez, alimentam o 'espaço angélico'. (...) "É claro que a luz dos mundos virtuais ilumina e enriquece as inteligências humanas; não as fazendo passar das potência ao ato, já que são sempre efetivas, mas abrindo-lhes possibilidades às quais não poderiam ter tido acesso de outra maneira, informando-as dos saberes das outras inteligências, oferecendo-lhes novas potências de compreensão e novos poderes de imaginar". O Biopoder Campesino!
Lutamos e preferimos que as utopias continuem a descrever um estado ideal do ser às do ser ideal do Estado! Estamos em luta: pela Terra, pelo solo, pelo alimento, o conhecimento a todos e todas, e pela agriCultura, que, como no pós-Guerra, continua sendo a única "tábua de salvação".
Bibliografia
- A inteligência coletiva - por uma antropologia do ciberespaço, Pierre Lévy, 1994.
- Agricultura Ecológica e a Máfia dos Agrotóxicos no Brasil, Sebastião Pinheiro, Nasser Youssef Nasr e Dioclécio Luz, 1998.
- Saúde no Solo, biopoder campesino, Sebastião Pinheiro, 2015.
Fotos em detalhes
Canteiro de alface recém colhido. |
cama de frango. Foto: Oliver Blanco |
Pego também uma amostra do composto (cama de frango) utilizado na adubação. Acrescento que os canteiros passam por uma rotação de cultura, sendo alternado por cebolinhas e salsas, período curto, e outros com couve, berinjela, períodos mais longos.
Peço que observem o composto. O encontro com mau cheiro, ainda cru e sendo transformado por processos anaeróbicos. Por não ter uma dinâmica de oxigenação e ainda sendo armazenado desta maneira..: a lona para o agricultor o impede de molhar; porém, há o aprisionamento dos gases provenientes da putrefação com reações de energia altíssimas. Este composto ao ir para os canteiros desta maneira, incorporados, continua a liberar o oxigênio de sua matéria orgânica reduzida e consumida pelas putrefações com formação de metano.
Segundo PINHEIRO, 2015, "As putrefações tem mau cheiro*, principalmente pela formação de aminas tóxicas como cadaverina e putrescina (ptomaínas) que capturam também o Nitrogênio,.. (...) O racionamento cartesiano superficial e linear oferecido nas escolas não permite entender que na evolução dos ciclos os microrganismo patogênicos são incapazes de sintetizar seus próprios aminoácidos, mas podem aproveitar os aminoácidos a partir da matéria orgânica em decomposição. Muitos deles, necrotróficos, desenvolvem toxinas. Estas toxinas atuam à distancia e provocam a necrose progressiva das células, para que estas parasitas possam invadir e colonizar estes tecidos. Estas toxinas determinam até mesmo que a célula hospedeira produza sustâncias como água oxigenada. Sabemos que a água oxigenada no plasma de uma célula em presença do Sol causa queimaduras e destruição de tecidos, que permite a penetração e nutrição dos microrganismos patogênicos incapazes de aproveitar o Ferro bloqueado como Sideróforos pelos saprófitos". Assim conclui-se as doenças fúngicas e bacterianas observadas nas folhas do alface em contato direto com o solo.
Canteiros de cebolinha, após ter incorporado a cama de frango. Irrigação por aspersor e uso do sombrite para as horas quentes do dia. Foto: Oliver Blanco |
INTERPRETAÇÕES DAS ANÁLISES
1. CROMA AOS 5 DIAS PÓS PLANTIO DO ALFACE
Cromatografia de canteiros de alface aos 5 dias pós plantio. Foto: Oliver Blanco |
O resultado não é bom. O solo, podemos dizer que está sendo sobre explorado e tratado como um suporte inerte. A família de produtores correm o risco de cair nas garras da indústria e utilizar fertilizantes químicos solúveis, por decadência da fertilidade natural e pressão da entrega das hortaliças.
A zona central quase não aparece, o que revela compactação, falta de oxigênio. A microbiologia não está presente neste solo. Solo com pouca vida.
De acordo com o manejo acima descrito, podemos dizer que este croma de 5 dias após o plantio do alface, possui cores mais suaves e até é possível notar a formação de alguns jovens dentes na zona externa, mostrando que a adubação (cama de frango) anterior foi totalmente mineralizada e o solo sobrevive com resíduos de cultura anterior. A nova adubação que recebe as primeiras águas da irrigação, assim como a recente escarificação (oxigenação) fixa esta característica em particular.
