05 de junho
Por Sebastião Pinheiro
A foto acima diz tudo. A usamos para continuar o postado ontem (“Regulação Biótica do Meio Ambiente, 04 de junho”, post anterior neste blogue). O exemplo é pedagógico. Um governo heteronômico determina que a mineração anacrônica de carvão seja imposta e obriga a Secretaria encarregada da Educação Ambiental fazer publicidade e propaganda de mineração em área de agroecologia, com conteúdo cultural. A agência usa o salutar hábito do chimarrão.
A ignorância industrial servil não sabe que, guaranis e mapuches usam bombilhas de vegetais, ossos e marfim, para evitar que o sistema nervoso com os metais das bombilhas aumentam a polarização nos alcaloides da infusão com descargas elétricas no cérebro. O que é conhecido desde as Missões Jesuíticas. É bem anterior ao fato de os orientais não colocarem talheres metálicos à boca na alimentação.
Isso merece um análise. Guitta Pessis-Pasternak em seu livro “Do Caos à Inteligência Artificial” diz: Segundo Jacques Attali, o poder também é caracterizado por sua capacidade de gerar a violência, cujas duas dimensões essenciais são o lugar onde ela se localiza e o momento em que se realiza; ele deduz daí que todo processo que mede o tempo contém violência e reflete as nossas liberações e submissões respectivas.., a cada grande alteração do poder, mudam também a medida e a concepção do tempo: o relógio solar, a clepsidra, o relógio de quartzo são signos anunciadores das profundas rupturas da ordem social… são índices excepcionais das sociedades às quais dão o ritmo, pois a própria noção de poder é indissociável do controle do tempo alheio, e portanto do próprio humano.
… se as três ordens que marcaram a história – a ritual, a imperial e a comercial, fundando a manutenção da ordem sobre o mito, a força e a mercadoria – atingem seu fim, que nova ordem permitiria conjurar a violência atual? , é que a ordem mercantil se dissolve hoje, e que a ordem em gestação na crise atual (1990) é a ordem dos “códigos”, onde tudo corre o risco de se tornar objeto biológico industrial, inclusive o comportamento humano e ele próprio produzido e consumido como uma mercadoria.”
Com este introito retrocedemos à 2000 para decodificar V. Gorshkov, V. Gorshkov e A. Makarieva em “Biotic Regulation of the Enviroment, Key Issue of Global Change” que possui uma defasagem de uma década, quase nada pela queda do Muro/Fim da URSS.
A “regulação biótica” na natureza através dos tempos necessita ser enquadrada tanto nas ordens, quanto na respectiva violência/poder: ritual (mito); imperial (força) e comercial (mercadoria).
Se hoje EUA, China e UE controlam a violência dos códigos sobre o Planeta, na América Latina e África seus interesses e tentáculos continuam atuando na ritual e imperial com as respectivas violências mítica e força o que torna fácil entender a heteronomia do poder local e o valor mercantil da natureza, inclusive humana como mercadoria que pode ser como tal destruída.
Fazer a leitura de população de genes integrados em comunidades complexas como regulador e válvula de segurança para as estruturas harmoniosas da natureza (Planeta), contudo, agora mero meio ambiente absorvedor de aplicações financeiras altamente rentáveis através de serviços de Terceiro Setor, pouco muda desde as Companhias das Índias, para o território, geografia e economia das sociedades locais.
Não deveria ser assim. Alguns exemplos esclarecem:
a) O uso de bactérias (Bacillus turingiensis) no controle a pragas agrícolas na Alemanha no início do Século XX descoberta por Ernst Berliner em 1911 e amplamente usada na França após a primeira Guerra Mundial;
b) O uso de Biofertilizantes feitos com esterco de herbívoros no final do Século XIX comercializado como “Alinit”® por Bayer até a República de Weimar; e
c) Os Bacullovirus no sul do Brasil na década de 1970 e 1980 estavam fora dos órgãos oficiais de governo, educação e ciência do país.
Os três exemplos demonstram o “biopoder camponês”, que não necessita da leitura ou subordinação à ciência sobre ordem, tempo, violência e poder. O que ocorreu é que ela se torna privilégio corporativo subsidiado pelo povo, sem servi-lo de forma cidadã.
Algo impregna as entrelinhas de “Biotic Regulation of the Enviroment, Key Issue of Global Change”, escritos por 3 físicos. É a ciencia visionária e genial de Nicolai Vavílov o grande botânico de plantas domesticadas, que como agrônomo-cientista excursionou pelo mundo coletando sementes domesticadas para seu Instituto em (São Petersburgo, Leningrado, São Petersburgo) no início do Século XX.
Vavilov transplanta o conceito de “variabilidade das plantas (domésticas), além do descrito por Darwin e De Candolle, para a natureza. Nossas principais safras de alimentos foram desenvolvidas ao longo de milênios e se originam de um ponto central a partir do qual se dispersaram com sucesso. Ele hipotetizou que esses “centros de dispersão” eram provavelmente onde a diversidade genética das espécies de cultivo é mais alta.
Nos Centros gênicos ou de origem são regiões geográficas que contêm uma variedade extraordinária de contrapartes selvagens de espécies cultivadas, plantas tropicais úteis ou origens geográficas de gêneros não cultivados. Um retrocesso genético de um traço considerado primitivo em variedades cultivadas é chamado de atavismo.
“Uma planta selvagem tem seu centro de origem no lugar onde tiver a maior presença em seu germoplasma de genes recessivos”. Com certeza V. Gorshkov e A. Makarieva entenderam, bastando transladar para a Natureza o observado para a ação do camponês com seu biopoder, facilitado por algo que Vavilov previu um século antes como erosão genética da biodiversidade na natureza, a partir das plantas domésticas pelo tipo de melhoramento mercantil executado no interesse das agro corporações. E agora se sofre a violência do poder nos meios de comunicação em impor sua ordem, tempos e violências para fortalecer o poder do Complexo Industrial Militar Internacional.
A crise climática permite através do Ciclo da Matéria Orgânica natural ou ultrassocial dependente da biodiversidade microbiana, sua restauração “in situ” no território camponês, “centro de origem”, e em sua terra cultivada como centro de dispersão de esporas para fixação dos Gases do Efeito Estufa e restauração através da autopoiese do Clima no Planeta. Essa é a mensagem do livro que discutimos, no dia do meio ambiente e agora concluímos. Carpe Diem.
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