17 de julho de 2018
por Sebastião Pinheiro
Em Saravena,
Arauca, diante de um mural pintado coletivamente, digno de Diego de Rivera,
percebi um passarinho que chamamos de cardeal e, também galinho da campina ou
Tie Guazu (Paroaria spp., classificado por Millet/Buffon em 1776/1781).
Eu gosto muito dos nomes locais dos passarinhos, pois descobri, mais um.
Sempre aprendo. No Mural a consiga: "Nos
enterraram. Não sabiam que éramos sementes". Cultura é a primeira
e última expressão humana.
Por fortuna da minha infância carrego
comigo todas as figuras do folclore nativo, cujas fábulas encantaram minha
educação: "A pata sola" (Mula sem cabeça); "O Boitatá"
(Güiou luminoso) e o "Curupira" (a criança com os pés ao contrário)
sei as funções místicas de cada um (fotos). Todas essas figuras estranhas foram
criadas por humanos como forma
pedagógica ou repressiva de estímulo ou precauções para preservá-lo.
Folclore que com o passar do tempo se transforma na mitologia de superação da
natureza, aspiração humana no ultrassocial.
De onde estou posso antever em "dèja
vu" o que
virá para as próximas gerações, mais do que um folclore macabro ou
mitologia hedionda um genocídio, por isso é necessário antecipar uma reação e
construção, o restauro do Bio~Poder campesino na região.
Consegui consolidar o por que da
maior resistência dos camponeses das zonas de montanha e êxito na defesa do seu
território. As outras regiões niveladas foram priorizadas pela agricultura
industrial moderna, ao qual eu não me dava conta, nem consciência.
Nas montanhas vemos menor erosão cultural, maior distribuição de renda e poder cidadão compartilhado na comunidade, algo que não existe mais nas planícies do agronegócio.
Me encontro na várzea colombiana,
onde há uma incursão aniquiladora do agronegócio cobiçada para a expansão de
commodities estratégicas do Complexo Industrial Militar (Financeiro),
lembrem-se do que disse Eisenhower em 1954, por isso que é necessário decifrar
o que representa a "Palma Africana", "Eucalipto",
"Soja", sementes transgênicas e Glifosato que ameaçam diretamente a
autonomia, a saúde e até a existência campesina.
Como em outras planícies, aqui isso
começa na desvalorização humana pressionando sua autoestima para que abandone,
venda suas terras e migrem para as cidades para aumentar a "massa
salarial", consumo de alimentos industrializados, e principalmente, não
concorrer com a produção da indústria alimentícia. Com isso o agronegócio visa
eliminar a concorrência, pois não tem alimentos desvitalizados, contaminados e procura
enganar com belas embalagens e propagandas subliminares que valem mais de 80%
do custo, mas sem isso estariam fora do mercado. Simón Rodríguez, o
maestro de S. Bolívar disse: "Ou inventamos ou erramos".
Lembro agora o que Susan George
disse em 1980: "60% da economia do mundo está nas mãos de 20
corporações gigantescas". Isto foi antes das fusões da Biotecnologia e
não é folclore ou mitologia, mas pode ser tratado tanto pelos políticos ou
cientistas subservientes como tais figuras iniciais.
Ignoramos que os alimentos de
monocultura, milho, trigo, arroz valem 80% do valor dos produtos nas
prateleiras (estantes) dos Super mercados e Shopping Center, onde recheios
com celulose e amido engrossam e dão consistência, mas tirando o poder
nutritivo. Esses alimentos seguem preços internacionais como commodities,
regulados com a bolsa de Chicago e estão sobre o poder dos governos igual a
energia para permitir maior lucros aos monopólios, por isso as monoculturas dos
5 grandes blocos (Cargill, Louis Dreyfus, ADM, Bayer-Monsanto). Assim submetem
camponeses e povos.
As corporações e corretores, por
definição indústrias alimentícias não compram matérias-primas diretamente de
camponeses, não é por causa do seu grande número, cultura ou consciência
ambiental - social. É pela concorrência: Os querem extintos, transformados em
consumidores de seus produtos e substituídos por novos "agricultores"
(growers), meros consumidores de créditos, insumos e serviços, sem identidade
com a terra e sem uma cultura que impeça o consumismo das linhas de
montagem" em que está transformado o agronegócio. São eles que no Chile,
Argentina, Uruguai, Brasil, Santa Cruz na Bolívia e todas as planícies da
América Latina substituem o que a indústria alimentar deseja pela sua maior
capacidade de consumir insumos, serviços e tecnologias, mais principalmente de
concentrar "mais valia" drenando, descapitalizando o campo e
transferindo para as grandes corporações em conluio com governos.
