por Sebastião Pinheiro*
No fim de semana
debrucei-me trans- e interdisciplinarmente sobre a ética e moral nos naufrágios
no Mediterrâneo para entender o último rinoceronte branco (do norte), mas têm
muitos que não entendem o significado. Permitam demonstrar: Na minha infância fui
vizinho ao Castelo Baruel construído em 1879 e perto dele foi construída a
Capela de Santa Cruz por mim freqüentada entre 1957 e 1959, onde auxiliava o
padre prussiano, ex-capelão militar, como “coroinha”. Ele usava aquela igreja
para uma comunidade na maioria idosos alemães. Com os pais do padre aprendi as
primeiras palavras em latim e alemão, pois a missa era rezada nos dois idiomas
assim como as músicas cantadas e acompanhadas no piano. Todos os domingos às
seis da manhã eu tinha minha atividade “pastoral” ajudado pelos genitores do
padre, meus preceptores após a missa.
Eles haviam morado
em Tanganika e vivido a Primeira Guerra Mundial. Foram eles que me ensinaram
que a Alemanha convocou através da Conferencia de Berlin em 1885 as principais
potencias europeias para organizar o continente Africano, então repartido como
uma pizza entre os convidados tendo apenas dois países independentes (Libéria
comprado pelos EUA e Etiópia do rei Haile Selassie I), cujo mapa cumpre seu
centenário (foto). Leia-o.
Exultaram ao saber
que meu natalício era no mesmo dia que o de Otto von Bismarck ganhei como
presente de doze anos entrada para assistir o filme “Kirongozi o mestre
Caçador” na matinê do Cine Hollywood a 4 quadras da paróquia. O documentário
versava sobre a vida de um guia de safári paulistano J. Alves de Lima Fº de
genealogia cafeeira, que trabalhava com os britânicos matando animais de grande
porte na África. Matar um elefante, leão ou rinoceronte rendia na época mais de
30 mil dólares e era um dos negócios mais lucrativo no império britânico pós a
escravidão, além do monopólio do marfim.
Caçadores
profissionais ou desportistas acompanhavam os safáris por segurança e o mesmo
ocorria na Índia e em todo o Império Britânico que lucrou muitíssimo com isso.
Só o “chifre de pelos” de um rinoceronte (foto) valia mais de mil dólares. No
filme uma das cidades era a ilha de Zanzibar, antigo centro de tráfico de
escravos, então sede das autoridades da África Oriental Britânica, onde ocorreu
a guerra mais curta do mundo, apenas 38 minutos, em 1896.
Esta foto de
Farroukh Bulsara de ascendência indiana é da época de Kirongozi e você nem o
reconhece, mas vendo a foto adulto e a caráter não há jovem, balzaquiano e
anciãos que não reconheçam “Sua Alteza Real do Queens” Freddie Mercury nascido
em Zanzibar. Por que será que não recebeu o título de cavaleiro do Império
Britânico?
Se você com nossa
formação de escola pública procurar no mapa da África Tanganika e Zanzibar terá
dificuldades. Aprendi com os pais do padre que venceram a Guerra em Tanganyka
na primeira Guerra Mundial, mas perderam a Guerra na Europa e tiveram de
entregar a colônia, que havia sido totalmente alfabetizada e entregaram o
monopólio do cultivo de Piretro à coroa britânica, que logo o repassou aos
norte-americanos. Estes países ficaram independentes em 1961 e diante da
expansão do pensamento sobre o “Socialismo Africano” de Lumumba, Bella,
Kennyata, Senghor, Nkrumah, Touré, Nyerere, Agostinho Neto e Samora Machel e
Thabo Mbeki se deu a fusão de Zanzibar e Tanganika no dia 26 de Abril de 1964
passando a chamar-se Tanzânia.
Na Rodésia havia o
governo britânico racista de Ian Smith que “ilhava” totalmente o
desenvolvimento da recém liberada Zâmbia (ex-Rodésia do Norte). Fortalecida
Tanzânia e Zâmbia com apoio financeiro, logístico e operacional da China
começaram a construir uma ferrovia de 1.860 Km em meio a pântanos e selva
contrariando a vontade dos EUA, URSS, França, Grã Bretanha e principalmente do
Banco Mundial pois acelerava o fim da Rodésia e África do Sul do Apartheid.
