08 de julho
F. Juquira Candiru Satyagraha
No meio de dois Ciclones Explosivos, três
mandatários democráticos que agem como embriagados. Estupefato ao descobrir que
a cobra cega é venenosa (Caecilians) por um fungo mortal que porta, uma
coisa que me avisavam na infância, recebi o artigo de Jeremy Rifkin,
que nos chama a cordura. Vale a pena ler. É o desafio, de quem está sóbrio e
sem bússola nessa tempestade. Bom proveito.
Coronavírus: ‘Estamos diante de ameaça de
extinção e as pessoas nem mesmo sabem disso’, afirma sociólogo Jeremy
Rifkin, Juan M. Zafra The Conversation
O sociólogo americano Jeremy Rifkin, que se define
como ativista em favor de uma transformação radical do sistema baseado no
petróleo e outros combustíveis fósseis, passou décadas exigindo uma mudança da
sociedade industrial para mais modelos sustentáveis.
Ele escreveu mais de 20 livros dedicados a propor
fórmulas que garantam nossa sobrevivência no planeta, em equilíbrio com o meio
ambiente e com nossa própria espécie.
Em sua opinião, qual o impacto da pandemia da
covid-19 no caminho para a terceira revolução industrial?
Jeremy Rifkin - Não podemos dizer que isso nos
pegou de surpresa. Tudo o que está acontecendo conosco decorre das mudanças
climáticas, sobre as quais os pesquisadores e eu estamos alertando há muito
tempo.
Tivemos outras pandemias nos últimos anos e foram
emitidos avisos de que algo muito sério poderia acontecer. A atividade
humana gerou essas pandemias porque alteramos o ciclo da água e o ecossistema
que fazem o equilíbrio no planeta.
Desastres naturais — pandemias, incêndios,
furacões, inundações — continuarão porque a temperatura na Terra continua
subindo e porque arruinamos o solo.
Há dois fatores que não podemos deixar de
considerar: as mudanças climáticas causam movimentos da população humana e de
outras espécies. A segunda é que as vidas animal e a humana estão se
aproximando todos os dias como consequência da emergência climática e,
portanto, seus vírus viajam juntos. [são os vírus partículas reguladoras da
evolução, testadas nas mudanças climáticas?]
Esta é uma boa oportunidade para aprender lições e
agir, não acha?
Rifkin - Nada voltará ao normal novamente.
Este é um sinal de alerta em todo o planeta. O que temos que fazer agora é construir
as infraestruturas que nos permitam viver de uma maneira diferente.
Devemos assumir que estamos em uma nova era. Caso contrário, haverá mais
pandemias e desastres naturais. Estamos diante de uma ameaça de extinção.
Você trabalha, estará trabalhando nesses dias, com
governos e instituições ao redor do mundo. Não parece haver consenso sobre o
futuro imediato.
Rifkin - A primeira coisa que devemos fazer é ter
um relacionamento diferente com o planeta. Cada comunidade deve assumir a
responsabilidade de como estabelecer esse relacionamento em sua esfera mais
próxima.
E sim, temos que começar a revolução em direção ao
Green New Deal global [proposta que estimula os Estados Unidos a alcançarem o
nível zero de emissões líquidas dos gases do efeito estufa, além de outras
metas], um modelo digital de zero emissões; temos que desenvolver novas
atividades, criar novos empregos, para reduzir o risco de novos desastres.
A globalização acabou, devemos pensar em termos de
glocalização. Esta é a crise de nossa civilização, mas não podemos continuar
pensando na globalização como hoje, pois são necessárias soluções glocais
para desenvolver infraestruturas de energia, comunicação, transporte e
logística…
Você acha que durante esta crise, ou mesmo quando a
tensão diminuir, governos e empresas tomarão medidas nessa direção?
Rifkin - Não. A Coreia do Sul está combatendo a
pandemia com tecnologia. Outros países estão fazendo o mesmo. Mas não estamos
mudando nosso modo de vida.
Precisamos de uma nova visão, uma visão diferente
do futuro, e os líderes nos principais países não têm essa visão. São as novas
gerações que podem realmente agir.