2. CROMA AOS 12 DIAS PÓS PLANTIO
Cromatografia de canteiros de alface aos 12 dias pós plantio. Foto: Oliver Blanco |
3. CROMAS AOS 22 DIAS PÓS PLANTIO
Cromatografia de canteiros de alface aos 22 dias pós plantio. Foto: Oliver Blanco |
4. CROMA AOS 36 DIAS, PÓS COLHEITA DO ALFACE
Cromatografia de canteiros de alface pós colheita. Foto: Oliver Blanco |
Idem ao croma anterior, caminhando...
5. CROMA DO COMPOSTO - CAMA DE 'FRANGO'
Cromatografia de compostos, cama de grango. Foto: Oliver Blanco |
A organização das zonas (central, intermediária e externa) de um croma de composto é semelhante ao croma de um solo e da mesma maneira podemos observar e interpretá-lo. Um croma de composto se diferencia no seu estado de maturação: cru, ponto excelente (húmus) e passado (mineralizado). Quando os processos de humificação estão se desenvolvendo em um composto, ele se parece a um solo de boa qualidade.
Quanto melhor for os materiais que compõe um composto tanto melhor será as cores, a intensidade do marrom, ou pior, cores cinza, escuras, materiais de baixa qualidade.
*"Um 'composto' é um adubo bruto com a cama de aviário, cama de estábulo ou pocilga, ou uma adubo elaborado, geralmente com terra, palha, esterco, farelo, farinha de rocha, melaço, carvão mineral moído, leveduras e inoculantes microbiológicos. Esta mistura é homogeneizada e colocada para fermentar sob condições controladas permite observar o desarmar da matéria orgânica em diferentes componentes e seu rearme em matéria orgânica complexa pelas diferentes etapas sucessivas de fermentação" (PINHEIRO, 2015).
CONCLUSÃO
Apesar do estado atual do solo ser ruim, bem como nos revelou a cromatografia, no seu natural, é um solo bom e, em pouco tempo (3 meses) se consegue mudar totalmente esse quadro. Os cromas estão muita além, bem melhores, se comparados aos cromas das atividades agrícolas que caracterizam a região sucroalcooleira carregados de venenos, adubos químicos, mecanização pesada, transgenia.
Planejar as áreas de canteiros para que um ou dois, passem por uma rotação de cultura em que a planta seja utilizada como cobertura, biomassa (leguminosas, ou uma muvuca de sementes com espécies variadas); podendo ainda trazer essa biomassa de outra áreas. Entender a dinâmica dos policultivos, integrando melhor os espaços do alface; as raízes se comunicam e auto-disponibilizam minerais. Lembrando que, tamanho não é documento e sim, a qualidade, ou composição mineral deste alimento, nutracêutico. Aplicar a farinha de rocha e se possível, incorporada à munha de carvão vegetal, como base de um bom preparo de solo e canteiros; diminuir estão, a mecanização. Agregar ao composto calcário, gesso (o nitrogênio na forma de carbonato de amônio é diretamente prejudicial ao crescimento das plantas), está ação o neutralizaria. Porém, e melhor, seria aplicar a farinha de rocha e revirá-lo 2 x ao dia. Outra opção seria fazer o adubo fermentado tipo bocashi. O residual de uma adubação orgânica, neste caso, seria cada vez mais crescentes. A família, portanto passaria a fertilizar o solo, e o solo nutrir as plantas.
Agricultura orgânica é a habilidade do produtor em maximizar a independência de insumos externos, construindo o diagnóstico a partir de materiais locais, descobrindo as ferramentas e práticas adequadas, também as que possível se adaptam ao local, e eficientes para se processar o manejo de uma produção de alimentos holística, regenerativa, com coeficiente ascendente de fertilidade do organismo solo. Alimentar o solo é a melhor poupança, para se sacar no tempo certo, o melhor alimento.
O que nos entristece é a "extensão", o "ATER" 'Itespiano'/INCRA caduco, falidos no orçamento e na mente. Isso me deixa com muita vergonha. O assentamento se estabelece oficialmente em 2006, quer dizer que as famílias, não tenho a informação, pode estar a mais tempo na área (a velha maldita burocracia...); quando faço uma primeira visita, em 2017, 11 anos depois, encontro a família mais motivada do assentamento padecendo de informações simples, como as descritas acima; técnicas simples que em 3 meses, 6 meses, um ano, daria um salto de qualidade produtiva e social.
