por Tião Pinheiro
Em dezembro 2013vos apresentei Lisarb, apelidado “Pereba” pelo próprio avô. Lembram? Desde
então ele se mantinha fiel aos seus princípios: calado, indiferente às ruas,
meios de comunicação e inacessível à onda de enganação reacionária
auto-intitulada de “revolucionária”. Contudo, indiferença não significa
desinteresse ou neutralidade, apenas respeito crítico. Atônito assistiu todos
os debates prévios à votação da Aprovação do Relatório de Admissão do
Impedimento Constitucional da Presidente na Câmara Federal. Consciente do
resultado jejuou por dois dias, lavando o corpo com água e chá de raiz de Picão
Preto (Bidens pilosa, hoje Asteraceae, ex-Compositae), mundialmente reconhecido
contra a neurastenia. Não atendeu telefonemas e sequer saiu ao Sol em respeito
aos vizinhos e amigos divididos, dirigidos e polarizados na disputa pela mídia
poluindo as redes sociais. Reagiu, quando provocado pelo casal coxinha, vizinho
que troca de carro e próteses de silicone a cada seis meses, mas está com o
condomínio atrasado em dez meses. – “Seu Lisarb não o vimos nem de Vermelho nem
de Verde-Amarelo. A que se deve a..? O cenho franzido fez o ousado engolir a
palavra omissão ou assemelhada.
Com um olhar
complacente, baixando os olhos lentamente, dando a entender o valor de uma
descompostura veio a resposta: - O que mais me espantou na Esplanada do
Congresso foi ver a bandeira do Estado de Alagoas totalmente esfarrapada,
somente identificável pela faixa vermelha e parte do Escudo. Nenhum dos 8
deputados, 3 senadores ou audiência televisiva nacional exigiu a correção. A
seção responsável pelas bandeiras tem mais de 40 funcionários cujos salários é
vinte vezes maior que de uma professora primaria. Essa imagem permaneceu
durante os três dias da sessão sem que se corrigisse o desrespeito à cidadania.
Antes de vestir uma camiseta colorida há posições a serem tomadas, pois não
podem ser compradas, trocadas ou transplantadas. São como o cérebro...
Em 1976, Jimmy
Carter cumpria a política de Direitos Humanos do CIRF para atingir a ditadura
Soviética e vimos João Paulo II, Tatcher e Reagan a executar com precisão,
principalmente na periferia, para exemplo. Lembram da fuga de Stroessner para o
Brasil? Logo, surgiu Alwyn, Fujimori, Menem, Sarney. No Brasil, a Rede Globo em
1986 criou o seu “Caçador de Marajás”, que mereceu até mesmo seu programa Globo
Repórter. Depois ele se tornou Prefeito Biônico de Maceió, governador e foi
eleito presidente. Transformou-se no antídoto a qualquer veneno político, no
modelito Fênix neoliberal das elites dos coronéis, caudilhos latino-americanos
e brasileiros na nova Ordem do Consenso de Washington, pós-Guerra Fria. Collor
deu no que deu e cinco anos depois, no dia seguinte à queda de Stroessner, em
Assunção o passageiro perguntou ao taxista: ¿Te gusta Stroessner? A resposta:
Me gusta mucho, pero el General Rodriguez, me gusta mucho más. Uma resposta na
concepção indígena da minoria sufocada, sem esperança.
Não faço parte da contenda como torcedor, não sou
manipulado e tenho luz própria. A análise que faço tem já quase um século e a
questão é: Como a maioria indígena e mestiça na América Latina há 500 anos
tratada como inferior, da noite para o dia passou ser a maioria cidadã nos
governos carregando suas identidades ideológicas ou bandeiras de consumo quase
monolíticas em seus discursos e exercício: Tabaré Vasquez, FHC, Lugo, Evo
Morales, Bachelet, Chávez, Correa, Ollanta,Humala, Lula, Mujica, Kirchner(s),
Maduro, Dilma. A onda passou, e o pouco que resta é de uma esquerda
incompetente, corrupta, que não voltará tão cedo pelo vigor dos novos leviatãs
tecnológicos ou pela hibridação dos Estados Nacionais com os mesmos no Ave
Obama, que não é o Mouro de Veneza ou no “beija mão” à Elisabeth II. O CIRF
eleva seu controle e domínio através de algoritmos a cada dia mais ajustados e
precisos. O antigo Xi Quadrado da estatística, agora evoluiu para R2.
