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"Harmonizo meus pensamentos para criar com a visão". "Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e não mais lutando por dinheiro e poder, então nossa sociedade poderá enfim evoluir a um novo nível".

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

DICOTOMIA, GARIMPO, MELANCOLIA, MAS É NATAL

A ordem dos fatores não altera o resultado. Dicotomia é quando uma coisa tem corpo e alma vistas de forma diferente por terceiros. A tardia sentença do STF inundou o país de viúvas de heróis injustiçados, mas para outros ladrões ordinários. Macaco velho não mete a mão em cumbuca. Prefiro outra dicotomia, o Estatuto da Criança e do Adolescente é maravilhoso, mas usado e abusado pelo crime na epidemia de crack & amp; homicídios; há a dicotomia no jornal (ZH 17-XI-13): “64% dos remédios gastos pelo RS foram via judiciais, e diz que custaram mais caros que através de concorrência”. Dicotomia é escolha de versão, cidadania ou corrupção. Em um garimpo tudo é dicotômico, pois antes da cidadania somos torcedores, fanáticos ou dogmáticos.

Fui esclarecido por um jovem argentino ruivo e grandalhão que dizia chamar-se “Salvador”, a quem me identifiquei como Olegário em um churrasco nas periferias de Buenos Aires, no final dos anos sessenta. Jovial, ele alertou: “No creas em lo que vês, pues todo es dicotômico. Hay que encontrar la quinta pata al gato, aún más em tu país sin raíces y con resquícios de império”. Não foi a primeira vez que escutei ambas as expressões tão comuns na Argentina da época, mas fui à biblioteca saber o que era dicotômico. Aluno de escola pública, sem berço e família.
 
Muitíssimo tempo depois de sua morte soube que ele havia sido condecorado por Ho Chi Min na Guerra do Vietnã por haver detonado um explosivo no clube de oficiais (cassino militar) em Saigon disfarçado de oficial inglês (canadense) com centena de mortos e feridos. Assunto dicotômico: para uns, herói para outros terroristas. Nunca rezei por ele, mas tinha razão, sem ser sufista, atenção não é surfista. 


Não estou estarrecido com a dicotomia sobre a Ação 470 (Mensalão), mas lembro da juíza que levou os bicheiros do Rio de Janeiro para a cadeia e aproveitou sua fama para eleger-se à Câmara Federal. Não conseguiu com sua sentença solucionar o problema carioca, mas ganhou o mandato, e, dicotomistas afirmam ter o problema ficado pior. Estará a 470 nos trilhos da sentença da juíza? Entristece constatar que embora lutemos contra as vicissitudes vivemos em uma grande Serra Pelada. Toda vez que abro o Facebook, uma válvula de escape contra a morbidez e mediocridade encontro 99% de vaidade, alienação, frivolidade e 1% de alegria, utilidade e cultura ou informação, bem nos moldes do império, onde a corrida ao ouro é livre. É bem verdade que no pouco de informação há coisas tão fantásticas que faz valer a pena ler cotidianamente, mas a tristeza se deve ao choque de opiniões, que vão da ingenuidade à canalhice com velocidade da luz. Gostaria de entender os comportamentos de muitos, crendo estarem respaldados na fidelidade ou fé ideológica para justificar exórdios, gosto de papai Noel e muito, mas não sou um garimpeiro, nem jamais pretendi viver em um garimpo por saber que nele não há vínculo com ninguém, nem com nada, tampouco futuro ou passado, apenas o agora.


Tenho viajado, acompanho as estripulias dos governos periféricos direcionando e privatizando leis para atender interesses, confesso que estou com medo. Lembrei do algodão mocó e da Ligas, do Correia de Pariconha/AL e fui buscar inspiração no livro “A cabana de Pai Tomás”, que li três vezes, a última em inglês me chocou o subtítulo que não há na edição nacional: “A vida entre os humildes”. Nossa elite é pródiga em garimpagem. Eles querem que tomemos partido nos maniqueísmo que produz. O que mais me espanta é que os que se dizem lúcidos e partidários são os que mais se comportam como elitistas, talvez seu garimpo competente.
Viver em uma sociedade democrática é bem diferente do viver em um garimpo, onde “bamburrar” é encontrar o ouro, diamante, diploma, mandato, nomeação para deixar de ser um “blefado” ou “melexete” e alcançar a glória em Brasília, Paris, Havana, Londres, Washington ou Pequim.


A história norte-americana conta que Lincoln no encontro que teve a autora Herriet Beechar Stowe, do livro, afirmou: “Foi a senhora com seu pequeno livro que provocou essa grande Guerra”. Pequeno-Grande. Lá as feridas ainda não fecharam mais de cento e cinquenta anos depois e não fecharão tão cedo.


Apesar da sentença do STF na ação 470 caímos três lugares na classificação mundial. Será o juiz, igual que a juíza, também candidato, tenta bamburrar? Lembro do voto de Minerva do Ministro Celso de Melo e suas reiteradas citações ao Ministro da Justiça Buzaid, pai do Buzaidinho do caso Ana Lídia e o Rezendinho, filho do Senador quando nossos capatazes cumpriam as normas ditadas pelo Depto de Estado no garimpo ideológico da Guerra Fria. Era uma época que os julgamentos eram realizados “à pedido” e o artista famoso com um revolver magnum 357 de uso militar executou um engenheiro por um empurrão, mas foi absolvido no interesse de Geisel “com legítima defesa”. Um renomado correspondente de guerra que com sua calibre 12 de cano serrado (CCC) fuzilou uma jovem, mas condenado teve um apto construído dentro do Presídio Central. Se lá é KKK aqui é PPP e na Argentina bem pior, pois foram 30 mil mortos e ninguém se refere a Kissinger... 


