26 de setembro 2020.
Por Sebastião Pinheiro
Uma das coisas que me atraem é a Índia, por seu povo e sua cultura em especial pela religiosidade. Vou tomá-la como exemplo para uma análise dos tempos sombrios em “Terra brasilis”, “onde as aves já não gorjeiam como dantes, e só há Quartéis de Abranches”. Isso não é simples, nem fácil, mesmo com as enciclopédias digitais. Ódio e ignorância forjada se impõem ameaçados por um livro sagrado que analfabetos o leram pelo ouvido, para o bolso.
Casta é uma palavra ibérica, ligada à castidade, não-filhos fora da família. Em sânscrito, na Índia ela é Varna e significa "cor", mas é muito mais que isso. É uma discriminação por estratificação social, por sangue, a forma mais segura de fidelidade ao poder e seus poderosos. Elas frequentemente, incluem a educação como responsabilidade familiar, ofício, status ritual numa hierarquia e interações sociais consuetudinárias e pela exclusão baseada em noções culturais de pureza racial.
O sistema de castas brasileiro deveria ser um tema fundamental dos “brazilianistas” por esta sociedade, como à norte-americana ainda não terem purgado a escravidão do nativo africano contra vontade transplantado; nem o tratamento ao nativo autóctone, que teve uma visibilidade há duas décadas pós 1988, e agora não pode tornar-se, novamente invisível. Querem campos de concentração como Dachau ou o extermínio.
A ONU diz existir castas para 250 milhões de pessoas em todo o mundo, desculpem, o sarcasmo, mas desses, quantos habitam Pindorama?
Os indianos criadores religiões tão complexas adotaram essa estrutura já abolida por lei, mas em 1982, na Alemanha vários colegas indianos não se falavam entre si por serem de “castas sociais” diferentes. Os mais asquerosos eram os denominados pelos outros mais humildes de “bramanes” e “sikhs”. Mas, eu não tinha ainda a experiencia de Brasil de hoje e sequer entendia o significado da ira entre eles. Um sikh referindo-se a um colega que era eng. elétrico usou a expressão: ralé, que eu conhecia de minha infância, bem longe de dos solos férteis de Uttar Pradesh e a belíssima Benares (hoje, Varanasi).
O Rio de Janeiro dos Bolsonaros é o lugar mais fácil para se entender as “castas” e como no passado a cultura, esporte e outras excelências ignoravam a etnia ou status social e a religião não era um negócio grosseiro e prostituído. Como diria Castro Alves. Meu Deus, Meu Deus, tudo agora se transformou em leviatãs… Não há somente “bramanes pastores” e “sikhs” na tecnocracia, quem manda agora são os xátrias armados do narcotráfico ou as vaícias do poder (milícias) que protege contra os sudras e párias da ralé.
O menino da favela respondeu ao repórter, com a perspicácia carioca: Ele usou o você (não o tu, pois perdeu até o linguajar) acha que eu vou ficar como o meu pai, assentando tijolo 12 a 15 horas por dia, todos os dias na semana por dois mil reais ao mês… Eu aqui como “soldado” ganho isso por noite no branco (cocaína) e um terço no preto (maconha). O repórter disse: mas o perigo é grande. Ao que ele enérgico retrucou: - viverei até os 25 sem sorte, mas como rei, sem saber parafraseando um dos ídolos dos Bolsonaros: “- É melhor viver como leão um dia que como camundongo durante toda a vida” (Mussolini). O Governador do Rio de Janeiro, juiz Federal alegou em sua defesa: - Eu não vendo sentença. Arroubo de “honestidade”, de pobres de espírito, nem sequer sabe o que disse...
Foi a época que cultivávamos as virtudes de ser pobre, e, o pior é que sem saber o que perdemos… Naquela Europa aprendi que africanos e indianos respeitam a lei por virtude, e que Europeus, por temer o peso das penalidades da lei… O que são coisas não só diferentes, porém antagônicas.
Esta introdução ao exótico distante visa entender algo recente no âmbito de uma das comunidades de elite na sociedade nacional, que se não é a mais culta, é pelo dito antes excelente. Sim, todos sabem, que houve eleição na Universidade Federal na capital do Estado. Ela começou no seu máximo órgão democrático de representação, o CONSELHO UNIVERSITÁRIO (CONSUN). Três chapas se apresentaram a ele buscando apoio para poder lançar suas candidaturas, a uma eleição indireta por razões éticas, como tal mediata pelo poder máximo do presidente da República, pelo que se torna um simulacro proforma, em respeito à autonomia e excelência daquela comunidade e subordinação à soberania do povo.