Dizia Lutzenberger: "Um
milhão de camponeses produzindo 100 ovos diários cada é menos interessante para
a indústria alimentícia que, um empresário produzindo os mesmos 100 milhões de
ovos, pois induz a propinas e "vacinas" mais gordas, que, para as
corporações é embutida nos custos. É por isso que os governos planejam,
induzidos e constroem para eles a infraestrutura e logística destinada a
beneficiar as corporações, como se fosse uma obra pública, porém construída com
dinheiro público. Mas o grave, é permitir a propaganda na mídia e marketing, o
que oprime e expulsa camponeses dos seus territórios por carência de
infraestruturas e obras públicas.
A alienação desses novos membros do
agronegócio são úteis para o desenvolvimento de tendências, sem alternativa ou
questionamentos e passa a ser a política mundial através dos órgãos
multilaterais, enquanto dia a dia verticalizem os seus interesses dentro do
modelo e através das violências estruturais perpetram o genocídio econômico em
que vivemos.
O problema maior é que as grandes
planícies próximas das cadeias de montanhas, que começam a conhecer as
monoculturas enfrentam outro problema que é por tal mais notável e
catastrófico: a apropriação do mais-valia campesino, que deve ser dividida em
mais-valia ambiental e social. Qual os significados dessas mais-valia e como
são apropriados pelos governos, sem os devidos serviços ou políticas públicas?
Todo e qualquer alimento natural
campesino ao chegar a uma capital (Bogotá é um bom exemplo), cria uma rede de
negócios que não são de interesses central do agronegócio, das grandes
corporações. As infraestruturas, logísticas, distribuições e diversificação da
renda são vigorosas e necessitam ser estudadas e equacionadas dentro de uma econometria,
onde os governos são suspeitos para fazê-los e as academias necessitam purgar
as induções dos "Chicago Boys".
Pelo desgaste da agricultura moderna
a partir dos anos 60 no centro e 80 na periferia foi criado o termo "deseconomias
externas"* ao processo produtivo e cumulativo de capital embasado nas
"deseconomias internas" inerentes ao empresário. Desempenho
das máquinas, manejo e gestão, logísticas e outras que lentamente passarão a
ser responsabilidade-função do Estado e Sociedade. Algumas legislações foram
aprovadas, mas, de valor cosméticos na ordem de combate à poluição e devastação
da natureza.
Após a Conferência Rio 92 surgiu o
conceito de "Sustentabilidade" com campanhas subliminares para
absorver as deseconomias externas, coisa que na agricultura campesina
não é necessária, pois os seus processos tecnológicos não produzem tais
deseconomias. Para a ideologia de desenvolvimento e crescimento da Indústria de
Alimentos (Agronegócios) a presença campesina é subversiva e precisa ser
eliminada pela qualidade superior e baixo preço de seus produtos, mas
principalmente por impedir o acumulo de capital de forma exponencial
concentrada. A mais-valia social e ambiental camponesa são prejuízos para os
corretores (brokers) e corporações.
Como na agricultura camponesa não há
as deseconomias externas pela reação ao uso de crédito especulativo, adubos
químicos, agrotóxicos, máquinas intensivas, sementes transgênicas com
suas proteínas tóxicas e resíduos de genes estranhos. Além disso, por
sua escala as deseconomias sociais e ambientais nulas ou quase, são
perfeitamente corrigidas pela organização e tecnologias apropriadas.
No cálculo da destruição da
mais-valia social camponesa é necessário considerar os custos sociais dos
massacres, luto e insegurança social não como deseconomias externas, mas como
responsabilidade consciente das corporações; da mesma forma, da mais-valia
ambiental camponesa por causa da devastação e contaminação da natureza.
Estes dois últimos componentes
crescem em proporção na mais-valia geral camponesa pelos danos à mudança
climática, pois com a mesma ação ultrassocial camponesa de produção de
alimentos, pois o campesino pela sua forma de produzir, mais do que mitigar,
corrigir os impactos negativos da mudança climática, fixando os gases do efeito
de estufa no solo de vital importância também nas reservas de água e isto
precisa ser levado em conta.