Você propõe uma mudança radical na maneira de ser e
ser no mundo. Por onde começamos?
Rifkin - Temos que começar com a maneira como
organizamos nossa economia, nossa sociedade, nossos governos; por mudar a
maneira de estar neste planeta. A nossa é a civilização dos combustíveis fósseis.
Nos últimos 200 anos, foi baseada na exploração da Terra.
O solo permaneceu intacto até começarmos a cavar as
fundações da terra para transformá-la em gás, petróleo e carvão. E nós pensamos
que a Terra permaneceria lá sempre, intacta.
Criamos uma civilização inteira baseada no uso
de fósseis. Usamos
tantos recursos que agora estamos recorrendo ao capital fundiário, em vez de
obter benefícios dele.
Estamos usando uma terra e meia quando só temos
uma. Perdemos 60% da superfície do solo do planeta. Ele desapareceu e levará
milhares de anos para recuperá-lo.
O que você diria para aqueles que acreditam que é
melhor viver o momento, o aqui e agora, e esperam que no futuro outros venham
para consertá-lo?
Rifkin - Estamos realmente diante das mudanças
climáticas, mas também há tempo de mudá-las. As mudanças climáticas causadas
pelo aquecimento global e pelas emissões de CO₂ alteram o ciclo da água na
Terra. Nós somos o planeta da água, nosso ecossistema emergiu e evoluiu ao
longo de milhões de anos graças à água. O ciclo dela nos permite viver e se
desenvolver.
E aqui está o problema: para cada grau de
temperatura que aumenta como consequência das emissões de gases de efeito
estufa, a atmosfera absorve 7% a mais de precipitação sobre o solo e esse
aquecimento o força a cair mais rápido, mais concentrado e causando mais
desastres naturais relacionados à água.
Por exemplo, grandes nevascas no inverno,
inundações na primavera em todo o mundo, secas e incêndios durante o verão e
furacões e tufões no outono varrendo nossas costas.
As consequências vão piorando com o tempo. Estamos
diante da sexta extinção e as pessoas nem sabem disso. Os cientistas dizem que
metade dos habitats e animais da Terra desaparecerão em oito décadas. Essa é a
posição em que estamos. Estamos de frente com um potencial extinção da natureza
para a qual não estamos preparados.
The Conversation - Qual é a gravidade dessa
emergência global? Quanto tempo resta?
Rifkin - Não sei. Faço parte desse movimento de
mudança desde a década de 1970 e acho que o tempo de que precisávamos passou.
Nunca voltaremos onde estávamos, à boa temperatura, a um clima adequado…
A mudança climática estará conosco por milhares e
milhares de anos; a questão é: podemos, como espécie, ser resilientes e nos
adaptar a ambientes totalmente diferentes e que nossos companheiros na Terra
também possam ter a oportunidade de se adaptar?
Se você me perguntar quanto tempo levará para
mudarmos para uma economia limpa, nossos cientistas na cúpula europeia sobre
mudança climática em 2018 disseram que ainda temos 12 anos. Já é menos que nos
resta para transformar completamente a civilização e começar essa mudança.
A Segunda Revolução Industrial, que causou mudanças
climáticas, está morrendo. E isso se deve ao baixo custo da energia solar, que
é mais lucrativa que o carvão, o petróleo, o gás e a energia nuclear. Estamos
caminhando para uma Terceira Revolução Industrial. [o desespero facínora traz
projetos mineiros em estertores com capitais chineses em disputa política]
É possível uma mudança de tendência global sem os
Estados Unidos do nosso lado?
Rifkin - A União Europeia e a China se uniram para
trabalhar juntas e os Estados Unidos estão avançando porque os estados estão
desenvolvendo a infraestrutura necessária para alcançá-los.
Não se esqueça que somos uma república federal. O
governo federal apenas cria as leis, os regulamentos, os padrões, os
incentivos; na Europa, acontece o mesmo: seus Estados-membros criaram as
infraestruturas. O que acontece nos Estados Unidos é que prestamos muita atenção
no Trump, mas dos 50 Estados, 29 desenvolveram planos para o desenvolvimento de
energia renovável e estão integrando a energia solar.
