Aqui é o fim do mundo

Vista aérea da região afetada pelo rompimento da barragem da mina Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG) - 26/01/2019 (Andre Penner/)

26 de janeiro 2019
por Sebastião Pinheiro

Lisarb despertou em lágrimas, como sempre mais cedo que seu gêmeo, isômero óptico como água e óleo, sem qualquer possibilidade de mistura ou racémia, pois tinha a característica que jamais estava em letargia como aquele. Objetivo, era a contradição da contradição na "Dialética da Natureza" ou melhor ainda no Anti-Duhring (foto1).

Ao recordar que seus concidadãos não têm acesso à educação e por suposto desconhecem o significado de letargia: "Letargia (do latim lethargia: lethe - esquecimento + argia - inação) é a perda temporária ou completa da sensibilidade e do movimento por causa fisiológica, ainda não identificada, levando o indivíduo (ou sociedade) a um estado mórbido em que as funções vitais estão atenuadas de tal forma que parecem estar suspensas, dando ao corpo a aparência de morto".

Sua reação foi cantarolar uma música muito antiga, Marginália II de Gilberto Gil: "Eu brasileiro confesso, minha culpa meu degredo, nosso pão de cada dia, melancolia tropical, negra solidão. Aqui é o fim do mundo ... "

Razões não faltaram:

1. - Na "cidade maravilhosa" dois governadores são presos por roubarem o povo; a polícia culpa os cidadãos e os mata (Amarildo), o crime organizado como milícias vendem lugares e serviços de telefonia, gás, internet, quando alguém interfere há uma oficina de crime onde os sicários prestam serviços de execução. Assim morreu a vereadora Marielle Franco, más línguas dizem que seria uma candidata ao congresso nacional pelo que foi assassinada. Não por sua luta política segregacionista, mas por ameaçar interesses maiores de outros. Cidadania Plena é privilégio para amigos. Aqui é o fim do mundo...

2. - O Deputado Nacional Jean Willys, de forte ação e desconfortável em ato político renuncia o seu novo mandato e se auto-exília. Não deveria causar comoção, pois cada um faz o que julga ser o melhor para o seu exercício cívico. Mas o fato é comemorado como uma vitória por "políticos" com mandato popular, que externam ser uma derrota para a democracia. Não têm bem conceitos e funções em um juramento feito há 25 dias. Aqui é o fim do mundo ... (foto2)

3. - O "pastor" no Congresso Nacional diz que seu apoio ao governo será feito com a mudança da embaixada em Israel para Jerusalém e pouco difere dos políticos e milicianos do itens 1 e 2.

4. - Um caso raro é a intromissão nas coisas dos vizinhos, o que não é permitido pela boa diplomacia e proibido pela constituição nacional. Se emite um documento oficial com uma figura de apoio a um "presidente empoçado", algo assim como "estupro consentido". Feliz Bolívia que não necessita de embaixadores.

5. – O altos dos altos é que há quase 3 anos houve um desastre com 19 mortos, o que não é nada quando são mortos mais de 60 mil pessoas por ano no país. Uma barragem de extração mineral desabou após uma explosão ou terremoto e destruiu a bacia de pesca mais importante do país. Um projeto de lei para incrementar a fiscalização de mais de 300 áreas semelhantes não foi aprovado no congresso por diminuir as margens e lucratividade das empresas. Na justiça ainda não havia uma sentença judicial nem punição. Os brasileiros não sabem que o resíduo de minério de ferro é acumulado dessa forma por causa da extração do ouro e como as quantidades são pequenas, o lucro está na precariedade imposta pelas empresas que pagam propinas e pressões para que não existam leis BHP, Barrick Gold e outras corporações de "lock out - bloqueio" democrático da inteligência (militar), preparatório pós-impeachment para garantir o retorno ao canal natural de subserviência.

6. - Ontem, na mesma empresa, no mesmo Estado de Minas Gerais, perto da capital, outra represa sofreu o mesmo problema e vemos na televisão jornalística falando bobagem para preencher o tempo e satisfazer a angústia dos telespectadores e ouvintes, mas agora  são mais de 300 desaparecidos e dez vezes mais mortos do que no caso anterior. Mas quando será o próximo?

7. - O agronegócios pulveriza 2,4-D de avião onde o vento sempre está acima de 12 nós e é proibido. Destrói os cultivos de oliva e videiras, destrói a qualidade do vinho e do azeite, mas o jornal da região diz que isso é normal com medo de perder a publicidade das empresas. É por isso que em Davos a única coisa compreensível foi a proteção aos Agronegócios: Eles sabem o que é a desterritorialização da agricultura; Eliminação da questão agrária e modelo de agricultura hegemônica pelo complexo militar-industrial-financeiro.

 

Tudo está fedendo em decomposição acelerada como matéria fecal expelida, mas o biopoder camponês sabe que bem manejada resultará em um bom composto, ponha a música que é bela, dancemos sem medo. Não fuja (foto 3).

 

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