Perdoem-me a ousadia, mas o maior
valor não está sobre a “mais-valia econômica", mas sobre a
"mais-valia social" pelo valor cultural do alimento campesino no
fornecer da capital e grandes cidades. Aqui pude perceber o por que os Chefs
procuram alimentos culturais camponeses para seus caros pratos. Queira
Deus que não estejam mancomunados com a Indústria de Alimentos nas áreas
populares, e também de luxo.
Como calcula-la e destaca-la dentro
da composição do mais-valia, sem perder de referência que campesino em seu modo
de produção preserva a natureza e meio ambiente, que se põe na contra via as
deseconomias externas criadas pelo agronegócio, pois há uma "mais-valia
ambiental camponesa" de valor tão grande quando a "mais-valia social
camponesas" e deve, urgentemente, ser "econometrizada".
Nas áreas de várzea entre montanhas
na América Latina, com população campesina são mais de cem anos de massacres e
genocídios realizados por interesses do império.
Qual é o valor da Econometria Invisível Campesina na América Latina, em especial quanto a mais-valia social e ambiental?
Quais os seus impactos positivos sobre o trabalho, Distribuição e Desconcentração de Renda?
Enquanto isso, nas Planícies Altas
(Planaltos) do Brasil (e outras áreas semelhantes na América Latina), já
totalmente ocupado por aquelas 5 corporações expulsando os agricultores
familiares, tivemos a legislação ambiental (Novo Código Ambiental) induzida
para os serviços de GoNGO (ONG Governamentais), tipo WWF e outras do Jet set
transnacional (Paz Verde) para consolidação da indústria alimentar através de
propaganda sobre uso de solo por Aptidão, respeito à natureza e restrição de
áreas para se tornar inviável a agricultura familiar já estabelecida há 250
anos.
O usuário campesino desde as Ligas
Camponesas derrubada por U.S State Dept., em 1964, agora está em estertores no MATOPIBA
(72 milhões de hectares, ameaçando mais de milhão de usuários camponeses, que é
usado na propaganda oficial do órgão de Investigação Nacional. Na expansão
final da fronteira do agronegócios; com exceção da Amazônia, onde
a ameaça é a produção do “BIOCHAR”® como commodity, para suprir a Europa,
Norte-América, Ásia e Austrália. O diabólico é que eles querem vender serviços
do “BIOCHAR”® e a reflorestação com Eucalipto para poder vender as suas usinas
de pirólises da madeira, inventadas antes da Primeira Guerra Mundial).
A leitura de "Rescoldo
bajo Cenizas", de Ignacio Betancur Sánchez é recomendado. Respostas
necessitam de especialistas comprometidos com a construção do Bio~Poder
campesino. Zapata Vive e a luta segue.
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*Denominadas también externalidades negativas,
consisten en que los costos de una actividad se difunden a otras personas sin
que reciban por ello ninguna compensación. Por ejemplo, la contaminación que
producen las industrias químicas produce un deterioro en el medio ambiente que
sufren todos los habitantes del entorno sin que reciban por ello ninguna
compensación.
IGNACIO BETANCUR, SU CORAZÓN:
"RESCOLDO BAJO CENIZA" fonte: libros y libres
DE EDUCACIÓN Y ESPÍRITU JUVENIL
Dice Ignacio Betancur en sus Confesiones peregrinas:
"[...]pese a todas las adversidades, existen jóvenes llenos de capacidades
y de sueños hermosos con un horizonte brillante, lleno de colorido. Jóvenes que
cuando ven espacios para participar, para crear, para soñar, nos dan
demostraciones que nos llenan de entusiasmo. Ellos, los jóvenes, que son el
futuro, representan una fuerza capaz de transformarlo todo.
Así como en un temblor de tierra podemos apreciar fuerzas extrañas y
poderosas que mueven edificios y llegan a hundir ciudades, también en la
juventud hay una fuerza poderosa capaz de transformar la patria, si la
dirigimos bien; pero también capaz de hundirla, si la orientamos mal y no le
permitimos liberar su potencial.
Pensamos que actualmente la juventud carece de oportunidades. No tiene
espacios para expresarse, no encuentra cómo ni con quiénes dialogar, ni en su
casa, ni en el colegio, ni en el municipio, ni en la parroquia.
Siempre hemos creído que esos muchachos no sirven para nada, que son
perezosos, díscolos e inútules. Nosotros, tanto profesores como padres de
familia, estamos llamados a la reflexión y a un cambio de pedagogía en nuestra
relación con ellos. Porque joven no es quien tiene poca edad, sino quien tiene
alma y corazón llenos de ese potencial capaz de mover montañas".