Rio Paraíba do Sul por Johann Moritz Rugendas, (1820-25) |
Sonia Regina de Mendonça
Programa
de Pós-Graduação em História (UFF)
Investigadora
do CNPq - Brasil
- Não lhe agrada fazer as coisas diferentemente. Pensar com independência, estar apartado, é penoso; se sofre... Em vista disto, que muitos agrônomos adere ao rebanho. 'A vida é algo extraordinário e não estaciona'. Não tornemos apenas uma mente que acumula, decora, imita, copia e por assim ser, não compreende e perde a capacidade de criar. Sabemos que é difícil e é luta que segue, mas, se não tentardes, nunca apalparás o real experimentar, quiçá da real independência, já que historicamente vivemos numa falsa, e corrupta e ilusória democracia. '...a inteligência é a liberdade da pressão do tempo;' de alguma maneira, investigue...
Investigue! e viva a vida. abraços O.Blanco
ESTADO, SABER E PODER NO BRASIL
RESUMO
O trabalho analisa as relações
estabelecidas entre Estado, Saber e Poder no Brasil da primeira metade do
século XX, enfatizando o caso do Ensino Superior Agronômico, a partir do estudo
de duas das mais importantes escolas de agronomia do período: a de Piracicaba e
a do Rio de Janeiro. A análise baseia em densa pesquisa sobre o perfil dos corpos
docente e discente de ambas as instituições – sua procedência regional, social,
familiar, etc. - bem como na apreciação das estruturas curriculares vigentes
nas duas escolas estatais e respectivas alterações dentro dos marcos
cronológicos estipulados. A partir desses dados é possível verificar a
existência da formação de dois habitus de classe distintos, segundo as
instituições frequentadas e as frações de classe a cada uma delas vinculadas:
um destinado basicamente à reprodução da condição de classe dos agrônomos, e
outro voltado para a construção de uma “nobreza de estado”.
Palavras-chave: Estado,
Poder, Ensino Superior, Agronomia.
Agronomia,
agrônomos e política no Brasil (1930-1961)
RESUMO
Estudo comparativo dos projetos para
a agricultura brasileira veiculados por duas entidades profissionais de agrônomos
no Brasil entre 1930 e 1961: a Sociedade Brasileira de Agronomia e a Sociedade Paulista
de Agronomia. A pesquisa nos periódicos das agremiações aponta suas principais
práticas e fornece seus quadros dirigentes, dando inteligibilidade a ambos os
projetos. Se os dirigentes da SBA defendiam o incentivo estatal à
diversificação agrícola para exportação, os agrônomos da SPA, articulados à
grande burguesia industrial paulista, propunham, já nos anos 1940, a
industrialização da agricultura mediante a utilização de insumos industriais, sobretudo
tratores.
Palavras-chave: Estado,
agrônomos, Sociedade Brasileira de Agronomia, Sociedade Paulista de Agronomia.
Estado
e Ensino Rural no Brasil na Primeira Metade do Século XX: Balanço
Historiográfico
A questão das relações entre grupos
dominantes agrários e Estado no Brasil tem sido objeto de minhas reflexões,
sobretudo no que se refere ao âmbito do mundo rural, embora permanentemente
redefinida e ampliada1 como no caso do presente artigo, cujo objeto é a crítica
à historiografia sobre as políticas de Ensino Rural - primário e médio - no
decorrer da primeira metade do século XX.
O Ensino Agrícola -em seus níveis
elementar, médio e especial - foi originalmente implantado no Brasil pelo
Ministério da Agricultura na década de 1910, uma vez que a conjuntura do
imediato pós-abolição da escravidão havia tornado premente, para os grupos
dominantes do país, estabelecer balizas mínimas que redefinissem e assegurassem
o controle e a tutela sobre a dita “população rural brasileira”, agora também
integrada por ex-escravos e seus descendentes. Daí o surgimento das primeiras instituições
dedicadas ao “Ensino Agrícola”, cuja premissa consistia em fixar a terra jovens
filhos de rurícolas - a serem dotados das noções elementares de um saber prático
– e também a infância desvalida das cidades, encaminhada ao campo para viver em
regime de internato. Entre 1920 e 1930,
os debates sobre este ramo de ensino se complexificaram em face da multiplicação
de atores sociais auto-investidos da legitimidade de ingerir junto à matéria,
polarizando a disputa sobre as políticas de Educação Rural em torno a duas propostas:
1) a escola rural como instrumento de alfabetização ou 2) a escola rural como instrumento
da qualificação para o trabalho. A vitória desta última posição não impediria
que, a partir da implantação da ditadura de Getúlio Vargas, entre 1937-45, fosse
resgatada a chamada vertente ruralizadora do Ensino Agrícola, centrada no binômio
Educação e Treinamento/Capacitação.
Ou seja, até as décadas de 1940 e
1950, seria a instituição escolar o elemento viabilizador de ambas as
vertentes. O contexto da Guerra Fria do imediato Pós II Grande Guerra,
entretanto, ao favorecer a multiplicação de acordos de cooperação técnica entre
os governos brasileiro e norte-americano, promoveria uma ruptura nesse quadro,
levando à substituição da escola rural por agências de cunho assistencialista, tanto
técnica, quanto socialmente falando.