Uma chapa postulante teve apenas três votos no CONSUN, o mais correto seria dentro da cidadania, e não castas ou classes uma desistência honrosa, pois é do ambiente de seleções universitárias os scores, médias, referências e os sufrágios conquistadas não seriam suficientes para postular-se.
Sabatinada, sobre seu comportamento, externou que não aceitaria a indicação caso não fosse a mais votada, em compromisso de comportamento ético.
Bem, falta de virtude e excesso de vaidade cavalgam lado a lado em um mesmo campo para aqueles com pouca lucidez para o óbvio.
Vieram as eleições, onde parâmetros medievais viciam o processo indiano de castas no caso de docentes, discentes e servidores de ambos (sudras) com valor de votos diferenciados, que não poderia haver em uma comunidade tão gabaritada, setenta anos depois da independência e abolição das castas na Índia, onde vigora o voto universal.
A leitura é outra, o sistema se protege por meio de uma estratificação artificial e iníqua em valores. Lembro as eleições na UNB quando um guarda de segurança, induzido pela ditadura e sem saber o significado do termo reitor, resolveu se candidatar ao cargo de Reitor. Os estudantes de física resolveram lançar a candidatura da cadelinha mascote no campus. Eles sabiam o que estavam fazendo e a quem estavam agredindo (desculpem aclarar, a ditadura). Neste caso, não era necessário aplicar pedagogia para trazer à luz o audacioso/ignorante. Se fosse, bastaria a leitura de: A colônia Gorki de Anton Makarenko...
No sul, a chapa de 3 votos no CONSUN, foi a escolhida pelo presidente, sem ser a ganhadora foi a eleita, por razões de inteligência extra universidade, vejam o que dizia o antigo ministro da educação hoje diretor do Banco Interamericano, pessoa de comportamento estranho, com atos que não são feitos por um estudante de gymnasium europeu com 14 anosde idade, verbigrácia seu tweeter do “Cebolinha contra os chineses”…
Um reitor nessas condições me leva à Espanha de Unamuno reitor da Universidade de Salamanca, que em plena Guerra Civil Espanhola foi corajoso o suficiente para inibir qualquer aventureiro. Leiam, vale a pena. Em Terra brasilis, não são só os pastores que leem pelo ouvido, más há o “Viva a Morte” das hostes Salazar/Franco nos palácios.
Vale a pena abrir um parêntese para não omitir, que todos querem escola primaria de qualidade máxima para seus filhos, mas na hora de ir para a Universidade não abrem mão da pública, pois as privadas não garantem o status das castas bramanes/privilegiadas. Esta anomalia obriga que os pobres que estudam sejam obrigados a pagar às igrejas os cursos noturnos ou os juros nos créditos de mercado ao governo…
No Brasil não se conhece a situação vizinha, onde há 102 anos ocorreu a Reforma Universitária de Córdoba. Argentina, eliminando os cardeais, bispos e mão do Vaticano na escolha da ciência, pois elas eram seculares, desde 1613 e sua oligarquia eclesiástica por “alcúrnia” estava ali encastelada. Hoje ela tem 120 mil alunos e é laica.
A reforma aboliu a ida a universidade para formar elite ou status, mas para reconhecer a conquista de classe (trabalhadora) consciente de sua inserção na sociedade e não de castas indianas, como em terra brasilis, que nela se reciclam como políticos corruptos, latifundiários parasitas, a serviço do agrocorporativismo.
A natureza voltou em Terra brasilis a ser tratada como na época das castas indianas. O safári para matar um tigre na Índia ou elefante na África rendia ao Império Britânico mais de 250 mil dólares de hoje.
É por isso que todos se assustaram pelo externado pelo ex-reitor da U. Mackdenzie, hoje ministro da Educação, que não difere em nada do anterior, que fugiu do país, acobertado, com medo de ser preso. Ele disse: “Muitas vezes o sonho brasileiro é ter um diploma, o pessoal mais simples, mais pobre… Não sou contra isso, mas em termos de política nacional é equivocado”. Ministro da Educação Milton Ribeiro. Sem saber emula o magnata do petróleo, John Davisson Rockefeller que em 1906 disse: - “Eu não quero uma nação de pensadores, quero uma nação de trabalhadores.” Sua General Education Board da Fundação Rockefeller criou um sistema de Assistência Técnica, Social e Educacional nos EEUU, para atender os pobres. Foi proibida pela Lei Smith-Lever do Congresso dos EEUU. Em 1964 fez convênio com o governo para eliminar a influência subversiva nas universidades, que foi chamado de MEC-USAID, que nunca existiu.
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- http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me4659.pdf
- https://periodicos.ufsc.br/index.php/revistacfh/article/view/2178-4582.2015v49n1p110
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