12 de agosto
Mais além da espionagem: a operação glifosato, por VÍCTOR M. TOLEDO, SEMARNAT LA JORNADA 11 AGO 20
Os acontecimentos ocorridos nos últimos dias, contextualizados corretamente, confirmam o que foi visualizado anteriormente. Os pontos neurológicos ou contraditórios, não só no México, mas no mundo sempre terminam em um dilema vital originado da ecologia política. Todas as ações humanas, sejam decisões individuais ou familiares, políticas públicas ou acordos internacionais, ou se somam à defesa da vida (humana e não humana) ou atentam contra ela. O governo da 4T não é estranho a isso. Ao contrário. O que se faz em termos de energia, transporte, água, planejamento urbano, saúde, alimentação, cultura, sempre terá seu equivalente ambiental. O bem-estar dos mexicanos está intimamente ligado ao meio ambiente, pois todos os males que o neoliberalismo causou tiveram processos de destruição ecológica ao mesmo tempo. Hoje o governo da 4T deve remontar este país injusto, desigual, doente, corrupto, patriarcal com um ambiente devastado e uma natureza dilapidada. Essa foi a promessa e esta é a missão.
O governo da 4T não é um governo anticapitalista, mas antineoliberal. Reconhecer essa distinção é fundamental. Não visa a abolição ou eliminação das empresas privadas, nem a nacionalização total da economia, mas antes algo mais elementar: a regulação ou sujeição do interesse privado aos interesses da sociedade. E isso é conseguido pela simples aplicação das leis existentes ou por meio de legislação. O anterior significa recuperar o papel do Estado, que durante a longa noite neoliberal se tornou cúmplice dos interesses comerciais, parceiro dos negócios, um mero facilitador da acumulação de riquezas. Protejer realmente selvas, florestas, solos, biodiversidade, ar puro, recifes, costas e praias; evitar a acumulação e o mau uso da água, impulsionar cidades, transportes e indústrias limpas, rumo às energias renováveis, são algumas das tarefas centrais do 4T. Ninguém, honesto ou sensato, pode se opor a essas nobres ações.
E, no entanto, uma enorme campanha de difamação e desprestígio foi orquestrada nos últimos meses contra o governo do 4T, porque ele decidiu (o Presidente e um amplo setor de seu gabinete) enfrentar diretamente uma questão urgente e vital: a saúde dos mexicanos e sua relação com a alimentação e o meio ambiente. Este assunto veio à tona de maneira óbvia devido à pandemia de Covid-19. Sim, o México está entre os principais países com a maior mortalidade pelo vírus, isso se deve à dieta pobre e ambientes contaminados: 67 por cento dos mortos tinham doenças como diabetes, obesidade, excesso de peso, hipertensão, etc. e quase 80 por cento dos mortos viviam em uma das seis regiões mais contaminadas do país. É óbvio que é urgente modificar o sistema alimentar do México, na produção, transformação, transporte e consumo. Para isso, liderada por Semarnat, Ssa e Conacyt, foi construída e amadurecida uma nova iniciativa que se cristalizou em um programa especial que hoje reúne oito Secretarias de Estado e cinco outros órgãos, e que o Presidente endossou e oficializou. Este programa vai com tudo para regular e, quando for o caso, proibir toda a bateria de elementos que compõem um sistema alimentar perverso:
herbicidas, fungicidas, inseticidas, lavouras transgênicas, suinocultura e avicultura, junk food, refrigerantes e bebidas açucaradas, monopólios de marketing, campanhas publicitárias falsas, etc. O programa começou com duas ações: a regulamentação gradativa e banimento do glifosato e de 80 outros agrotóxicos, e uma rotulagem mais rigorosa que entrará em vigor em outubro próximo. Ao acima exposto, o Presidente do México acrescentou em 27 de julho, um decreto com três mandatos: a) a proibição imediata do uso do glifosato em todos os órgãos do governo e sua abolição gradual até sua eliminação total em 2024; b) a proibição do cultivo de milho transgênico em todo o território nacional; e c) a designação da Conacyt como a entidade responsável por documentar alternativas tecnológicas para substituição do agrotóxico.
Essa foi a gota que derramou a panela e deu origem à operação do glifosato que emergia das entranhas dos gigantes agroalimentares e agroquímicos, em combinação com empresas nacionais afetadas, chefiadas pelo Conselho Nacional da Agricultura, braço político dos grandes empresários agrícolas e da pecuária, e com a cumplicidade de três funcionários do gabinete. Isso incluiu ataques diretos a eventos públicos, transmissão de vídeo e vazamento ilegal de áudio. Seu objetivo: evitar esse decreto a todo custo, enviar outro apócrifo e debater uma campanha de difamação contra Semarnat. A grande batalha hoje é a soberania alimentar através de sistemas agroindustriais (agronegócios) ou através de sistemas agroecológicos com produção saudável de alimentos saudáveis? Ou com a vida ou contra ela? Sabemos que os mexicanos estão conosco.
- https://www.infobae.com/america/mexico/2020/08/11/campana-de-sabotaje-y-espionaje-la-razon-del-audio-filtrado-victor-manuel-toledo/
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