Lembro o amigo de origem japonesa, que retornou depois de quinze anos trabalhando na terra de seus avôs, me contou envergonhado: - Quando entrávamos nos supermercados os alto-falantes alertavam em japonês cuidado com os brasileiros eles roubam mercadorias..; Ou a religiosa nordestina retornando de viver na Alemanha revoltada com os cartazes oficiais de turismo alertando o turismo sexual juvenil. Em nenhum país decente havia tais cartazes, apenas nos que não cumprem as leis, onde existem os mais iguais, pois em garimpos não existem leis, nem respeito à vida ou dignidade. Lembrei da menina menor de idade, no Pará presa por uma juíza junto com condenados do sexo masculino e para poder comer tinha de prostituir-se... No garimpo nunca mais se falou no assunto.


O avião agrícola em Salto do Jacuí pulverizou o acampamento dos Sem Terra, na Fazenda Santa Elmira com a morte de oito crianças. No Jaru em Rondônia fomos alertados pelo colega: “Aqui o pessoal do Sul costuma misturar açúcar com Aldrin 40% e deixar na beira da estrada para matar indígenas. Eles adoram açúcar”.


Listar escândalos é tarefa fácil em nosso comportamento “tomista” (pelo velho ancião escravizado do livro e não pelo Santo ungido na Summa Theologicae em 1250). Na dicotomia de um garimpo, a mulher de César não precisa ser honesta, nem parecer honesta. Logo se justifica que estão pegando os meus e não estão pegando os teus em maniqueísmo suficientemente idiota. Enquanto o império, imperialismo ou o manejo da periferia em ultrasociabilidade é levado ao medo e ao ódio para a infiltração e esgarçar o tecido social em seu benefício. Eles para isso têm experiência desde Gilgamesh em Ur e este é seu exclusivo garimpo. Despertem abobados é natal e nada como cinco papais Noéis e uma mamãe Noela. La lucha sigue y sigue. 


O empenho pessoal na tardia ação 470 do STF encaminhou os condenados à prisão. Aqueles, entre eles que deveriam por dever de oficio proteger o dinheiro público imitaram seus desafetos políticos, ainda impunes, mas foram soberbos ou pouco competentes e agora purgam a condena. O ditado garimpeiro: “Feio é roubar e não poder carregar” é mais que válido e não permite afirmar que o tribunal foi de exceção. Aqueles eleitores, que deixaram de votar nos desafetos, democraticamente foram desrespeitados e foram outra vez ultrajados. Todos são obrigados a viver em um garimpo a partir deste comportamento.


Relevar a recomendação junina do “Relaxa e goza” que me fez ficar 72 horas no aeroporto, quando muitas mães não tem um leito hospitalar para seu parto é simples quando ingenuamente pensei que ia mudar. Da mesma forma ignorei a afirmação: “As ruas de Windhoek são tão limpas que nem parece que estamos na África”, pois devia ser falta de seriedade na assessoria diplomática acostumada com Paris-Roma-Londres-Washington.


Quando uma reitora de universidade pública gaúcha afirmava que o vestibular era um sistema universal de seleção, pensei que era apenas falta de escolaridade. O tempora, o mores, mas sempre há esperanças, pois um advogado usou a lei de proteção aos animais para defender um líder político e o deputado Barreto Pinto, debochado, pousou de cuecas para uma foto que não foi feita em logradouro público, mas servil para a declaração de falta de decoro parlamentar, que ele exemplificava com o ato. Para o bicheiro vale o que está escrito para o político vale o simulacro.


Lembro de tudo isso, por que é Natal, quando condenados levantam o braço e o punho cerrado (dicotômicos) em consigna revolucionária, estranho pela situação indigna. Lembro do Livro a Cabana do Pai Tomás e do anônimo provocateur que gritou “Viva La Muerte” durante audiência presidida pelo Reitor Unamuno na Universidade de Salamanca. Logo transformado em consigna pelo general falangista Millán-Astray. A guerra civil espanhola (1936 – 1939) orquestrada pelos quatro ventos alastrou-se pela humanidade, deixando a lição: - Quando a morte tem preço e a vida apenas valor, cresce a economia, a alienação & corrupção e também a dicotomia. Mas é Natal.


Assim sendo, deixo-vos em ótima companhia: “No queremos ricos, no queremos sacerdotes ni gobernantes; no queremos bribones que exploten la buena fé de los trabajadores; no queremos bandidos que sostengan con ley a esos bribones, ni malvados que en nombre de cualquier religión hagan del pobre un cordero que se deje devorar de los lobos sin resistencia y sin protesta. Por que cualquiera que este una pulgada arriba de nosotros es enemigo. La dictadura de la burguesía o del proletariado, es siempre tiranía y la libertad no puede alcanzarse por medio de la tiranía. La libertad no se conquista de rodillas, sino de pie, devolviendo golpe por golpe, infringiendo herida por herida, muerte por muerte, humillación por humillación, castigo por castigo. Que corra la sangre a torrentes, ya que ella es el precio de su libertad.” Ricardo Flores Magón para eliminar ilusões, melancolias, dicotomias e viuvez, afastar as desgraças do Pai Tomás e fechar as Serras Peladas e outros garimpos. Contra soberbia, humildad suspira el fraile. Contra soberbia,¡rebelion!, gritamos los humanos. O resto é onanismo, mas o gato sim, tem cinco patas.

Sebastião Pinheiro

 

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