O senhor nem lembra
a última invasão militar na América Latina. Foi em dezembro de 1989 no Panamá
de “Piña Colada” Noriega, que aumentou as taxas e emolumentos pela circulação
de narcóticos nos navios do Canal e descansa em uma prisão na Flórida, não em
Guantánamo. A Escuela de las Américas, agora é um Hotel de luxo para a
observação de pássaros; A invasão de Granada foi seis anos antes, pois estava
sendo construído um aeroporto pelos cubanos. O interessante é que o César
Reagan anunciou que o fez para evitar o bloqueio à noz-moscada, indispensável
no preparo do Peru do Dia de Ação de Graças. O nobre vizinho sabe quem foi
Samoset e Squanto. Fique tranqüilo nem os alunos do Virginia Tech, Stanford,
Harvard ou MIT sabem. Antes de por uma camiseta eu vejo a trava no meu olho: O
pirata que preside o congresso é alagoano e não respeita sua bandeira... Com
licença tenho de ir à descarga matinal. Os vizinhos se entreolharam boquiabertos
não entendendo o que fora dito, mas sabiam que Lisarb ia ao banheiro.
O ranzinza levava seu lixo reciclável, quando o
casal vizinho, ativos “mortandela” pouco discretos, embora já acumulem seis pós
doutorados nos últimos 13 anos e que haviam escutado a peroração, interromperam
sua passagem ao vê-lo. – “Don” Lisarb, quais suas interpretações ou
perspectivas sobre “Le Coup Blanche”? Tímido, mas com seu sorriso casmurro,
para agentes públicos, respondeu: - Golpe branco? Não há exagero Sr. Doutor
Professor? Nelson Rodrigues sempre parafraseia os banqueiros do jogo do bicho:
“Vale o que está escrito”. Vejo as coisas mais para preto, branco, vermelho e
amarelo das cores republicanas da bandeira criada por Julio Ribeiro em julho de
1888, que deveria substituir as cores dos Bragança - Orléans e Habsburgs, e a
partir de 1932 ficara à disposição dos paulistas para enfrentar a troika de
Vargas, por tal foi proibida até o fim do Estado Novo. Sobre o relatório
assisti a aprovação durante os três dias de debates e votação, e para entender
me obriguei a retiro, jejum preparatório para ler uma obra interessante escrita
em 1724 por Charles Johnson, “A História Geral dos Piratas”, onde consta o
Código dos Piratas, entre eles o de Henry Morgan estampado em 1678 no livro
América Buccaneers. Sem sua leitura se toma partido como torcedor. Com ela, se
entende o clima e brilho do Sol. Muita gente veste camisetas coloridas, como as
torcidas uniformizadas criminosas, ensandecidas e assassinas que a cada fim de
semana imolam um inimigo nesta sociedade sem rumo, consciência ou futuro. Eu
prefiro encontrar a razão de cada voto dentro dos 11 mandamentos do Código dos
Piratas.
A coalizão entre partidos devia no mínimo se
comportar como os piratas no “On Parles” (Parlay), pois em economia ou política
não há território para a palavra “traição”, pois ela espelha falsa ingenuidade
e falsa competência.
