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Sebastião Pinheiro: os totens e os agrotóxicos
O auditório lotado assistiu a um Sebastião Pinheiro entusiasmado pela vida em uma noite memorável falando sobre agrotóxicos e seus malefícios presentes e futuros para a humanidade. E elogiando as grandes iniciativas locais, como por exemplo, a criação da Coolmeia, que viabilizou o grande crescimento dos alimentos com qualidade, orgânicos, no Rio Grande do Sul e o Brasil.
O Agapan Debate da última segunda-feira (25), realizado no auditório da
Faculdade de Arquitetura da Ufrgs, abordou o tema Agrotóxicos e seus
Impactos na Sociedade. O que se viu foi um chamamento à participação de
todos em uma sociedade que ama a humanidade e todos os seres vivos.
Lembrou em vários momentos a importância da própria Agapan, criada em
1971, para a luta contra os agrotóxicos, agradecendo ela estar forte
até os dias de hoje.
O palestrante usou a imagens de totens indígenas para dizer que
‘agrotóxico’ pode ser entendido como um totem real nos dias de hoje - é
inatacável, trata-se de uma crença, faz parte de uma religião em que as
pessoas simplesmente acreditam ser inevitável.
Sebastião foi duro ao verificar que a sociedade vive hoje alienada da
forma de produzir sua alimentação. Citou o grande geógrafo Milton
Santos: “A força da alienação vem de uma fragilidade dos indivíduos
quando só conseguem identificar o que os separa e não os que os une. O
mundo não é formado pelo que existe, mas também efetivamente pode
existir”.
Francisco Milanez, presidente da Agapan, que conduziu a mesa dos
trabalhos, disse que as pessoas não se dão conta que se pararem de
consumir alimentos contaminados, em pouco tempo acaba o mercado dos
agrotóxicos.
Sebastião destacou que a estrutura mundial de poder, mercado e
conhecimento está vinculado ao funcionamento de um grande complexo
industrial militar. E que conhecimento para beneficiar a vida e a
produção de alimentos com qualidade é de conhecimento de populações
nativas há centenas de anos. No entanto, grandes empresas, como a
Cargil, que detem 90% do fósforo mundial e controle sobre outros
componentes básicos, manejam os mercados e o conhecimento de pesquisas
em favor da vida de forma a obter para maiores rendas financeiras. Da
mesma forma, ADM, Louis Dreyfus, Bunge e Nestlé.
O pesquisador historiou a liberação cada vez em maior número de
agrotóxicos no Brasil, chamando de marionetes da indústria do veneno os
políticos e funcionários que liberam a comercialização destes produtos
de circulação proibida ou bastante restrita em outros países. Eles fazem
a adoração do agrotóxico, considerou. Citou que há casos de proibição
da exposição do tema ‘agroecologia’ em institutos agrotécnicas e apoio à
soja resistente ao glisofato até pela Embrapa (1998).
Na palestra, ainda destacou opções de uso benéfico do pó de rocha na
agricultura e outras práticas hoje utilizadas pela agroecologia
familiar.
Ao final, fez um chamamento à ação contra a prática da admissão pela
nossa sociedade do alimento com agrotóxico. Embora sem venenos, a
produção orgânica vendida em supermercados ao preço de ouro não é
resultado da agroecologia – “apenas esta consegue oferecer preços
viáveis e justos”.
O vídeo integral da palestra estará disponibilizado em alguns dias no canal da Agapan no YouTube.
Lançamento do livro AgroEcologia 7.0
Na mesma noite, foi realizado o lançamento do livro “AgroEcologia 7.0”,
de autoria do próprio Sebastião Pinheiro. Originado em uma primeira
impressão mimeografada distribuída a mão em 1983, teve uma segunda
edição ampliada em 1986, como nos anos seguintes. Agora, a edição
comemora esta longa caminhada em 663 páginas.
Aponta o autor, na apresentação, que, graças ao livro, muitos passaram a
desenvolver teses acadêmicas, muitas dezenas de empresas surgiram e foi
abreviada a agonia da agricultura moderna, que “em estertores mudou seu
nome para Agronegócios e busca desesperadamente hegemonia para o
autoritarismo servil.”
A fila de autógrafos foi longa. A impressão de 1500 exemplares do livro
tornou-se viável por meio do financiamento coletivo. Exemplares do livro
podem ser adquiridos através do e-mail: agroecologia7.0@gmail.com
Prêmio Agapan de Ecologia
Durante a programação do Agapan Debate, a Associação Gaúcha de Proteção
ao Ambiente Natural ofereceu o troféu Padre Balduíno Rambo ao seu
ilustre associado e palestrante da noite, Sebastião Pinheiro.
Sebastião Pinheiro, em um breve currículo, é técnico agrícola pela
Unesp, Jaboticabal/SP, 1967; Engenheiro Agrônomo, Universidad nacional
de La Plata (UNLP), 1973. Pós-graduado em Engenharia Florestal, na
Escola Superior de Bosques, UNLP, Argentina, 1975. Foi delegado
brasileiro no Codex Alimentarius das Nações Unidas em Haia, na Holanda.
Pós-graduado em Toxicologia, Poluição Alimentar e Meio Ambiente na
Bundesanstalt für Getreide-, Kartoffel- und Fettforschung (BAGKF),
Alemanha, 1983. Investigou em Tucuruí o uso clandestino de herbicidas
(Agente Blanco e Agente Laranja), em 1985.
É autor e coautor de diversas publicações: “Agente Laranja em uma
República de Banana”, “Biotecnologia: muito além da revolução verde”
(por Henk Hobbleink, tradução e contribuição), “Agricultura Orgânica e
Máfia dos Agrotóxicos no Brasil” (em parceria com Dioclecius Luz e
Nasser Youssef Nasr); “Ladrões de natureza”; “Saúde no solo versus
Agronegócios”. Traduziu de “Panes de Piedra” de Julius Hensel e “Húmus”
de Selman Waksman.
Em 1990, inicia os trabalhos na Universidade Federal do Rio Grande do
Sul (UFRGS) na Pró-Reitoria de Extensão Universitária e posteriormente
no Núcleo de Economia Alternativa da Faculdade de Ciências Econômicas
como enlace com os movimentos sociais (MPA, MST, MMC e outros) até sua
aposentadoria.
Ativista científico em agricultura saudável, cromatografia de Pfeiffer e agroecologia camponesa.
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