No ano passado, na Conferência Europeia de
Emergência Climática, as cidades americanas declararam uma emergência climática
e agora estão lançando seu Green New Deal. Muitas mudanças estão acontecendo
nos Estados Unidos. Se tivéssemos uma Casa Branca diferente seria ótimo, mas,
ainda assim, esta Terceira Revolução Industrial está surgindo na UE e na China
e já começou na Califórnia, no Estado de Nova York e em parte do Texas.
Quais são os componentes básicos dessas mudanças
que são tão relevantes em diferentes regiões do mundo?
Rifkin - A nova Revolução Industrial traz consigo
novos meios de comunicação, energia, transporte e logística. A revolução
comunicativa é a internet, assim como foram a imprensa e o telégrafo na
Primeira Revolução Industrial no século 19 no Reino Unido ou o telefone, rádio
e televisão na segunda revolução no século 20 nos Estados Unidos.
Hoje, temos mais de 4 bilhões de pessoas
conectadas e em breve teremos todos os seres humanos conectados à internet;
todo mundo está conectado agora. Em um período como o que estamos vivendo, as
tecnologias nos permitem integrar um grande número de pessoas em uma nova estrutura
de relações econômicas.
A internet do conhecimento é combinada com a
internet da energia e a internet da mobilidade. Essas três internets criam a
infraestrutura da Terceira Revolução Industrial. Essas três Internet
convergirão e se desenvolverão em uma infraestrutura de internet das coisas que
reconfigurará a maneira como todas as atividades são gerenciadas no século 21.
Qual o papel dos novos agentes econômicos na
formação desse novo modelo econômico e social?
Rifkin - Estamos criando uma nova era chamada
glocalização. A tecnologia de emissão zero desta terceira revolução será tão
barata que nos permitirá criar nossas próprias cooperativas e nossos próprios negócios,
tanto física quanto virtualmente.
Grandes empresas desaparecerão. Algumas delas continuarão,
mas terão que trabalhar com pequenas e médias empresas com as quais estarão
conectadas em todo o mundo. Essas grandes empresas serão provedores de rede e
trabalharão juntas em vez de competir entre si.
Na primeira e na segunda revolução, as infraestruturas
foram feitas para serem centralizadas, privadas. No entanto, a terceira
revolução possui infraestruturas inteligentes para unir o mundo de maneira
distribuída e glocal, com redes abertas.
Como a superpopulação afeta a sustentabilidade do
planeta no modelo industrial?
Rifkin - Somos 7 bilhões de pessoas e chegaremos a
9 bilhões em breve. Essa progressão, no entanto, vai acabar. As razões para
isso têm a ver com o papel das mulheres e sua relação com a energia.
Na antiguidade, as mulheres eram escravas, eram as
fornecedoras de energia, tinham que manter a água e o fogo.
A chegada de eletricidade está intimamente
relacionada aos movimentos sufragistas nos Estados Unidos; libertou as jovens,
que puderam ir para a escola e puderam continuar seus estudos até a
universidade. Quando as mulheres se tornaram mais autônomas, livres, mais
independentes, houve menos nascimentos.
Você não parece otimista, e ainda assim seus livros
são um guia para um futuro sustentável. Temos ou não temos um futuro melhor à
vista?
Rifkin - Todas as minhas esperanças estão
depositadas na geração millenial. A geração dos millenials saiu das salas de
aula para expressar sua inquietude. Milhões e milhões deles exigem a declaração
de uma emergência climática e pedem um Green New Deal.
O interessante é que isso não é como nenhum outro
protesto na história, e houve muitos, mas este é diferente: move a esperança, é
a primeira revolta planetária do ser humano em toda a história em que duas
gerações foram vistas como espécies em perigo.
Essa geração se propõe a eliminar todos os limites
e fronteiras, preconceitos, tudo o que nos separa. Ela começa a se ver como uma
espécie em extinção e tenta preservar as demais criaturas do planeta. Esta é
provavelmente a transformação mais importante da consciência humana na
história.
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