Faço aqui uma denúncia e peço explicação ao sistema Itesp/INCRA. Façam essa publicação chegar aos 'técnicos' que atendem estes agricultores e agricultoras, e aos seus diretores indignos! Mirem a placa... Projeto de 'Desenvolvimento' Sustentável; (será?)
O agricultor Tião e sua esposa Diva são de uma simpatia e motivação incrível. A família possui também uma estufa; Tião contente, em outras visitas me dizia, "vou plantar tomates!". Logo lhe forneci informações de cobertura do solo, adubação, e alguns manejos para se planejar, antes de instalar a cultura. No dia em que colhi as amostras, vi a estufa e os tomates plantados. Não havia cobertura do solo. Dizia que ao lado de
Nitrato |
Em outro lote visito uma estufa (fotos) fechada por um quebra vento alto de capim-napier. Entro e sinto um ar parado e forte, que pelo jeito havia se aplicado algum tipo de fungicida a poucas horas.. Estufa é um perigo pois aprisiona os gases, sufoca.. O quebra vento estava muito próximo o que dificultava ainda mais a passagem do ar pela estufa. A plantação de abobrinhas estava vistosa, arrumada e iniciava a formação de seus frutos (foto).
Em outro momento visito novamente o produtor e pergunto sobre a produção da estufa. Desanimado me disse que não conseguiu colher nada, e que tinha perdido toda produção em doenças... Caramba! Isso me mata...
A presença do grupo de agroecologia no assentamento os motiva. Com oficinas técnicas (compostagem, cisterna, agrofloresta, sistema de tratamento de esgoto), teatro, e diálogos sobre os andamentos administrativo da Cooperativa. No entanto, a teoria produtiva se encontro ainda, distante da realidade. Militar é 'mão-na-massa'.
Pergunto ao Governo Federal (INCRA) como se permite a instalação de projetos de desenvolvimento sustentável, diante da luz de tanto conhecimento, sem ter instalado durante a construção das moradias, o tratamento de esgoto? Ou ao menos ter fornecido um técnico com informações simples, carregando na bagagem alternativas que a própria família o faria.. (permaCultura..) Descaso de um sistema burocrático, sucateado e caduco!
De alguma maneira as famílias possuí informações e vem sendo amparadas... Em prosa com o produtor Tião, dizia que tinha indo a São Paulo para a tal "certificação agroecológica dos alimentos lançado pelo Estado" e que levaria cinco (5) anos para adquiri-la; dizia que deveria conduzir sua produção por 5 anos com BOAS PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS. Transição agroecológica. Ilusão! Quem precisa de uma transição é o Governo desta pauliceia. Repito, basta um ano de capacitações, acompanhamentos técnicos, para se criar um planejamento local e,... para se ter Saúde no Solo de fato!
Acompanhei pesquisadores da Apta 'agronegócio' e SENAR (sindicato patronal) em atividades práticas e cursos sobre agricultura orgânica em 'extensão'... o Fazer está muito longe do Saber. Até reconheceria que o aprendizado para alguns é lento, gradual e algumas vezes depende do acaso. Mas isso, segundo os estudos sociológicos de campo remete aos agricultores... Como dizia Bernard Shaw quem saber faz, quem não sabe ensina!
Arte do produtor Tião |
Será que já caiu a ficha aos militantes técnicos sobre o MAPA 'agroecológico'? Esbarrei seu coordenador 'infiltrado' RD no EIA - encontro internacional de agroecologia - Botucatu/2013, nas oficinas agroecológicas da ONG Giramundo, quem organizou o evento e outros. Saquei logo o esquema, e em prosa alertei o amigo Kawamura da rede APA. Tempo passou... amadurecemos e, em tempo de Golpe e retrocessos, juntar-se ao opressor para mim é uma vergonha.