Julius Nyerere
disse: “Todo o dinheiro neste mundo é vermelho ou azul. Eu não tenho o meu
próprio dinheiro verde, então onde eu posso obter algum? Eu não estou tomando
uma posição da guerra fria. Tudo que eu quero é meios para construir a
ferrovia".
O empenho e
fraternidade dos trabalhadores chineses (15.000) e africanos (60.000) era tão
grande que a ferrovia “Tanzânia-Zambia Railway foi inaugurada com dois anos de
antecedência ao previsto no projeto, pois esteve sob comando dos guardas
vermelhos de Mao Tsé Tung. Um deles foi meu colega de estudo na Alemanha, que
participara como engenheiro agrônomo na construção, pois eles produziam todos
os alimentos ao longo do canteiro de obras da Ferrovia. Em uma visita à Casa de
Karl Marx em Trier desde Saarbrücken passamos pela Estação de Saarlouis, e o
colega chinês disse: Aqui nasceu o “Leão da África”, o General alemão Paul Emil
von Lettow-Vorbeck, que com apenas 3.000 soldados alemães e 11.000 soldados
nativos treinados (Askaris) na Primeira Guerra Mundial derrotou reiteradamente
durante quatro anos mais de 300 mil soldados britânicos, belgas, portugueses e
franceses. Ele dizia que a confiança, lealdade e respeito dos soldados
africanos orgulhava o prussiano mais radical... Perguntei sobre qual a razão. O
chinês displicente olhando pela janela do trem respondeu. - É que todos os
soldados askaris eram bem alfabetizados e tratados de igual para igual e
respeitada sua identidade e ambiente. Nós aprendemos a fazer o mesmo durante a
construção da Ferrovia TA-ZA. O trem estava chegando a Trier, ele finalizou: -
Há o esqueleto do dinossauro (Iguanodonte) Dysalotosaurus lettowvorbecki
encontrado nas margens do Lago Tanganyka que está no museu em Berlim e tem como
homenagem o nome do general (foto). A China também foi dividida como uma pizza
em 1865 depois de ser imposta a ela o consumo de ópio monopolizado pelos
ingleses e somente com a revolução vermelha ficamos finalmente livres. Para
muitos dos nossos analistas, a estratégia de Bismarck era nas quatro colônias
do império alemão através da educação destruir os outros colonialistas e
provocar a luta pela “Freiheit und Einheit”, doce vingança pela pulverização
germânica por duzentos anos...
Sim, há
responsabilidade ética e moral nos naufrágios no Mediterrâneo e o último
rinoceronte branco?
No livro
Ecofascismo, Jorge Orduna registra o número de baleias caçadas no Atlântico sul
e os ingleses tomaram as Ilhas Malvinas, pois necessitavam de um porto
(Stanley) para o apoio logístico, depósito e comércio de licenças e serviços.
Lá está o registro de quantos milhares foram mortas a cada ano até ficar
antieconômico e se substituir o óleo de baleia pelo gás de petróleo e
eletricidade...
Para militares,
estratégia é a ciência e arte, já tática é sua aplicação; Da mesma forma ética
é equivalente à estratégia e moral é sua prática entre os povos.
Ontem na TV percebi
que “militante/torcedor é um fanático, sem estratégia ou tática, ou seja, sem
ética ou moral seja ele azul, vermelho ou verde.
Um norte-americano,
dono de um canal de televisão à cabo em Lüderitz capital da Namíbia tentou
subornar um funcionário de hotel com cem dólares, mas recebeu a resposta
cortês: “Isso, aqui não funciona, infelizmente o senhor não tem reserva”. Outro
visitante estrangeiro do alto de sua ignorância afirmou em discurso: “A cidade
é tão limpa que nem parece que estamos na África”. Finalmente alcancei entender
o porquê do fracasso do Receituário Agronômico e maior consumidor de
agrotóxicos do mundo, da concentração da terra & Reforma Agrária ou atraso
e sobre preço nas obras públicas e privadas no Brasil.
No Baruel F.C time
de várzea pude ver o ocaso do jogador da seleção Brasileira e ídolo corintiano
Baltazar e torcer ao lado do padre e seus pais depois da missa...
Os lemas da
Tanzânia são uhuru na umoja, que em swahili significa liberdade e unidade
África...) e furaha maadhimisho ya miaka (significa Feliz aniversário).
*Engenheiro Agrônomo e Florestal, ambientalista e escritor. (publicação original em sua página do facebook)