Recomendo contextualizar essas leituras, antevendo
que os piratas surgem como um mecanismo “offshore” para expropriar o esbulho
espanhol–português, sem que isso levasse a retaliação e “guerra justa”. Hoje
toda a economia suja do mundo resguarda-se na palavra offshore, ou seja, o
pirata moderno é um “quinta coluna” inconsciente e o império não precisa
invadir territórios, roubar ou cobrar proteção... Lá não há piratas nativos em
terra firme, pois eles são condenados ao desterro (marroning). Os ingênuos e
ignorantes pretendiam manter a hegemonia política e governabilidade através da
submissão à participação em mesadas. Piratas éticos e com bons modos existe
somente nos livros de capa e espada. Ou como disse o “capitão” Toninho
Malvadeza: “Eu me entrego ao poder como uma prostituta. ”
O cafajeste Roberto Jefferson foi pego com o
focinho na ratoeira. Denunciou e usou a expressão “óbolo”, esmola religiosa. Pirata
consciente, não usou o termo dízimo em sua denúncia, pois 4 milhões foram
roubados dos Correios, quando seu PTB esperava 20... Quem se apropriou dos 16
milhões queria submissão e medo por desconhecer os piratas. Estes vivem “On
parles” (Parlay), sabendo que o bom cabrito não berra, dá o troco.
A história se repetiu na Petrobrás, que falta de
memória. Uma aula de política (pirataria) é o que a troika (Temer, Cunha e
Renan) estão ministrando ao governo e sua militância. Ela espelha o aprendizado
de Cunha com o pirata Roberto Jefferson e possibilita o questionamento: É
autóctone ou segue a harmonia dos leviatãs tecnológicos e Estado Híbrido do
Império, via FIESP-CIRF? (foto 1)
Há de tudo na seara
do Senhor, em 13 de outubro de 2013 a candidata à presidência indignada com a
difamação fascista vaticinou “Se for para ganhar perdendo, eu prefiro perder
ganhando”. Um verdadeiro “On parles”, “lascas do mesmo pau” e cérebro, mas sem
visão pirata.
Nos últimos 60 dias
vemos os difamantes espernearem de que não há corrupção e que se trama um golpe
contra o Estado de Direito, quando o que houve foi apenas a inversão de
posições entre sapos e escorpiões. De plano fica claro que as vítimas na fábula
submergiram afogando o escorpião-cavaleiro, esgotado de seu veneno e carente do
“on parles”. É do código pirata que surge o parlamentarismo, protetor de
cidadania e obriga os escorpiões a viver offshore?
Fábulas e mitologia
são ensinadas às crianças para figurar comportamentos ingênuos. Piratas e
partidos existem pelo poder. Como em economia não há ética é necessário o “on
parles” e quem não se comunica entre piratas, não se trumbica, anda sobre a
prancha (foto 2) é o Código de Morgan, que está escrito e vale para todos. “O
Príncipe” é para a sub-elite caricata.
Muitos se preocupam com as igrejas. Elas formam
seus piratas, bons “políticos”. Nos estertores da Segunda Guerra Mundial o papa
Pio XII acionado por Hitler enviou um mensageiro para evitar a invasão
soviética à Alemanha. O sanguinário ditador Stalin, como bom pirata perguntou
ao enviado papal: Quantas divisões de tanques e Infantaria têm sua Santidade
para evitar a invasão? Foi diplomático, não perguntou onde estava o Vaticano
quando da invasão e cerco à Leningrado, Moscou e a hecatombe de Stalingrado.
Com licença não estou
apertado, nem vou ao banheiro. Quero escutar L’ Internacional original de 1781
de Eugene Pottier musicalizada por Pierre Degeyter em 1888, quando JulioRibeiro fazia sua bandeira republicana. O uso dela posterior é outro assunto.
Continuo na barricada, apesar de vocês (foto3).
Já com os fones de ouvido escutou o grito do
“vizinho mortandela”: Vou tentar um pós-doutorado sobre o histriônico Capitão
Jack Sparrow, que achas?
“Pereba” nem sequer respondeu. Compenetrou-se e os
acordes invadiram o ambiente, apenas uma lágrima rolou, pois mais uma geração
foi postergada.