Em épocas em que a agricultura familiar camponesa não depende mais dos insumos da agricultura dominante industrial, pois é capaz de ser sujeito de sua produção de insumos "eco-tech", conhecimentos agroecológicos campesinos, e avanços reais de uma revolução agrária, sendo 'competidora' direta e que para as multinacionais & corporações de grande capital, isso deve ser inibido, impedido e destruído para o bem da economia industrial e governo. Até porque estão de olho neste potencial de mercado da Agricultura Familiar e seus 80 milhões de hectares (foto projeção do PRONAF) "Isto é feito por todos os meios: ideológicos, tecnológicos, financeiros e econômicos, pois a criação e acumulação de riqueza por este agricultor é subversiva ao sistema e não promove as metas de crescimento e desenvolvimento de infraestrutura e mecanismo econômico e financeiros".
Sobre a mão-de-obra familiar um exemplo: "Se alguém tem alguns hectares de terra (vide estes vídeos da família do produtor Jairo 1,8 ha como exemplo: Vídeo 1 e Vídeo 2), cria algumas galinhas, uns porcos, tem uma vaquinha de leite e para mantê-los planta milho, trigo, aveia, arroz, tem uma horta e pomar, além de produzir algum mel e peixes etc. O que ele pode ter é uma mesa farta, por conseguinte saúde, uma vida idílica, ou de alta qualidade, mas nada disso promove o crescimento e desenvolvimento da sociedade industrial globalizada. Ao contrário, isto prejudica a produção, comércio e indústria de ovos, frango-de-corte, suínos, leite, manteiga, queijo, bovinos etc. (Sadia, Perdigão, Swift-Armour etc.), por uma concorrência 'desleal'. Ao prejudicar a indústria de alimentos, prejudica a indústria de rações, medicamentos veterinários, embalagens, de energia, de transporte, de créditos etc. De forma cética podemos afirmar que, também, a mesa farta é um entrave aos objetivos e metas da indústria farmacêutica, indústria de assistência hospitalar, indústria de assistência médica etc. Com agravante que o agricultor não-industrial compete com seu produto (de poucas inversões-industriais), de forma muito vantajosa pois usa insumos não-industriais e natureza de sua própria propriedade e se apropria da 'mais valia industrial indevidamente' ".
Meus amigos, caminhamos para o fim deste post, com uma passagem da A inteligência coletiva: "Redefinidas numa perspectiva humana, as regiões angélicas abrem o espaço da comunicação das coletividades consigo mesmas, sem passagem pela divindade, nem por qualquer representação transcendente (lei revelada, autoridade ou outras formas definidas a priori e recebidas de cima). Os mundos virtuais se propõem como instrumentos de conhecimento de si e de autodefinição de grupos humanos, que podem então constituir-se em intelectuais coletivos autônomos e autopoiéticos. (...) Acolhem de igual modo os 'corpos angélicos' (ou imagens virtuais) dos membros dos intelectuais coletivos - indivíduos ou equipes - , encorajando-os à observação de si e ao contato recíproco. Sintetizando a complexidade e as transformações do mundo terrestre, os mundos virtuais põem as inteligências em comunicação e acompanham as navegações dos indivíduos e dos grupos de conhecimento coletivo. Graças aos mundos virtuais, o mundo terreno ainda prolifera, transforma-se, abrem-se novas vias de singuralização, as quais, por sua vez, alimentam o 'espaço angélico'. (...) "É claro que a luz dos mundos virtuais ilumina e enriquece as inteligências humanas; não as fazendo passar das potência ao ato, já que são sempre efetivas, mas abrindo-lhes possibilidades às quais não poderiam ter tido acesso de outra maneira, informando-as dos saberes das outras inteligências, oferecendo-lhes novas potências de compreensão e novos poderes de imaginar". O Biopoder Campesino!
Lutamos e preferimos que as utopias continuem a descrever um estado ideal do ser às do ser ideal do Estado! Estamos em luta: pela Terra, pelo solo, pelo alimento, o conhecimento a todos e todas, e pela agriCultura, que, como no pós-Guerra, continua sendo a única "tábua de salvação".
Oliver Blanco
Comunicação Técnica Dialógica
Juquira Candirú Satyagraha
Bibliografia
- A inteligência coletiva - por uma antropologia do ciberespaço, Pierre Lévy, 1994.
- Agricultura Ecológica e a Máfia dos Agrotóxicos no Brasil, Sebastião Pinheiro, Nasser Youssef Nasr e Dioclécio Luz, 1998.
- Saúde no Solo, biopoder campesino, Sebastião Pinheiro, 2015.