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"Harmonizo meus pensamentos para criar com a visão". "Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e não mais lutando por dinheiro e poder, então nossa sociedade poderá enfim evoluir a um novo nível".

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

INGRATIDÃO

Cante lá que eu Canto cá -
filosofia de um trovador nordestino
pg. 190
Meu Jesus Reis dos Judeu,

Saibo, Divino e profundo
Que padeceu e que morreu
Pra miorá este mundo,
Que pregou na Palestina
A pura e santa dotrina
De paz, amô e ingualdade
E deu na sua insistença
Um inzempro de cremensa
Para toda humanidade.

Que do seu grande podê
Querendo uma prova dá,
Fez alejado corrê
Fez morto ressucitá.
Foi preso, foi amarrado
E pelo chão arrastado,
Meu Divino e bom Jesus,                                  AVE POESIA
E deu ainda perdão
Para a corja de ladrão
Que lhe cravaro na cruz.

Isto tudo Senhô fez
Para o mundo consertá,
Sendo podero Reis,
Quis a todos se umiá.
Mas a farsa humanidade
Não quis sabê das verdade
Dos insinamento seu,
No nosso mundo de ingano
São bem pôco os pubricano
Quage tudo é fariseu.

Meu Divino e Bom Juiz,
Veve na face da terra
Os país cronta os país
Na mais sanguinara guerra.
É o maió ispaifato;
Não tão seguindo os ingrato
As lição que o Senhô deu.
Cheio de inveja e imbição
Tão seguindo é a lição
Do juda que lhe vendeu

Os home sem piedade
Não qué paz, nem qué amô.
Não pratica a caridade
Que o Senhô tanto pregou.
Somente nas istrução
Na ciença e na invenção
Tem desinvorvido bem;
Já entraro inté na lua,
Mas a natureza é crua,
Não tem pena de ninguém.

Na terra inquanto a ciença
Se espaia, cresce e domina,
Vai diminuindo a crença
Nas coisa santa e divina.
Uns já vai de passo a passo
Tomando conta do espaço.
Não duvido e nem descreio
Que em breve um destes incréu
Vá batê aí no céu
Socado num apareio.

Tá tudo disinvorvendo
Nas descoberta importante,
Mas o sabio vivendo
A custa do inguinorante.
Meu Jesus, meu Pai querido,
Tudo aqui tá disunido,
Iscute, que eu vou contá
Um causo munto penoso,
Um inzempro monstruoso
De ingratidão patroná.

A histora do pobre João,
Aconteceu mesmo aqui,
Nesta invejada nação,
Nas terra do meu Brasí.
Sem um raio de esperança
Começou derne criança
A trabaiá no roçado,
Pro causa das consequença
Dos home sem consiença,
Já nasceu sendo agregado.

Por bem pequena quantia
Trabaindo o dia intêro
Aquele pobre vivia
No seu trabaio grossêro
E o patrão sempre a mandá
João prali, João pracolá,
Faça isto, e faça aquilo,
E o pobrezinho às carrêra
Naquela grande cansêra
Pulando que nem um grilo.

E não era ele sozinho,
O João não sofria só
No mesmo estado mesquinho
Sofrendo de fazê dó,
Sua mãe e duas irmã,
Agarrava dimenhã
Na mesma labutação,
Trabaindo, trabaindo
Cada vez mais omentando
A riqueza do patrão

O patrão vendo vantage
Naquelas quatro pessoa,
Com gracejo e pabulage,
Com piadinha e com loa,
Repreto de pocrisia,
Tratava aquela famia
Com uma certa tenção,
Se fingindo sastifeito
Achando que deste jeito
Conformava o pobre João.

A prova do fingimento
Do fazendêro judeu
Tá toda no sufrimento
Que com João aconteceu,
Pois tando aquele rocêro
Cortando de um cajuêro
Os gaio seco que havia,
Com vinte parmo de artura
Caiu sobre a terra dura
E esbagaçou a bacia.

O pobre se achava só,
Ficou ali sem sintido;
Era munto mais mió
Que ele tivesse morrido.
Nessa situação misquinha
Lhe acharo ditardezinha,
Já perto do só se pô,
Naquele ponto istirado
Com os seus ossos quebrado
Todo passado de dô.

Meu Divino Redentô,
Veja que brabaridade;
Que crime de grande horrô,
Que farta de caridade
Daquele patrão marvado.
Mandou botá o agregado
Na sala de um hospitá,
No mais compreto abandono,
Como cachorro sem dono
E nunca mais andô lá.

Naquela crise penosa 
Ninguém ligou sua vida,
Só as muié piedosa
Ia lhe dando comida;
O patrão ali não ia,
Pois o ingrato não queria
De forma arguma ligá
Do João a grande cancêra,
Nem este tinha a cartera
Do Sindicato Rurá.

Isto é cronta a natureza,
É triste, bastante triste,
Uma das maió tristeza
Que inriba da terra isiste,
Muntas vez eu penso bem
Que quem faz assim não tem
Nem arma nem coração;
Qui farta de piedade
De amô e de caridade
Daquele ingrato patrão.

A lamentá toda hora
Ficou o agregado ali,
A gemê, sem tê miora,
Quage sem podê drumí.
Depois chegou uns parente
E levaro o penitente
Pra vivê perto dos seus,
Debaxo do seu barraco
Alejado, triste e fraco
Chorando e pensando in Deus.

Meu Jesus, Reis dos Judeu,
Saibo, Divino e profundo
Que padeceu e que morreu
Pra miorá este mundo,
Niguém qué lhe acompanhá,
Tá tudo materiá.
Meu bom Jesus Nazareno,
Neste mundo desgraçado
O grande veve iscachado
No cangote do pequeno.

Todos sofrimento e dô
Que isiste no mundo intêro
Não é só do moradô
Da queda do cajuêro
Do pobre João agregado;
Este mundo de pecado
Tá todo cheio de João
Padecendo vida amarga
Tudo debaxo da carga
A serviço do patrão.

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